Capítulo 14
Capítulo 14
A espera
Kim
Aquele dia eu vigiei. Esperei até tarde que ela voltasse para casa e nada. Onde aquela mulher foi parar, eu não sabia. Pior, os dias que se seguiram iguais. Acho que arquitetar todos estes planos foram totalmente em vão e perda de dinheiro. Porque claro, meu primo não iria fazer isso por mim sem me extorquir até a última nota do meu bolso.
Fazer o dossiê sobre Huma, descobrir onde morava, localizar seu apartamento e me arrumar um, para eu passar alguns dias ou uma temporada, ele jurou que foram tarefas dificílimas. Sem contar com as passagens aéreas. Ele não me deixa esquecer nenhum "favor".
Se foi sorte, ou azar o meu, dele trabalhar na mesma empresa e ser filho de um dos sócios, somente o tempo me dirá. Trocar meu apartamento luxuoso pelo seu, modestamente falando inferior, não foi nenhum sacrifício para o cretino.
Passou dias e não encontrei a Huma. Ela com certeza me evitava.
No dia que perguntei pela dona da vaga 701 da garagem e se eu poderia usá-la, o porteiro me dissera que ela devia estar viajando a trabalho, mas eu sabia que não era verdade.
Resolvi esperar mais um pouco antes de entrar em contato com ela. Queria realmente parecer ser coincidência estarmos no mesmo prédio, mesmo sabendo que a verdade viria à tona de qualquer forma.
Liguei. Não uma, mas várias vezes, mas ela não me atendeu.
Passou semanas.
Fizemos o último show do ano. Participamos de alguns programas de entrevista e realmente ganhamos o prêmio de grupo musical do ano. E a nossa música, a mais tocada e baixada na internet, não foi surpresa ganhar o primeiro lugar também. Ou seja, tudo caminhava bem na parte profissional, menos o sentimental. Eu não queria mais envolvimento com mulher nenhuma. Eu só pensava em uma em específico: Huma.
Natal. Ano novo. Tudo passou e nada de passar a vontade de ficar próximo a essa mulher misteriosa que aparecia de vez em quando no prédio e eu não a via. A impressão que dava é que ela possuía um artefato mágico e se tornava invisível ao colocar os pés no apartamento. Como sei? As correspondências sumiam de seu tapete de tempo em tempo e a planta de sua porta aparecia molhada nestes dias.
Janeiro chegou. Férias tão merecidas. O que fazer? Sempre eu viajava para um lugar paradisíaco e esquecia toda a correria do ano. E antes de voltar ao Brasil iria a Coreia, passava uma ou duas semanas, mas este ano descartei no dia que um vírus foi confirmado no país, surgido na China altamente contagioso no final do ano.
O clima estranho que pairou no ar por causa desta doença me fez não sair do Brasil. Meus companheiros fizeram o mesmo. Reservaram uma pousada num paraíso no Nordeste. A princípio eu não queria ir, porque não queria ficar longe dela ou da possibilidade de ter um encontro com a Huma.
— Cara, pensa bem, faz dois meses ou mais que você não vê essa mulher! Desiste, sai fora! Já deu para sacar que ela não quer te ver e nem ficar próxima — Lee me disse um dia sem mais rodeio. — Quanto tempo você está neste apartamento? Quantas ligações fez? Ela te atendeu? Retornou alguma vez? Está cheio de mulher por aí que faria de tudo por sua atenção!
— Mas eu quero ela. Estou apaixonado. Penso nela dia e noite, cara!
— Vou te dizer mais. Você está chato e antissocial, porque seu assunto é apenas essa mulher. Vou te dizer, se ficar assim vai ficar doente e com depressão. Você vai tirar essa bunda do sofá e sim viajar conosco. Não aceito mais te ver desse jeito.
E foi assim que fui passar semanas longe de tudo e todos. Deixei de falar da Huma, que na verdade foi quase uma exigência, uma intimação. No entanto, ela povoava meus pensamentos, meus sonhos e minha vontade de voltar.
Passou o carnaval. Era hora de voltar porque nossa agenda já tinha quase todos os finais de semanas com shows e alguns programas de televisão. A partir de agosto faríamos uma turnê pela América Latina e Europa, conclusão, era melhor esquecer e focar carreira.
Já não dava para passar por mais vergonha com mulheres. Daqui a pouco eu pegaria um fama que seria difícil reverter. Eu não queria nenhuma, e toda vez que insistia em esquecê-la, me divertir com outra, na hora H a coisa não rolava e... pois é... melhor nem comentar. Já bastava ter que escutar as zoeiras dos moleques.
Voltei decidido a esquecer que um dia cruzei com aquela mulher. Nem o nome dela eu já pronunciava.
Queria meu apartamento de volta e pressentia que teria que tirar meu primo a força, pois o bonitinho gostou da vida e das mulheres que levava para a minha cobertura com direito a piscina e outras mordomias que o apartamento dele ficava longe de ter.
