Capítulo 18

Capítulo 18

Mudanças de hábitos

Kim

Percebi que, após contar um pouco de minha história para Huma, ela tirou o pé de trás e abriu espaço, um pouquinho, para mim na vida dela. E a cada dia que a conheço melhor, mais me encanto com sua personalidade e doçura. Sim. Por trás da imagem de mulher de negócio e durona existe outra totalmente flexível e preocupada com a família e amigos.

Por causa dessa crise epidemiológica que se agravou no país fui obrigado a permanecer dentro de casa, ou seja, neste apartamento do Jae. Precisei dar um jeito de buscar mais algumas coisas minhas e comprei novos objetos para o dele. Porque o cretino não me deixou trazer o que me pertence e ainda ameaçou desfazer a trocar.

Não abri mão do meu vídeo game, minhas roupas e produtos pessoais que ele usava. Tive que trocar as cortinas, comprar roupas de cama e banhos melhores, porque tudo dele era de qualidade duvidosa.

O nosso produtor contratou outras pessoas para cuidar das nossas redes sociais e, um deles pediu que cada um de nós fizesse um pequeno vídeo e falasse diretamente para os fãs que logo estaríamos de volta. Eu treinei falar para uma câmera e fazer tudo sozinho em casa. Comprei equipamento adequado ao perceber que este estilo de trabalho iria se estender.

Um dia, fizemos vários vídeos, cantei com apenas violão, fiz solo e os garotos tocaram cada um em seu estúdio e um profissional digital juntou tudo. Teve outro vídeo deles ensinando às fãs uma coreografia da música mais tocada no ano passado, como teve bastante visualizações e comentários, precisávamos produzir mais conteúdo para manter a internet.

Como tudo foi dando certo e muito engajamento patrocinado, Garcia marcou uma live.

Iriamos fazer um show em um local aberto sem público para marcar nossa presença na mídia. Durante o evento teria uma arrecadação para entidades. Parte dessa grana ajudaria nossos parceiros que estavam sem trabalhar.

Foram dias muito corridos. Ensaios à distância, antes de todos serem testados negativos e pudéssemos encontrar para voltarmos a tocar e cantar juntos.

O cuidado com nossa proteção foi intensificado. A produção me mandou máscaras de um tecido especial, tapete para entrada de casa com um líquido higienizador, vários frascos de álcool gel e uma lista especificando os cuidados. Deixou uma pessoa encarregada de fazer as compras de supermercado para mim. Pelo jeito este, em especial, foi algo exclusivo porque moro sozinho e os garotos com as famílias.

Encomendei dois armários sob medida para a entrada do apartamento, um para mim e outro para Huma, o que chamam de sapateira. Como as medidas de nossas casas eram iguais, nem precisei falar com ela.

As compras de supermercado eu a convenci que pediria para nós dois, ela quis resistir, mas cedeu e me passava a sua lista semanal.

Eu e Huma, almoçamos juntos algumas vezes em que ela trabalhava em casa, outras, jantamos, assistíamos filmes e conversávamos sobre o novo estilo de trabalho que estávamos nos adaptando.

A nossa live foi marcada para uma sexta-feira à tarde no engenho central. O Garcia queria que fosse na rua do porto, local turístico de Piracicaba, com vista para o rio, mas a prefeitura não liberou, alegou a dificuldade de conter os curiosos e poderia gerar aglomeração, o que estava proibido.

E foi lindo. O lugar não poderia ter sido melhor. Deu um fim de tarde maravilhoso com o sol refletindo no rio e o cenário antigo do engenho central e o jogo de luzes criaram um clima mágico. Um drone fez imagens aéreas valorizando ainda mais o local e o lindo rio Piracicaba e redondeza.

É diferente se apresentar sem o público. Falta o calor e energia que vem deles, os gritos e o cantar junto. Por isso, fizemos um repertório mais calmo com as músicas mais românticas. Claro que o hit principal e agitado rolou também. Afinal as dancinhas coreografadas dos garotos não poderiam faltar. A arrecadação de cestas básicas e dinheiro foi incrivelmente generosa. Deu para ajudar várias entidades.

Neste dia, aconteceu algo que eu não esperava. Huma preparou um jantar para nós, mas não me avisou. Após o show fomos jantar na casa do Lee, no condomínio onde eles moravam, para comemorar nosso encontro e o sucesso da live.

Quando percebi no meu telefone suas mensagens e ligações, eu corri para o apartamento. Aí já era tarde. Ela nem me deixou entrar. Ficou dias sem falar comigo.

Os móveis chegaram e o rapaz da montagem veio fazer as instalações. No meu apartamento ele instalou e o outro precisava combinar um horário com Huma ou eu mesmo faria. Pedi a ele ajuda que me passou todas as instruções de como instalar, inclusive deixou seus equipamentos para eu executar o serviço.

No dia seguinte, final da tarde ela me ligou, delicada e com a sutileza de sempre, falou:

— Kim, o que significa isto em minha porta?

Desci correndo. Não queria mulher brava comigo de novo.

