Capítulo 35
O meu amado fala e me diz:
Levanta - te, amiga minha, formosa minha, e vem.
Porque eis que passou o inverno: a chuva cessou e se foi.
Apareceram as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve - se em nossa terra.
Cantares de Salomão
2. 10 - 12

Ana Carla apoiou a visita do namorado à Valéria na prisão, pensando que seria bom ela ter algum apoio externo, porém ao saber de sua decisão ficou ligeiramente triste. Mas, por fim compreendeu afinal também era mãe e se estivesse em seu lugar defenderia seu filho de qualquer maneira. Confortou Andre com palavras afáveis ai telefone, feliz em saber que ele teria uma consulta com o médico apresentando os resultados dos últimos exames do pós operatório, para somente então, voltar à ativa.
Bom quanto a esta última parte não conseguiria estar feliz, mesmo que quisesse muito, seu amado era um policial ativo no Rio de Janeiro, estava em perigo constante apenas por sair para comprar pão.
E todos nós não estamos? Não é um privilégio dele, com a violência que nos ronda...
Dando de ombros para seus pensamentos, voltou a inspecionar as irmãs que se dispuseram a fazer os enfeites para a festa na rua, em comemoração pelos vinte anos da igreja. Todos ajudando em menos de dois meses tudo já havia sido organizado milimetricamente por Beatriz. Sua amiga sempre a surpreendia.
Suspirou pela décima vez no fim do dia ao lembrar - se que André não estaria ali para a festa. E que talvez... Fosse uma ilusão sua pensar nele ao seu lado. Ele tinha sua vida na capital, e ela? Bom, ela nem ao menos cogitava a possibilidade de voltar ao Rio de Janeiro definitivamente. Mas, sabia que não conseguia ficar mais tempo longe dele... Ao todo desde que se fora de Cachoeiras se passaram mais de sete meses. Ana Carla passava uns dias por mês ao lado dele, desde que saiu do hospital, mas não era a mesma coisa tê - lo ao seu lado todos os dias.

A festa começou no fim da tarde com muitas gincanas, brindes e brincadeiras para toda a comunidade ao redor, não somente os membros da igreja, mas sim todos.
Pedro fez uma grande festa ao lado do avô, que voltou a ser criança... Foi bom ver os dois distraídos, assim não passavam tanto tempo falando do quão André fazia falta.
Como se eu, também não sentisse falta dele!
Ao fim da festa Ana Carla pôs o filho exausto na cama, e voltou a cozinha para ajudar a mãe.
- Querida, eu deixei um pedaço de bolo gelado e outras coisa na geladeira. - Dona Sol limpava as mãos num pano de prato.
- Tudo bem. Eu estou cansada, vou tomar um banho e dormir um pouco.
- Eu tenho que ir, seu avô está com várias sacolas com doces. Eu não posso deixa - lo sozinho!
- Ele é uma formiga. - As duas riram. E se abraçaram.
- Se André estivesse aqui, duvido que seu Tonico cometesse exageros.
- É os dois se entendem muito bem.
- Boa noite, meu amor.
Soltando um beijo rápido na filha, saiu correndo atrás do pai. Na sacada do segundo andar observou divertida sua mãe atravessar a praça ao lado do avô, os dois discutiam por causa dos doces, que ele insistia em comer desordenadamente. Até que ao chegar em frente ao carro que os levaria para casa, ela viu sua mãe ser parada por um policial fardado . Segundos depois dona Sol o abraçou. Seguida por seu avô. Cumprimentou as pessoas... Alguém conhecido com certeza.
Apesar da curiosidade, Ana Carla voltou para dentro. Um banho e pijama quentinhos a deixariam renovada para o próximo dia de trabalho. Quando voltou o policial, agora conversava com seu pastor. Sua mãe e avô já se foram.
O homem era alto e estava de costas para ela, na penumbra da noite não poderia ver seu rosto com exatidão. O pastor apontou para sua casa e saiu. Curiosa ela continou observando o policial que vinha em direção a sua casa, passando pela sombra da praça, agora sem as luzes dos enfeites. Parando em frente a sacada sob a luz da lua se revelou. O homem lindo fardado, sorrindo para a morena no alto.
