Capítulo 60

— Que demora, Caio! — reclamo assim que meu irmão finalmente atende a ligação. — O que estava fazendo?

— Sai do meu pé, Matteo — murmura ele, e pelo barulho parece se jogar em algum sofá ou cama. — Já está tudo pronto. Não sei por que esse seu desespero.

— Não entende, né, seu loiro cretino? — olho rapidamente para trás, verificando se Aurora está por perto. — Comprou o que eu pedi?

— Claro que sim! Como eu já disse: TUDO ESTÁ PRONTO! — ele grita do outro lado e encerra a ligação sem aviso.

— Desgraçado — resmungo, indignado, encarando a tela do celular. — Esse loiro me paga.

— Que loiro? — viro-me ao ouvir a voz de Aurora, que se aproxima com uma maçã nas mãos.

— O Caio — faço uma pequena pausa, tentando pensar numa desculpa convincente. — Me ligou dizendo que está cansado de ficar à frente da Império Company.

— Acho melhor voltarmos. Não é justo que o Caio fique sobrecarregado enquanto estamos aqui nos divertindo. — Coloco o celular sobre a mesa e me aproximo de Aurora.

— Foda-se aquele loiro e foda-se a empresa também — digo, dando um beijo em sua bochecha, antes de pegar a maçã de sua mão e passar por ela. Aurora estala a língua no céu da boca.

— Folgado — ela cantarola, me acompanhando logo atrás.

Me deixo cair no sofá, soltando um suspiro enquanto observo Aurora se jogar na poltrona. Ela pega o controle da televisão e começa a procurar um filme, passando os títulos sem muita pressa. Não consigo tirar os olhos dela. Ela franze a testa de leve, inclina a cabeça, e às vezes faz um beicinho ao ler uma sinopse que não a agrada. Cada careta dela me faz sorrir, cada detalhe, por menor que seja, me deixa completamente fascinado.

Ela está tão concentrada que não percebe meu olhar. Fico ali, admirando cada gesto, sentindo o peito apertar, como se estivesse me dando conta mais uma vez de quanta sorte eu tenho. Tudo nela me encanta.

De repente, Aurora nota que estou encarando e solta uma risada suave, me olhando por cima do ombro.

— O que tanto me observa, moreno? — Sorrio, inclinando a cabeça e deixando o sorriso se alargar.

— Estou admirando o amor da minha vida. Não posso? — Ela ri, se levanta da poltrona e vem até mim, sentando-se no meu colo. Seus braços rodeiam meu pescoço, e ela começa a acariciar meu rosto, os dedos deslizando de leve pela minha pele. Fecho os olhos por um instante, deixando-me envolver por seu toque suave.

— Claro que pode — ela sussurra, e, ao abrir os olhos, encontro o brilho nos dela.

Deitamos juntos no sofá, e Aurora se ajeita ao meu lado, encaixando a cabeça no meu peito enquanto deslizo o braço ao redor dela. Pego o controle da TV, e agora sou eu que começo a navegar pelos filmes, tentando escolher algo que a faça relaxar e rir.

Mas minha mente está longe, já visualizando cada detalhe da surpresa que estou preparando para esta noite. Logo mais, Aurora terá uma noite que espero que ela nunca esqueça. Quero fazer tudo perfeito, algo simbólico, mas também grande, digno do que sinto por ela.

Nosso jantar será no deque do lago, de onde se pode ver o reflexo das estrelas na água calma. Passei a madrugada planejando esse momento, discutindo cada detalhe com o Caio e as amigas da Aurora. Eu pedi para decorarem o deque com luzes delicadas, em um tom quente que emite um brilho suave, como se as estrelas também quisessem fazer parte disso.

Eu a pedirei em casamento, um pedido simbólico, talvez, mas tão importante quanto qualquer outro. Quero que ela saiba que é minha escolha, hoje e sempre. 

Perdido nesses pensamentos, quase esqueço do filme, até que Aurora, deitada sobre o meu peito, levanta a cabeça e percebe meu olhar distante. Ela sorri, os olhos curiosos.

— Em que mundo você foi parar agora? — Pergunta, com uma risadinha.

Sorrio, afagando seus cabelos. Mal posso esperar para ver a expressão dela mais tarde, a surpresa e a emoção. Mas agora, seguro a ansiedade e dou um beijo suave no topo da sua cabeça, disfarçando.

— Só estava pensando em como sou sortudo de estar aqui com você — Ela faz um biquinho e me dá um selinho rápido voltando a se deitar.

(...)

De canto de olho, vejo Aurora dormindo serenamente ao meu lado. Seus traços relaxados, a respiração leve e os fios de cabelo caídos sobre o rosto criam uma paz contagiante. 

