Capítulo 19
André estava emocionado há quase um ano perdera seu amigo de uma forma, que só poderia ser descrita como cruel, e agora ele estava completamente envolvido com sua família de múltiplas formas.
A começar por seu avô Tonico, que o adotou de um jeito comovente. Aonde chegavam fazia questão de apresenta - lo como seu neto sem maiores explicações.
- Você é meu neto e pronto! O que? Só por que sou negro não posso ter um neto branco de olhos claros? Quem disser o contrário vou processar por preconceito racial! - disse ao sair do supermercado depois que uma atendente riu desdenhosa quando fez as apresentações.
Não deixava por menos, tidos como avô e neto mesmo que do coração e por tão pouco tempo de relacionamento, o sentimento era recíproco. Se tratavam com carinhos, davam - se broncas, contavam - se causos e de algum jeito um sempre sabia o que o outro iria gostar. Andre monitorava os horários dos remédios de seu avô, regulava sua alimentação e quando não acreditavam mais em milagres, convenceu seu Tonico a acompanha - lo nas suas caminhadas matinais. Tudo isso no decorrer de menos de um mês.
Uau! Era tudo o que D. Solange, vulgo D. Sol, sabia dizer. Para ela André era a resposta para as suas orações. Ele preenchia um lugar que jazia vago há muito, lugar esse que deveria ser ocupado por seu ex genro, pai de seu neto Pedro. Não gostava de tocar nesse nome. Mas, em fim!
Andre era organizado e prestativo, sempre disposto a dar o seu melhor e quando se tratava de sua menina...! Com certeza, Deus havia respondido suas orações!
Dona Sol o conheceu há dois anos atrás, quando fora visitar sua irmã Alda que estava doente e necessitava de repouso absoluto. Ele estava namorando cheio de planos para se casar, dizia que queria uma família grande e feliz. Mas a menina recusou a se incluir em seus planos. André demorou para se recuperar.
E agora ele estava ali encantado por sua filha, e mesmo que Ana Carla negasse, seu instinto de mãe sabia que era uma questão de tempo para ambos se unirem com as bênçãos de Deus.
É certo que o rapaz fora parar em Cachoeiras por causa de um estresse emocional, as circunstancias que o levaram a esse ponto não foram as melhores. Isso tudo fazia seu intimo se contorcer, seu sobrinho amado estava morto e agora André estava ali. Suas personalidades são exatamente iguais, mesmo humor, a mesma forma paciente de contornar uma situação de estresse. André não era um substituto de seu sobrinho, mais era maravilhoso te - lo por perto.
Ao que parecia todos em absoluto estavam caindo de amores pelo maravilhoso Andre Simões! Todos diziam o quanto ele era prestativo e bem humorado. Todos em Cachoeiras tinham uma historia para contar sobre suas atitudes de perfeito cavalheiro. Elogiavam André como se ele fosse um menino de seis anos com um comportamento impecável! Sem falar na beleza André que parecia ter saído de um comercial de creme dental. As meninas que trabalhavam na padaria viviam suspirando por ele. Sempre sorridente e educado com seu charme encantador!
Se Ana Carla não estivesse tão ocupada em fingir não estar interessada nele, certamente já teria demitido todas as suas funcionárias por causa do ciúmes que lhe fervia a têmpora, ao vê - lo ser simpático com uma delas. Seus sentimentos eram turvos. Sim, estava imensamente grata por André se dispor a ajudar seu filho num momento de extrema dificuldade, por outro lado um medo incomum a inundava com relação aos sentimentos que ele despertava nela. Tinha medo de se aproximar de mais! De se expor e se machucar para depois ter que se recuperar através de uma intensa "terapia espiritual." Seu coração já estava acostumado a solidão, desde... Bom, desde o pai de seu filho não procurou mais ninguém. Os anos se passaram e se acomodou confortavelmente a situação ignorando veementemente as tentativas das senhoras da igreja e sua mãe, em arrumar - lhe um pretendente. Seu mundo era perfeito. De casa para o trabalho, do trabalho para a igreja, as vezes festas de aniversário outras filmes com a família.
