Capítulo VI
Cᥲρίtᥙᥣo 6
Horas mais tarde...
Lentamente, Alissa remexeu-se e espreguiçou-se. Ela havia dormido tão bem mesmo estando em uma poltrona no avião que quase podia jurar que estava em uma cama e não em...
Pausa.
Espera.
Aquilo não se parecia em nada com uma poltrona, em verdade, ela parecia estar realmente em uma cama. Ainda com os olhos fechados, Alissa esticou o braço apalpando o lado oposto ao que dormia e sentiu uma superfície elevada e um tanto quente para ser uma poltrona, ou uma cama. Ela prosseguiu com sua exploração e foi apalpando tal região e subindo cada vez mais, até que...
- Se continuares por esse caminho, irei pensar que tens planos de aproveitar-se de mim. – A voz de Ian soou e então Alissa prendeu a respiração e ficou estática.
Então o que ela estava a apalpar era a perna de Ian e o caminho pelo qual ela seguia era...
Alissa deu um salto tão grande que em um segundo ela estava na cama e no outro estava no chão.
- Ai... – gemeu a jovem princesa ao sentir o impacto do seu corpo contra o chão.
- Bem-vinda de volta – disse Ian e Alissa abriu os olhos, dando de caras com a visão de jovem príncipe sentado sobre a cama, com as vestes casuais, algo totalmente diferente do que trazia anteriormente e os lábios em uma linha fina, demonstrando o quanto ele se estava a conter para não dar uma risada pela queda estrondosa de Alissa. – Finalmente acordaste, pensei que fosses passar o fim-de-semana inteiro a dormir.
- Desculpa? O fim-de-semana inteiro... Como assim?
- Tu adormeceste ontem no jacto...
- Ontem? – interrompeu-o Alissa surpresa com as ditas do mesmo.
E finalmente, ele deixou escapar uma risada, levantou-se da cama e seguiu até as cortinas de seda azul que ali havia, deixando então que entrassem os raios solares da manhã e uma brisa fresca. Com o olhar atento, pelo pouco que via, Alissa constatou que havia ali portas de vidro com aros de madeira pintados na cor branca que levavam para uma varanda com vista para o mar. Ainda curiosa sobre onde se encontrava, seu olhar passeou pelo quarto, havia a cama enorme – que fora de onde ela caíra fazia alguns minutos – no centro do quarto, sua cabeceira era uma espécie de abertura na parede com formato de arco do topo que possuía um tom azul claro, e nas laterais do arco que a parede formava haviam três compartimentos, embutidos a parede na vertical, no lugar de mesinhas de cabeceira e suas respectivas gavetas. Havia também uma penteadeira a alguns metros da cama que possuía um espelho, com seu respectivo banco e duas poltronas um pouco afastadas, do seu lado direito havia uma porta, que provavelmente levava ao closet, e outra a esta adjacente que pertenceria, ou a casa de banho ou seria a porta de entrada do quarto, já que do lado esquerdo da cama havia outra porta.
A medida que fazia uma vistoria pelo quarto, Alissa percebeu que tal como a do palácio, a mobília do quarto era toda branca, porém esta era mais simples, dando um toque rústico e nada corriqueiro, sem muitos detalhes ou sofisticação que nem a que deixara naqueles que seriam seus novos aposentos quando regressasse para Limes, mas talvez fosse esse seu encanto.
- Ontem – repetiu Ian e refez seu caminho até a cama, mas ao olhar para a mais nova, algo o fizera mudar de ideias e caminhar em sua direcção. – Eu estava ciente de que estarias cansada depois da correria que foram os preparativos para o casamento, e a cerimónia em si. Porém nunca pensei que fosse assim tanto – disse ele e estendeu a mão para Alissa, que embora relutante aceitou a mesma. – Tu dormiste praticamente o dia todo de ontem até hoje, e se não estivesses a respirar eu poderia jurar que estavas morta.
- Desde, ontem? – indagou Alissa céptica, enquanto levantava-se e sentava-se na cama.