- Boa noite, morena. - Andre lhe sorria com os olhos brilhantes de um gato na escuridão.
- Oi... - Foi a única coisa que pode dizer, tamanha surpresa.
- Vai me deixar entrar, ou vou passar a noite aqui na praça?
- Espera...
Descendo correndo pelas escadas, ela chegou ao portão e com muita dificuldade por causa das mãos trêmulas finalmente conseguiu abriu - lo. Ele estava ao lado do portão com seu olhar caloroso sobre ela.
- O que você faz aqui? - Abraçando - o com todo o cuidado.
- Recebi alta e vim te ver. To morto de saudades. Posso entrar? - Ele falava com o rosto em seus cabelos, era algo que ele fazia com freqüência.
- Claro, o Pedro esta dormindo...
Assim que ela fechou o portão foi ferozmente beijada, e com prazer retribuiu. O gosto quente dele a envolveu deliciosamente, com as mãos em seus cabelos, André acariciou seu rosto e pescoço, fazendo ela gemer de prazer.
- Eu estava com saudades, morena. - Falou apoiando a testa na dela, olhando no fundo de seus olhos de avelã.
- Oi, tenente. Eu estava pensando em ir vê - lo semana que vem.
- Eu... Eu tenho uma boa notícia e simplesmente não deu para esperar.
- Vem, vamos subir eu vou preparar um chá.
- Camomila, por favor. Eu preciso me acalmar. - Pagando as chaves da mão dela para trancar o portão. Os dois subiram para o segundo andar, em meio a risos e beijos carinhosos.
- Pena que a festa já acabou.
- São dez e meia André, em uma cidade do interior isso é mais ou menos três da manhã numa cidade grande.
Sorrindo, ele tirou o cinto com a arma deixando sobre a prateleira mais alta. Esperando pelo chá sentado no sofá, olhando ao redor. Nada mudou.
- Eu tenho bolo da festa e algumas outras coisas que sobraram. - Ela pôs sobre a mesa no centro da sala, uma bandeja com duas xícaras chás bolo, salgados, um pequeno banquete.
- Não quero, eu já comi no posto policial. Vem cá. - Batendo no acento do sofá vago ao lado dele. - Eu tenho uma boa notícia.
- Sério? Então, conte! - Disse animada sentando sobre os joelhos ao lado dele.
- Eu fui transferido.
O sorriso de Ana Carla desapareceu por completo.
- O que? Como assim?
- Pois é, foi um processo longo que correu por quase um ano. Mas, agora saiu a minha transferência para o interior.
- Nossa André... Isso é... Muito bom...
- Veja, eu vendi um apartamento, que meu pai me deixou no Rio, e consegui comprar uma casa aqui em Cachoeiras. - Havia felicidade em seu belo rosto enquanto falava observando - a com toda a sua atenção.
- Não entendo.
- O que você não entende? - Disse pegando um cacho dos cabelos negros para brincar. - Que eu te amo? Ou que eu não suporto a distância entre nós?
- André...
- Pedi transferência, logo depois que cheguei aqui e te conheci. Eu tinha um peso enorme nas costas, e agora estou livre. - Fez uma pousa formulando as palavras que diria à seguir, assumindo um ar sombrio.
- Isso é bom, né? Vamos seguir juntos, nada ficará entre nós. - Ana Carla tomou seu belo nas mãos, se aproximando para beijá - lo, porém ele a deteve.
- Eu preciso te contar uma coisa. Eu... Não fui totalmente honesto com você.
- André, do que você está falando? - Ele a encarou e viu preocupação em seu rosto. Tentou segurar as mãos dela entre as suas, o que foi - lhe rejeitado pela tensão que se apossou dela.
- Ana, eu não contei a você... Por favor, senta. - Sim, porque ela já estava de pé, do outro lado da sala ao lado da estante de livros.
