Capítulo 57

1 Semana Depois 

Estar acordado depois de um mês faz com que eu valorize cada suspiro que dou. Na minha mente, ficou gravada a dor latejante no peito, o desespero de mal conseguir respirar e, principalmente, o medo de nunca mais ver minha doce Aurora.

No instante em que a vi parada, me olhando com os olhos brilhando, eu tive a certeza de que queria ela comigo pelo resto da vida. Ela é incrível, tão meiga, compreensiva, inteligente... linda. A mulher mais linda do mundo. Não sei se sou capaz de respirar longe dela, ou de viver sem ela. Aurora é meu combustível, sem ela, eu não sou ninguém. 

— VAI, AMOR, VOCÊ CONSEGUE! — Aurora grita, entusiasmada, enquanto Gael sacode pompons vermelhos ao meu lado. Estou na minha primeira semana de fisioterapia. Não é que eu não consiga andar, mas os médicos disseram que isso é importante para fortalecer os músculos.

— Aurora, ele não está paralisado — Olívia comenta, distraída, sem tirar os olhos do celular. — Ele nem está sentindo dor.

— Você acha, Olívia? — pergunto, me apoiando na barra. Não que seja uma dor insuportável, mas cada passo parece ter pesos amarrados aos meus pés.

— Desculpa, Tetéo — Ela larga o celular e arranca os pompons das mãos do Gael. — Me dá isso aqui.

— Abusada, devolve! — Gael tenta pegar de volta, enquanto Olívia o encara indignada. E assim começa a discussão.

— Você quase arrancou meu braço, seu ogro, brutamontes, sem educação! — Olívia aponta o dedo na cara dele, que ri com desdém. — Idiota.

— E gostoso. Sabia que esse ódio que sente por mim é, na verdade, tesão? — ele provoca, cruzando os braços, enquanto observa a irritação dela aumentar. — Posso resolver seu problema agora mesmo.

— VOCÊS DOIS! — chamo a atenção, exasperado, e Aurora me olha com as sobrancelhas arqueadas. — Já chega! Ou vou amarrar vocês dois e jogar no armário — falo com firmeza. Com esses dois, ser educado não funciona; eles só param quando alguém impõe limites.

— Moreno... — Aurora morde a ponta da unha e se aproxima com aquele sorriso provocador. — Que calor — Ela se abana, enquanto o médico me ajuda a sentar na cadeira ao lado da barra.

— A sessão foi ótima, Matteo — o médico comenta, com um sorriso de aprovação. — Se continuar assim, em menos de um mês você estará totalmente recuperado.

Ele nos lança um olhar satisfeito, faz um aceno educado e se retira, deixando a sala só para nós quatro. O silêncio que se instala dura apenas alguns segundos, mas é o suficiente para sentir a tensão entre Gael e Olívia. Eles se encaram como se uma guerra fosse começar a qualquer momento.

— Bom, acho que isso merece uma comemoração! — Aurora quebra o silêncio, batendo palmas e se virando para mim com um sorriso radiante.

— Concordo! Um brinde ao nosso inválido em recuperação! — Gael me provoca, jogando os braços para cima.

— Ei, menos! — reviro os olhos, rindo da provocação. — Se tudo correr bem, em um mês eu volto a ser o mesmo de antes. 

— O mesmo de antes? — Olívia comenta, erguendo uma sobrancelha. — Que eu vejo, você não mudou nada.

— Não me diga — Dou uma risada leve, e Aurora se aproxima, apoiando a mão no meu ombro.

— Vocês são impossíveis. — Ela ri e se vira para Gael e Olívia. — Vamos comemorar ou só vamos ficar aqui discutindo?

— Agora eu não posso, tenho uma reunião marcada em trinta minutos — Gael ergue as mãos e, em seguida, cruza os braços. — Mas à noite, eu abro uma exceção na minha agenda.

— Olívia, não — Aurora intervém, apontando para a amiga, que já estava prestes a soltar uma provocação para o Gael. — Já que o Matteo ganha alta hoje, podemos fazer um jantar especial, no meu apartamento. O que acham?

— Ótima ideia — ouvimos uma voz à porta, e todos olhamos na direção da entrada da sala. Minha mãe está parada ali, sorrindo enquanto nos observa.

— Liz! — Aurora abre os braços enquanto minha mãe se aproxima, e as duas se abraçam calorosamente. — Que bom vê-la!

— Digo o mesmo, querida. Olívia, como você está linda hoje! — Ela abraça Olívia, depois se vira para Gael e aperta suas bochechas. — E você, garoto? Como está?

— Bonito, gostoso e muito rico — Gael responde, jogando o cabelo para trás, e eu reviro os olhos. — E você, Liz?

— Estou como você. — Eles riem, e logo Aurora e Olívia se juntam às risadas.

— A ideia do jantar é ótima, mas por que não fazemos na minha casa? O que acham? — Minha mãe sugere, com um olhar caloroso

— Por mim, tudo bem — Aurora diz, erguendo as mãos em sinal de rendição. Concordo com um leve sorriso e, ao me aproximar, minha mãe se inclina e deposita um beijo carinhoso na minha testa.

— Aurora, está na hora de irmos! — Olívia avisa, cruzando os braços. — Precisamos passar na faculdade para você renovar sua matrícula, e eu preciso fazer a minha. A Melinda deve estar esperando a gente.

Aurora faz uma careta, mas se vira para mim e se despede com um sorriso. Ela se aproxima e me dá beijos carinhosos, demorados, como se não quisesse se afastar. Sinto o calor da presença dela, e o aperto de sua mão me faz querer puxá-la de volta toda vez que ela tenta se soltar. A Olívia, é claro, não aguenta por muito tempo.

