Consequência Inesperada

No dia seguinte...
29 de março de 2016


Hinata acordou, mas não abriu os olhos. Estava sentindo uma sensação tão gostosa no corpo. Apesar de não querer levantar-se, acostumara-se desde criança a acordar cedo. Por isso espreguiçou-se. Então sentiu o corpo dolorido em lugares incomuns e percebeu que estava nua.

Imediatamente sentou-se na cama e olhou para os lados.

Estava sozinha no quarto, mas isso não a impediu de cobrir-se com o lençol tampando os seios enquanto lembrava-se da noite anterior. Onde estaria Naruto? Ele a abandonara?, perguntou-se procurando sinais do loiro.

Mas não havia nada. Ele não apareceu de repente surgindo do banheiro ou vindo da cozinha. Ela estava só. A desilusão a tomou e Hinata virou-se para o lado pronta para chorar quando percebeu um prato de lamen no criado-mudo. Com a mão trêmula, pegou o bilhete que estava escorado no prato.

Sinto muito por não esperar você acordar. Kakashi me ligou para eu ir urgentemente à empresa. Mais tarde, eu volto. O que acha de irmos ao cinema à noite? Prometo que não será um filme triste de novo.

PS: eu fiz lamen de porco para você. Espero que goste.

Lágrimas escorreram pelo rosto dela, mas de alegria. Ele não a abandonara. Um sorriso bobo surgiu em seu rosto enquanto lembrava de tudo o que acontecera na noite anterior. Corada levou a mão até o prato de lamen e então viu a aliança em seu dedo anelar.

No mesmo instante, a culpa a consumiu. Hinata fechou os olhos enquanto a realidade do que fizera a atingia. Ela havia traído Kiba. Ela havia traído o compromisso que fizera. Ela havia traído a confiança de seu pai.

O pior era que não se arrependia. Sentia-se mal e culpada por ter traído o noivo, mas não se arrependia do que fizera. Estar com Naruto tinha sido perfeito demais para ser hipócrita agora e dizer que aquilo havia sido um erro.

O único erro era seu casamento com Kiba.

Hinata levantou-se. Tomou um banho rápido e vestiu-se apressada. Então procurou seu celular. Precisava corrigir esse erro. Discou e esperou com o coração acelerado a chamada ser completada.

– Alô?

– Oi, Kiba.

– Ah, Hinata. É você! Que surpresa boa!

– Preciso falar com você e não é uma notícia boa.

– O que foi, Hinata?

– Não vou me casar com você. Nosso compromisso está terminado. E nada do que você disser vai me fazer voltar atrás. Gomen nasai.

– NANI? – Kiba gritou, mas Hinata já tinha encerrado a ligação.

Comeu o lamen que Naruto prepara e então foi até a cozinha. Lavou as vasilhas que Naruto sujara. Havia dito para Sakura que não iria precisar dela hoje, pois imaginava que a festa, em seu estado, a deixaria cansada.

Porém Hinata sentia falta da rosada ali. Gostaria de contar para alguém sobre o que acontecera. Sorriu ao perceber que Sakura e Ino tinham se tornado suas amigas.

Essa viagem a Konoha lhe mostrara o quanto apenas sobrevivia. Apesar de amar sua família, na fazenda, não tinha amigos, não tinha sonhos, não tinha um amor. Em menos de vinte dias ali encontrara amigas especiais e sentia um sonho começar a florescer dentro de si.

E encontrara o amor. Algo que jamais procurou, que jamais esperou, que jamais acreditou. Porém não tinha dúvidas de que era isso o que sentia por Naruto Uzumaki. Na noite anterior, não entregara apenas sua virgindade. Entregara-se de corpo, alma e coração.

Desde a primeira vez que o vira, sentira-se atraída por sua beleza e por seu sorriso deslumbrante. Durante os encontros seguintes e, principalmente durante os passeios, quando estavam a sós, Naruto conquistara Hinata com sua gentileza admirável, sua confiança inabalável, seu bom-humor invejável. Sabia que ele sofria. Via isso em seus olhos, às vezes, principalmente quando mencionava os pais, mas ele nunca perdia aquele sorriso encantador.