Avisei que voltava e que passaria no prédio apenas para buscar minhas coisas que ainda estavam lá. Entrei na garagem e fechei o carro, andei até o elevador e dei de cara com ela.
Parei.
O que eu imaginei e fantasiei por muito tempo não aconteceu. Eu fiquei mudo. Segurava a chave sem nada passar na minha cabeça e a única frase que saiu foi:
— O que você faz aqui?
Ela pelo jeito teve a mesma reação que eu. Não falou nada por um tempo longo e ao abrir a boca as portas do elevador se abriram e um casal saiu de dentro nos cumprimentando. Ela entrou e eu fiz o mesmo.
— Quanto tempo, não? — foi o que ela mencionou ao apertar no painel o sétimo andar.
— Eu te mandei tantas mensagens, porque nunca me respondeu?
— Não é verdade. Eu te respondi no natal e ano novo.
— Não. Aquilo foi apenas um gesto educado que você deve ter mandado para toda sua lista de contato. Informal, frio e sem graça.
— Desculpe se não gostou. Eu sempre te disse que não criaríamos vínculos. Você que não entendeu.
— Huma... — Parei. Não iria mais ser o mesmo. Já havia decidido pelo fim. — Mas o que faz aqui?
— Vim ver uma pessoa.
O elevador parou e como eu não tinha apertado nada, saí com ela. Não deixaria mentir para mim assim, não outra vez fingir que não morava ali.
— Você mora neste andar?
— Não. — Olhei ao redor. — Quero te acompanhar mais um pouco.
— Ah, tá... Vou tocar aqui — Mostrou a porta dela mesmo. — Até outra hora.
Continuei parado e ela sem reação. Queria ver até que ponto ela iria. Tocaria a campainha da própria casa e como ninguém atenderia teria a cara de pau de ir embora novamente? Essa eu pagaria para ver.
— Quer que eu toque para você? — perguntei olhando o interruptor.
— Não! Acho que minha amiga não chegou ainda, veja! — Olhou no chão onde tinha algumas correspondências. — Vou ligar e esperar.
Abaixei para pegar e ela fez o mesmo e tomou de minhas mãos apressada.
— Eu entrego a ela — falou rápido.
Tentei ler alguma coisa, mas ela colocou-as atrás de sua maleta. E nós dois ficamos nos encarando.
— O que foi, Huma? Você me parece nervosa. Aconteceu alguma coisa?
— Não, claro que não... É... na verdade sim, mas se você não se importa é assunto particular. E pode ir, não quero te atrapalhar mais.
— Eu estou de boa. — Encostei na parece lateral e cruzei os braços.
Seus olhos inspecionaram o lugar e creio que seus pensamentos tentavam buscar alternativas. Um barulho de chave na porta ao lado chamou nossa atenção. Ela olhou mais assustada para mim e para a outra pessoa que apareceu depois que a porta se abriu.
— Oi querida, que bom te encontrar hoje — falou a senhora e em seguida olhou para mim e fez um gesto de cabeça. — Sabe aquela rifa que comprou final de ano? Você não advinha quem ganhou? Você! Quer entrar para pegar ou eu peço o Beto para levar no seu apartamento?
— Ah... outra hora eu vejo, dona Ester.
— O que você ganhou mesmo, huma? — perguntei como se soubesse do assunto. Ela me olhou e não respondeu, a minha dúvida era se não sabia ou que eu descobriria suas mentiras.
— Você lembra, não é, minha querida? — Huma continuava calada. — É uma bicicleta bem moderna, eu te mandei mensagem, mas não viu. E seu prêmio está no meio da minha sala.
— Ah, sim... outra hora eu pego... preciso ir... — tentou ela sair e apertou o botão do elevador.
— Huma, só colocar na sua casa. É rapidinho. O rapaz pode te ajudar. Faz semanas que está de enfeite na minha sala... — Eu a interrompi e logo já estava do lado dela e pronto para buscar a tal bicicleta e ver o que a senhorita Huma faria.
— Claro, pego sim e ajudo a minha amiga.
Em segundos, eu me encontrava no corredor com uma bela bike com laço vermelho e a senhora do lado me agradecendo a gentileza. Eu? Queria abraça-la e beijá-la por me ajudar a desmascarar a nossa querida, Humália.
— Querida, fiz um bolo de banana hoje e mais tarde levo um pedacinho para você — Deu uma piscadinha. —, sei que adora. E se o rapaz for ficar com você — Deu um sorrisinho. — levo um pouco maior.
— Eu iria adorar — respondi. — Vamos entrar minha querida, Huma?
Ela enfiou a mão na bolsa, pegou a chave e colocou na fechadura sem dizer nada. Eu? A acompanhei empurrando a bicicleta. Agora quero ver o que ela tinha para me falar.
******
Pronto! Como Huma vai sair dessa mentira? O jeito vai ser confessar e dar um chega para lá neste coreano insistente, certo? Será que ele vai manter a palavra e deixar o prédio? Tudo isso você vai precisar continuar acompanhando para saber.
Beijos e até a próxima semana.
Lena
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