Prólogo

Uma brisa fresca corria pela janela balançando meus cabelos, o tempo estava agradável pela primeira vez em algum tempo, parecia que não estava conectado a minha tristeza, graças a Deus pois se estivesse seria o fim do mundo.
O céu estava azul como era típico daquela tarde de verão, mas o calor não estava insuportável como do dia anterior, era um dia bonito constatei.
Escutei o som do leve arranhar da porta eu sabia que era ele, mesmo morando 5 pessoas naquela casa eu o reconheceria mesmo se não tivesse nenhum de meus sentidos, éramos almas gêmeas e o mundo simplesmente conspirava a nosso favor. Irônico.
Tão irônico amar alguém tanto a ponto de entender quando é o momento de deixá-lo partir.
Meus olhos se encheram de água mas eu olhei para longe.
Eu precisava ser forte, eu precisava fazer o que fazia de melhor.
Atuar.
Atuar tão bem que nem mesmo a única pessoa que me conhecia de verdade no mundo poderia perceber que era apenas uma história.
Eu só precisava me concentrar e entrar no papel, logo acabaria e seria como sempre. Perfeita.
Eu precisava ser, um vacilo, um pequeno deslize e tudo iria por água baixo, se ele suspeitasse, se visse um pequeno brilho de choro nos meus olhos ele não iria embora.
O escutei tirando o sapato, sua respiração, e foquei na personagem.
Ainda com os olhos na janela ainda vendo aquele dia lindo de costas para a porta e para o amor da minha vida.
Ele veio em direção à sala onde eu me encontrava.
— Bela, tô louco para te contar, você não vai acreditar no que aconteceu hoje. Sabe o Tyler?
Ele se aproximou demais mas eu não me virei, não movi nem um pouco minha cabeça, ele não percebeu e se abaixou para me dar um beijo no pescoço como sempre fazia e continuou a dizer.
— Pediu demissão na frente do restaurante inteiro porque o Daniel defendeu a cliente racista e...
Então ele parou quando percebeu que eu simplesmente não tinha expressão alguma no rosto.
— Está tudo bem princesa? Pensei que estaria me olhando com esses seus olhos curiosos e rebeldes de ativista. Achei que já estaria puxando seus cabelos de irritação pela injustiça de racismo e...
Ele parou de falar quando viu suas malas ao meu lado.
— Você está indo lavar roupas? Querida pensei que tivéssemos combinado de ir à NY hoje.
Finalmente encarei seus olhos. Aqueles olhos lindos escuros, aqueles olhos que me fizeram me apaixonar assim que o vi a primeira vez. Aqueles cabelos cacheados e únicos. Macios, que eu amava acariciar com minhas mãos.

— Eu não vou, você vai.
Ele franziu o senho diante das minhas palavras.
— Do que está falando?
O encarei me forçando parecer extremamente entediada.
— Seu voo sai hoje à noite.
Já chamei o táxi, deve chegar em 7 minutos.
Sua expressão ficou ainda mais confusa.

— Voo? É alguma brincadeira? Não estou te entendendo.
Eu me levantei.
— Não vamos ser dramáticos.
Dei de ombros.
— Você veio para ficar um mês. A sua passagem vence hoje à noite, não vamos desperdiçar todo esse dinheiro.
— Está brincando Bela? Te disse que mudei de ideia e ficaria os 5 meses com você, não estou entendendo o que está acontecendo aqui.
Bufei.
— Então me permita que esclareça.
Peguei meu dedo e retirei o lindo anel de diamantes que ele havia me dado para me pedir em noivado. Essa era a parte mais difícil e eu havia ensaiado em frente ao espelho diversas vezes, chorei em todas. Mas dessa vez manti minha expressão firme. Quase fiquei orgulhosa de mim mesma, quase. O peguei e estendi para ele.
— Não quero mais você na minha casa, ou na minha vida, estou lhe sugerindo uma saída fácil, pegue o maldito táxi, vá embora e não volte nunca mais. Não vamos fazer desse momento maior do que deveria ser.
Ele me olhou incrédulo.
— Você...você está terminado comigo?
Revirei os olhos.
— Você quer que eu desenhe?
— Porque você está agindo assim? O que aconteceu? Merda você não pode simplesmente chegar para mim do nada e me mandar embora e terminar o nosso noivado. Seu pai está te obrigando a isso?
Eu dei um sorriso sarcástico. Eu teria vomitado caso estivesse me assistindo. Cruel. Eu estava sendo cruel com a única pessoa que havia me tratado com carinho naquele país.
— Novamente você colocando a culpa nele como sempre faz. Ele é meu pai, sempre será, e quem é você? Alguém substituível.
— Bela eu não... não quis ofendê-lo sei que é seu pai eu só, estou aqui porque quero te proteger, não aguento ver as coisas que ele faz a você.
— E mesmo assim o que você fez até agora para impedir? Você é incapaz disso, sequer é um homem de verdade, eu sou boa demais para você, preciso de alguém bom o suficiente e você não é, apenas vá embora e me deixe em paz.
Vi a mágoa passar pelos olhos dele vi que ele estava arrasado.

