Capítulo 35
Capítulo 35
Huma
Abaixei a cabeça no teclado do computador cansada. Apesar das vantagens de trabalhar em office, eu já me sentia esgotada desta pandemia. A privação de ir e vir. As reuniões de família, sair após o trabalho com as amigas para beber e conversar, ir ao clube, academia e tantas outras coisas que eu nem fazia, mas pelo menos podia imaginar que poderia fazer. Tudo agora não era permitido. Verdade que as restrições têm sido relaxadas aos poucos, mas quem garante que é seguro?
— Tudo bem? — Kim apareceu por trás da minha cadeira, pousou a mão no meu cabelo me despertando para realidade.
— Não.
— O que foi? — Ele abaixou do meu lado com olhar preocupado. — Mais alguma notícia ruim?
— Todos os dias, Kim. — Envolvi seu pescoço num abraço. — Já cansei dessa pandemia. Pode parecer que trabalhar em casa nos traz conforto e liberdade, mas não é verdade. Tenho mais reuniões que o normal, as tarefas se acumulam, não tenho a quem delegar algumas coisas e tenho trabalhado muito.
— Não trabalhe fora do seu horário, eu já te falei isso.
— E tem como? Se não houvesse tantas reuniões que acabam consumindo minhas manhãs ou uma tarde toda, eu daria conta sem precisar usar outros horários. A única vantagem é não precisar viajar tanto, talvez essa seja a única mudança boa que tudo isso vai proporcionar.
— E no meu caso é tudo que preciso para voltar a trabalhar.
Olhei em seus olhos amendoados e alisei seu rosto bonito. Sabia que nosso mundo de "felizes para sempre" seria afetado justamente ao retornar a nossa rotina. Ele voltaria a viver na estrada e em hotéis para os shows e eu poderia ficar mais em Piracicaba me adaptando neste novo normal de trabalhar.
— O que você tanto pensa?
— Em nós. Como em menos de um ano, nossa vida deu uma mudada e que vai ser na hora que tudo isso passar. O que faremos?
Ele levantou com expressão de incômodo nas pernas e me puxou pelas mãos.
— Venha, vamos tomar um café.
— Kim — Puxei sua mão para me olhar. — Seu pai vai ser transferido para São Paulo.
— Como você sabe?
— Desmarcaram a reunião agora porque alguns dos diretores estão envolvidos nesta transferência.
— Por que ninguém me disse nada?
Não respondi, apesar de realmente nem ter a resposta correta, eu imaginava. Essa relação complicada, além de familiar, neste caso era o presidente da empresa e não o pai dele que era considerado na questão.
— O que sei e que foi mencionado mais cedo é que após 28 dias de UTI e intubação, os pulmões dele estão muito debilitados. Se não for feito algo urgente ele pode não resistir mais uma semana.
— E o que em outro hospital pode fazer de diferente?
— Parece que tem um procedimento experimental que vem dando resultado e pode ajudar. É um risco, mas na atual circunstância é mais uma chance de vida. Sinto muito, eu te dar essa notícia.
Ele voltou a me abraçar e ficamos assim por um tempo.
— Desistiu do café?
— Não, claro que não. Venha, vou preparar a moda do chef para você.
Fomos para a cozinha e ele me fez sentar. Colocou a caixa com a variedade de cápsulas de café na minha frente e foi falando a diferença entre eles para eu escolher.
— Kim, acho que essa máquina de café você não vai levar embora ao voltar para o seu apartamento. Vou me apropriar dela.
— Você quer dizer a máquina e eu, certo? — Dei risada da cara dele ao me responder.
— Vai chegar o momento que tudo isso vai passar, você vai voltar para sua casa e seguir sua vida.
— Somente se você for junto. Falando nisso, você nunca me perguntou onde é meu apartamento.
— Ué, não é em alguns andares acima?
— Engraçadinha...
— Kim, quais são as mentiras que você me contou?
— Eu? — Ele colocou a mão no peito e fez cena de filme dramático. — Que acusação mais desnecessária, amore. Assumo ter sido a estratégica necessária para a CETFA, apenas isso.
— De que se trata este monte de letras?
— CETFA? Coração endurecido com o tempo por falta de amor.
Enquanto ele falava montava uma mesa com pão, torrada, geleia, queijo e tudo que encontrava no armário e geladeira. Um cafezinho virou um mega lanche da tarde.
— Eu não tinha coração endurecido para começo de conversa. Simplesmente não queria me envolver com o pop star.
Aceitei a xícara que ele me oferecia e mudamos a conversa sem ele me dizer a verdade de suas mentiras. Percebi que ele ainda mantinha a cabeça um pouco distante e imaginei ser por causa do seu pai, então lhe falei:
— Kim, ligue para sua irmã ou seu cunhado, eles poderão te fornecer mais informação do que acontece.