Assim que ela abriu a porta eu já comecei a falar na defensiva.

— Lembra que eu te falei para não guardar seus sapatos no quarto? Então, eu já tinha encomendado um armário para o apartamento há muito tempo, mas como não cobrava a loja esqueceu. Aproveitei, reclamei e pedi dois iguais. O meu eles instalaram hoje.

— Mas eu não te pedi... — cortei-a.

— Tudo bem, — Elevei as mãos. — você pode me pagar se for o motivo de não querer aceitar. Agora é questão de necessidade você ter um aqui na sua entrada. Não vai atrapalhar a sua decoração e ele é na medida dessa parede. — Mostrei o canto logo no hall de entrada.

— E este tapete?

— Ah, este é presente. Mandaram para mim dois. Um para porta da frente e outro para a da cozinha. Não preciso de dois e trouxe um para você. O líquido para colocar aqui — Apontei a parte esquerda. —, eu trago depois, na pressa eu esqueci.

— O que eu faço com você, rapaz?

— Quer que eu responda mesmo? — Sorri. — Posso instalar seu armário?

— Você vai fazer isso? Ou melhor, sabe fazer?

— Acho que aprendi com o rapaz hoje. Ele deixou tudo que preciso comigo. — Levantei a bolsa que segurava. Posso entrar?

Ela abriu mais a porta e me deu passagem. Coloquei a bolsa no chão e carreguei a caixa para dentro do apartamento.

— Fique à vontade. Vou tomar banho.

Ela sumiu do meu campo de visão e eu comecei a abrir a caixa. Marquei os pontos onde iria parafusar na parede e comecei a fazer os furos com a furadeira.

Assim que ela voltou ficou parada com o olhar fixo em mim. Talvez tenha achado que eu não teria capacidade de colocar um simples armário. Ou apreciava o meu corpinho, porque havia tirado a camiseta devido ao calor.

— Quase pronto. Preciso de uma vassoura e pano para limpar aqui antes de instalar. Depois é só trazer seus calçados. Ah... vieram chinelos de panos de brindes.

Ela me encarou com os olhos apertados, ela já sabia que eu mentia. Mas não questionou. Foi até a área de serviço e trouxe o aspirador de pó, uma toalha e um produto de limpeza. Após deixar tudo limpo, eu lhe pedi ajuda.

— Segure aqui, por favor, apenas para não sair da marca.

Ela fez o que pedi em silêncio. Alguma coisa a incomodava, eu notava seu jeito estranho. Após colocar todos os parafusos e testar o correr das portas, falei:

— Prontinho. Nada de entrar com sapatos de rua dentro de casa.

— Desculpe, eu sei que te incomodei todas as vezes que não tirei os meus ao entrar na sua casa.

— É costume que a gente traz de berço.

— E está certo. Já pensei várias vezes sobre isso. E com essa pandemia eu tenho entrado sem eles e colocado na área de serviço — disse olhando o armário. — Ficou ótimo. Não havia pensado em um armário assim, cheguei a cogitar um baú, mas assim ficará bem organizado. Muito obrigada. Jantar comigo?

— É um convite? — Ela sorriu e bateu com a toalha em mim. — Não. Estou dizendo que vou preparar o jantar e comer sem te oferecer em sua frente.

— Mulher má.

— Você sempre soube disso, nunca te enganei — falou caminhando para a cozinha.

— Eu sou um cara que não guarda mágoa, minha querida. Vamos colocar os seus sapatos?

— Depois eu faço isso. Estou com fome.

— Vou subir e tomar uma ducha. Já volto.

Ela falou alguma coisa, mas não entendi porque já estava do lado de fora. Por isso voltei. Ao chegar na cozinha, ela sorria para o nada e quando perguntei o que havia dito, levou o maior susto.

— Quer me matar do coração, rapaz!?

— De jeito nenhum! Quero é cuidar dele com carinho. Voltei porque não entendi suas últimas palavras. Quer que eu traga alguma coisa?

— Quero!! Que traga este seu corpo vestido.

Aproximei dela. Sorri e deixei a camiseta que estava em meu ombro sobre a banqueta.

— Ficar assim, sem camisa te deixa nervosa, Huma?

— Deixa de ser besta, homem! Eu, hein! Até parece...

— Então me diga o que falou antes, — Aproximei mais. Percebi que ela olhou meu peito e quis responder alguma coisa, mas voltou a fechar a boca. — eu não escutei.

— É... não demore. Acho que foi isso. E vá! Senão tiro o convite de jantar comigo! — Ela pegou em meu ombro e me empurrou.

— Sim senhora, você com este jeitinho delicado acabou de me convencer.

Saí rindo dela e escutei seu rosnar de raiva. Rosnar, não... qual seria o nome do som de uma tigresa?   

*****

Você imaginou o som que ele quis dizer? 

Conte para mim, estão gostando um pouquinho do nosso coreano?

Deixe seu comentário aqui, aperte a estrela, porque vou ficar bem feliz.

Beijos,  Lena

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