— Não faça isso por favor. Me deixe, eu alugo outro lugar mas por favor não me peça para ir embora, você é minha vida bela sempre será, me deixe conquista-lá novamente, sei que não tenho sido bom o suficiente, sei que tenho trabalhado demais, mas prometo que vou melhorar.
Eu ri novamente.
— Pare de se humilhar, eu não quero mais você, já não o amo, já não sinto nada mais que não desprezo por você.
Ele engoliu em seco.
— Você conheceu alguém é isso?
Os olhos dele estavam urgentes, recebi uma mensagem do táxi sinalizando que estava na minha porta.
— Se quer mesmo saber, sim estou apaixonada por outro, agora por favor saia o seu táxi chegou.
Ele ainda parecia incrédulo.
— Bela eu não.. não posso fiz uma promessa a sua mãe, prometi que cuidaria de você.
— Eu estou com meu pai, não preciso que ninguém cuide de mim.
— Ele a trata pior que cachorro, a faz de empregada, como pode...
E respirou fundo.
— Porque está fazendo isso?
Ele então deu um passo para mais perto de mim e meu corpo se arrepiou clamando pelo dele eu o amava tanto. Diabos não podia pensar nisso agora, ele também pareceu perceber o instante de lucidez que me tomou, e me abraçou, apertado como nunca tinha feito antes, o barulho de nossos corações era a única melodia do ambiente. E seria a minha preferida pelo resto dos meus dias.
A respiração quente dele no meu pescoço me fez querer tê-lo ali e agora.
Mas eu não podia, precisava renunciá-lo e no fundo mesmo que me matasse eu saberia que fora a maior prova do meu amor por ele.
Me forcei a empurra-lo e ele viu em meus olhos que nada havia mudado.
Ele caiu em prantos com os olhos molhados disse.
— Eu a amo. E sei que me ama também. Diga para mim.
Ele então tocou minha mão e depois meu rosto me fazendo olhar intensamente para ele.
— Me diga, me diga que não me ama e eu vou.
E naquele segundo segurei o único fio de auto controle que possuía dentro de mim. O encarei de volta e com todas minhas forças declarei.
— Eu não o amo.
Me senti sufocada, pensei que fosse morrer, tudo em meu corpo protestou contra as minhas palavras mas elas saíram, altas e bem claras.
Aquele momento condenou o restante dos meus dias.
Eu sabia disso.
Mas tudo bem. Era o certo.
Minha mente dissera como um mantra pelos próximos segundos que me pareceram eternos.
Algo pareceu acontecer com ele também, como se o universo tivesse simplesmente cortado nossa ligação naquele exato segundo. Como se tivesse nos deixado livres para seguir com as nossas vidas. Como se deixassem claro que ainda tínhamos o livre arbítrio.
E olhando dentro daqueles olhos marejados do homem que eu amo, soube imediatamente que nunca teríamos volta, por isso gravei direitinho aquele rosto, cada detalhe, pois sabia que jamais o veria novamente.
Ele pegou a mala, se virou e sem dizer mais nenhuma palavra foi embora.
Não olhou para mim nem uma única vez e quando à porta bateu atrás de mim eu caí de joelhos em prantos como nunca estive antes. E silenciosamente proclamei ao universo.
Que ao menos ele fosse feliz, que fizesse valer a pena o meu sacrifício.
E bem baixinho para que apenas eu pudesse escutar sussurrei.
"Eu o amo, eu o amo"

Votem por favor para que eu saiba se a história tem pontencial e se devo ou não continuar.

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