Ligação Inesperada


Algum tempo antes...


Temari destrancou a porta do seu apartamento, entrou, fechou a porta, retirou o calçado, guardou a chave no aparador que havia ao lado da porta e jogou a bolsa no sofá. Então foi até a cozinha encher um jarro com água para colocar as flores.

O modesto apartamento era bem diferente da mansão luxuosa em que vivera até ser deserdada pelo pai há dez anos. Temari, porém, não sentia falta dos luxos. Sabia o quanto sua família, especialmente sua tia, precisou se sacrificar para manter o nome e a fortuna no Sabaku.

Temari saíra de Suna naquele dia e nunca mais voltara. Mudara-se para Konoha e, apesar das dificuldades financeiras, conseguira cursar Direito e abrir seu próprio escritório como sempre havia desejado.

Os primeiros anos tinham sido muito difíceis. Precisara encontrar um emprego e aprender a viver com pouco. Algo que nunca necessitara antes. Como não tinha experiência, tivera que aceitar qualquer coisa e viver em qualquer lugar. Depois que começara a estudar, foi preciso equilibrar emprego, estudo, provas e trabalhos.

Mas não se arrependia. Formara-se com êxito e mesmo antes de terminar a faculdade já começara a trabalhar em um escritório de advocacia. Com afinco, conquistou clientes e, em poucos anos, abriu seu próprio escritório. E agora, dois anos depois, finalmente conseguira comprar um apartamento.

Temari pegou o pedaço de papel que Ino colocara no buquê e depositou o jarro com as flores na mesinha de centro na sala. Claro que ela se lembrava de Shikamaru.

Havia acabado de se mudar para o novo apartamento e resolvera comprar flores para alegrar o ambiente. Ela preferia flores artificias, pois não precisavam de cuidados. Mas, como ainda não estava familiarizada com a região, decidira comprar flores naturais naquela floricultura mesmo até encontrar outra loja.

Assim que entrara, sentira que estava sendo observada e, imediatamente, sentira-se atraída pelo homem de cabelos negros na altura dos ombros amarrados num rabo de cavalo espetado e olhos castanhos estreitos que a encarava. Porém havia notado a loira deslumbrante que conversava animadamente com ele e, por isso, tentara ignorar a presença do moreno que não deixava de fitá-la.

Apesar de desconfiar que ele e a loira tivessem algum relacionamento, era a terceira vez que voltava na floricultura com a desculpa de comprar flores. No fundo sabia que sempre ia no mesmo dia e horário com a intenção de vê-lo novamente.

Já fazia um tempo desde que alguém despertara seu interesse dessa forma, porém Temari jamais admitiria que ele mexera com ela tanto assim.

Ela sentou-se no sofá e tornou a examinar o número de telefone. Deveria ligar? Ino realmente tinha falado sério? Eles eram apenas amigos? Shikamaru realmente estava interessado em si?

Temari procurou o celular na bolsa e hesitou. Então repreendeu-se. Era apenas uma ligação! Ela era Temari no Sabaku, uma mulher que sempre batalhou por seus objetivos e nunca hesitava diante de um desafio!

Apesar da repreensão, sentiu seu coração disparar enquanto digitava os números. Porém antes que pudesse apertar a tecla chamar. O toque de chamadas preencheu a sala silenciosa.

- Alô? - disse ao atender a ligação.

- Oi, Tema-chan. Sou eu.

Temari sorriu ao reconhecer a voz do outro lado da linha.

- Oi, obasan. Quantas vezes já disse que me sinto uma criança quando me chama assim?

- Eu sou sua tia. Para mim, você sempre será uma criança. Como você está?

- Eu estou bem.

- Estou atrapalhando alguma coisa? Você parece meio afobada.

- Claro que não, obasan. Ia apenas fazer uma ligação, mas posso fazer depois.

- Ligação é? Para quem?

Temari pensou em dizer que era a trabalho, mas então viu-se explicando:

- Um rapaz em quem estou interessada.

- Oh, Kami! Vou desligar...

- Não, obasan. Eu... posso ligar depois.

- Temari no Sabaku! Que hesitação é essa? Isso não faz parte de você.

- Faz tempo que não sou uma Sabaku, obasan.

- Seu pai te deserdou, mas não tirou você do Koseki*.

- Provavelmente porque espera que eu faça um bom casamento e, assim, eu me redima pehrante seus olhos - Temari respondeu com desprezo.

- Provavelmente - ela concordou com um suspiro.

Desde jovem, sua tia lutava contra casamentos arranjados impostos, primeiro pelo pai e agora pelo irmão. Mas nenhum dos dois conseguiram dobrar a vontade dela e Temari a admirava por isso. Não era fácil se impor a Rasa no Sabaku.

- Mas deixe as ambições de Rasa para lá. Conte-me imediatamente sobre seu novo namorado.

