Capítulo 25

Capítulo 25

Huma

O dia tão esperado chegou. O fim do meu isolamento pelo controle do combate a covid da prefeitura. No entanto, eu me sentia fraca e sem vontade de levantar da cama. E quando o Kim, logo cedo, entrou no meu quarto e falou: — Pode levantar, tomar um banho e melhorar essa cara de desânimo que vamos na clínica fazer um check up. — Eu não queria. Agora te pergunto, tem como convencer este coreano do contrário?

Fui. De novo preciso concordar que ele tinha razão. Ainda vou precisar de repouso, mas já não do isolamento.

Fiquei cansada de andar do apartamento até no carro e depois até o consultório na clínica. Fiz os exames. Não deu nada de anormal e preocupante, mas perdi peso, massa muscular e fora a disposição que pretendo recuperar aos poucos.

— Kim, o que tanto anota neste bloco? — perguntei, porque ele, desde que voltamos ao apartamento não parava de escrever.

— Uma rotina diária para você fazer e voltar a bela forma.

— Nem vem com essa. O médico pediu repouso.

— Não! Sim, ele pediu que você voltasse a caminhar aos poucos, fazer exercícios de respiração e da memória.

— Por falar nisto, o que vai ter para o almoço? Acho que meu paladar tem voltado. Mamãe podia fazer alguma coisa, você poderia buscar...

Ele levantou seu olhar do papel e me encarou. Eu não consegui manter-me séria e dei risada.

— Você poderia ligar para ela e dizer que pode receber visita, assim poderá vir trazer, o que acha?

Pronto, acabou com minha graça, apesar de estar com saudades deles, eu preferia mantê-los longe por mais alguns dias, como prevenção da saúde deles. No entanto, não iria dar este gostinho a ele.

— Acho boa ideia. E quem sabe vocês fazem mais uma sessão de fotos?

— Se você fizer parte, tudo bem — respondeu sem me olhar dessa vez.

— Vou ligar para ela e dar as boas notícias. — Levantei e fui para o quarto.

Ele parou o que fazia e veio atrás.

— Ei, você vai fazê-la vir aqui? Não é precipitado ainda?

— Você não está aqui comigo todos estes dias? Se tiverem o mesmo cuidado... — Ele me interrompeu.

— Não! — Voltei meu olhar para ele.

— Por quê? Está com medo de mamãe aprontar de novo? Prometo tirar o celular da mão dela assim que entrar pela porta.

Ele ficou parado e sua expressão era de gato com passarinho dentro da boca. O que significava? Eu ainda não decifrei. Aproximei.

— O que foi? Tem algo que eu não saiba e o médico disse apenas a você? — Sentei na cadeira perto do meu armário. — Eu não estou bem como ele me disse?

— Não é isso... — Ele virou de costas e passou a mão no cabelo. Voltou me olhar fixo e em silêncio.

— O que é então? Fale!

— Não fique nervosa. — Abaixou perto de mim. — Eu... quer dizer... acho melhor você não fazer esforço e...

— Kim! Pare de mentir! Eu conheço um mentiroso há distância.

Ele levantou, rodou no eixo novamente e falou:

— Fiz o teste hoje. O médico achou melhor, por eu estar diretamente com você todos estes dias.

— E deu positivo?

— Ainda não sei.

— O que você está sentindo?

— Muita vontade de te abraçar e beijar — falou com a cara mais sem vergonha deste mundo, não resisti e dei risada. — É sério. Todos estes dias não foram fácies. Eu tive medo de você piorar, ter que internar você, ficar mais longe que este distanciamento que tivemos... não tem ideia de como é difícil cuidar de você.

— Desculpe. — Eu percebi que ele falava com verdade. — Sei que sou péssima doente, sempre fui. Mamãe já me deu uns tapas, eu doente — frisei — por eu não querer tomar direito os remédios e vomitar quando engolia...

Levantei e o abracei. Ele demorou ter uma reação e quando eu iria me afastar, seus braços me envolveram. Apertou-me contra seu corpo que quase gemi.