- Desde ontem.
- E isso quer dizer que...
- Bem-vinda a Mykonos, Grécia.
Em uma clara demonstração de surpresa, Alissa ficou boquiaberta ao ouvir tais ditas, se eles já estavam na Grécia e naquele momento encontravam-se no quarto aquilo queria dizer que... A jovem Parrik balançou a cabeça negativamente, e então virou-se para o esposo.
- Espera aí! – pediu. – Tu estás a dizer que nós estamos em Mykonos? – questionou e Ian assentiu calmamente. – Tipo na Grécia? – prosseguiu Alissa e ele tornou a assentir. – No país do Mediterrâneo? – Novamente, o mais velho assentiu e Alissa passou a mão pelo cabelo, parando para coçar a nuca. – Então como é que eu vim aqui parar? – perguntou com o olhar fixo nele.
- Como é que tu achas que vieste aqui parar? – indagou Ian revirando os olhos. – De avião, ora essa.
- Não. – negou Alissa. – Isso, eu sei, oh génio! – revirou os olhos. – Mas como é que eu vim parar aqui? Tipo aqui – perguntou apontando para o local em que estava parada e dando ênfase no aqui.
- Eu carreguei-te ora essa. Do avião para o carro e mais tarde do carro para cá dentro – respondeu. – Olha... Tu és bem mais pesada do que eu achava.
- Ei! – chamou-o a atenção Alissa. – Nunca fales do peso de uma mulher para ela, isso é tipo um Tabu... Não deve ser falado a respeito.
Sem se conseguir conter, Ian deixou escapar uma risada e do tanto que ria, ele até pendeu a cabeça para trás e lágrimas escaparam de seus olhos.
- Vai tomar o teu banho e vestir-te – ordenou. – Eu vou pedir que nos sirvam o pequeno-almoço, encontramo-nos lá em baixo.
- Certo. – respondeu Alissa e então viu o mais velho caminhar para fora do quarto.
Alissa soltou um suspiro e deitou-se na cama, tornando a espreguiçar-se e então levantou-se rumo a casa de banho, mais tarde exploraria melhor seu quarto e a casa em si.
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Lentamente, Alissa descia a escadaria de madeira que havia para conectar o andar de baixo ao de cima. Seu olhar atento passeava pelo espaço que a rodeava enquanto procurava pela sala de jantar, que seria onde Ian provavelmente estaria. A jovem princesa já se encontrava de banho tomado e trajava uma roupa mais simples e confortável que a anterior, sendo a actual composta por um vestido branco leve, perfeito para um passeio na praia, que vinha acompanhado de um cinto dourado e calçava umas sandálias rasas e com tiras. Seu cabelo estava preso em um rabo-de-cavalo despojado e ela estava pronta para tomar o pequeno-almoço.
Assim que entrou na sala de jantar, encontrou Ian a conversar com um senhor forte, de baixa estatura e a voz grossa, com o cabelo preto, entretanto, já com alguns fios grisalhos ali a se destacar. Ele vestia um smoking de alta-costura, no qual Alissa achava bem possível que ele tivesse gasto todas as suas economias na compra do mesmo, de maneira a que estivesse sempre apresentável para qualquer que fosse a ocasião.
A jovem princesa clareou a garganta chamando a atenção dos homens que estavam distraídos com algo, porém ao ouvi-la logo fixaram seus olhos nela. O homem falou mais alguma coisa para Ian, a qual ela não conseguira ouvir, e então fizera uma vénia antes de deixar o espaço.
- Senta-te – disse Ian e apontou para o local no qual Alissa se devia sentar. – O pequeno-almoço foi preparado pela chefe usual da casa, espero que o mesmo esteja de acordo com os teus gostos e preferências – informou e Alissa franziu o cenho. – Eu terei de sair para tratar de alguns assuntos, tu podes ficar à vontade para fazeres o que desejares, desde que se decidires sair, não o faças sem companhia.