- Ele não é meu namorado, obasan - Temari retrucou, mas contou tudo para ela.

Sua mãe, Karura no Sabaku, morreu durante o parto de seu irmão caçula, Gaara, quando Temari tinha pouco mais de três anos. Sua tia estava prestes a completar dezessete anos e, mesmo assim, cuidara dos três sobrinhos oferecendo-lhes amor incondicional.

Por isso, Temari amava-a e considerava-a como mãe. Embora sentisse saudade de seus irmãos, Kankuro e Gaara, era de sua tia de quem sentia mais falta desde que saíra de Suna. Apesar de todo o sofrimento pelo qual passou, a irmã caçula de Rasa no Sabaku nunca deixou seu coração se endurecer.

- Então toda essa hesitação é porque minha sobrinha mais corajosa está com medo do amor? Pois pode ligar para ele agora, mocinha! A vida é muito curta para você desperdiçar com dúvidas.

- Eu já estava discando o número dele quando recebi sua ligação.

- Que ótimo! Essa é a Temari corajosa e determinada que eu sempre admirei.

- Arigato. - agradeceu sorrindo. - Como meus irmãos estão?

- Kankuro está bem. Aquele garoto nunca muda. Rasa estava furioso porque ele saiu no sábado para se divertir e só chegou agora na Petrolífera para trabalhar. Estou vendo a hora de seu pai arranjar uma esposa para ele.

- Acho que otosan não tentou porque sabe que Kankuro nunca aceitaria. Ele não é Gaara.

- Também acho - suspirou. - Falando em Gaara, ele chega sexta-feira.

- Onde ele foi passar a lua-de-mel mesmo?

- Em Kaminari. Ah, aquele lugar é incrível - disse com um suspiro nostálgico. - Queria que você tivesse vindo ao casamento. Matsuri-chan estava deslumbrante.

- Imagino. Ela sempre foi muito linda.

- Hai. Apesar de tudo, acho que eles serão muito felizes.

Temari duvidava. Como eles poderiam ser felizes nessa situação? Antes que Temari pudesse expressar sua opinião, foi interrompida.

- Vou desligar, querida. Eu só liguei para saber como você estava. Aposto que você está ansiosa para falar com seu admirador.

- Obasan!

- Ja ne, Tema-chan!

- Ja ne.

Temari desligou a chamada. Então pegou o papel novamente. Seu coração tornou a disparar, mas não hesitou dessa vez. Ouviu impacientemente enquanto a ligação era completada. No quarto toque, a chamada foi atendida.

- Temari? - uma voz masculina perguntou após um momento de silêncio.

- Como sabe? - perguntou surpresa.

- Ino me disse que passou meu número para você. Estava esperando sua ligação.

A confiança dele a deixou irritada.

- Como tinha tanta certeza de que eu ligaria? - perguntou estressada.

Não dissera para aquela loira que ligaria. Como ele...?

- Não tinha. Mas esperava que sim. - respondeu calmamente. - Gostaria de ir no Kaguya Planetarium comigo? Gosto de observar o céu e poderíamos conversar melhor.

Temari hesitou. Então lembrou-se das palavras que sua tia acabara de lhe dizer: A vida é muito curta. Teria coragem de arriscar-se? Afinal ele era um completo estranho. Apesar disso, foi incapaz de recusar.

- Estou livre na terça - aceitou.

- Passo aí às oito.

- Tudo bem. Ja ne.

- Ja ne.

Só quando desligou, Temari lembrou-se de que não havia lhe dado seu endereço. Então resolveu mandar uma mensagem com o endereço. Minutos depois, seu celular vibrou:

"Eu teria encontrado você."


Algum tempo depois...


- Puxa! Como seu amigo conseguiu descobrir tudo isso em tão pouco? - Hinata perguntou guardando os papéis que estava examinando.

- Shikamaru é o melhor hacker que eu conheço - Ino contou distraída olhando para a foto de Sai. - Ele tem uma empresa chamada Shogi, mas Shikamaru é preguiçoso demais para fazer o serviço externo, então contratou Konohamaru, Udon e Moegi para trabalhar com ele. Aposto que essa foto foi tirada por Konohamaru.

- Shikamaru é muito inteligente - Sakura concordou. - Seus trabalhos de investigação são bem reconhecidos. Ele fundou a empresa há dois anos e já teve vários clientes importantes.

- Incrível - Hinata disse admirada.

Sakura e Ino assentiram. Então, ouviram a campainha tocar.

- Eu atendo - Hinata ofereceu ao ver Ino e Sakura envolvidas com os papéis.

- Eu posso... - Sakura ofereceu.

- Tudo bem, eu vou - Hinata disse já em pé.

Ela saiu do quarto e foi até a sala. Ao abrir a porta, encontrou um loiro com um lindo sorriso parado ali. O coração dela acelerou.

- Oi.

- O-oi, Naruto-kun. Sasuke-kun não está a-aqui.