— Não faça mais isso comigo. Eu sempre te vi forte, decidida, mandona e implicante — Olhei séria para ele. — e sempre tão cheia de vida. Vê-la estes dias abatida e sem coragem até para brigar comigo, não foi nada fácil.

Sorri no seu peito. Sabia que tudo que falou foi um elogio, muito estranho, mas era. E o mais engraçado, no entanto, era eu gostar de escutá-lo.

— Você não me respondeu. O que sentiu... vou ser mais específica, algum sintoma da covid?

— Não. Mas agora estou sentindo. Escute! — Direcionou meu ouvido no seu coração. — Está acelerado.

— Será algum sintoma específico? — Olhei para ele entrando na brincadeira.

— Sim. O mais perigoso de todos. Amor. Se não for correspondido pode até matar.

— Ó dozinha... — Abracei-o mais forte. — Venha vou cuidar de você.

Puxei-o até minha cama e o fiz deitar. Seus olhos mudaram de expressão, parecia um menino de fundamental que pegou na mão da menina mais bonita no colégio, neste caso, eu.

— Calma, rapazinho. Não vou abusar de você. É apenas um carinho.

— Abusar? O que seria isso?

— Hum... como vou te explicar... — E agora? — Eu quis dizer que não vou aproveitar sua condição de paciente e aproveitar do seu corpinho.

— Ah, mas pode — Sorriu. — Venha, não suporto mais.

Eu me mantinha sentada, ele aproximou mais um pouco e encostou de leve seus lábios nos meus e me puxou para ele. Não resisti, pelo contrário, deixei-me cair sobre ele o fazendo deitar de novo. Eu precisava e ele merecia receber toda minha atenção.

Seus braços me envolveram, suas mãos subiram em minha cabeça, seus dedos entraram no meu cabelo massageando devagar. Uma mão desceu até a nuca, parou ali por um tempo, escorregou por minhas costas e fazendo movimentos circulares, enquanto nossas bocas se perdiam no silêncio do instante. Tentei me afastar, mas ele veio junto e revirou sobre mim, não deixou que nenhum espaço ficasse entre nós. Com a boca colada na minha, sorriu e sussurrou:

— Eu gosto do jeitinho brasileiro.

Beijou-me novamente e não somente minha boca, mas todo meu rosto, pescoço, orelha... Vou te dizer, ele foi devagar, mas depois que tomou liberdade...

O teste do Kim, deu negativo, mas iria fazer novamente em dois dias. Minha consciência pesou, pois não esperamos mais tempo após a minha "alta" para criarmos mais intimidade e deixar os cuidados de lado. E ele todo felizinho dizia que se pegasse, ficaria um doente feliz. Sei, totalmente sem noção do que dizia. Eu, apesar do perrengue, não tive complicações. O mesmo não acontecia com outras pessoas, infelizmente.

Meus hábitos nestas semanas estavam todos diferentes. Os jornais que assistia pela manhã e os que acompanhava pela internet não tinham outro assunto que não fosse a pandemia. Até os restritos a economia não fugia da mesma temática. Afinal, a crise gerada pela doença afetou todos os setores. Desemprego, recessão, comércio fechado, aeroportos, portos, somente serviços essenciais podendo funcionar. E o mais estranho que da empresa que trabalhava, ninguém me procurou para saber se eu havia morrido ou estava viva.

— Falta de sensibilidade — resmunguei.

— Falou comigo, amor? — Levantei minha cabeça e olhei o Kim. Ele tocava seu violão e fazia anotações, nem imaginei que prestava atenção em mim navegando na internet.

— Não. Pensei alto.

— Sobre o quê?

Parei o que fazia e fui até ele. Olhei o bloco de notas e estava tudo em coreano. Ainda tinha curiosidade daquela música que ele ainda insistia em não me mostrar a letra.

— Ninguém da WKK teve a preocupação de saber sobre mim. Meu chefe me ligou uma vez em todos estes dias e foi quando informei que estava doente. — Ele parou sua anotação e comentou:

— Perguntaram sim. Um rapaz tem ligado e eu o mantive informado.