No entanto, não era nada disso que fazia seu coração inflar com um sentimento nunca antes sentido. Era simplesmente a presença dele ao seu lado como se de repente duas peças perfeitas tivessem se encontrado formando algo extraordinário.

Depois que terminou de arrumar a cozinha, Hinata resolveu escrever o que estava sentindo porque não conseguia guardar aquilo para si. Ligou o notebook e deixou suas músicas preferidas tocarem enquanto escrevia.

Foi só no intervalo entre uma música e outra algum tempo depois que ouviu seu celular tocar. Desligou a música e pegou o celular. Era uma ligação do seu pai.

– Alô?

– Finalmente! É a segunda vez que estou ligando.

– Gomen. Não ouvi.

Hiashi ignorou a justificativa dela.

– Que história é essa que Kiba me contou? Como assim você rompeu o compromisso com ele, Hinata Hyuuga?

Hinata suspirou. Suspeitava que Kiba iria contar ao seu pai, mas esperava que ele não o fizesse.

– Não vou mais me casar com Kiba, otosan. Nada do que o senhor disser me fará mudar de ideia.

– Você fez um compromisso com ele, Hinata. E irá cumprir. Volte imediatamente para casa.

– Não vou voltar. O senhor disse que eu poderia fica um mês aqui e ficarei um mês aqui.

– Não teste minha paciência, Hinata! Isso é uma ordem. Volte para casa imediatamente ou vou arrastá-la até aqui pelos cabelos.

– Não voltarei e não me casarei com Kiba Inuzuka! – disse corajosamente encerrando a ligação e desligando o celular.

– Hinata? Kuso! – Hiashi praguejou ao perceber que a ligação tinha sido cortada.

– O que houve, ojisama? – Neji perguntou entrando no escritório preocupado ao ouvir a voz alterada do irmão gêmeo de seu pai.

– Aquela fedelha! Ela cancelou o casamento com o Inuzuka! – Hiashi cuspiu as palavras furioso. – Não sei que loucura me acometeu quando permiti que ela fosse a Konoha sozinha! Se Sasuke tiver feito qualquer coisa a ela...

– Sasuke nunca faria nada a minha prima, ojisama.

Hiashi respirou fundo. Neji tinha razão. Sasuke era um moleque atrevido e mal-educado, mas ele respeitava a família. Hiashi apertou os punhos. O que faria com Hinata?

– Se quiser, ojisama, posso ir à Konoha buscar Hinata. O senhor está muito alterado para viajar até lá e precisa cuidar da propriedade. Otosan já melhorou, então não será um problema para eu viajar. Posso partir hoje mesmo.

– Tem razão. Vá com a Hilux. Assim poderá trazer o que ela comprou. Se é que ela comprou algo – disse zangado.

Neji assentiu e saiu sentindo-se um pouco culpado. Iria atrás da prima, é claro. Mas não foi sua preocupação com ela que tinha lhe motivado a se oferecer para viajar a Konoha. Desde ontem não conseguia falar com Tenten. Ela simplesmente deixara uma mensagem privada no Facebook terminando o relacionamento deles e bloqueara-o de todas as suas redes sociais.

Estava perdido. Não conseguia entender a reação dela. O que havia motivado isso? Durante aquele dia, tinham conversado sempre que tinham tido tempo e, então, de repente, ela terminara tudo. O que acontecera? Ele mal conseguira dormir preocupado com isso. Ela bloqueara todos os meios de comunicação entre eles, por isso a viagem a Konoha era essencial.

Não conseguia imaginar sua vida sem ela.


Horas depois...

Tenten pegou mais um lenço de papel e enxugou o rosto. Jurara há muito anos que nunca choraria por um homem, porém não conseguia evitar que as lágrimas rolassem por seu rosto. Como permitira que essa situação chegasse a esse ponto?