- Eu sei. Vim ver você.

Hinata sentiu as bochechas corarem e a respiração falhar.

- M-me ver? - perguntou tentando respirar corretamente.

- Hai. Você disse que faz muitos anos desde a última vez que veio à Konoha.

- É v-verdade.

- Pensei que talvez você gostaria de conhecê-la novamente. Quer passear comigo? Vou te mostrar todos os pontos turísticos da cidade.

Hinata fitou os olhos azuis que brilhavam esperançosos lembrando-se do que Ino e Sakura dissera alguns dias antes. Sabia que elas estavam certas, mas não conseguiu resistir. Afinal que mal faria um passeio?

- H-hai. Entre. Vou pegar minha bolsa e avisar Sakura.

- Ok.

Hinata passou em seu quarto primeiro. Arrumou o cabelo e trocou de calçado. Pegou a bolsa e, então, foi atrás de Sakura.

- Quem era? - Sakura perguntou sem tirar os olhos das fotos.

- Naruto.

Sakura a olhou imediatamente e percebeu que Hinata tinha se arrumado.

- E-ele me chamou para p-passear.

- Isso é ótimo, Hinata. Aproveita e dá uns beijinhos nele e aprende na prática o que é atração.

- Ino! - Hinata a repreendeu com o rosto vermelho. Ino riu. - Podemos deixar as compras para amanhã, Sakura?

- Não precisa pedir, Hinata. Você é a patroa - disse piscando um olho. - Quando voltar, me apresenta para o Naruto. Estou curiosa para conhecê-lo.

- Apresenta agora. Também estou curiosa.

- Eles estão com pressa, Ino.

- Eu... eu te apresento depois, Ino. Ja ne.

- Ja ne.

Hinata foi ao encontro de Naruto e eles saíram. Estava ansiosa e como sempre sentia borboletas no estômago e o coração disparado. Porém à medida em que passeavam o nervosismo ia passando e dando lugar a novos sentimentos.

Hinata sentia-se feliz e em paz ao lado dele. Ele a fazia rir tão facilmente! A cada hora que passavam juntos ela percebia que a maior beleza dele era interior. Ele a apoiou nas vezes em que ela tropeçou. Tratava bem as pessoas à sua volta independente da idade. Empolgava-se facilmente com tudo e estava sempre cuidando dela perguntando se ela estava bem e se estava gostando.

E, apesar de todo seu jeito barulhento e extrovertido, ele sabia ouvir quando necessário. Ele perguntou sobre ela e Hinata contou sobre sua família, sua vida na fazenda, sua amizade com Sakura e Ino.

Foi um dia extraordinário e Hinata lamentou quando precisaram voltar. Porém alegrou-se quando Naruto perguntou se ela gostaria de passear no dia seguinte de novo, pois ainda faltava muita coisa para ver. Hinata imediatamente concordou e eles sorriram um para o outro.

- Já voltaram? - Sakura perguntou fechando o livro que lia na sala quando Hinata abriu a porta do apartamento alguns minutos depois.

- Hai. Hinata disse que você gostaria de me conhecer e que você sai às seis.

- É verdade - concordou levantando-se - Sou Sakura Haruno.

- Naruto Uzumaki - ele a analisou. - Eu tenho a impressão que te conheço - então ele riu. - Deve ser só imaginação da minha cabeça. Eu nunca esqueceria alguém de cabelo rosa.

Sakura revirou os olhos.

- Fiz lanche. Aceitam?

- Com certeza, dattebayo. Hinata disse que sua comida é ótima.

- Arigato.

- Vou guardar minha bolsa.

- Ok - Naruto respondeu e seguiu Sakura até a cozinha.

Ele olhava distraído para a cozinha quando Sakura aproximou-se dele segurando uma faca e sussurrou:

- Não magoe Hinata, Naruto. Ela é uma mulher incrível e eu não quero ver ela sofrer. Se está só brincando com ela, é melhor cair fora.

Naruto deu um passo para trás.

- Uau, Sakura. Você sabe ser assustadora quando quer. Quase me matou de susto com essa brincadeira. Quero morrer seu amigo!

Sakura ouviu os passos de Hinata, então afastou-se dizendo.

- Não estou brincando, Uzumaki.

Hinata entrou na cozinha e Sakura mudou de assunto. Quando Naruto saiu teve que admitir que, apesar de seu jeito atrapalhado, ele era uma ótima pessoa. Sabia que seriam bons amigos se a situação permitisse, mas ainda assim temia pelo coração de sua amiga.


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NOTAS FINAIS


*Koseki
: Documento que registra muitos detalhes da história de cada família. Contém dados genealógicos muito antigos, com registros dos pais, avós, bisavós, trisavós, tataravós, etc. Mostra os nomes, a ordem exata dos nascimentos, casamentos, divórcios ou óbitos de cada famíliar. (Fonte: Japão em Foco)

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