Capítulo 18
- Sinto muito Tenente Jackson, conversei com meu comandante esta é uma decisão sem volta. - André repetia pela quarta vez a mesma frase para seu amigo de farda, com quem conviveu por mais de oito anos no batalhão. - Tenho certeza que sentirão minha falta assim como eu também sentirei a falta de vocês, mas eu não volto atrás.
Houve um longo silêncio do outro lado da linha.
- Ao menos nos deixe fazer uma festa.
- Nossa até parece que eu vou para outro país, não é como se nós nunca mais fossemos nos ver. - André provocava divertido.
- Ainda assim não será a mesma coisa.
Andre finalmente concordou com a festa afinal amava seus companheiros não queria destruir as amizades que custaram anos para serem formadas.
Após uma longa conversa desligou o celular, deixando - o de lado e fitou o céu nublado com certeza cairia uma chuva grossa naquela tarde, o relógio no pulso marcava duas horas. Lá dentro a mulher por quem seu coração quase parava de bater de tão acelerado, cuidava do filho.
Faziam dois dias que Pedro sairá do hospital sem maiores sequelas. Seu Tonico e D. Sol decidiram que eles deveriam ficar na casa do avô, para poderem ajudar a cuidar do neto melhor. É lindo ver como se mantinham firmes unidos a fim de transpor os obstáculos.
Ana Carla tinha se aproximado um pouco mais, conversavam com freqüência e André sentia que ela estava um pouco menos apreensiva dando mais espaço para se conhecerem. Isso era um bom sinal na sua opinião. Porém, ainda era bastante tímida diria que era quase como se tivesse medo dele. Mesmo que ela parecesse ter medo também tinha algo que era mais forte algo que Ana Carla parecia lutar contra a todo tempo. No acampamento sentiu uma aproximação e pensou que sua relação com ela seria melhor, no entanto ao voltarem do hospital ela parecia tensa e ocupada de mais para qualquer outra coisa. Andre não só estava intrigado como também atraído tal como mariposas são atraídas para a luz.
A porta ao lado do sofá onde ele estava sentado na varanda se abriu dando passagem ao senhor idoso que recém o adotara como neto, André ainda se impressionava com a altura desse homem de cabelos grisalhos. Seu Tonico bateu nos seus pés sobre o sofá, capturando sua atenção.
- Vem dar uma volta comigo?
Sem esperar uma resposta o velho continuou andando até a caminhonete do neto. Andre suspirou e foi com o avô.
- Aonde vamos?
- Pensa rápido! - seu Tonico jogou as chaves do carro sobre o capo para André que agarrou no ar. - Segue em frente e quando eu mandar parar você... Para.
Dando de ombros André entrou na cabine da caminhonete.
Em pouco tempo estavam na estrada principal a caminho do centro da cidade. O trajeto foi silencioso ambos envolvidos nos seus próprios pensamentos. O caminho era lindo cheio de árvores, e com a mudança de clima anunciando a vinda da chuva o ar mudou trazendo consigo um cheiro de terra molhada agradável. Andre gostava desse cheiro lembrava sua infância em Unamar, um bairro de Cabo Frio, morou lá até os doze anos, e quando chovia esse cheiro invadia sua casa. Sua mãe as vezes o deixava brincar na chuva quente que caia no fim das tardes de verão. Ele se sentia grato por Deus ter lhe dado pais tão amorosos e amigos com quem tem laços tão filmes quanto os de sangue talvez seriam.
Chegando no centro André lançou um olhar interrogativo para o avô.
- Segue em frente. - seu Tonico disse sem olha - lo.
- OK.
O silêncio voltou. Era um silêncio amigo, acolhedor que os envolvia. Podia ser absurdo para muitos, mas seu Tonico sentia um grande afeto por esse rapaz. Sua filha Alda falava dele com muito amor, contava todas as histórias da adolescencia dos dois meninos e de como os pais de ambos ficaram amigos, uma amizade cultivada através do repeito e o amor. André ficou órfão adulto, sem parentes vivos foi natural para a doce senhora que ele se tornasse efetivamente um terceiro filho em tempo integral. André era um filho para Alda e Oto, seu Tonico não tinha dúvida de que também seria como um neto para ele assim que o conhecesse melhor.
Chegaram do outro lado da cidade descendo uma ladeira estreita virou a esquerda. Ao comando do seu avô parou o carro.
- Quanto mistério. - Andre disse descendo do carro.
