Capítulo XI

     Cᥲρίtᥙᥣo 11

     Não havia dúvidas para quem quer que visse tais interacções entre os membros da família Jory, o quanto os mesmos amavam-se e quão felizes eram por fazer parte de tal família. O amor, o carinho, cuidado e protecção emanava por todos os seus poros e havia uma lealdade enorme entre cada um deles um pelo outro.

Naquela noite, Alissa jantara na companhia da família e degustou dos cozinhados da sua mãe os quais tanto sentiu falta e ainda que tivesse adorado cada momento daquele dia, ao final da tarde, o carro que era suposto passar pegá-la não apareceu e sempre que olhava para seu telemóvel, não havia nem sinal de vida por parte do seu esposo. Quando o relógio marcava oito da noite, ela finalmente dera-se por vencida e decidiu que iria caminhar de volta para o Palácio, pois se fosse para depender de Ian, ela provavelmente passaria ali a noite.

- Eu tenho de ir andando – anunciou Alissa enquanto pousava o copo de chá gelado que a mãe lhes havia servido.

- Já? – perguntaram todos em uníssono.

- Lamento desapontar-vos, mas eu sou uma mulher casada agora, e não seria nada ético eu chegar tarde em casa – respondeu Alissa com um sorriso.

- Tens toda razão, então sempre vens ao almoço do domingo? – perguntou a mãe.

- Claro que sim, podem contar comigo.

- Eu acompanho-te a porta – ofereceu-se Marc depois de ela se ter despedido de todos. – Não era suposto estar um carro enorme aqui a tua espera? – perguntou o irmão curioso quando eles saíram.

- Sim, mas eu pedi ao Ian que não o fizesse – mentiu ela. – Quero aproveitar os meus últimos momentos de liberdade enquanto ainda posso. Ambos sabemos que de hoje em diante as coisas serão diferentes e que a liberdade de que antes gozava irá desaparecer completamente.

- Tu não pareces feliz com isso – apontou o mais velho enquanto analisava o semblante melancólico da irmã. – Lis...

- Hum? – virou-se para o irmão e viu que este não só havia parado de andar, mas também que seu semblante havia mudado de relaxado e brincalhão para sério. – Uau... Que expressão é essa? Estás tão sério que até mete medo.

- Tu estás feliz com esse casamento, não estás?

- É claro que estou.

E lá estava ela a mentir novamente...

Nos últimos meses havia-se tornado tão normal fazê-lo que em alguns momentos, as mentiras simplesmente fluíam naturalmente de seus lábios.

- A sério?

- A sério – asseverou. – É só que... Talvez eu esteja com um pouco de medo do que a minha nova vida reserva-me – confessou Alissa e deu um sorriso fraco. – Eu nunca dei-me bem com esta coisa da realeza, sabes?

- Eu sei. Por isso foi uma surpresa para todos quando o pai contou-nos que estavas apaixonada pelo Ian e que ele pedira a tua mão em casamento.

- Mistérios do coração, não é mesmo? – deu de ombros e respirou profundamente antes de tornar a andar.

- Sabes que sempre que estiveres com medo ou que precisares, nós estaremos todos aqui para ti, não sabes?

Com um sorriso, mais nova assentiu. Era uma pena que naquela situação em particular, eles não a podiam ajudar.

- Caçula! – chamou-a e ela olhara-o com curiosidade. – Não importa quão difíceis as coisas pareçam ou como a vida no Palácio pareça sugar a vivacidade toda que tens e tornar-te numa morta-viva, a tua família estará sempre do teu lado. É assim que nós somos... é assim que os Jory cuidam um do outro – disse o irmão com um sorriso que aquecera seu peito. – Sejas Alissa Kattyss Jory ou Alissa Marie Parrik, para nós serás sempre a nossa caçula... A caçula dos Jory.

Um pequeno rio formara-se abaixo das suas obsidianas cor de ónix, ao ouvir as ditas do irmão e um aperto formara-se em seu peito, ao passo em que ela mordia seu lábio inferior e tentava conter a intensidade dos sentimentos que clamavam por transbordar.

- Eu pensei que fosses o brincalhão da família, e não quem me faria chorar hoje – reclamou Alissa e torceu o nariz. O que resultara em uma explosão sonora, da gargalhada do seu irmão.

- E continuo a ser – com um sorriso, envolveu o corpo da mais nova em um abraço. – Porém vez a outra, eu tenho de fingir ser tão sério ou mais que o Max e o Luc, a ver se assim levas-me mais a sério.

