Capítulo 21
Capítulo 21
Covid
Huma
Assim que não escutei mais a voz do Kim, voltei para o quarto, antes virei a chave da fechadura. Eu me sentia tão mal, com dor em todo o corpo que, ficar de pé gerou um cansaço enorme.
Percebi meu corpo esquentar e a cabeça voltar a doer. Olhei no celular, a claridade fez meus olhos arderem, o que me fez fechá-los rapidamente. Não fazia nem duas horas que havia tomado o analgésico.
Será dengue? Quando tive há quatro anos, meus olhos doeram bastante junto com a cabeça, e a dor no corpo foi meu primeiro sintoma, pensei. De todo mal, eu preferia ter a dengue que este vírus que ninguém sabia direito como se proceder.
Olhei para o banheiro e fiquei na dúvida se tomava um banho ou enfiava debaixo no edredom. Peguei um pijama, tirei a roupa e entrei no box. A água morna me fez sentir mais frio em contato com meu corpo quente. Saí rapidamente batendo os dentes. Pensei que a água pudesse abaixar a febre, caso estivesse, no entanto, o efeito não foi o esperado.
Deitei me cobrindo, apenas com o edredom que cobria a cama, arrependida de não ter pegado o cobertor. Escutei movimento no corredor, mas nem fiz questão de verificar a presença do Kim. De toda forma, eu nem sabia o que tinha e precisávamos manter o distanciamento.
- Huma, posso entrar? - bateu na porta e perguntou. Peguei o celular e respondi por mensagem.
"Não."
- Está se trocando? - perguntou do outro lado.
"Estou deitada e acabei de tomar banho. Vá para sua casa. Não quero você por aqui até eu saber o que tenho."
- Não vou sair daqui.
"Por favor, vou descansar um pouco e se tiver algo diferente vou na emergência do hospital."
- Já chamei um médico.
O quê? Como assim? Apertei o microfone do celular e enviei um áudio.
"O que você fez? Está maluco? Eu posso estar apenas com um resfriado e vai trazer um médico aqui com tantas pessoas precisando dele no hospital?"
"Eu falei com o nosso empresário. Disse que suspeitava estar com uma síndrome gripal ou a covid. Ele vai mandar aqui o da nossa confiança e quero que ele te veja. Enquanto isso vou refazer uma das comidas que fiz, você precisa tomar como caldo bem quente. Se for gripe comum vai ajudar."
Era o que me faltava. Um coreano para tomar as rédeas da minha vida. Larguei o celular e fechei os olhos.
Escutei o som de celular tocar ao longe e deixei a imaginação deduzir que fosse um sonho. Ignorei sem força para olhar. Parou e me senti aliviada. Voltou o barulho a me incomodar novamente. Peguei o aparelho e sem abrir os olhos, mas com o tato atendi.
- Quer parar de me ligar - pedi.
"Huma que voz é essa? Você estava dormindo a essa hora?" - Era minha mãe. - E quem achou que fosse? O coreano famoso?
- Oi mãe, cheguei cansada. Tomei banho e deitei.
"O que aconteceu? Você não está bem? - ela insistiu. Mãe é foda. Pressente de longe algo errado.
- Trabalhei muito essa semana e estou cansada, apenas isso. - Não iria preocupá-la com suspeitas. Tentei até firmar mais a voz.
"Vou aí te ver - afirmou.
- Não! - falei muito rápido e sentei na cama. - Mãe não venha. O Kim está aqui fazendo nosso jantar, disse que vai me paparicar e vou ficar bem.
"Se o coreano bonitão está aí, por que achou que fosse ele?"
- Ele está na cozinha, fica mandando mensagens e como parei de responder presumi. - Deitei novamente. Acabei o banho e deitei, como já te disse, portanto, a senhora pode ficar bem quietinha na sua casa e sem fazer rolê pela cidade.
"Para começar senhora está no céu, pela milésima vez vou dizer, sou sua mãe, mas jovem e de mente aberta, não me faça sentir uma idosa. Deixa para usar estes termos com seus patrões que gostam de formalidades."
Pronto. Ela já tinha entrado no modo Amália de ser. Odiava ser tratada como senhora e, para jogar na nossa cara, minha e do meu irmão, completava dizendo que nem avó era ainda.