Se disser que vez por outra não sentiu falta de alguém para conversar no meio da noite quando perdia o sono ou para aquece - la nas noites frias, aí estaria mentindo. Sim, Ana Carla sentiu falta, mas nunca orou a Deus para lhe enviar um varão para casar.
Certa de que não precisava de um relacionamento, Ana Carla decidiu - se por ser educada com André. Era o mínimo que poderia fazer sem ser ingrata pelo seu ato de carinho com seu menino.
Quatros dias depois que Pedro saiu do hospital, achando que já havia passado tempo demais na casa do avô, decidiu - se por voltar para casa. Dizia a sí mesma que não queria mais estar no mesmo lugar que André. Mesmo que ele não tentasse nada, conversavam amigavelmente sorriam de forma cordial, mais ele a respeitava ainda que seus olhos indicassem que queria mais. E esses olhares eram insuportáveis para Ana Carla.
Horas haviam se passado desde que Ana Carla chegara em casa, o relógio marcava cerca de nove horas e Pedro já dormia, como de costume ela estava no escritório enterrada atrás de papéis. Determinada a organizar tudo antes da meia noite mau ouviu a campanhia tocar insistente.
- Oi, quem é? - disse ao interfone.
- Oi, é... Hum.... Sou eu o André. - parecia desconfortável.
Silêncio...
- Está tudo bem? - sua voz soou alarmada.
- É, sim... Esta tudo bem. É que sua mãe mandou alguns remédios que foram esquecidos, então ela ficou preocupada.
Bem, sua mãe sempre se esquecia de algo, de qualquer forma não era estranho para ela.
- Espera, só um minuto.
Descendo pela escada que ia para o pátio dos fundos, a área reservada da casa. Atravessou o pátio correndo. E parou diante do grande portão automático de madeira que tinha uma porta social no meio. Ana Carla verificou brevemente sua roupa, alisou os cabelos com as mãos e suspirou resignada. Se perguntou por que deveria se importar.
Ao abrir a porta deparou - se com André encostado na caminhonete de jeans e camisa preta escrita na estampa: Salvos pela graça. Ao vê - la sorriu. Por um instante ela não soube o que fazer, seu coração acelerou e junto com ele o medo se apresentou deixando - a tensa.
- Boa noite. A noite esta ótima para um passeio. - ele falava preguiçosamente.
- É mesmo, apenas uma brisa fresca e o céu claro, perfeito. - Ana Carla olhava o céu estrelado.
- Perfeito. - Andre não desviou os olhos dela.
- Hum... Onde estão os remédios?
Ele sorriu para ela uma última vez antes de passar o braço pela janela aberta do carona do carro tirando uma bolsa vermelha.
- Aqui, dona Sol achou que você poderia precisar de algo. Ela diz que você trabalha muito e por isso sempre tem dores de cabeça ao fim do dia. - André foi até ela com passos lentos preguiçosos e ao chegar encostou - se no portão, seus cabelos estavam úmidos de um banho recente deixando - o ainda mais atraente aos olhos dela. Ana Carla suspirou.
- Ela tem razão, mas não precisava te fazer vir aqui por causa disso.
- Ela não me fez vir aqui, eu quis vir.
Ele a olhava com uma expressão neutra.
- Humm...
Andre apenas riu da resposta dela.
- O que? - O riso dele foi o suficiente para deixa - la em alerta.
- Nada, é que eu já notei que você sempre responde assim quando não tem uma resposta.
- E na certa você acha que é por causa de sua presença impactante?! - As palavras saíram entre os dentes em tom de sarcasmo.
Andre levantou as sombrancelhas divertido, mas percebeu a sua mudança de humor.
- Talvez minha presença te deixe sem respostas.
- Ho, é mesmo? O senhor é mesmo irresistível. Todas caem aos seus pés.
- Só você continua lutando contra. - Andre buscou contornar o nervosismo que sombreava os olhos dela, com bom humor. Fixou o olhar no dela e se aproximou fazendo a recuar até que Ana Carla estava de costas para o portão.
- Por que você luta contra o que sente? - seu rosto estava perto.
- Não sei do que esta falando. - mentira, gritou para si mesma.
Ele sorriu como se tivesse ouvido o seu grito mental.