— Quem? — Achei estranho, pois não vi nenhuma ligação no meu aparelho a não ser de minha mãe, que diminuiu muito depois dela ter o do Kim, do meu irmão e minha cunhada, tias...

— Jae. Passei meu número a ele para não te incomodar.

— Sério?

— Por quê? Como assim? Não estou rindo.

— Modo de dizer, Kim. — Sorri, as vezes eu me esquecia que alguns dizeres para ele era estranho. Ele interpretava o sentido literal da palavra. — Não esperava dele me ligar, talvez Estela, senhor Lee ou até um dos "Kim". Já te falei o que não falta é Kim na empresa? Mas apenas dirigimos ao presidente como, senhor Kim.

— Sim, já e eu expliquei que o meu também é sobrenome, adotei-o pela facilidade nos Estados Unidos. — Ele desviou o olhar para seu bloco como se quisesse terminar o assunto.

— Sabe, parece que minha memória não é a mesma.

— Por isso o médico passou aqueles exercícios.

— Voltando ao Jae, ele é famoso na empresa.

— Famoso? Que tipo de fama? — Voltou a me olhar.

— Não é igual a sua. Estrela pop. — Ele balançou a cabeça e voltou a escrever. — Como posso te explicar... falam dele que é... — Parei a frase no meio e assim ganhei sua atenção novamente. — deixa pra lá.

— Começou a falar continue.

— Nada! Coisa de fofoca de bastidores, a propósito, você nem o conhece.

— Agora fiquei curioso. — Ele apoiou o violão do lado e veio até mim.

— Gosta de uma fofoca, Kim?

Depois são as mulheres que tem fama de gostar de saber da vida alheia, o homem aqui até parou sua música para saber o que se tratava.

— Homens faz comentário, não fofoca. E agora já conheço o cara. — Fechei o notebook e olhei para ele curiosa.

— Você encontrou com ele aqui no prédio? — Ele não respondeu. — Correm pelo corredor ou cozinha do café, que ele mantém um apartamento para encontros e bem aqui. — Apontei o dedo para baixo para mostrar o apartamento.

— Não entendi. — Seu olhar era confuso.

— Você deve saber que tem vários apartamentos aqui no prédio com moradores que são coreanos. A maioria são funcionários da empresa.

— E o que tem a ver com o... este rapaz?

— Jae é um mulherengo e mora com a família no condomínio Coreia II, mas mantém um apartamento aqui para encontros clandestinos.

— Clandestinos?

— Sim. Mulheres casadas, festas com mais de uma e até mais casais, se é verdade, não sei te responder, mas tudo isso é assuntos de funcionários, eu nunca o vi por aqui.

— Safado! Deve ser porque seus horários não batem, ele deve vir na madrugada ou horário de trabalho. Hangmun!!

— O quê? Isso foi um xingamento? — Ele me olhou, a princípio assuntado, para sorrir em seguida.

— Não... Foi carinhoso.

— Acha que não entendi? Eu sei algumas palavras, esqueceu que trabalho com muitos homens e alguns de boca bem suja.

— Absurdo. Por que não fica entre as mulheres? — Sentou do meu lado.

— Ficou com ciúmes, amore? — Peguei no rosto dele.

— O que me chamou?

— Ciumento!

Neste instante meu celular vibrou sobre a mesa e notei ser do meu superior direto, senhor Choi.

"Assim que você puder me ligue."

— Foi falar neles... — Apontei o telefone. — meu chefe pediu para ligar para ele. Será que precisa que eu volte a trabalhar? — Percebi que ele também olhou no celular e ficou com a fisionomia preocupada. Tratei logo de esclarecer — Fique tranquilo que não vou desobedecer suas ordens. Levantei e fiz a ligação.

Após desligar o aparelho, comentei:

— Nosso presidente foi internado. — Ele levantou e se aproximou. — E pelo jeito o caso dele é bem grave.


Cretino!

******

Agora o Kim descobriu o porque seu primo está deliciando na sua cobertura e o motivo do apartamento acima ser tão simples. Captaram?

Gostaram da Huna estar melhor?

Será que ele pegou a covid? Deixem seus comentário.

Até mais, beijos e se cuidem.

Lena

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