Num jantar de confraternização da empresa eu fui repreendida pelo meu superior de tratá-la por você. Ela deu risada dele e ainda por cima bateu em seu ombro, me matando de vergonha, para piorar falou: "Imagina, essas coisas não existem mais. Eu me sinto uma jovem igual minha filha, até gostamos das mesmas coisas. Tem gente que acha que somos irmãs, sabia? Não é verdade, meu bem?" - Fez meu pai confirmar.
Depois dessa fala, ele ficou horas a lhe explicar que filho tem que saber o seu lugar dentro da família e que jamais pode ser igual aos pais. Aproveitei o instante, dei uma desculpa e deixei-os mais à vontade para trocar informações sobre as diferenças das culturas. Ao sair escutei ele iniciar o discurso sobre a hierarquia familiar.
Assim que eles, meus pais, saíram de perto dele passaram por mim e, sorrindo mamãe falou no meu ouvido:
- Ô coreano chato, não sei como você aguenta.
- Mãe, você pode ficar tranquila, se eu precisar te ligo. Mas por que me ligou? Está tudo bem?
Foi o que precisava para ela falar por mais de quinze minutos seguidos. Após contar várias novidades da família me disse que havia me enviado a lista de supermercado. De um jeito bem sutil, ainda me informou que não tinha pressa, eu poderia descansar, mas algumas coisas eram mais urgentes que iria especificar depois em outra mensagem. Afinal, eu havia ficado fora mais de uma semana.
- Pode deixar, amanhã eu vejo isso. Beijos, o Kim está me chamando, acho que o jantar ficou pronto - tive que inventar para poder encerrar a ligação.
Como se escutasse a minha frase ele bateu na porta.
- Huma, o médico está aqui.
Olhei minha roupa e liguei o botão do "F", peguei uma máscara limpa na bolsa e abri a porta. Kim me olhou de cima a baixo e sua fisionomia demostrava preocupação. Como não enxerguei mais ninguém, avancei dois passos e olhei do lado de fora.
Um senhor, evidentemente coreano, se encontrava um pouco afastado parado no final do corredor, ao seu lado uma senhora.
- Boa noite, senhorita Huna, sou o médico, Do-Yun e vim examiná-la. - Olhou para o Kim com uma expressão estranha e apontou para a senhora. - Ela é a enfermeira, senhora Chae-Won e irá colher seu sangue para fazermos alguns exames. Onde podemos fazer a consulta - perguntou com o sotaque carregado.
Olhei o Kim com pedido de socorro. Não sabia qual seria o melhor lugar. Convidar para o meu quarto, com certeza não era uma opção. Ele entendeu e falou:
- Budi, bagsanin, Do-Yun*. - Virou e caminhou, passou por eles, os conduzindo até a sala de jantar. Falou mais alguma coisa que não compreendi.
Olhei aquela cena e não dei risada porque nem para isso eu tinha forças. Um senhor bem arrumado, com roupa social, calça com vinco e de meia com um dos chinelinhos de pano. A senhora, menos ridícula, porque usava saia.
O médico sentou do outro lado da mesa e abriu sua maleta. Tirou de dentro, um bloco de anotações, caneta, aparelho de aferir pressão, termômetro digital e outra caixa menor, essa ele não abriu.
- O que a senhorita está sentindo?
Comecei a relatar, os sintomas e quando começou. A enfermeira colocou uma luva e pegou o aparelho, mediu minha temperatura, em seguida anotou, aferiu minha pressão e fez a mesma coisa. Em seguida, enquanto eu continuava a falar ela colocou uma luz em meus olhos que doeu profundamente. Examinou meus braços e pediu licença para ver minhas mãos e os pês suspendendo um pouco minha calça. No instante que ameacei levantar a blusa, ela segurou minhas mãos imediatamente. Olhou-me em reprovação, pediu licença ao médico e me conduziu até o quarto novamente.
- Não iria tirar a roupa, apenas mostraria a minha barriga ou as costas.
- Entendi senhorita, mas não se deve fazer este tipo de coisa a frente de senhores, mesmo sendo o médico.