Sem querer acordá-la, me levanto devagar, quase sem respirar, e me estico para pegar a manta jogada no braço do sofá. Ela se mexe um pouco, mas logo se aconchega mais fundo no sofá. Sorrio sem perceber, observando o quanto ela parece tão tranquila, uma paz que eu sinto que jamais poderei explicar.

De repente, um som ao longe interrompe a tranquilidade do momento. Sinto uma leve tensão ao ouvir o barulho do carro se aproximando na estrada. Vou até a janela, espiando para fora, e confirmo, é o carro do Caio. Suspiro, tentando me preparar mentalmente para a entrada triunfal dos malucos. Espero por um minuto até que o carro pare e vejo Caio, Gael, Zoe, Heloísa e Elisa saindo, todos rindo e falando como sempre. Saio de casa, fechando a porta com cuidado.

— Não gritem, pelo amor de Deus — Como se fosse um gesto automático, Gael imediatamente cobre a boca da Zoe, que o fuzila com o olhar e começa a dar pequenos tapas em seu braço, tentando se soltar.

— Me solta, seu chato! — Ela reclama, mas tenta se conter para não fazer barulho — Dou um passo para frente, me afastando da porta. 

— A Aurora está dormindo, façam silêncio — Repito, enquanto eles mandam um ao outro calar a boca. 

O caos é quase inevitável, mas cada um tenta ao máximo manter uma espécie de ordem. Zoe faz sinal de silêncio para todos que se calam, e eu só balanço a cabeça em concordância.

— Vamos começar, antes que a Aurora acorde — Elisa levanta uma sacola, como quem exibe um troféu, e sorri para mim, ela sussurra, se aproximando — Trouxe tudo o que você pediu, cunhado — Diz, me puxando para um abraço apertado e caloroso.

— Obrigada, pequena — Agradeço apertando-a um pouco mais. Ela sorri, orgulhosa, mas logo vejo Zoe colocando as mãos na cintura e me lançando um olhar exigente.

— E eu, Matteo? Eu também ajudei a organizar tudo isso e nem um elogio eu ganho? — Zoe finge indignação, fazendo um beicinho dramático.

Antes que eu consiga responder, Caio passa o braço pelos ombros dela e sorrir a encarando com sarcasmo. 

— Você sabe que é maravilhosa, certo, cunhada?” 

Zoe empurra o braço do Caio para se livrar do seu aperto e lança o cabelo para trás, exibindo-se com uma falsa modéstia, o que só nos faz rir. 

— É, claro que sei! — Zoe diz, erguendo o queixo. 

Caio revira os olhos, mas ri enquanto observa a Zoe. Tento segurar o riso, mas a cena é tão ridícula e divertida que é impossível ficar sério.

— Vamos, pessoal, mantenham a concentração — Chamo a atenção deles, tentando resgatar algum tipo de seriedade — Lembrem-se, a Aurora está dormindo e precisamos terminar tudo antes que ela acorde.

Eles me lançam um olhar cúmplice, e bato uma palma fazendo eles irem até o carro ao mesmo tempo pegar tudo o que pedir a eles.

São exatamente cinco da tarde. Precisamos terminar tudo antes das seis e meia, pois Aurora não costuma dormir mais do que duas horas à tarde, pelo menos, é o que eu espero. O deque do lago será o cenário perfeito para o pedido, então começamos a preparar uma decoração intimista, que vai deixar tudo ainda mais especial.

Decidimos colocar lanternas de vidro com velas brancas distribuídas ao longo do deque, suas chamas suaves refletindo nas águas calmas do lago, criando um efeito mágico. No centro, montamos uma mesa pequena e redonda, coberta com uma toalha de linho branco. Pratos de porcelana e taças de cristal, acompanhados de talheres finos, estavam prontos para o jantar a dois.

Em volta da mesa, enfeitamos com arranjos de flores em tons de vermelho e branco, rosas, lírios e algumas peônias para dar um toque delicado. Pequenas luzes de foram penduradas no teto improvisado sobre o deque, criando uma atmosfera encantadora e iluminando o ambiente de forma suave, quase como um céu estrelado.

Um caminho de pétalas de rosas levava até a mesa, e ao lado, colocamos uma caixa de música que tocaria uma música tranquila, preenchendo o ar com uma serenidade.

Eu olho para Caio, que me entrega a caixinha vermelha de camurça com um sorriso discreto.

— Aqui está, irmão. — Ele fala, a expressão séria, mas com um toque de cumplicidade. — Tá tudo pronto. Agora é contigo.