- Idiota! – disse e socou o peito do mais velho, este que dera uma risada.

- Eu sei, eu sou fantástico, não precisas dizê-lo.

Eram momentos como aquele que ela tanto valorizava. Momentos em que sua risada fluía naturalmente... Que o peso do fardo que carregava em suas costas parecia desaparecer mesmo que momentaneamente, ela amava cada um dos momentos que passava com sua família e embora seu coração pesasse por ter de menti-los e fingir que estava tudo bem com seu casamento, ainda assim ela agradecia por tê-los sempre do seu lado.

Era como seu irmão dissera...

Fosse ela Alissa Kattyss Jory, ou Alissa Marie Parrik, no final...

Ela seria sempre a caçula da família Jory.

Na manhã seguinte...

Palácio de Limes – Aposentos de Ian e Alissa

Sentada no sofá da sala de estar dos seus aposentos, Alissa ouvia sons da movimentação oriunda de seu quarto, ao passo que as serviçais desfaziam suas malas e de Ian. Se fossem alguns meses atrás, seria ela a desfazer sua mala, a organizar as roupas limpas no closet e os seus respectivos pertences, e a separar as roupas sujas para levá-las para a lavandaria para que fossem lavadas. No entanto lá estava ela, sentada enquanto outras pessoas faziam essas mesmas tarefas que em momentos via tanto prazer em realizar, porém que dali por diante lhe seriam privadas em lugar de outras que preencheriam seu lugar.

Faziam algumas horas desde que ela acordara e tal como já era de praxe, quando o fizera, não havia nem sequer sinal de Ian no quarto. Provavelmente o mesmo não perdera tempo em regressar a sua rotina normal mesmo que algumas coisas tivessem mudado, tal como o pequeno anel de ouro branco que jazia agora em seu anelar esquerdo, idêntico ao que ela tinha no mesmo dedo, que embora pequeno tivesse um peso enorme para ambos.

A jovem princesa mordeu o lábio inferior e fechou a canhota em punho. Na noite anterior ele não havia regressado ao quarto, pelo menos não enquanto ela estava acordada. Sabia disso, pois passara horas a fio acordada a espera do mesmo, todavia parecia que nem o Universo e nem o próprio Ian tinham planos de conceder-lhe tal graça.

O som de uma batida na porta a fizera despertar de seus pensamentos, instintivamente, ela levantara-se para abrir a mesma, mas já uma serviçal lá estava, tendo-se adiantado e aberto a porta em seu lugar, revelando a figura da Rainha Leonora em suas vestes elegantes e delicadas e seu corte de cabelo minuciosamente arranjado e preso em um rabo-de-cavalo baixo. Diferente dela que trajava um vestido castanho claro com flores de croché, comprido e com alças que ficavam no ombro, em sua cintura haviam-lhe colocado um cinto preto, e nos pés calçaram-lhe uns sapatos de salto alto também castanhos. Relativamente ao cabelo, este estava preso em um semi apanhado que só abrangia a parte de frente do cabelo o de trás estava solto e encaracolado.

Imediatamente, Alissa curvara-se fazendo uma vénia para a monarca, que em um gesto suave e imponente, dispensou a serviçal, tendo esta prontamente deixado o cómodo.

- Oh querida! Formalidades dessas não são necessárias. – A voz de Leonora soara simpática, porém Alissa sabia perfeitamente, que aquelas palavras eram apenas ditas da boca para a fora, pois se ela não cumprisse com as formalidades seria alvo de maus-olhados e falatórios. Afinal... era assim que o Palácio funcionava, não? Pois até mesmo Bryony que era alguém que crescera em meio a aquele mundo e era parente directa do Rei de Limerance, continuava a fazer vénia não apenas para o tio, mas também para a tia e às vezes até mesmo para Ian. – Afinal, somos família agora, não é mesmo?

- Sim, sua Alteza – respondeu Alissa e a mais velha franziu o cenho.

- E lá estás tu outra vez... – replicou fazendo a mais nova ficar confusa. – Sem formalidades, lembras-te?

- Lamento, sua Alteza, porém ainda é um pouco difícil para mim abrir mão de todos honoríficos e de todas as formalidades quando tive de usá-los a vida toda para dirigir-me a si e a família real no geral.

- Hm... tens razão – apontou Leonora após alguns segundos a ponderar as ditas da nora. – Já tomaste o pequeno-almoço? – questionou e Alissa balançou a cabeça em negação. – Óptimo. Então vamos tomá-lo juntas, pois tal como tu, o meu esposo também abandonou-me bem cedo para tratar de assuntos do reino. Têm vezes em que penso que o Ian é uma cópia perfeita do pai, e embora o Adrian se recuse a aceitar ou mencionar tal facto, ele também tivera a sua fase boémia, porém esta fora mais discreta e rápida do que a do Ian.

