Capítulo 28

Capítulo 28

Kim

Como convencer essa mulher do contrário quando ela já deu por decida? Falei que já era tarde. "Imagine, são oito horas." Que não tínhamos jantado. "Quem sabe filamos uma comida diferente." Deveríamos manter em casa, porque tem toque de recolher. "É as 23 horas, voltamos antes." Mamãe não apreciava visitas sem antes avisar. "Ligue para ela." E ainda me perguntou:

— Você se considera visita?

— Nesta altura sim. Já não faço parte da família há muito tempo. Eu entrei naquela casa somente quando ele viajava. Fora isso, sempre encontrei minha irmã ou minha mãe em lugares públicos e em meu apartamento.

— Agora sabemos que não vai ser o caso, ele não vai aparecer.

— Mas os seguranças podem estar por perto e não me deixarem entrar.

— Kim, me responda, quer ver sua mãe? — Balancei a cabeça que sim. — Coloque para fora o homem decidido que já me mostrou que é. Troque de roupa que vou fazer o mesmo.

Ela entrou em seu quarto e me deixou parado no corredor sem saber que atitude tomar. O que poderia inventar? Dizer que liguei e minha mãe pediu para ir no dia seguinte? Falar que ela tomou um remédio e já dormia?

— Seu Joaquim, vai ficar aí parado? — ela abriu a porta do quarto e gritou.

— Que susto! Quer parar de me chamar assim? Se alguém escuta estarei perdido!

— Por quê? Joaquim é tão bonito... — Fechou a porta de novo.

Entrei no quarto, troquei de camisa e vesti um casaco. Sentei na sala e liguei para minha mãe.

— Pensei em dar uma passada aí, tudo bem?

"Ô meu filho, é muito triste você ter que perguntar essas coisas. Queria dizer que a casa é sua e você possa vir a hora que quiser..."

— Mãe, não vamos falar disto. Estou indo. Conversamos daqui a pouco.

"Já comeu?"

— Ainda não.

"Vou te esperar para jantar comigo."

— Vou levar uma pessoa, tudo bem?

"Claro, vou adorar ver um dos meninos. Até."

Nem deu tempo de dizer que não se tratava de ninguém do grupo, talvez fosse melhor assim.

Levantei, fui até a porta do quarto da Huma e bati. Pelo tempo daria para que ela se arrumasse umas dez vezes.

— Vamos?

Ela apareceu com o celular na mão e continuou escutando alguém do outro lado da linha. Estava vestida de executiva. Linda!

— Estou muito feliz por vocês amiga, vai dar tudo certo, ou melhor, já deu! Mande que vou dar um jeito de compartilhar. — Escutou mais um pouco e perguntou: — Vai ter com minha princesa?

Entendi. Ela falava com a amiga de Curitiba. Caminhou em direção a saída e fez sinal para eu acompanhar. Com a porta fechada e após chamar o elevador ela olhou para mim, me viu colocar a máscara, abaixou o celular e perguntou:

— Pegou máscara para mim?

— Não! Você não tem na bolsa? — Ela balançou a cabeça e voltou a abrir a porta. Entrou e em poucos minutos voltava com a máscara e um frasco pequeno de álcool gel.

É impressionante como essa mulher faz tantas coisas ao mesmo tempo. Colocava a máscara, fechava a porta e mexia na bolsa e ainda falava freneticamente sem perder o raciocínio. A conversa apenas se encerrou quando já tínhamos saído da garagem e entrado na avenida principal.

— Quais são as novidades? — perguntei.

— O canal do Renato já está no ar e eles precisam de ajuda para divulgar. Ela me explicou que é preciso um número X de inscritos para começar a ganhar dinheiro.

— Monetizar.

— Isso. Essa palavra que ela usou.

— E como você vai ajudar se não tem rede social?

— Este é um assunto para dona Amália. Ela tem bastante contato e poderá fazer isso por mim.

— Pensei que iria me pedir ajuda.

— Também pensei nisto, mas Josi me alertou que talvez você não possa por força de contrato. Eu não sabia, mas ela disse que vocês são embaixadores da empresa de Korea Kull*. — Olhei de lado para ela com expressão de desapontamento.

— Você realmente não conhece minha carreira promissora. Se liga apenas no mundo financeiro, mercado internacional e economia mundial.

— Desculpe este é meu trabalho, mas prometo me inteirar neste seu mundo. Vou me esforçar.

— Falando nisto, porque se arrumou como se fosse para uma reunião de negócio? — Olhei-a novamente com mais demora, assim que parei no sinal.

— Tem algo errado com minha roupa? — Ela se olhou e alisou sua Saia longa.

— Você está linda. Mas achei que não precisava caprichar tanto para uma saidinha.

— Ah Kim, estou cansada de não me arrumar para sair e ficar em casa de jeans e camiseta. Passar uma maquiagem então... é preciso aproveitar, não sei quando terei outra oportunidade.

— Não é bem verdade, ontem você se arrumou para participar daquela reunião.

— Não é a mesma coisa. Fiz uma make básica e só coloquei um blazer sobre uma camiseta. — Olhou no espelho do carro. — Você não vai entender a necessidade de uma mulher.

— Que preconceito é este, minha linda? Eu sou muito vaidoso e gosto de me arrumar. Estar com o cabelo sempre no corte inclusive. Veja, estou precisando cortar. — Olhei no retrovisor e mostrei que ele já passava o limite da orelha e a franja ultrapassava os olhos. — Passei uma pomada para segurar essa parte para trás.

