É hoje!

Kim

Nem sei o porquê me dou a este trabalho todo, mas o frescor no meu peito e o frio na barriga de saber que ela aceitou jantar comigo é indício de que estou ficando louco. Tenho certeza que assim que ela se render a mim tudo vai passar. Como férias de verão, ou de inverno, vai ficar apenas nas lembranças.

Voltei à coletiva com um sorriso no rosto, este que não havia presenteado as fãs, por sono, cansaço e inquietação. Lee aproximou e perguntou:

— Aconteceu alguma coisa? — Cheirou minha boca. — Bebeu algo?

— Apenas água, por quê?

— Voltou estranho, nem parece o ranzinza de mais cedo.

— Talvez tenha acontecido, daebak! — Sorri e bati com a ponta do dedo na testa.

Ele sorriu e distanciou. Tirou um pirulito do pote de vidro sobre à mesa e colocou na boca. Este doce sem graça era sem dúvida o preferido destes moleques. Nunca faltava em qualquer turnê.

Sentei na poltrona e fiquei a imaginar como seria minha noite. Minha intenção era jantar mais cedo e dormir até por volta da meia noite, isso porque nosso grupo seria o sétimo a se apresentar, neste festival que iniciava as seis horas da tarde e acabaria por volta das seis da manhã. Sim, doze horas de música, incluindo vários grupos K-pop. Seria nosso último show na cidade.

Precisava providenciar um ingresso vip de camarote para minha linda Huma. Um arrepio percorreu minha nuca ao lembrar do sonho.

— Besteira! — falei.

— O que foi? — nosso produtor, que se encontrava por perto, perguntou.

— Pensei alto. Já posso ir para meu quarto? Terminou por aqui?

— Vamos fazer mais algumas fotos do grupo completo para as redes sociais. Os autógrafos foram encerrados, mas as vendas ainda continuam. — Olhou para mim. — Você bem que podia fazer fita entre as garotas a fim delas consumirem mais. Veja os garotos, tudo que eles usam vendem.

— Por isso não preciso ir, eles fazem por mim, pelo jeito nem tem muita coisa para ser vendido. Se quiser posso tirar minha cueca e fazer um leilão — falei rindo.

— Menos Kim. Não precisamos de publicidades negativas. Já basta eu ter apagado o fogo que você acendeu.

— Eu? — Levantei e me aproximei dele. — Quem invadiu meu quarto foi uma garota e não foi a meu convite.

— Desta vez, não é mesmo, senhor Kim?

— E é do fato que estamos falando. Você podia ter me deixado prosseguir com a denúncia para mostrar que nem sempre somos os vilões.

— Chega deste assunto. Papo encerrado! E sem mais nenhum comentário. — Afastou e pediu que o acompanhasse.

Tinha hora que o Paulo me irritava, falava comigo da mesma maneira que chamava atenção dos garotos. Isso porque tínhamos quase a mesma idade e eu, mais de dez anos que os meninos.

Aproximamos da mesa de exposição dos artigos do grupo. Eram camisetas, CDs, DVDs, bonés, chaveiros, canecas, canetas, fotos autografadas e um monte de mimos com nossos rostos estampados em grupo e individual. Paulo bateu palmas e chamou atenção do público feminino e anunciou uma promoção para acabar com o estoque. O que incluía fotos conosco.

Pronto! Era o que faltava e, em meio minuto não havia mais nada sobre a mesa e meninas penduradas em nossos pescoços novamente.

Entrei no quarto faltava poucos minutos para as sete da noite. Precisava organizar meu jantar com a Huma. Teria que ser algo sofisticado e não tão romântico, pelo que aprendi estes dias, essa mulher não possuía as características do padrão que me acostumara.

Liguei no restaurante do hotel e pedi uma mesa exclusiva e num local discreto. Exigi que fizesse uma barreira entre as outras mesas. Uma divisória, poderia ter arranjos de flores, ou qualquer outra coisa. Custei a explicar exatamente o que desejava por não saber o nome daquele suporte maleável que usávamos muito em camarim improvisados. Queria ter um ambiente exclusivo, já que ela não me deu oportunidade de ser fora do hotel.

Tomei banho e me arrumei no capricho. Minhas roupas do show, três peças para possíveis trocas, já tinham sido entregues e permaneciam embaladas e esticadas sobre a cama, em capas de proteção etiquetadas por ordem a serem usadas. Tudo estratégia de marketing para divulgação. Às vezes, tudo isso me cansava, eu apenas continuava porque era meu sustento. Quer dizer, muito mais que pagar minhas contas, me dava oportunidade de ser independente da minha família, essa que nunca acreditou que eu pudesse viver sem o dinheiro deles.