- Ah...

Tal interjeição fora a única coisa que Alissa conseguira expressar após ouvir as ditas da Rainha, enquanto deixava-se arrastar pela mesma sabe-se lá para onde.

- Então conta-me... – começou Leonora assim que sentaram-se em uma mesa no centro do jardim de inverno que Alissa sequer sabia que existia e que estava cuidadosamente posta com os gostos e preferências da rainha e da nova princesa para o pequeno-almoço. – Como é que foi a lua-de-mel?

- Ela foi fantástica, Majestade, o Ian foi uma óptima companhia. Ele tentou ao máximo, deixar-me o mais confortável possível.

Lembranças das suas manhãs na praia e tardes e noites, sozinha na biblioteca da mansão, surgiram em sua mente.

- Oh! Eu fico tão feliz em saber disso – expressou a mais velha com um sorriso e tomou um gole do chá que lhe fora servido. – Sei perfeitamente que o Ian não alguém fácil de se lidar, mas quero pedir a Alissa que faça um esforço adicional para que ambos se deem bem.

Um esforço adicional...

Não era aquilo que ela estava a fazer desde que aceitara meter-se em meio a tudo aquilo? Não era aquilo que ela estava a fazer ao tolerar a indiferença de Ian e suas palavras arrogantes? Não era aquilo o que ela fizera na noite passada quando o esperara até tarde, embora ele a tivesse esquecido em casa dos seus pais? Não estava ela a fazer um esforço adicional?

Teria ela de colocar mais esforço do que o que ela já colocava?

Teria de ser mais compreensiva do que já estava a ser?

- Quero acreditar que as fotos todas que foram capa de enumeras revistas tenham sido a demonstração de momentos reais.

- O nosso objectivo é tentar tornar o nosso casamento o mais real possível.

- Eu sempre soube que a Alissa era uma óptima escolha como parceira do Ian. Pelo menos nesse ponto ele não se engara.

Será mesmo?

Será que ele não se havia enganado? Seria ela a escolha perfeita para Ian?

Ela tinha suas dúvidas.

- Ah! A propósito! – exclamou a mais velha chamando a atenção da morena. – A Alissa está ciente de que em breve terá um baile em sua honra, certo? – A mais nova deu um breve riso. – O Ian não contou-te, pois não?

Alissa negou.

- Tudo bem, não faz mal – balançou a mão em um gesto que demonstrava que não tinha importância. – É comum realizar-se um baile como forma de dar as boas-vindas a um novo membro da realeza, e contigo não seria diferente. Era suposto o mesmo acontecer nesta sexta-feira, porém com a situação caótica que estão as coisas em Zenit não seria de bom grado realizar um baile quando o povo daquela província está a passar por uma situação difícil, não é mesmo?

- Está a acontecer algo em Zenit?

- Nada que não possa ser controlado, porém de momento, o melhor é abstermo-nos de tal tipo de eventos. Pelo menos até as coisas acalmarem um pouco.

- Sim, realmente – concordou Alissa. – E em todo o caso, eu também não me importo de abrir mão do baile...

- Nada disso! Isso está fora de questão – interrompeu-a a rainha. – Tu terás sim o teu baile. Tal como todas as outras princesas o tiveram antes de ti – declarou Leonora e Alissa ficou em silêncio, não havia o que discutir mesmo. – Alissa, o Ian deve ter-te dito que quando regressassem da vossa lua-de-mel terias certas funções as quais desempenhar cá no palácio, não é mesmo? – perguntou após alguns segundos de silêncio.

- Sim, ele avisou.

- Bom, em uma primeira fase terás aulas de etiqueta, dança, claro, devido ao baile que se aproxima, geografia do reino, política...

- Desculpa, sua Alteza, geografia do reino?

- Sim, embora tenhas nascido e crescido cá, passaste imenso tempo fora e os ministros...

- Pensam que eu esqueci da geografia do meu reino. Entendo.

- Alissa, querida, isto é apenas uma mera formalidade. Também eu tive de ter tais aulas quando mudei-me para cá.

Alissa não quis rebater a respeito daquilo, pois diferente dela, Leonora em verdade, havia nascido já com uma coroa na cabeça dado que a mesma era princesa de outro reino e ao casar-se com o na altura Príncipe Adrian estava apenas a assegurar a sua posição e a aliança entre ambos reinos. Tendo anos mais tarde se tornado como já todos sabiam, a Rainha de Limerance.

