Capítulo 13
Capítulo 13
A surpresa
Huma
Não é possível que isso acontecia comigo. Não pode ser que este cara caia na minha vida dessa maneira e deste jeito. Estacionei alguns quilômetros, após deixá-lo em frente ao prédio e, peguei meu celular. Fiz a ligação e esperei que atendesse.
"Condomínio Recanto do Lago, boa noite."
— Quem está falando?
"Juarez. Em que posso ajudar?"
— Boa noite, senhor Juarez, é a Huma do 701. Estou chegando agora pouco de viagem. Está tudo bem por aí?
"Sim, senhorita. Tudo em perfeita ordem."
— O senhor pode me informar se temos apartamento para vender ou alugar no prédio?
"Que eu saiba não, por quê?"
— Algum morador novo?
"Hum... Têm alguns que aparecem de vez enquanto, mas novo, novo mesmo que eu saiba também não."
— Algum japonês, aqueles de olhos puxados, sabe?
"Sei sim. Tem dois, ou três apartamentos que moram coreanos, servem estes? Acho que até trabalham na mesma empresa que a senhorita."
— Sim. Sei quem é, mas... ninguém novato?
"Não, senhorita. É só isso mesmo? — Escutei o interfone tocar. — Preciso atender aqui."
— Sim. Obrigada pelas informações. Boa noite.
Abracei a direção e olhei para o nada. O que fazer? Demorei a colocar as ideias em ordens. Peguei o celular novamente e fiz outra ligação.
— Oi, mãe, tudo bem?
Assim que entrei no condomínio onde meus pais moravam já não tinha certeza se havia tomado a decisão correta. Mas agora era tarde para pensar a respeito.
Meus pais moravam em um condomínio residencial de casas, desde que meu irmão casou e eu saí de casa para morar sozinha, eles decidiram que o apartamento era muito grande. Acredito que nos pensamentos deles, nós, eu e Ben, logo teríamos filhos e os netos precisariam de espaço para correr e brincar.
Coitados. Até hoje nada de criança para fazer barulho na casa, a não ser os filhos e netos dos vizinhos.
Assim que estacionei em frente à casa, os dois já me esperavam a porta sorridentes.
— Não sei o que aconteceu neste voo, mas estou feliz de saber que ele te trouxe para casa hoje — comentou, meu pai ao abrir a porta do carro para mim.
— Que exagero, boa noite para o senhor também. — O abracei assim que desci e ele cochichou ao meu ouvido: eu te amo. Olhei-o com admiração por ser quem era e sua transparência de afeto. Respondi: — eu te amo mais.
— Desde a hora que você ligou, ele te espera na porta — mamãe revelou e veio me tirar dos braços dele. — Já chega. Agora é minha vez.
— Ei! Não precisam brigar, tem Huma para os dois, se me quiserem aqui vou passar a noite.
Como sempre essa frase não caiu bem. A vida toda o meu nome foi motivo de piadinhas na escola e em todos os lugares. É uma ou duas? É Humália ou Duasamálias? Filha de Humberto ou Doisbertos?
— Sério isso? — Papai se espantou — Teve turbulência, pane e o avião ameaçou cair?
— Pare de atormentar sua filha! Era saudade de mim e não de você! — mamãe o empurrou para o lado. — Vamos entrar?
— Achei que não iriam ser me convidar?
— Tem bagagem, filha?
— Sim. No porta-malas, mas tire apenas a mala de mão que tem minha frasqueira. — voltei meu olhar para mamãe e perguntei: — me empresta um pijama?
Após um banho e vestir uma roupa confortável da minha mãe, sentamos a mesa do jantar. Soube as novidades mais recentes da família e outras dos amigos deles.
— Como estão Josi e Renato? — perguntou minha mãe.
— Aqueles dois... o que dizer deles? Parecem que nasceram um para o outro. Nunca vi tanta cumplicidade e paixão em outros olhos. A Bruna cada vez mais linda e fofa. Acredita que já reconhece todas as letras?
— Hoje as crianças já nascem com memória estendida, pena que não vamos viver para saber essa experiência com netos — comentou meu pai após tomar um pouco de seu vinho.
— Pronto! Demorou para começar a ladainha. Cadê o Ben para ouvir a parte dele? Ele tem vindo por aqui?
— Aquele ali foge mais que você, acho que tem medo da Ema largar dele se falarmos alguma coisa sobre neto, gravidez, criança, desejos e entre outras palavras dessas na mesma frase — afirmou mamãe.
— Eles sim estão devendo, já fazem mais de cinco anos de casados. Eu não tenho namorado e nem pretendente.
— Por que não quer e trabalha demais — insistiu meu pai.
— Aprendi com o senhor a dedicar ao trabalho.
— Nem venha, minha pequena, eu casei tive dois filhos e sempre fui um pai presente. Sim, dedicado e ótimo professor, pesquisador, orientador e...
— Diretor, coordenador, reitor e mais o que, doutor, mestre e modesto Humberto?