Não falei nada. Fiz o que me pedia, até para isso, eu tinha indisposição. Voltamos a sala e sentei novamente e doutor me disse:
- Não posso afirmar nada. Porém, precisamos acompanhar a evolução do quadro. Como me relatou faz menos de 24 horas que começou os sintomas. Por hora, vou deixar prescrito um analgésico para abaixar essa febre e pode melhorar a dor no seu corpo. Vou fazer todos os exames a pedido do senhor Kim-Kool, já adianto, pode dar falso negativo ou positivo. Senhora Chae, colherá seu sangue, retirará uma mucosa de sua narina e garganta para fazer os exames e eu vou dar uma picadinha em seu dedo para retirar uma gotinha de sangue para um teste rápido da covid.
- Senhor Do-Yun, o que seria mais grave e quais sintomas podem vir a aparecer? - Kim perguntou.
- Falta de ar, dor no peito e dificuldade de respirar como ela não está com...
Ele nem terminou de falar, eu me levantei e afastei deles para poder tossir e espirrei várias vezes. Fui até o quarto, entrei no banheiro e tirei a máscara para poder tossir com vontade e privacidade. Na hora que passou, lavei as mãos, o rosto e saí. Ele se encontrava no meio do quarto andando de um lado a outro.
- Kim, por favor, espere lá fora.
Eu peguei uma nova máscara, o álcool em gel na bolsa e passei nas mãos. Ele me aguardava na porta.
- Tudo bem?
- Claro que não! Se tivesse não teria um médico na sala de jantar - terminei a frase já arrependida de ter falado - Desculpa. Sim, foi uma crise de tosse do nada.
Voltei e sentei no mesmo lugar e novo interrogatório iniciou sobre a tosse. Expliquei que ela vinha esporádica. E que minha garganta me incomodava um pouco ao engolir. Ele anotou e em silêncio levantou e começou a examinar meu ouvido, garganta e as narinas. Tirou o estetoscópio do pescoço e auscultou meu peito e costas. Fez uma cara estranha. Anotou alguma coisa.
- Algum problema? - quis saber o Kim.
- Vamos aguardar os exames. Caso seja necessário faremos uma radiografia do pulmão amanhã. Aqui no exame deu negativo - Mostro o aparelho. -, mas não quer dizer nada, porque pelo relato dela seria improvável mesmo. É preciso mais alguns dias para que neste teste seja detectado. Em todo caso vou prescrever um antibiótico para essa tosse e a garganta que está com sinal de inflamação.
- Gomabseubnida** - agradeci ao esbanjar meu coreano. Ele me olhou e sorriu de leve pela primeira vez. Pode ser por minha péssima pronúncia.
- Assim que eu tiver os resultados te informarei - falou para o Kim.
Olhou para mim e recomendou: - trate de se alimentar bem com comida saudável e beber muito líquido. E não saia de casa até que eu lhe passe um posicionamento.
- Pode deixar. Outra coisa, posso estar com dengue?
- Ele olhou para a enfermeira e ela comentou:
- Não tem nenhuma mancha pelo corpo. O exame de sangue irá nos responder isso também.
Ele juntou todas as suas coisas e foi então que reparei que na caixa pequena estavam os utensílios que usaram para as amostras coletadas.
Kim continuou conversando com ele na área externa do apartamento à espera do elevador chegar e ainda pediu, pelo jeito não era a primeira vez, sigilo. Ao entrar novamente colocou a mão na cintura e falou:
- A senhorita, a partir de agora vai me obedecer direitinho, entendeu?
Revirei os olhos e virei para caminhar para o quarto, mas ele já me interrompeu:
- Nada disto, para a cozinha comer, daqui a pouco vou buscar os medicamentos.
- Vou pegar meu celular, posso? - parei e perguntei para zombar dele, por achar que iria me manda - Pelo jeito, meus pais precisam de mantimentos, vou pedir para entregar, já que não vou poder sair amanhã.
- Pode deixar comigo. Fale o que precisa, eu providencio. - Iria abrir a boca para protestar, mas ele já tinha me dado as costas e caminhado para meu quarto.
- Vai ser teimoso assim lá na china!
- Escutei, viu! É na Coreia!
*****
*Por favor, doutor, Do-Yun
**Muito obrigada.
*****
E agora? Ela vai dançar conforme a música dele? K-pop?
Será Covid? Ele está em risco de pegar?
Aguardem os próximos capítulos.
E aí? Estão gostando? Comentem aqui nos comentários e dexe sua estrelinha acesa que me ajuda muito. Assim o livro toma destaque e atinge outras pessoas. Até mais.
Lena Rossi
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