Eu seguro a caixinha com as mãos trêmulas e suando, o coração batendo forte no peito. A ansiedade me consumindo, mas ao mesmo tempo, uma certeza cresce dentro de mim. Eu quero isso. Quero fazer Aurora feliz, quero que ela aceite esse futuro ao meu lado. 

— Eu já tenho o sim, mas é inevitável não ficar nervoso. — Falo baixo, a voz falhando um pouco enquanto olho para a caixinha. — Ela é a mulher da minha vida.

Caio sorri, sua mão pousa no meu ombro e ele arqueia as sobrancelhas.

— Seja feliz, vocês merecem. — Ele me dá um tapinha nas costas. Sorrio e ele se afasta indo até a Elisa a carregando e correndo em direção ao carro. O anel está aqui, na caixinha, representando tudo o que eu sinto por ela. 

— Minha linda — Murmuro fechando a mão segurando a caixinha. Aceno para os meus amigos que abanam sua nos enquanto entram no carro.

Zoe assovia, chamando minha atenção, enquanto se pendura na janela do carro.

— Ela vai dizer sim, eu te garanto! — Ela grita com um sorriso largo, e eu não consigo conter a risada.

Aceno para eles mais uma vez, e, antes que eu possa responder, Zoe é puxada de volta para dentro do carro. A janela é fechada, e o carro se afasta, desaparecendo pela estrada.

Apago as luzes do lado de fora da cabana, deixando tudo imerso na escuridão. Quero que cada detalhe seja uma surpresa, e isso inclui o cenário ao redor. O vento noturno sopra suavemente, e o som das folhas balançando é a única companhia enquanto volto para dentro. Minha mente está fixa em cada passo do que planejei, e a ansiedade de vê-la reagir só aumenta.  

Sigo para o banheiro. O vapor já começa a subir enquanto a água quente bate nos meus ombros, relaxando os músculos tensos do dia. Estou tão concentrado que nem percebo a presença dela até sentir duas mãos quentes me abraçando por trás.  

— Quanto tempo eu dormi? — a voz dela soa, suave e sonolenta, enquanto a água escorre pelo meu corpo.

Viro-me, surpreso. Ela está ali, com os olhos semicerrados pelo sono e os lábios curvados em um sorriso preguiçoso.  

— Por muito tempo, linda — respondo, um sorriso escapando involuntariamente.  

Ela boceja, e o som suave é seguido por um gritinho baixo enquanto se espreguiça, os braços esticando de forma adorável. Aurora tem um efeito sobre mim, sempre.  

— Estou morta de fome. O que acha de sanduíches? — ela sugere, passando a mão pelos fios molhados e me lançando um olhar esperançoso.  

— Não — nego com firmeza, vendo sua expressão mudar para uma leve confusão enquanto franze o cenho. Seguro seu queixo delicadamente, obrigando-a a me encarar. — Se arrume, nós vamos jantar fora.  

— Onde? Estamos no meio do nada — ela responde, dando de ombros, claramente desconfiada.  

Dou uma piscadela e vejo o biquinho que ela faz, uma mistura de impaciência e curiosidade.

— Apenas me ouça. Se arrume — Deixo o banheiro com um sorriso contido, enrolando a toalha no quadril.

Visto-me com um conjunto discreto. Uma camisa branca, calça de alfaiataria bege e um sapato social preto. Ajusto meu relógio no pulso enquanto olho pela janela, verificando o horário.  

O celular vibra. É Caio. Ele avisa que o cozinheiro e os garçons chegaram e estão organizando tudo. Vou até a sala e ligo a luz exterior apenas na área onde eles estão e me sento no sofá. No bolso, a pequena caixinha com o anel me lembra que estou prestes a oficializar o meu noivado.

Minutos depois, o som de salto alto no piso de madeira interrompe meus pensamentos. Ergo o olhar, e ali está ela.  

Aurora está deslumbrante. O vestido que escolheu é de um azul profundo, justo até a altura dos joelhos, com uma fenda lateral que revela suas pernas delicadamente. A alça única do vestido deixa um dos ombros à mostra, destacando a pele suave. Nos pés, sandálias de salto fino prateadas, que brilham a cada passo. O cabelo está solto, caindo em ondas perfeitamente arrumadas que moldam o rosto dela como se fosse uma obra de arte.  

Levanto-me sem pensar duas vezes, indo até ela. Seguro sua mão direita e a faço girar lentamente. O vestido acompanha o movimento, revelando ainda mais sua graça. Puxo-a delicadamente para mim e dou um selinho demorado, sentindo seu sorriso contra os meus lábios.  

— Onde vamos? — ela pergunta, os olhos brilhando de curiosidade.  