Em vez de estar no trabalho lutando por sua vaga que estava por um fio por causa de um chefe machista, estava ali enrolada em posição fetal chorando por um relacionamento que estava fadado ao fracasso desde o início.

Mas ela realmente acreditara que no final tudo daria certo entre eles. Mais lágrimas inundaram seus olhos enquanto lembrava-se de como conhecera Neji Hyuuga.

Ela havia acordado atrasada no primeiro dia de aula e chegara correndo na faculdade. Distraída, olhava qual era sua sala quando esbarrou em um rapaz que falava ao telefone. Ela pedira desculpa, mas ele nem notara envolvido na discussão que travava ao telefone.

Apesar de atrasada, Tenten se dera ao luxo de olhar uma segunda vez para ele. Se alguém tivesse lhe descrito um homem com longos cabelos negros e olhos perolados, ela, com certeza, acharia a descrição nem um pouco atrativa, porém aquele rapaz era muito atraente.

Ela, então, balançara a cabeça e resolvera procurar sua sala novamente. Afinal, eles nunca mais se veriam novamente. E, em partes, ela estava certa. Ao longo dos anos, ele nunca a viu, mas ela constantemente o via. Admirava sua beleza e sua inteligência. Assistia suas palestras encantada, no entanto não tinha esperanças de conhecê-lo. Sabia que o gênio Neji Hyuuga cursava o mesmo curso que ela, porém ele entrara na universidade um ano antes e nenhum dos dois tinha o hábito de conversar com alunos de outras turmas.

O objetivo dela era formar-se com louvor e uma paixonite não estava em seus planos.

No entanto, seu colega Rock Lee cansara-se de vê-la suspirando pelo Hyuuga. Por isso, um dia quando eles estavam fazendo o trabalho final do penúltimo ano da faculdade, ele aproveitara que o Facebook dela estava aberto e enviara uma solicitação de amizade para Neji. Tenten, que estava na cozinha, nem percebeu o que o amigo fizera. Nunca teria descoberto se semanas depois, ao entrar na rede social, uma notificação não tivesse aparecido. Ela não acreditara em seus olhos quando lera Neji Hyuuga aceitou sua solicitação de amizade.

Ela entrava de vez em quando na página dele para ler suas postagens públicas, mas sempre tivera o cuidado de nunca enviar um convite por engano. Por isso, contara chocada para Lee que confessara rindo ter enviado o pedido.

Ela ficara um pouco irritada, mas não havia mais nada que pudesse fazer. Não removeria a amizade, pois no íntimo era algo que desejara, mas nunca tivera coragem de tomar a iniciativa.

Depois disso, as coisas simplesmente aconteceram.

Ela curtia as fotos dele e ele, uma vez ou outra, curtia alguma publicação dela ou uma foto que ela postava. Até que uns três meses depois, ele publicara um texto e ela comentara discordando da opinião dele. Depois de vinte comentários trocados entre os dois naquela publicação, ele puxara conversa com ela em privado.

Quando a caixa de diálogo se abrira com o nome dele, o coração dela quase saíra pela boca. Mas ela segurara a emoção e conversaram por duas horas. No dia seguinte, conversaram por mais uma hora. E quando perceberam estavam conversando todos os dias sobre os mais variados assuntos por várias horas.

Eles já conversavam há quase três meses quando um dia, ele dissera:

"É uma pena que quando eu finalmente encontro alguém linda e interessante, eu estou preso nessa fazenda."

Tenten havia esfregado os olhos duas vezes sem acreditar no que tinha lido. Ela ficara estática sem saber o que responder enquanto seu coração martelava no peito.

"Acho que falei demais. Gomen."

"Eu sempre achei você lindo e interessante. Mas não tinha coragem de me aproximar"

"Gostaria de que você tivesse se aproximado"

"Eu também. Mas estou contente por estarmos conversando agora"

"Eu também. Nunca achei que encontraria alguém como você... Se eu ainda morasse em Konoha com certeza pediria você em namoro"

Tenten achara que seu coração iria sair pela boca. Ela estava deitada conversando com ele, mas quando essa mensagem chegara levantara-se, sentara-se, tornara a deitar. Ela tinha vontade de rir e chorar. Como ela podia responder isso?