- Não, prefiro ficar aqui. - Por que se é para sofrer a decepição de um fora, eu prefiro a distância. - Pode falar, eu não vou interrompê - lo.
Se não estivesse preso em sua própria tensão, André teria um ataque de riso. Onde estava sua garota amorosa? Ela definitivamente, se fora, e quem estava ali agora era uma apenas a carapaça protetora. De fato, não tinha graça, lembrando - se do seu passado dolorido, com certeza ela estava com medo, do que ele lhe diria. De braços cruzados na altura dos seios, o queixo elevado e o olhar tenso não deixavam duvidas de estar pronta para o confronto.
Respirado fundo, tomando coragem para falar tudo sem deixar um detalhe de fora, o mínimo que fosse. Ele não queria testa - la, de forma alguma, apenas ser sincero, no valor máximo que a palavra lhe permitia.
Abrindo o coração, derramou tudo sobre seu derradeiro encontro com o homem que participou do assalto que culminou na morte de Estevão. Contou como seu comandante foi interceptar sua ação, e o advertiu quanto a uma possível transferência, sendo impossível confiar nele. Seus tios Oto e Alda insistiram para que ele fosse passar uns dias com seu Tonico, para distrair a cabeça de assuntos sem resolução. Cada dia ao lado dela e de sua família o fez enxergar coisas, das quais André, nem ao menos sabia estar lá!
- Eu entendi, que Deus nunca teve culpa de nada, e como poderia? Se mesmo dentro da igreja, nunca me interessei em conhece - lo, sempre fui um filho ignorante quanto ao amor do seu pai.
- E agora?
- Eu amo meu Pai. Sei do seu amor, sei do seu perdão, e finalmente consigo dizer que perdoei aquele homem. Meu irmão, confiava em seu Deus, tenho certeza que Estevão esta desfrutando deste amor pessoalmente agora.
De repente, ela se sentiu em frangalhos, por pensar...
- Ana... Você pode me perdoar por não ter dito nada antes?
Aproximando - se dele, tocando seu rosto tenso, sentiu o coração cheio de um amor que ia além da carne.
- Meu amor, obrigada por me contar algo tão seu... Eu não tenho o que perdoar. Você se sentiu forte agora para falar. Eu reagi maú, desculpe. - Dito isto, envolveu - o em um abraço apertado acariciando seus cabelos. Surpreso pelo pedido de desculpas, apenas devolveu o carinho.
- Deus como eu procurei por você, e nem tinha noção que estava, tão perto de mim.
- Ora, se soubesse antes seria teimoso o suficiente para me desprezar.
- Impossível! Com esse seu geito sorridente e os doces que faz?
Os olhares se cruzaram cheios de afeto. Se beijaram com mais paixão, os corações acelerados querendo leva - los para um lugar sem volta.
Andre passou seu braço por sua cintura trazendo - a para mais perto, a outra mão acariciando seu rosto. Ana Carla sentia seu cuidado em cada toque.
- Amor, eu tenho que ir estou de plantão no posto esta noite. - Disse sem fôlego, admirando o olhar sonhador dela e o gemido de insatisfação que dera, diante do triste comunicado. - Meu superior me liberou por uma hora.
- Quando você saí do plantão? - Mais um beijo.
- Na terça - feira... - Beijo. - Aí vou para minha nova moradia.
- Nos encontramos mais tarde.
- Eu ligo.
Levando André até o portão, dando - lhe um último beijo caloroso de despedida. Ana Carla descobriu - se em meio a uma mistura de sentimentos, saudades dele em questão de segundos após sua partida, alívio ao saber que ele não lhe daria um fora... Feliz... Emocionada... Eufórica...
Custou muito para conseguir dormir, e quando finalmente conseguiu, sonhou com seu amado.

Boa noite, pra
vocês amores...
😍😍😘😘
Estamos chegando a reta final, benhê! 😋
Vocês já sabem...
Votem!
Comentem!
E sejam abençoados em nome de Jesus! 😚😘
Amém!
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