Suspirei fundo e balancei a cabeça. Não deixaria este pensamento vir me atormentar hoje. A minha concentração seria na conquista da mulher difícil que eu teria de companhia para o jantar. Ela veria como posso ser interessante e um perfeito cavalheiro, até romântico se me permitisse. Tiraria dela impressão errada que se formou de mim.

O convite para o show aconteceria após perceber seu encanto por minha pessoa, ou na curiosidade de saber como tudo funcionava neste nosso universo. Sorrindo e com tudo exatamente esquematizado em minha mente, entrei no banho.

Desci para o salão. Não a deixaria esperando e a receberia com uma taça de vinho ou champanha. Iria procurar seu amigo que não "era" garçom e descobriria o seu gosto pessoal por bebida. No bar do hotel não foi difícil encontrá-lo.

— Por favor — chamei-o. — Preciso de uma informação.

— Sim, senhor — respondeu educadamente. — Em que posso lhe ajudar?

— Quero saber a preferência da Huma em relação a bebida. Vinho ou champanha?

— Água — respondeu simplesmente.

— Sim, mas para um jantar, o que ela tomaria?

— Água. Ela gosta de água e sem gás e nem muito gelada.

— Entendi, mas se fosse um jantar especial, com alguém especial... Tipo assim, o que ela iria preferir?

— Com certeza água. Ela não tomaria nenhuma bebida alcoólica fora do ambiente de sua casa.

— Nem um refrigerante — Ele já balançava a cabeça. —, um suco?

— Não! Água de boa qualidade — Foi até o refrigerador e trouxe uma garrafa pequena na cor azul e me mostrou. — Essa por exemplo, é leve e uma de suas preferidas.

Impossível! Este cara deve estar querendo tirar uma com minha cara. Percebi que não gostou de mim desde o primeiro dia que percebeu meu interesse por ela. Com certeza era isso, ele era apaixonado e se dizia amigo. Peguei a garrafa e inspecionei, não vi nada demais. Afinal, água era água. Tudo a mesma coisa. Duvido se fosse até da torneira dentro daquela embalagem ela notaria a diferença. Besteira.

— Obrigado pela informação — agradeci assim mesmo com um sorriso. Não iria discutir com um concorrente, porque sabia do apreço dela por ele.

— Tenham um ótimo jantar. Ah! — Ele me fez voltar o olhar novamente. — Se quer uma dica, não tente ser o que não é, a Huma é esperta e sabe conhecer personalidade como ninguém.

— Eu... — completaria a frase com uma pergunta: te pedi opinião? Mas ele nem me deixou terminar a segunda palavra.

— Ela é simples, direta, honesta e uma pessoa maravilhosa. Se o senhor souber entender como se aproximar, terá conquistado sua amizade — falou a última palavra com um tom diferente.

Simplesmente afirmei com a cabeça e dirigi-me a saída confuso. Será que ele falava a verdade? Olhei o relógio e percebi que não poderia atrasar nem mais um minuto. Apressei o passo para pedir o garçom, que iria nos atender, para providenciar um vinho já que o mestre no assunto não me indicou. Precisava verificar nossa mesa se tinha tudo que pedi.

Na entrada do restaurante fui parado por uma família com a filha que pediram para tirar uma foto. Sim, parei e não pude negar. Se fosse apenas a garota eu teria feito. Assim que terminamos, vieram outra família e eu me enrolei. Minutos depois a vi passar e se direcionar ao grande salão e sentar em uma mesa.

Tentei sair novamente, e a cada segundo era barrado por outra pessoa. Juro, tive que ter muita paciência para não ser grosseiro e dizer que eu precisava de jantar e ter paz. Mas se fizesse isso, claro que eu seria o "famosinho" chato, mal-educado e blá, blá e blá. Tudo que a mídia quer para armar um escândalo nas redes sociais. E aí sim, Paulo teria mais um motivo para dar seus sermões.

Consegui ser liberado, com ajuda do garçom, ele veio ao meu encontro me avisar que minha acompanhante não aceitou ir para nossa mesa. Era o que me faltava, fui direto ao seu encontro e ela já se encontrava instalada em uma mesa totalmente à vontade e já comia uma salada.

Sentei.

Daebak: Algo bom, legal

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Como será este jantar tão esperado? Cada um com uma intensão diferente. Vai dar match?

Beijos e até mais.
Prometo ter capítulo toda semana agora.

Lena