Caímos na risada. Essa história se repetia todas as vezes que falávamos de carreira e trabalho. Meu pai foi professor universitário e passou por todas as etapas dentro da instituição antes de aposentar. Ainda hoje faz palestras e participa de seminários e congressos. Um economista de amplo reconhecimento.
Minha mãe, formada em letras, antes fez magistério e se especializou em línguas e literatura. Trabalhou a vida toda em várias escolas como professora, coordenadora e aposentou, após trinta e cinco anos, como diretora. Mas... é a pessoa mais pagadora de mico que conheço, totalmente sem noção e engraçada. A cada encontro fico sabendo de algo que ela aprontou, claro, totalmente intenção, como sempre.
Após o jantar sentamos na sala, eu e papai, mamãe foi para a cozinha fazer um café. Dispensou minha ajuda ao perceber que falaríamos de trabalho.
— E aí, o que você acha que vai acontecer no atual governo da Coreia? As manifestações deles não são iguais aqui. Tem acompanhado?*
— Sim. A população quer a renúncia do presidente.
Assim que fechei a porta do quarto meus pensamentos voltaram ao início desta noite, Kim Koon. Como assim ele mora no mesmo prédio que eu? Como nunca nos encontramos?
— E quem eu vejo daquele prédio? — perguntei-me — Pelo menos ele não era meu vizinho de porta, porque estes eu os conheciam.
Dois toques a porta me fez voltar o olhar. Apareceu a minha mãe com um sorriso.
— Entre — falei — veio me colocar na cama e apagar a luz?
— Quer? Como nos velhos tempos?
Apenas sorri para ela que se sentou à minha frente.
— Qual é o problema se não é trabalho?
— Por que tem que haver um?
— Porque eu te conheço desde que nasceu... — a interrompi e completei a frase.
— E sei quando tem alguma coisa te incomodando e não é trabalho.
— Viu? Até você concorda comigo. — Pousou a mão na minha perna e continuou: — eu só quero te dizer que continuo sendo a sua melhor amiga e estou aqui se quiser falar.
Permaneci em silencio. A minha dúvida era expor algo que nem eu sabia se havia necessidade. Era tão sem sentindo tudo aquilo que me dava vergonha. Eu me sentia uma colegial preste a revelar que entrou um aluno novo na escola e chamou minha atenção. Assim que ela levantou para sair eu segurei sua mão.
— Mãe, é tão bobo o que me incomoda... como vou dizer... infantil. É essa é a palavra.
— Está apaixonada?
— Mãe! Claro que não! Imagina, eu apaixonada por um coreano metido a besta e ainda galã e cheio de fãs histéricas! Eu, hein!
— Oi? Quem é ele? Da empresa? Galã? Como assim?
— Nossa, sabia que devia ter mantido a boca fechada. Agora vai ser essa enxurrada de perguntas fantasiosas — Ela fechou a cara e ameaçou a sair. — Espera! Desculpa, senta aqui.
Ela sentou, mas ficou calada e de cara fechada para mim. Comecei a contar a história de trás para frente, ou melhor, do voo até aqui e depois fui falando das situações ocorrida no hotel. Não sei quanto tempo se passou, mas eu tinha a boca seca e precisava de água.
Fui até a cozinha e ela na minha cola com mais perguntas que nem ousava responder.
— E ele não tem nenhuma chance mesmo? Qual é o nome dele? A banda é daqueles que dançam?
— Mãe, pelo amor de Deus, não vá criar fantasia com essa história. Eu não sei nada da vida deles a não ser o que contei. — Após ver sua expressão de decepção, completei: — ele é mais velho que os outros integrantes, mas mesmo assim um menino. Daqui a pouco ele arruma outra para fazer parte do seu rol de conquista.
— E por qual motivo não foi para seu apartamento? Não me venha com essa de saudade que não acreditei desde a hora da sua ligação.
— Para ele não ficar no meu pé se descobrisse.
— Sei...
— Até hoje nunca nos vimos, não vai ser agora, concorda?
— Matematicamente, a porcentagem pode ir de zero a cem, como seu pai gosta de falar. Eu, no entanto, tenho outra visão. As chances aumentam quando o pensamento gira em torno daquilo que se quer ou rejeita.
— Então não vamos encontrar mesmo! Nem vou lembrar mais dele amanhã de manhã. Boa noite, mãezinha. Já passou e muito a hora das duas irem dormir.
No dia seguinte, acordei e pensei: — será que vou dar de cara com ele se eu for agora para o apartamento? Qual andar será que ele mora? Preciso descobrir.
Entrei sorrateiramente no elevador da garagem puxando minha mala. Assim que começou a subir eu foquei no painel para ele ir direto ao meu andar, mas ele parou no térreo e alguém abriu a porta. Eu prendi a respiração.
*Eles falam sobre as manifestações contra o presidente no final de 2019
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Olá, tudo bem com vocês? Gostaram de conhecer a família da Huma? Aguardem...
Ela vai aprontar algumas.
O que acharam do Kim morar no mesmo prédio. Muita coincidência?
Até o próximo capítulo. Talvez ele conte a vocês. Beijos
Lena
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