"A distância não é nada quando o interesse é verdadeiro"

"Você acha?"

"Hai. Há pessoas que estão ao lado uma da outra e é como se houvesse um oceano separando-as. Você está longe, mas em sinto você mais perto do que qualquer pessoa que eu conheça"

"Também sinto o mesmo"

Ela não soube o que responder depois disso. Enquanto pensava, uma nova mensagem chegou:

"Então... você quer ser minha namorada?"

Foi com as mãos trêmulas que ela digitou aquelas três letras:

"Hai"

Tenten deixou as lágrimas escorrerem. Tudo ilusão. Sabia que Hinata e Neji moravam na mesma casa, pois ele falava frequentemente da prima. Inclusive lhe contara quando ela viera para Konoha. Porém Hinata nem ao menos sabia quem ela era.

Tenten soluçou. Quantas vezes deixara de sair com Sakura e Ino para conversar com Neji? Quantas vezes ficara acordada até tarde conversando com ele mesmo sabendo que no dia seguinte tinha que trabalhar cedo?

Ela acredita nele. Acreditara neles. Mas para ele o relacionamento deles não significava nada! Enquanto ela sonhava com o dia que finalmente se veriam, que andariam de mãos dadas, que se beijariam, que estariam juntos.

Ilusão! Nada mais que isso!

Mas era melhor assim. Era melhor agora. Quanto mais tempo passasse acreditando nessa mentira, mais sofreria.

Ela levantou-se decidida a tomar um banho, arrumar-se e não chorar mais. Se para Neji o relacionamento entre eles não era importante, então Neji não era o cara que ela pensou que fosse.

Tomou um banho caprichado para lavar a alma. Estava decidido: Não choraria mais por Neji Hyuuga. Saiu do banheiro e vestiu sua roupa preferida. Iria ao seu restaurante preferido e depois ao cinema.

Vivera vinte e três anos de sua vida sem ele. O que era um ano comparado a isso?

Estava colocando os brincos quando a campainha tocou. Franziu a testa. Não tinha combinado nada com Lee e não atendera as ligações de Sakura e Ino. Seria Shikamaru? Não. Ele mandara uma mensagem colocando-se à disposição, mas Tenten não respondera. E Shikamaru respeitava o espaço dela. Sabia que seu primo não viria sem avisar.

A campainha tocou novamente despertando-a de seus pensamentos. Terminou de colocar os brincos e abriu a porta.

– Ne-Neji?

Ela não podia acreditar! O que ele estava fazendo ali olhando-a da cabeça aos pés com luxúria?

– Ia sair com alguém?

– Isso não é da sua conta, Neji. Não temos mais nada – disse com a voz trêmula.

Ela tentou fechar a porta, mas ele foi mais rápido e entrou no apartamento.

– Pois ligue e cancele. Não vamos sair daqui até você me explicar porque terminou nosso relacionamento.

– Que relacionamento, Neji? Eu realmente acreditei que tínhamos um, mas ontem eu acordei desse sonho. Fui trazida à realidade de uma forma dolorosa, mas sempre acreditei que a verdade é melhor que a ilusão.

– Do que você está falando?

– Ontem conheci sua prima. Hinata Hyuuga. E descobri que ela nem ao menos sabia o meu nome! Que tipo de relacionamento é esse, Neji, que nem sua prima que mora embaixo do mesmo teto que você sabe? Me explica porque eu não entendo!

– Já disse que você é a pessoa mais próxima a mim, Tenten. Eu não tenho um bom relacionamento com minha família como você! Eu não sou próximo às minhas primas mesmo morando na mesma casa que elas. Isso não quer dizer que eu não considere nosso relacionamento, Tenten! Eu considero e muito. Você é a mulher que eu amo e com quem quero passar minha vida.

– Nani?

– Eu amo você, Tenten. Não consigo imaginar minha vida sem você ao meu lado.

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