- Sério? Vamos ver, você parece nervosa, sinto que você quer que eu a beije, agora. Vejo esse seu jeito de me olhar quando acha que não tem ninguém vendo.
- E como eu te olho? - a voz não saiu tão firme quanto desejou.
- Com desejo.
Ela soltou uma gargalhada quase histérica.
- Você só pode estar louco. Você acha mesmo que eu estou "afim" de você? Com desejo? Ora, por favor André. Você é um amigo da família e só! E não... Confunda amizade com qualquer outra coisa. Na certa você esta tirando conclusões precipitadas.
Ana Carla estava ofegante com um olhar de desespero que causou agonia em André.
- Escuta eu...
- Não escuta você. Eu não sei o que te deu na cabeça, na certa acha que vai conseguir algo comigo depois do que fez pelo meu filho, mais está muito enganado!
- O que? Olha aqui Ana Carla o que eu fiz pelo Pedro foi por amor, sendo assim não requer nenhum tipo de troca. - Andre controlava seu tom visivelmente irritado pela insinuação.
Ana Carla se afastou dele ficando ao lado da porta aberta.
- Ha, tá! Conheço tipos como você. São prestativos e charmosos mais no fim só querem prazer rápido sem se importar com os sentimentos alheios.
- Não seria você quem esta fazendo confusão agora?
Ela pois as mãos na cintura.
- Eu sei muito bem do que estou falando. Tipos como você não medem esforços para manter uma aparência impecável, mas lá no fundo são como verdadeiros chacais prontos para tirar proveito de qualquer oportunidade! - As palavras saiam como bolas de fogo queimando os ouvidos de André. Respirando profundamente para manter a calma, quando ele falou tinha um tom frio e distante.
- Eu sinto muito se é esse tipo de pensamento que você tem meu respeito.
- Tudo que eu sei é que não existe nenhuma chance de algo acontecer entre nós. - Ana Carla mantinha o olhar firme no dele.
Balançando a cabeça, ele pois as mãos nos bolsos.
- Não sou o tipo de homem que persegue as mulheres, mesmo quando estas dizem não. - dando de ombros sua voz ainda fria. - Sinto muito se a encomodei, senhora. Boa noite.
Ana Carla cruzou os braços em resposta ao mesmo tempo que escondia as mãos trêmulas.
Jirando nos calcanhares, André foi até a caminhonete e entrou sem olhar para trás. Ouvindo a porta bater. Só o que ele não ouviu foi o choro! Cada palavra dita em desespero cortou tanto ele quanto ela. Sabia que ele não era culpado das acusações que fizera, deixara - se levar pelo medo. Um dos piores conselheiros em momentos difíceis.
Ana Carla olhou para a bolsa vermelha pendurada no braço e a culpa se agravou intensamente em seu peito. Deus do céu como pode ser tão cruel? Deu - lhe palavras horríveis em troca do seu carinho e gentileza.
Confusa trancou a porta e correu de volta para a casa. Ao subir trancou o escritório e foi se deitar em meio lágrimas de ódio.
Ódio de sí mesma, pelo que acabara de fazer com André. Ódio do seu ex que lhe roubou sua confiança e coragem de buscar um futuro com alguém decente. Mais principalmente ódio de si por não ter superado seu ex e permitir que suas atitudes monstruosas a afetassem tão drasticamente.
Suspirou profundamente contra o travesseiro sufocando o pranto compulsivo. A cabeça começou a latejar após algum tempo, olhando para a bolsa vermelha de remédios sobre a cômoda ao lado da cama, e não pode conter um soluço amargo na garganta. Sentiu um súbito vazio no peito.
Queria André por perto. Não só perto. Mais... muito mais. E mesmo admitindo agora, o medo não parava de crescer. Já não valia muito o arrependimento, agora ele desistiu dela. Estava acabado. Depois de tudo o que disse, da forma como disse...
Adormeceu agarrada ao cobertor chorando. Com um cansaço sobrenatural, seu último pensamento foi sobre o dia em que conheceu o pai de seu filho, César.
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Vixi, deu ruim?
Oi pra vocês... Por favor não fiquem com raiva da Ana Carla. Tudo tem um por que. Não deixem de votar e comentem.
Bejão!
😘
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