- Companhia?
- Sem os guarda-costas – respondeu Ian como se fosse algo óbvio. – És uma Princesa agora, e em algum momento serás a Rainha de Limerance, precisas ser cuidadosa.
Em verdade, Alissa não via razão alguma para aquilo, até porque desde pequena, mesmo sendo filha de um dos Condes mais influentes de Limerance, seu pai sempre assegurara-se de dar-lhe uma vida tão normal quanto lhe fosse possível, razão pela qual mesmo que a ocasião exigisse que ela tivesse alguém a zelar pela sua segurança, ela nunca via tal pessoa, seu pai exigia que os guarda-costas todos encarregues da sua protecção fossem vestidos casualmente e a vigiasse de longe, sem interferir na vida ou actividades da jovem.
E acoplado a isso, havia ainda o facto de Ian estar a ser demasiado prestativo e simpático naquela manhã, e sinceramente? Tal atitude de sua parte a assustava um pouco e deixava desconfiada, principalmente tendo em conta aqueles que foram os últimos acontecimentos. Havia acontecido algo no dia anterior ou horas atrás para que ele parecesse tão bem-disposto?
- Passa-se algo? – perguntou Ian ao vê-la encarar-lhe.
- Não... acho eu.
- Achas? – inqueriu o jovem príncipe arqueando a sobrancelha.
- Acho – confirmou Alissa. – Digo, é estranho ter-te tão prestativo e simpático. Faz-me pensar que há segundas intenções por detrás das tuas acções aparentemente bem direccionadas – confessou dando de ombros e servindo-se algumas torradas.
- Esperavas encontrar-me com uma carranca?
- É o normal de ti.
- Devo tomar isso como um elogio ou um insulto?
- Cabe a ti decidir por qual dos dois optar – respondeu passando compota de morango nas suas torradas.
- Tu és sempre assim?
- Assim como? – perguntou Alissa levantando o olhar para encará-lo.
- Estás sempre na defensiva.
- Só com quem merece que eu esteja na defensiva.
- Isso foi uma indirecta?
- Não, foi mesmo uma directa, pois tu percebeste-a claramente.
Ian sorriu e deu um gole do seu café.
- Eu não quero discutir, Alissa.
- Nem eu – respondeu. – Tu fizeste-me uma pergunta, e eu respondi-a.
- Tu acabaste de deixar claro que estás na defensiva.
- Isso é porque eu estou – disse taciturna e repousou a faca que tinha em mãos. – Tu esperas mesmo que eu baixe a guarda com alguém que tentou lixar-me perante a corte?
- Isso foste tu própria quem o fez.
- E tu deleitaste-te com a possibilidade de isso acontecer.
- Tu estavas a pedi-las.
- Por quê? – questionou Alissa. – Porque eu recusei-me a ceder aos teus caprichos e dormir contigo? Porque eu fui a primeira mulher que recusou-te?
Um suspiro fora ouvido, e Alissa olhou para o mais velho.
- Eu disse e repito... – começou Ian entredentes e com o tom baixo. – Eu não quero discutir.
- Não o faremos se tu não tentares atacar-me como sempre o fazes.
- Alissa...
- Tréguas, ok? – pediu Alissa interrompendo-o. – Vamos dar tréguas. Eu prometo tentar ser mais razoável e tolerante e tu prometes parar de achar-te tão dono de si e colocar esses malditos títulos da realeza entre nós. Pode ser?
O semblante de Ian adoptou uma expressão pensativa e ele levou o indicador ao buço, passando o mesmo por ali. De facto seria uma boa ideia não ter de preocupar-se com a possibilidade de sua esposa fazer uso da sua língua afiada e erguer barreiras a sua volta constantemente para manter-se na defensiva, mas ao invés disso, terem ambos um relacionamento amigável e quiçá talvez mais tarde a convivência entre os dois não se tornaria mais confortável e pudessem então tornar-se amigos, ou talvez até mais?!