— Você acha que devo mesmo?
— Claro. Sei que apesar de tudo, você se preocupa com ele.
— Vou fazer isso.
Ele pegou o celular e a irmã atendeu. Dei-lhe espaço para conversar a sós, indo para o quarto. Resolvi fazer o mesmo e liguei para minha mãe. Após toda a confusão com a gravidez de Ema e as preocupações com o bebê, pareciam que eles voltaram a pensar com sensatez.
Como combinado, Kim ajudou no agendamento das consultas e exames. Ema fez tudo, um pouco a contragosto, mas fez, o que foi o mais importante. Constatou que a falta de vitamina adequada lhe proporcionou uma anemia e carência de alguns nutrientes. O bebê se encontrava um pouco abaixo das medidas e baixo peso. E a boa notícia que dava para ser revertido toda essa situação. Fora o sermão que receberam da médica.
Descobrimos que a doula não era uma profissional credenciada e que na verdade, usava de sua experiência por ter trabalhado muito tempo como auxiliar de enfermagem e no centro cirúrgico. Após perder o emprego resolveu que poderia trabalhar nesta profissão.
A médica que atendeu a Ema, contou que as doulas, podem ajudar em muito, mas sempre com acompanhamento de um especialista e se minha cunhada quisesse ela recomendaria. Minha mãe já entrou no meio e negou antes que meu irmão e minha cunhada abrisse a boca. Ah, sim, ela foi junto em algumas consultas e no exame para ver o seu neto ou neta, que ainda era um mistério.
Após conversar com mamãe, tomei um banho. Percebi que Kim conversava ainda com alguém, por este motivo permaneci no quarto. Liguei a televisão e coloquei no jornalismo.
Minutos mais tarde ele entrou no quarto e sentou do meu lado.
— E aí? Como foi a conversa? — Coloquei a TV no mudo e virei-me para ele.
— Ele foi removido e já está em São Paulo. Usaram a UTI aérea e deu tudo certo. Uma equipe médica acompanhou, parece que tem um serviço especialista para este tipo de transporte que chama... minha irmã falou... é... Aeromédica.
— E o tal tratamento?
— Espera, vou ler para você o que ela me enviou: — Ele pegou o celular e abriu a mensagem. — "ECMO, sigla em inglês para "oxigenação por membrana extracorporal". É uma estrutura que funciona como um "pulmão artificial" e é utilizada quando a respiração mecânica já não é mais suficiente para proporcionar uma boa oxigenação ao paciente. De acordo com o especialista, os principais objetivos da ECMO são "oxigenar o organismo, eliminar o gás carbônico e propiciar um repouso do pulmão doente".
— Nunca escutei falar. Não nestes termos, porque sabia que existe essa possibilidade de coração artificial à espera de transplante e não do pulmão.
— O procedimento tem por objetivo preservar os pulmões dele por algum tempo, enquanto os medicamentos façam efeito e eles possam voltar a fazer suas funções sozinho.
— Entendi. Vamos orar para que isso dê certo. E sobre a covid?
— Pelo que entendi, ele já não tem mais o vírus, mas as sequelas que ele deixou e ainda possa vir a ter.
— É complicado. Estava assistindo aqui a reportagem sobre as eleições. A população está indignada quanto a manter as eleições. O TSE afirma que terá toda segurança necessária.
— Eu li na internet que os dados da pandemia têm sido manipulados para não alarmar as pessoas e assim elas não ficarem sem votar.
— Não duvido de mais nada. É esperar para ver. A verdade é que não vejo a hora de terminar este ano, ter vacina e todo este pesadelo acabar. E nós, termos a nossa vida de volta.
— Eu não quero. — Olhei para ele sem entender sua fala.
— O quê?
— Voltar o que eu tinha antes. Quero continuar com você na minha vida.
— Você vai sim voltar para os seus shows, sua casa e veremos se vamos conseguir manter esta vida.
— Nem brinca comigo. Eu já não vivo sem você do meu lado.
— Não vamos pensar nisso, — Deitei em seu peito e concluí: — como costumo dizer aos funcionários, cada problema será resolvido conforme o seu tempo e eles forem aparecendo.
Site CNN Brasil
Tribunal Superior Eleitoral
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Estamos caminhando para o final da história. Mas muitas coisas irão acontecer ainda. Vocês gostaram? Como vocês estão?
Aqui no estado de São Paulo é Feriado amanhã, sexta-feira. Para quem vai aproveitar. Ótimo feriado.
Amanhã tem o Último capítulo do livro Manu, da escritora Cristiane Broca, ele está aqui no Wattpad e a partir de amanhã inteirinho para quem gosta de ler completo. E vou de falar, está muito boa a história. Confiram!
Beijos E até semana que vem.
Lena Rossi
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