Beijo sua bochecha e solto um suspiro enquanto encaro aqueles olhos que me desarmam sempre.  

— Você está tão linda — digo baixinho, incapaz de conter as palavras. — Eu te amo.  

O sorriso dela ilumina todo o ambiente enquanto me abraça, os braços envolvendo meu pescoço. 

— Eu também te amo — ela sussurra, sua voz tão próxima que sinto o calor de suas palavras no meu ouvido. — Mas agora me diga, onde nós vamos?  

— Surpresa. Vamos? — Ela semicerra os olhos, tentando adivinhar, mas cede facilmente. Dou um sorriso travesso e seguro sua mão.

— Claro! — Saímos juntos, e sei que ela nem imagina o quanto essa noite será inesquecível.  

Seguro a mão da Aurora enquanto a guio para fora da cabana. A noite está fresca, e o som dos nossos passos é abafado pela madeira do piso. Fecho a porta atrás de nós e, no mesmo instante, as luzes se acendem.  

Aurora para, olhando ao redor. Pequenas lâmpadas penduradas nas árvores ao redor criam um brilho cálido, quase mágico, como um céu cheio de estrelas descendo até nós.  

— Matteo... — ela sussurra, os olhos arregalados e brilhando. — O que é isso?  

Sorrio de lado, apertando sua mão para chamá-la de volta para mim. 

— Vem comigo. Ainda não acabou — Ela me segue, e cada passo nos leva para mais perto do deque. Quando chegamos, Aurora finalmente percebe o caminho iluminado à nossa frente, coberto por pétalas vermelhas.  

— Meu Deus... — ela para de novo, os olhos saltando de surpresa. Ela se vira para mim, boquiaberta. — Você fez tudo isso?  

— Fiz para você — digo com firmeza, olhando diretamente para ela. — Só para você.  

Aurora balança a cabeça, rindo nervosamente enquanto tenta absorver tudo. Seus olhos estão tão brilhantes que me pergunto se são as luzes ou o reflexo da emoção dela.  

— Matteo, isso é... lindo demais. Eu nem sei o que dizer.  

— Então não diga nada. Só... vem. — Dou um pequeno puxão em sua mão, e começamos a caminhar pelo caminho de luzes e pétalas.  

Ao nos aproximarmos do centro do deque, a visão se completa. Uma mesa impecavelmente posta nos espera, cercada por arranjos de flores que preenchem o ar com um perfume doce e inebriante. Velas acesas dançam com o vento leve, enquanto uma música suave toca ao fundo.  

Aurora solta minha mão instintivamente e avança alguns passos. Ela leva as mãos à boca, incapaz de conter sua reação.  

— Matteo... isso é perfeito... — Sua voz falha, e abafada.

Sorrio, mas meu coração está batendo forte. Este é o momento. Respiro fundo e abaixo-me lentamente, ajoelhando-me atrás dela.  

— Aurora... — minha voz sai firme, mas não consigo evitar o nervosismo.  

Ela se vira, surpresa ao me ver ajoelhado. Quando seus olhos caem sobre a caixinha que estendo em sua direção, um soluço suave escapa de sua garganta.  

— Eu... eu nem sei... — ela balbucia, as mãos ainda cobrindo a boca.  

Abro a caixinha, revelando o anel que escolhi com tanto cuidado.  

— Aurora, você apareceu na minha vida como um furacão, desafiando tudo o que eu achava que sabia sobre mim mesmo. Cada sorriso seu, cada palavra, cada olhar... você me mostrou o que é realmente viver. Eu não sei como seria a minha vida sem você, e não quero descobrir.  

Faço uma pausa, olhando diretamente em seus olhos, que agora transbordam de lágrimas.  

— Eu te amo, Aurora. Mais do que palavras podem descrever. Quero passar cada momento ao seu lado, dividindo alegrias, superando desafios, construindo um futuro. Você aceita ser minha para sempre?  

Aurora não consegue mais segurar as lágrimas. Elas escorrem pelo rosto enquanto ela balança a cabeça freneticamente.  

— Sim! — Ela diz, a voz embargada pela emoção. — Sim, Moreno!  

Levanto-me, colocando o anel em seu dedo com as mãos trêmulas. Assim que termino, ela se joga nos meus braços, os soluços abafados contra meu peito.  

— Eu te amo tanto... — ela sussurra, ainda agarrada a mim.  

— E eu te amo ainda mais. — Acaricio seu cabelo enquanto a seguro firmemente, sentindo meu coração se encher de uma felicidade que nunca experimentei antes.  

Este já é o momento mais perfeito da minha vida! 

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