Capítulo 1
- Lisa?
- Hum... - Resmungo.
- Já está tarde. - Tia Mary diz.
- Só mais dez minutos. - Cubro meu rosto com o cobertor.
- Se não quiser que seu chefe tenha uma má impressão a seu respeito no primeiro dia, sugiro que se levante logo. - Ela fala.
- A senhora tem razão. - Suspiro alto.
Não seria profissional da minha parte me atrasar no primeiro dia de trabalho.
- Se estivesse aceitado o emprego na empresa poderia dormir até mais tarde. - Ela provoca.
- Não começa tia. - Reviro os olhos.
Meu tio e meus primos insistiram que eu deveria trabalhar nas empresas Clark, mas como sou teimosa não aceitei.
Já fui julgada de todos as formas imagináveis por ser a sobrinha de um homem poderoso. Sempre me apontaram o dedo dizendo que tudo o que construí foi graças a minha família. Em parte talvez quem pense isso tenha um pouco de razão, já que meu tio sempre me ajudou quando eu precisava.
Mas depois que me tornei uma mulher feita, decidi que não iria depender de ninguém, a não se de mim mesma. Se quero alguma coisa, eu trabalho e corro atrás para conquistar, sou um pouco orgulhosa, mas me tornei uma pessoa assim depois de tantas pessoas me julgarem sem saber o que realmente se passava.
Não quis aceitar o emprego que meu tio ofereceu, porque seria de mão beijada. Eu não teria corrido atrás, então não poderia me orgulhar de mim mesma e dizer que consegui um emprego graças aos meus esforços.
- Tão teimosa. - Ela revira os olhos. - Não sei para quem puxou.
- Quer que eu te diga? - Sorrio abertamente.
Sou bem mais parecida com meu tio em alguns aspectos do que os próprios filhos. Não sei se foi pela consciência, ou realmente está no sangue.
Depois que minha mãe faleceu, meu pai não se importou muito com uma filha pequena e meio que me abandonou. Então nesse meio tempo meu tio me estendeu as mãos e me levou para morar com ele e sua família.
Raramente nos víamos, mas mesmo assim ele decidiu adotar a sobrinha que foi rejeitada pelo próprio pai.
Não demorou muito para meu pai se casar, e como bagagem em seu novo casamento veio mais duas filhas.
Até que era aceitável viver ao seu lado antes do casamento, mas minha madrasta estava disposta a fazer da minha vida um inferno. O que mais me deixa chateada, é que meu pai via todos os maus tratos e não movia um dedo sequer para me ajudar.
Até hoje não sei como um ser humano pode mudar de repente. Em um dia ele era um pai amoroso, no dia seguinte se tornou um homem completamente diferente. Ele não me agredia, mas a forma fria que ele me tratava, me deixava profundamente triste e sem entender o porque de tamanha mudança.
Então um belo dia meu tio foi nos visitar, e se deparou com uma criança magra e desnutrida por passar fome. Foi assim que ele decidiu me adotar, e pude ver a cara de felicidade da minha madrasta e do meu pai.
Depois desse dia não os vi novamente. Vivi muitos anos amargurada e descontava minha raiva em pessoas que não tinha nada haver com minha vida.
Culpava minha mãe por ter morrido tão nova e me deixado, culpava meu pai por ser um homem horrível e me abandonado. Estava tão perdida no meu mundo de dor, que não percebia que as pessoas a minha volta também estavam sofrendo. Meu tio havia acabado de perder a única irmã, e meu pai a esposa.
Me rebelei e fiz coisas que irei me envergonhar para sempre. Mas conforme o tempo foi passando, fui recebendo amor de uma nova família, então comecei a querer mudar, e mudei para melhor.
Vivi boa parte da minha vida odiando meu pai, mas não sei em qual momento da minha vida, esse ódio se transformou em pena. Não sei o que realmente aconteceu para ele começar a me desprezar de repente, e mesmo que anos tenham se passado, ainda gostaria de saber o motivo de sua mudança repentina.
- Está pensando no passado? - Minha tia pergunta.
- Como sabe?
- Te conheço muito bem. - Ela sorri.
- De vez em quando me pego olhando para o passado. - Assumo. - Já tentei esquecer completamente mas é impossível.