- Então? – indagou Alissa depois de alguns minutos em silêncio.
E então Ian estendeu-lhe a mão.
- Temos acordo – respondeu ele.
- Fantástico – disse Alissa e aceitou o aperto de mão. Para de seguida voltar o foco a sua alimentação.
Um sorriso ladino surgiu nos lábios de Ian, e observou a mulher que havia-se tornado sua esposa contra a sua vontade, mas que era tão obstinada e teimosa quanto ele. Sem dúvidas que aquele casamento seria uma experiência e tanto para si. Aliás... Para ambos.
- Assim que terminares o pequeno-almoço iremos até a sala de estar – informou Ian. – O Angelaki irá apresentar-nos a equipe que connosco irá trabalhar durante o tempo em que cá estivermos e encarregará alguém de mostrar-te a casa toda.
- Angelaki?
- O homem que estava aqui ainda há pouco.
- Ah! Certo – concordou Alissa e tomou um gole do seu chá. – Quanto tempo, nós iremos cá ficar?
- De princípio, um mês – respondeu. – Isto se não houver nada que nos faça regressar mais cedo.
- Nós vamos ficar um mês aqui?
- Esse é o tempo comum para uma lua-de-mel – respondeu Ian. – E mesmo que o nosso casamento não tenha ocorrido do modo convencional, para todos, nós somos um casal de jovens recém-casados que ama-se.
- Mas não há amor no nosso casamento.
- Mas eles não sabem disso – respondeu Ian. – Ou tu esqueceste-te do discurso apaixonado que eu fiz no dia do anúncio do nosso noivado?
- Eu ainda acho desnecessário, ficarmos cá um mês.
- O quê? Parece-te muito? – indagou Ian e sorriu presunçoso. – Por acaso assusta-te a ideia de ficar trinta dias só comigo.
- Não sejas tão cheio de ti – rebateu Alissa. – Eu quero apenas saber quanto tempo iremos cá ficar para que me possa organizar e ver como é que farei com a vaga no hospital, até o dia em que voltarmos.
- Vaga no hospital? – perguntou Ian com o cenho franzido. Tinha a sensação de que não iria gostar do que estava por vir, e que tal coisa seria motivo de dores de cabeça constantes entre ambos.
- Sim, vaga no hospital – confirmou Alissa. – Assim que regressarmos a Limes, irei ocupá-la.
E prontos...
Seu pressentimento estava correctíssimo.
- Alissa... – pausou e franziu o cenho novamente. – Tu estás ciente de que depois que regressarmos para Limes o teu trabalho resumir-se-á a aulas para que aprendas como comportar-se como uma Princesa, como também aos afazeres do Palácio e eventos da Corte, ou que exigem a presença da família real, certo?
- O quê? – perguntou Alissa e fora a sua vez de franzir o cenho.
- Apesar de te teres formado em medicina, tu não vais exercer a tua profissão.
- Desculpa?
Ian soltou um suspiro e massageou as têmporas.
- Tu não podes trabalhar com o que quer que seja, se não com as lidas do Palácio.
Uma risada sem emoção fluiu pelos lábios de Alissa.
- Tu só podes estar a gozar. – Sua expressão era séria quando tais ditas deixaram seus lábios.
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Olá Príncipes e Princesas!!!
Como é que estão?
Esse foi mais um capítulo escrito e revisado com muito amor e carinho para vocês e espero que tenham gostado dele.
Mas digam-me, estão a gostar da história?! Do rumo que a mesma está a tomar e dos personagens?
Comentem imenso com as vossas teorias os vossos pensamentos e afins.
Será mesmo que a Alissa irá aceitar bem essa ideia de não poder exercer a profissão que ela tanto ama e estudará para colocá-la em prática?!
Isso iremos saber nós próximos capítulos.
Beijos e abraços bem gostosos.
Até breve, até lá não se esqueçam de cuidarem-se e alimentarem-se como deve ser.
Atenciosamente,
Naira Tamo.
20.10.2019
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