Numa placa em cima de uma porta grande lia - se: "Centro Sócio Educativo Cristão."
- Quero que conheça uma pessoa.
A faxada era branca com portas e janelas marrons.
Por dentro as paredes eram de cor clara, os móveis eram de madeira simples mais de muito bom gosto. O corredor dava direto numa recepção com um enorme balcão de madeira, e neste havia uma bela vitrine com bijuterias a venda no mostruário. Atrás da recepcionista um rico mostruário de telas a óleo, vasos de cerâmica, bolsas de diversos materiais, brinquedos de materiais recicláveis... Eram tantas as variedades que André não sabia para onde olhava. Tudo em absoluto o cativava.
Ao redor das paredes da sala haviam fotos de vários grupos alegres em momentos de comemorações.
Uma foto em especial lhe chamou a atenção. Era Estevão no meio de várias crianças que seguravam uma faixa dizendo "turma de judo 2003" eles sorriam. Andre percorreu a parede encontrando varias outras dos anos seguintes. Estevão, com quem ele concluiu que eram professores do centro. Mais com certeza seu irmão estava feliz seus sorriso não deixava duvidas. Seus filhos Tiago e Natan, e Bete sua esposa também estavam nas fotos tão felizes como ele. Seus Tonico se aproximou ficando ao seu lado.
- Posso fazer uma pergunta? - sua voz era amigável.
- Claro.
- Nestes anos todos de amizade entre você e meu neto, porque você nunca veio a Cachoeiras?
Andre tinha que reconhecer seu receio em conhece - los. Em anos de amizade nunca se propos a acompanhar seu amigo nessas visitas. Quando Estevão partia para Cachoeiras ele tratava logo de ir para a região dos lagos com uma mentira como desculpa. Andre suspirou.
- A verdade seu Tonico é que eu nunca quis vir por ter medo, antes quando tinha meus pais saiamos sempre juntos nas minhas férias e depois que se foram fugia para a região dos lagos pois me achava intruso numa família já formada. Acho que era isso eu contava uma mentira qualquer para me justificar. Ai Estevão não insistia, mais sempre falava do senhor e de todos aqui de como vocês gostariam de mim e eu de vocês, claro.
Fez - se um longo silêncio, angustiante para André que quis ser honesto, porém as pessoas nem sempre queriam ouvir a verdade.
- E por que veio agora? - seu Tonico finalmente perguntou.
- Eu... Fiz algumas coisas das quais me arrependo... E eu precisava de um tempo de tudo.
- Coisas ilegais?
Silêncio.
- Alguém se feriu?
Sem resposta de André.
- Você é foragido ou algo do tipo?
- Não.
- Um dia quem sabe você não me conta. Vamos quero que conheça uma pessoa.
Os dois seguiram por um longo corredor decorado por quadros e esculturas feitos pelos alunos daquele centro.
- Esses quadros são tão vivos. - André admirava as cores e traços delicados.
- Tudo o que você vê foi feito pelos alunos daqui.
Alguns metros depois eles saíram num pátio enorme onde via - se um grupo de meninos vestidos de quimono lutando em duplas em colchões. O professor, um homem alto de pele morena os instruía.
Os dois se sentaram assistindo a aula com atenção. Andre teve de controlar a vontade de praticar. Os alunos tinham pouco eram de várias idades. Via - se em seus pequenos rostos uma expressão de pura concentração. A aula durou mais trinta minutos e quando acabou o professor recebeu uma enxurrada de abraços calorosos.
Quando avistou os dois a sentados no banco acenou sorrindo.
Seu Tonico agarrou a mão que lhe fora estendida e do seu jeito caloroso abraçou o mesmo.
- Como vai assa força velhote? - Girando rapidamente seu Tonico o agarrou pelo pescoço num golpe mau aplicado, entrando na brincadeira, o rapaz fingiu surpresa.
- Quem é o velho agora? - Seu Tonico ria enquanto esfregava o topo da cabeca do professor. - Tenha mais respeito ou conto a sua mãe.
- Não faz isso, se não dona Vidinha me põe de castigo sem TV por uma semana! - Ele batia no braço do idoso que logo o soltou piscando para André que assistia a cena sorrindo. - Viu filho, é assim que se impõe respeito.
- Obrigado pela lição vô.
- Eu poderia derruba - lo a qualquer momento, só não o fiz por respeito. - Explicou o professor que alisava o topo da cabeça sorrindo.
- Andre esse menino insolente é o Jonas, meu sobrinho.