— Amanhã corto para você. — Parei o carro em mais um semáforo e a observei.

— Sério? Você sabe fazer isso?

— Não. Mas procuro um tutorial na internet. — Sorri e imaginei a cara do meu empresário se eu aparecesse na internet com o cabelo todo cortado errado. Pagávamos uma fortuna para ter um cabelereiro de fama internacional para cuidar de nossa imagem.

Aproximamos da portaria do condomínio e fui diminuindo a velocidade. Havia outro carro na portaria e tive que esperar a sua entrada para me aproximar.

Pois não... — a voz de um microfone me atendeu.

— Vou na residência da família Kim. Senhora Kim Tae-Jin

— Senhora Jina?

— Sim.

— Qual seu RG, por favor?

— 121.842.120-1

— Senhor Kul?

— Kim Kool.

— Só um momento. — Olhei para o lado e Huma tampava a boca e segurava a risada.

— O que foi?

— Joaquim é muito melhor que Cul que ele te chamou.

Esfreguei o rosto irritado. Eu já me sentia ansioso por estar ali e o medo de ser barrado me angustiava. Ainda precisava me controlar com este tipo de piada.

— Senhor? — Meu coração parou um compasso com receio do que iria por vir. — Sabe ir até o local?

— Sim. — Um cartão apareceu por um sistema automático o que me deu acesso de entrada, em seguida o portão começou a abrir. Suspirei aliviado.

— Tudo bem? — Huma me perguntou.

— Sim. A última vez que estive aqui minha entrada estava bloqueada.

— Deveria ter informado que era o Joaquim.

— Eles iriam pedir meus documentos para fazer o cadastro.

— Poderia ter falado que eu iria fazer uma visita e dado os meus documentos. Não precisava deste estresse todo. Fique calmo. Agora já passou.

Entrei devagar pela portaria e as belas casas começaram a aparecer no meu campo de visão.

— Imaginava construções grandiosas e de arquiteturas modernas e majestosas, talvez em estilo asiático e não, muito pelo contrário. Elas são casas grandes, com muito concreto, grandes pilastras e portas enormes, nada comparado a minha visão.

— Pouco designer moderno te chamou a atenção?

— Sim, Pensava outra forma este condomínio.

— Não se deixe impressionar pelas aparências externas.

Parei o carro em frente à casa com um grande jardim e mais verde e cores da rua. Ela saiu sem me deixar abrir a porta. Posicionou do meu lado e paramos em frente a grande porta. Antes que eu batesse, ela se abriu e um assenhora miúda, com marcas do tempo em sua face sorriu para nós. Seus olhos brilhantes reparavam apenas em mim.

— Kool, mannaseo bangaw**.

Peguei em sua mão e beijei-a.

— Jeodo yo, agassi Han***.

— Jebal deul-eowa**** — Entramos na sala ampla.

Eu me sentia fora daquele mundo e dentro casa a distância parecia maior. Olhar aqueles quadros enormes na parede, os móveis pesados, a coleção de placas de mérito, empresário do ano, certificados enquadrados e, por último a poltrona que ninguém podia sentar. Sim, mesmo ele não estando ali, a sua presença era muito marcante e forte. Tive vontade de dar meia volta e sair daquele ambiente. O que me impediu foi a voz suave de minha mãe vinda em minha direção e os braços estendidos.

— Querido, quanto tempo... — Parou alguns centímetros de mim e perguntou: — Posso te abraçar?

— Sim. — Dei alguns passos e mergulhei em seu aconchego. — Estou testado e negativado.

— Eu também já fiz este teste, três ou quatro vezes. — Apertou-me mais um pouco. Colocou as mãos em meu rosto e olhou-me com mais atenção. — Está mais bonito? Tire essa máscara para eu descobrir o que se passa.

Mamãe era uma mulher pequena na estatura, porém com percepções aguçadas e grandiosas. Notava um detalhe que tivesse diferente a cada vez que nos encontrava.

— Sim, apesar dos olhos assustados tem um brilho que não estava aí da última vez. O que aconteceu?

— Mãe, quero te apresentar — Virei para encontrar a mulher parada um pouco distante de nós. — Humália Turolla.

— Ela não me parece uma segurança. Empresária nova? — Huma, acenou de longe e não se aproximou. Mamãe fez o mesmo. Olhou para mim e depois de volta para Huma. — Muito bonita, tome cuidado menina, este rapaz é um belo sedutor.

— Mãe, Huma é minha namorada.

Mamãe colocou a mão no peito e exclamou:

— Ela não é uma coreana? Não me diga que brasileira?

*Empresa fictícia de alimentos.

**Kim, que bom te ver

***Eu também, senhora Han

****Entre, por favor

*****

E agora? Será que a Huma será rejeitada por ser brasileira? Qual o comportamento dessa sogra ao descobrir que ela é funcionária da empresa WKK? 

O Senhor Kim, pai, presidente da empresa, será que sairá dessa vivo para da sua opinião neste assunto? Uma nora não coreana?

Aguardem, este encontro com a família Kim vai ser... 

Até mais.

Se cuidem! Usem máscara. Não aglomere. E tenho um feriado muito bom em casa.

Lena Rossi

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