- E quanto ao meu trabalho?

- Alissa, querida... Provavelmente o Ian não disse-te isto, mas tu não vais poder exercer.

- Não – negou a mais nova e o semblante da rainha adoptou uma expressão curiosa. – Ele disse, sua Alteza. Porém eu não estou de acordo.

- Alissa...

- Com todo o respeito vossa Majestade... quero acreditar que a mesma me vai entender – começou Alissa. – Embora seja agora uma princesa, acredito que a minha formação superior pode servir de alguma ajuda para o povo. Eu posso não estar nas emergências ou fazer plantões, no entanto ainda assim gostava de ajudar o reino naquilo que formei-me para fazer e que sei que ser boa.

Um suspiro deixou os lábios da rainha.

- Eu vou falar com o Adrian e ver como é que podemos conciliar as tuas funções como princesa e a formação que tiveste, porém não prometo nada, e aconselho-te a não manter grandes esperanças sobre o assunto tu sabes perfeitamente como é que são as coisas aqui.

- Rainha Leonora, mais uma vez com todo o respeito, eu não pretendo ser apenas mais um objecto decorativo do Palácio de Limes – declarou a mais nova com a expressão séria.

- É assim como tu vês-nos?

- Não, porém estou ciente de que é assim que será comigo – respondeu Alissa e fez uma reverência, mantendo-se encurvada e com a cabeça baixa enquanto prosseguia com suas ditas. – Sua Majestade adaptar-me ao Palácio e a esta vida já será difícil por si só, assim sendo eu gostaria de ter ao menos o meu trabalho para auxiliar-me nisto.

Palácio de Limes – Aposentos de Ian e Alissa

Sala de Estar

Seus dedos tamborilavam contra o braço da poltrona em que estava sentada enquanto sua mente divagava sobre a conversa que tivera com a Rainha, teria ela sido demasiado evasiva? E quanto aos seus reais sentimentos sobre a realeza? Teria ela os exposto enquanto tentava explicar para a monarca o seu ponto de vista?

A porta dos aposentos fora aberta revelando a figura de Ian a entrar pela mesma. Pelos seus passos apressados e a rapidez com que passara, deixara claro para a jovem Princesa que ele não só estava com pressa, como também estava apenas de passagem, tanto que sequer percebera sua presença ali.

Após alguns segundos no quarto, ele logo estava de volta, novamente com os passos apressados e em sua mão, um calhamaço de papéis que provavelmente foram a razão de ele ali ter ido. Com o olhar fixo nos mesmos e os dedos a folhear os papéis que tinha em mãos, ele provavelmente sairia e tal como quando entrara, sequer se daria conta da sua presença ali.

Um suspiro exasperado deixou as fossas nasais da morena, ao mesmo tempo em que revira os olhos ao ver tal acção. E foi só então que Ian enfim percebera sua presença ali, tirando os olhos das folhas para ela.

- Ah! Estás aí! – exclamou Ian.

Novamente, a morena tornou a revirar os olhos e levantou-se da poltrona seguindo para o quarto.

- Não me ignores, Alissa – apontou Ian segurando-a pelo pulso, impedindo que ela prosseguisse com a sua caminhada.

Alissa pegou no pulso do mais velho que a segurava e tirou o mesmo dali, soltando-se.

- Lamento, pensei que me fosses esquecer novamente – rebateu Alissa e um sorriso de escárnio adornou seus lábios.

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Olá Príncipes e Princesas!!!

Como é que estão? Espero que bem!

Sentem cheiro da treta que se aproxima? Será que que a Alissa irá explodir e ter uma discussão com Ian, ou irá simplesmente ignorá-lo, e seguir com os seus afazeres?

E quanto a conversa que ela teve com a Rainha? Será que a mesma a irá tentar ajudar, ou a Alissa sairá das graças da mesma, após ter expressado seus sentimentos e preocupações?

Bem... As respostas a essas perguntas serão encontradas nos próximos capítulos, mas enquanto isso:

Digam-me o que pensam nos comentários, que estou ansiosa por saber a vossa opinião.

Espero que o mesmo tenha estado do vosso agrado. E se sim, não se esqueçam de deixar uma estrelinha linda aí em baixo.

Até breve!

Beijos e abraços. Não se esqueçam de cuidar-se e hidratar-se! Bebam imensa água que água faz bem para o organismo e para a pele.

Atenciosamente,

Naira Tamo.

02.12.2019

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