- Andre estava curioso para conhece - lo. - Ambos cumprimentaram - se.
- É mesmo? Porque?
- Oras, você é uma lenda em nossa família. Meus primos só falavam de você desde sempre e tia Alda e tio Oto, nem se fala. Né, tio?
- É mesmo, alguns de nós diziam que você é como o pé grande.
- Pé grande? - André franziu a testa curioso para o avô.
- Sim, alguns juram ter visto mais é difícil acredita realmente na sua existência sem provas.
Os três riram da divertida observação do idoso.
- Que bom que eu estou aqui, então acabou o mito.
Jonas balancou a cabeça meio de lado.
- Sei não, como toda nova descoberta deve ser testada para se comprovar a veracidade.
- Como assim?
Tio e sobrinho se olharam com divertimento.
- Meu primo dizia que você é ótimo no judo. Vamos lutar!
- O que ? Eu gostaria mas não tenho quimono.
O sorriso de Jonas se alargou como um predador.
- Tenho um quimono extra.
- Estou sem prática.
- É como andar de bicicleta nunca se esquece. Mais se você esta com medo.
Medo?! O subconsciente de André gritou.
- Não mesmo.
- Tudo bem, André não precisa fazer se não quer ou está com medo. - Seu Tonico pôs a mão no seu ombro como um apoio.
- O senhor não acha que eu tenho medo dele? - Andre sorria com desdém.
- Talvez não seja tão bom assim como Estevão dizia, eu o fiz beijar a luna algumas vezes. - Os olhos de Jonas brilhavam maliciosamente enquanto falava olhando para André.
Não mesmo! Não deixaria que insultassem seu amigo assim! Caindo na brincadeira finalmente disse:
- Aceito o desafio. Só não quero que fique chorando depois e vá correndo contar para seus pais.
- Esse é meu garoto! - Seu Tonico deu - lhe um soco no ombro.
- Veremos quem vai correr chorando para casa. O banheiro masculino é naquela porta azul e o quimono esta no armário um.
Andre saiu rindo da provocação saudável. Sabendo que tudo não passava de uma mera brincadeira entre familiares. Santo Deus, sentia - se mesmo incluso.
Jonas e o tio tocaram os punhos com um sorriso enorme.
- Tem certeza que ele é bom tio?
- Esse menino é ótimo, ele precisa ocupar a mente com coisas boas e pessoas que valham a pena conviver. Além do mais, você não se lembra dos videos que seu primo fazia deles competindo?
Conversaram por mais um tempo até André voltar ajustando uma faixa amarela na cintura.
- Sério, faixa amarela?
- Cuidado cara, a soberba precede a queda.
Andre sorriu como um lobo pronto a atacar.
- Não vai acontecer. Regras?
- Três pontos vence.
Seu Tonico sentou em um banco perto do tatame para observar de perto.
- Pronto? - Jonas provocou.
- Chega de papo.
Depois do aquecimento os dois flexionaram os joelhos em posição de combate. Analisando o adversário para em seguida tentarem segurar as golas do quimono um do outro.
Após algumas vezes ambos se agarraram dando início a uma seqüência de golpes com os pés, em uma avaliação mais profunda.
Com muita dificuldade um buscava derrubar o outro. Ambos com técnicas evoluídas. Jonas era um tanto mais alto que André e seu peso era considerável ao se levar em conta o tempo que André não praticava.
Sendo assim, logo este foi levado ao chão com um golpe que o trouxe sobre o ombro de costas na lona.
Seu Tonico bateu palmas e gritou:
- Um a zero.
Na sequência André aplicou um golpe acertam suas pernas derrubando o em um só movimento.
- Levanta! - Seu Tonico incentivou o sobrinho.
De volta a posição inicial ambos atacaram, não demorou muito já estavam empatados. O ponto final definiria a partida, porém o que Jonas desejava saber o que já lhe fora revelado. Mas por puro ego masculino não quis dar o braço a torcer. Os dois eram bons.
Em um pequeno movimento fracionado André passou o braço por debaixo do braço oposto de Jonas deu - lhe um forte puxão. Encontrando sua resistência. Numa segunda vez usou o peso de seu adversário contra ele derrubando diante seus pés.
- Isso é um ponto final. - Voltando - se para o avô. - Ganhei, viu?
- Sim, um prodígio meu neto. - Seu Tonico batia palmas.
Levantando - se Jonas buscava ar para os pulmões.
- Ele vai servir, bem se ele aceitar.
