- Vai dizer ao meu pai que irá sair da empresa? - Mark pergunta.

- Sim. - Suspiro alto.

Decidi contar ao meu tio, mas ainda me falta coragem.

- Vai sair da empresa Lya?

Olho para trás e meu coração gela no peito. Meu tio está parado na porta me olhando com seriedade.

- Tio...

- Eu ouvi bem? - Ele me corta.

- Pai...

- Desde quando sabe disso Mark? - Ele pergunta.

- Já faz algum tempo. - Mark responde.

Mark foi o segundo a saber da minha vontade de sair da empresa. Ele descobriu quando eu conversava com Anne a respeito desse assunto.

Achei que ele ficaria bravo comigo, mas me apoiou desde o início. Espero que o mesmo aconteça com meu tio.

- Poderia se sentar? - Mark pede para o pai.

- Estou bem aqui. - Ele retruca.

- Por favor pai. - Mark o encara sério.

Meu tio bufa frustrado mas obedece o filho, mesmo contra sua vontade.

- Vou deixá-los conversar sozinhos. - Mark diz. - E por favor pai tente entendê-la.

Olho para Mark em silêncio e suplico com os olhos para ele não me deixar sozinha. Mas é em vão minha tentativa e ele se retira da sala.

Meu tio me encara e tento ao máximo não demonstrar meu desespero. Por fora pareço centrada, mas por dentro estou em pânico.

Depois de algum tempo me encarando ele pigarreia e pergunta:

- Não vai falar nada?

- Bem... Então... - Fico nervosa.

- Diga logo Lya. - Ele fala impaciente.

- Eu não quero ser a Vice-Presidente do Mark. - Digo enfim. - Não acho que esteja preparada para algo difícil, e que requer uma responsabilidade enorme.

Qualquer erro meu poderia interferir na vida de muitas pessoas. Não estou preparada para esse cargo, e não acho que estarei em alguns anos. Não quero que as pessoas dependam de mim, e não me vejo nesse emprego.

- Você é inteligente, com certeza aprende com o tempo. - Meu tio fala.

- Eu não quero tio. - Digo. - Não gosto do que faço.

Pela primeira vez digo isso para ele, e torço para que ele entenda meu lado.

- Por que Lya? - Ele pergunta.

- Só fiz administração de empresas para deixá-lo feliz, e não porque eu gostava. - Digo.

- Por que não me disse nada?

- Para não deixá-lo triste. - Abaixo a cabeça. - O senhor fez tanto por mim, e eu queria retribuir de alguma forma, então aceitei sua decisão sem dizer nada.

- Eu não fazia idéia. - Ele suspira alto. - Se ao menos eu soubesse teria deixado você escolher um rumo para sua vida.

Meu sonho de infância era me tornar médica e salvar vidas. Desejei isso depois da morte dos meus pais, mas conforme o tempo foi passando acabei deixando de lado esse sonho.

Eu deveria ter dito ao meu tio quando tive a oportunidade, mas acabei ficando em silêncio porque queria que ele ficasse feliz com a minha escolha.

Então em um determinado momento eu iria lhe dizer a verdade, mas ele ficou extremamente feliz com a minha escolha de seguir seus passos. Foi aí que não tive coragem de dizer meu real sonho e mágoa-lo, me mantive em silêncio por anos, e trabalhando em algo que não gosto somente para agrada-lo.

- A culpa foi minha. - Ele diz triste.

- Claro que não tio. - Pago sua mão e aperta de leve.

- Eu deveria ter perguntado para você.

- A culpa foi minha por eu não ter coragem de dizer. - Digo.

- Você deveria ter me falado a respeito. - Me olha bravo. - Eu teria te apoiado em qualquer decisão.

- Eu sei. - Sorrio abertamente. - Apenas queria te deixar feliz, e eu consegui por alguns anos.

- A custo da sua felicidade. - Retruca.

Ele tem toda razão, mas agora posso fazer o que realmente quero, sem medo de desaponta-lo.

- Eu sou completamente feliz. - Deito minha cabeça no seu ombro. - Tudo porque tenho um pai maravilhoso.

Meu tio se assusta porque raramente o chamo de pai.

- Você me chamou de quê? - Ele pergunta.

- De pai. - Levanto a cabeça e o olho. - Jamais serei capaz de agradecer o suficiente por todo cuidado que teve comigo em todos esses anos.

- Não fiz muita coisa. - Nega com a cabeça. 

- Não tinha nenhuma obrigação em cuidar de uma sobrinha órfã, mas mesmo assim me deu carinho e me amou da mesma forma que Mark.

Meu tio nunca me tratou diferente do meu primo. Sou apenas sua sobrinha, mas ele nunca beneficiou mais Mark do que eu. Tanto quanto presentes, aniversários, ou até mesmo o amor de pai, era exatamente o mesmo para ambos.

- Sou muito grata por tudo tio. - Lhe dou um beijo no rosto.

- Eu que sou grato por ter tido a oportunidade de ser seu pai. - Ele segura minha mão entre as suas. - Apesar das circunstâncias, acho que fiz um bom trabalho com você e Mark.