- Não precisa esquecer as coisas dolorosas que viveu. - Ela pega minha mão. - Foi através delas que se tornou uma mulher forte.
- Talvez eu não seja tão forte assim. - Sorrio fraco.
- Eu sei que você é. - Diz. - E mesmo se não for, eu estarei ao seu lado em todos momentos da sua vida, tanto bom quanto ruim.
Puxo minha tia para um abraço e ela retribui com carinho. Sempre que estou me sentindo solitária, ela tem uma palavra amiga e me anima um pouco.
- Obrigada tia. - Agradeço.
Ela se distancia e diz:
- Antes que eu comesse chorar é melhor ir se arrumar logo.
- Sim senhora. - Sorrio abertamente.
Me levanto e vou arrumar a cama, mas ela me expulsa para o banheiro.
- Eu te amo. - Grito para ela da porta do banheiro.
Ela para de arrumar a cama e funga alto. Nesse momento sei que ela está contendo as lágrimas. Minha tia é uma chorona.
- Eu também te amo. - Diz com a voz meia embargada.
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- Tome café primeiro Lisa. - Meu tio fala.
- Vou chegar atrasada. - Digo.
- Mas...
- Depois eu como alguma coisa. - Falo.
Lhe dou um beijo no rosto e em seguida na minha tia, e corro até a saída da casa.
Estou tão nervosa que provavelmente não iria conseguir comer nada nesse momento. Sou totalmente diferente de algumas mulheres, quando estou nervosa perco o apetite.
- Não esqueça de pedir para o Matt olhar o apartamento para mim. - Falo para meu tio antes de sair de casa.
- Não vamos falar sobre isso agora. - Ele retruca.
Estou morando com eles temporariamente. Quero ter um lugar só para mim, mesmo que seja minúsculo.
É óbvio que eles não querem me deixar morar só, e quer que eu fique na casa, mas eu sei que de uma forma ou de outra estaria atrapalhando.
Penso da mesma forma sobre emprego. Depois de deixar meu currículo em algumas empresas, fui aceita sem nem ao mesmo fazerem entrevista de emprego. Na hora percebi que fui aceita apenas pelo sobrenome que tenho.
Pode ser idiotice da minha parte não aceitar, mas seria a mesma coisa que trabalhar para meu tio. Não fui aceita por ser boa no que faço, e sim porque sou sobrinha do Senhor Clark.
Quando já estava perdendo as esperanças, enfim me chamaram para uma entrevista de emprego, e pude perceber que não faziam ideia de quem eu era.
Serei apenas uma secretaria, mas com toda certeza me orgulho do emprego que consegui por méritos próprios.
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- Bom dia. - Cumprimento as pessoas da recepção.
- Bom dia. - Dizem em uníssono.
Uma das moças me entrega meu crachá, depois de dizer que sou a nova secretária do Senhor Vincent.
A moça explica onde devo ir e com quem conversar.
Corro para o elevador quando olho para o relógio sobre meu pulso e vejo que tenho apenas dez minutos para achar o escritório.
- Que merda. - Praguejo.
Depois de alguns minutos enfim a porta do elevador se abre, então saio mas que depressa.
- Bom dia. - Uma moça sorridente me cumprimenta.
- Bom dia. - Retribuo o sorriso.
- Você deve ser Lisa a nova secretária. - Fala.
- Sim. - Digo apenas.
- Sou Clary. - Me estende a mão. - Sou assistente do Senhor Keller.
- É um prazer te conhecer. - Retribuo o aperto de mão.
Clary me guia até minha mesa e diz:
- Sugiro que cumprimente primeiro o senhor Keller, depois te mostro tudo o que precisar por hora.
- Obrigada. - Agradeço.
- Ele está de mal humor, então não se importe muito se por acaso ele for um pouquinho rude.
Aceno com a cabeça e não digo nada. Paro de frente para a porta e suspiro alto. Não sei porque mas meu coração está acelerado, e sinto minhas pernas bambas. Não é meu primeiro emprego, mas de alguma forma sinto como se fosse.
Depois de alguns segundos tensos bato na porta duas vezes. Não escuto ninguém se pronunciar, então em um momento de loucura abro a porta e me arrependo no minuto seguinte.
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Bom dia meninas
Tudo bem com vocês?
Espero que gostem do primeiro capítulo ❤ Até quarta feira com o próximo.
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