André terminou de abrir o quimono revelando um peitoral definido. Sentou - se no tatame franzindo a testa.
- Estou fora de forma.
Jonas e o tio o avaliaram silenciosamente rindo no final.
- Aí tio, ele parece uma parede de tijolos e se diz "fora de forma" deve ser modesto. - Dito isto sentou - se ao seu lado.
- Para o que eu vou servir? - André perguntou atento a conversa.
Seu Tonico respondeu com uma voz pausada.
- Sabe André meu sobrinho vai sair de férias no escritório de contabilidade onde trabalha e pretende viajar com a família para a Bahia todo ano ele fazia isso e quem o substituia era...
- O Estevão.
- Exato. Então nos lembramos que ele sempre dizia que você era tão bom quanto ele. Pensamos em convida - lo para substituir o Jonas, será apenas por duas semanas.
Um misto de emoções invadiu André falar do melhor amigo já não causava tantas dores nem revoltas apenas o fazia sentir - se feliz por te - lo por perto por algum tempo. O tempo que Deus lhe permitiu ter um irmão que seus pais não puderam lhe dar, e seu legado de carinho. Mesmo morto Estevão mostrava a ele como o amou nos detalhes. Não apenas por contar aos parente coisas sobre o amigo, mais principalmente por enxergar além dos seus defeitos. Sabia muito bem que era, teimoso muitas vezes fazia apenas o que queria e quando queria, sem se importar com os sentimentos dos outros. Egoísta! Deus como pode ter convivido com uma das melhores pessoas do mundo e mau ter dado ouvidos as suas palavras?
- E aí vai aceitar?
Andre estava visivelmente abalado pelas novas descobertas.
- Sim. Vou ficar feliz em ajudar tenho um pouco de experiência com meus sobrinhos, os filhos do Estevão. Tiago e Natan.
- Mais isso é ótimo! - Seu Tonico tinha um brilho de felicidade nos olhos que os contagiou.
- Tem um porém André. - Jonas estava um pouco apreensivo.
- Pode dizer.
- Beleza. É que existe uma regra aqui de que os professores precisam frequentar as escolas dominicais para serem exemplos.
- É só isso? Posso fazer isso sem problemas. - Não havia dúvidas na voz de André.
- Serio mesmo? - Foi Jonas quem falou visivelmente animado. - Vamos falar com a diretora do centro, ela esta animada para conhecer o novo professor.
Logo após tratar com a diretora uma mulher com cerca de cinqüenta anos, estatura mediana e grande senso de humor de nome Laura. Em poucos minutos estavam entrosados e muito felizes com a aceitação de André em ajuda - los, felizes por que isso significava que as duas três turmas que faziam judo não passariam um dia si quer na rua a mercê de sabe la o que.
Já no carro de volta para casa André ficou curioso.
- Como sabia que eu aceitaria o convite?
- O Estevão sempre disse que você é um cara bom sempre disposto a ajudar no que pudesse. - Deu de ombros. - Apenas pedi você poderia negar de qualquer jeito.
- Eu não sou um cara tão bom assim. Eu fiz uma coisa... E eu não posso voltar atrás.
Seu avo soltou um longo suspiro. Recostando - se no banco da caminhonete começou a falar com voz branda.
- Já conversou sobre isso com Deus?
- Sim.
- Sabe o que fazer para se corrigir?
Andre apertou o volante meio tenso, esse assunto doía.
- Sei o que fazer.
- Bom, esse é o meu garoto.
Os dois riram aliviando a tensão. Sabiam que só cabia a André resolver seus problemas.
Seriam pendências que deveriam ser ajustadas em seus devidos lugares. E por um longo tempo André pensou em como seu futuro seria sem seus pais, sem seus concelhos e puxões de orelha, suas palavras e gestos de amor. Sentia - se só boa parte do tempo. Buscava nas boates e bares pessoas que pudessem suprir esse vazio, porém aquela família o acolheu e o apresentou um jeito leve de confiar em Deus. O velho sentimento de solidão estava morto e seu peito estava transbordando de um amor único.
E quando pensava que seu futuro estava fatalmente ligado a sua morena, Ana Carla, o deixava ainda mais contente.
Estava seriamente disposto a investir neste futuro.
********💝********
Oi gente!
Gente estou muito feliz com essa empreitada. Obrigado pelos comentários e votos. Vocês são muito especiais, me ajudam a seguir em frente.
Deus nos abençoe.
Bejusssss
😘
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