- Com certeza fez sim. - Sorrio abertamente.

É óbvio que sempre senti um vazio no peito pela ausência dos meus pais, mas meu tio preencheu uma parte de mim com seu amor, então foi um pouco mais fácil de superar a dor que sentia.

- O que pretende fazer agora? - Ele pergunta.

- Por enquanto pretendo ser dona de casa. - Digo. - Depois que meu bebê já estiver grandinho, então começarei a faculdade de Medicina.

Quero cuidar do meu filho(a) por um período de tempo, então depois colocarei meus planos em prática. Ainda sou nova, então terei bastante tempo para pensar.

- Espero que dê tudo certo e conquiste seus sonhos. - Ele deseja.

- Conseguirei com a ajuda da minha família e meus esforços. - Digo.

- Talvez eu nunca tenha dito em voz alta... Mas eu tenho muito orgulho de você Lya. - Meu tio sorri radiante. - Se tornou uma mulher incrível.

- Obrigada tio. - Agradeço. - Tudo que sou hoje devo ao senhor.

- Me perdoe por pensar somente em mim, e não perguntar se estava feliz. - Ele abaixa a cabeça.

- Não preciso perdoá-lo. - Falo. - E já está tudo no passado, o que importa agora é o futuro.

🌻

- Deu tudo certo entre você e seu tio? - Victor pergunta.

- Sim. - Falo. - Estava morrendo de medo, mas graças a Deus ele me apoiou.

- Pretende trabalhar até quando?

- Até o fim do ano. - Digo. - Tenho alguns documentos em andamento, então pretendo termina-los antes de me demitir.

Não seria legal da minha parte abandonar tudo imediatamente, só deixaria Mark ainda mais sobrecarregado com tanto trabalho.
Não sei o que ele e meu tio vão decidir, e quem irá assumir meu lugar.

- Fico feliz que tenha tido coragem e confessado tudo para seu tio. - Victor me abraça.

- Teve alguém que me ajudou nessa decisão. - Sorrio abertamente.

- Quem? - Ele se faz de desentendido.

- Meu noivo. - Falo.

- Homem sábio esse seu noivo. - Ele sorri lindamente.

- E convencido. - Lhe dou um beijo no rosto.

Graças a Anne, Mark e Victor, tive coragem de confessar para meu tio. Não foi como eu planejava, e ele acabou sabendo antes da hora. Mas fico feliz que tudo já tenha sido esclarecido entre nós dois, e fico ainda mais feliz por ele não me odiar.

- Está cansada? - Victor pergunta.

- Um pouquinho. - Digo.

Ele me levanta nos braços e me leva em direção ao meu quarto. Victor está praticamente morando comigo, quase não vai até seu apartamento.

Ele abre a porta do quarto com o pé, caminha em direção a cama e me deita sobre ela com cuidado.

- Hoje serei seu massagista. - Ele diz.

Ele começa a fazer massagem nos meus pés e a sensação é maravilhosa.

- Posso acabar me acostumando com isso. - Digo e bocejo alto.

Victor continua a massagem e quando estou prestes a dormir ele para e deita ao meu lado.

- Vamos olhar algumas casas amanhã. - Ele diz.

- Sério? - Pergunto.

- Quero que nosso bebê cresça em uma casa com um grande jardim. - Ele passa a mão por minha barriga.

Ainda não sabemos o sexo do nosso bebê, e estou tão curiosa que não me aguento mais. Graças a Deus que a consulta está marcada para semana que vem, então Frank irá me revelar se é uma menina ou menina.

- Depois que escolher a casa iremos nos casar.

Acabo engasgando com a saliva e começo a tossir.

- Achei que tinha desistido de casamento. - Falo.

Victor não havia tocado no assunto, então achei que ele iria querer apenas morar juntos.

- Ainda não tinha 100% da bênção do seu tio e Mark, então me mantive em silêncio. - Ele diz. - Então agora que eles já se decidiram vamos nos casar.

- Eles aprovaram? - Arregalo os olhos.

- Sim. - Fala. - Me chamaram para uma reunião ontem, e depois de muitas ameaças cada um deu sua bênção.

Victor beija meus lábios rapidamente e me olha com carinho.

- Vamos nos casar o mais rápido possível.

- Acho uma ótima ideia. - Me aconchego ainda mais em seu corpo.

Victor me abraça tão forte que escuto seu coração batendo contra meu rosto.

- Eu te amo. - Ele diz baixinho.

- Eu também te amo. - Digo.

E então adormeço nos braços do homem que amo, já sonhando em passar cada segundo da minha vida ao seu lado e sendo feliz.

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Olá meninas
Tudo bem com vocês?
Depois de alguns dias sumida voltei 🎉

Decidi postar o capítulo hoje porque minha internet não está muito boa, e não seria legal da minha parte deixá-las sem capítulo amanhã.

Então...  Espero que gostem do último capítulo ❤ Até sexta feira com o epílogo. ❤