— Bora, Aurora! — Ela a puxa, e Aurora faz uma cena, fingindo chorar.

— Não quero ir... — ela resmunga, lançando um último olhar na minha direção.

Eu rio, apaixonado, e fico observando enquanto ela vai embora. Minha mãe, do meu lado, revira os olhos com um sorriso e finge limpar minha boca, como se eu fosse uma criança.

— Você estava quase babando de amor, Matteo — ela comenta, debochada.

— Ah, Matteo é um caso perdido — Gael diz, rindo, e me lança um olhar de provocação. — Ele e o Caio estão completamente de quatro.

— É questão de tempo pra você estar assim também, Gael — minha mãe retruca com um sorriso presciente.

Ele faz o sinal da cruz três vezes, como se estivesse afastando qualquer chance disso acontecer.

— Credo, Liz, deixa isso pra lá! — E eu caio na risada, aproveitando o momento raro de alegria leve entre todos nós.

— Hunrum, sei... — minha mãe responde, cruzando os braços e olhando Gael com aquele ar de quem já viu de tudo.

Gael ri e, então, se aproxima para me ajudar a andar de volta ao quarto. Cada passo me lembra da semana que passei aqui, da luta diária, mas hoje, vejo que o meu esforço valeu a pena.

Chegando no quarto, Gael me ajuda a sentar na cama, dá uma última ajeitada nos meus ombros e então se afasta, batendo as mãos como se estivesse terminando uma grande missão.

— Bem, eu preciso ir. Tenho uma reunião importante daqui a pouco, e o trânsito não vai me ajudar — ele diz, ajeitando o relógio.

— Obrigado, Gael — agradeço ao meu amigo que sorri brevemente.

Ele faz uma breve reverência, com o tom de sarcasmo que é sua marca registrada, e sai, deixando apenas eu e minha mãe.

Fico em silêncio por um momento, antes de criar coragem e perguntar:

— Mãe... Como se faz um pedido de casamento... adequado?

Ela sorri e se senta ao meu lado na cama, passando a mão pelos meus cabelos como fazia quando eu era pequeno.

— O pedido mais lindo é aquele que vem do coração, Matteo. Não importa o quanto ele seja simples, se for guiado pelo que você sente de verdade, será perfeito — Beija minha bochecha e pega seu celular na sua bolsa — Seu pai não me deixa respirar.

— Acho melhor atender, ou ele virá pessoalmente. — Minha mãe revira os olhos e sai do quarto após atender a ligação.

Hoje, finalmente, vou deixar este quarto. Só penso em voltar à minha rotina: correr, trabalhar... Estou entediado demais. Ouço duas batidas na porta e, ao olhar, vejo Diego Bianchi. Era o que me faltava.

— Bianchi — falo o sobrenome dele como se fosse veneno na minha boca. Não suporto esse loiro e morro de ciúmes dele. — O que veio fazer aqui? E nem tente dizer que é saudade.

— Ainda com ciúmes? — ele pergunta, se aproximando com os braços cruzados. — Você devia relaxar mais; seu rosto está até vermelho.

— Hoje eu não tô com paciência, então, se não for pedir muito, retire-se. — Aponto para ele, e Diego ergue as mãos em rendição. Ele respira fundo e dá mais um passo, me encarando.

— Juntei coragem e paciência pra vir falar com você — diz ele, desviando o olhar para a janela. — Gosto muito da Aurora, mas como amiga. No começo, confesso que me encantei por ela, sim. Mas foi só no início; depois que conversamos, percebi que não podíamos e nem devíamos passar de amigos. Eu vim aqui pra pedir desculpas por ter dado em cima dela, lá na festa na Itália e também aqui, em Nova York. Aurora ama você, e acho que, se a deixasse, ela não seria capaz de amar outra pessoa. Espero que valorize o amor dela, porque é o mais puro do mundo.

Fico em silêncio enquanto ele deixa escapar uma risada abafada e se vira, indo em direção à saída. Chamo sua atenção com um pigarreio.

— Se você não tivesse sido um cuzão no começo, talvez pudéssemos ser amigos — digo, dando de ombros, e ele apenas balança a cabeça.

— As melhores amizades começam do caos. Talvez um dia sejamos amigos — ele responde, colocando as mãos nos bolsos da calça social. — E até mesmo sócios.

— Não direi que não, porque a vida é cheia de pegadinhas. — Ele concorda e sai do quarto. Respiro fundo, aliviado por ouvir essas palavras. 

Sei que a Aurora me ama, mas não posso evitar a insegurança em relação ao Diego. Não é que eu duvide da lealdade da minha linda, mas é impossível não se sentir ameaçado por um homem que está constantemente marcando “território”.

— Seu pai é impossível. — Minha mãe entra no quarto novamente. — Ele me ligou perguntando se podia comer fritura hoje.

— Ah, mentira! — Dou risada do meu pai. — Me diga uma coisa: ele sempre foi tão dependente assim? — Faço piada, e minha mãe se senta no sofá de forma elegante.

— Não zombe do seu pai. Aposto que você será igual a ele e vai incomodar a pobre Aurora todos os dias, perguntando se pode comer frutos do mar, mesmo sabendo que é alérgico. — Ela passa a ponta do dedo pela testa e respira fundo. — Homens, tão burros.

— Calma, mãe — Betina invade o quarto com um buquê de flores enorme.

— Olha o que eu trouxe! — diz ela, com um sorriso radiante. — Comprei pra você, Matteo.

— Que fofo, filha — Minha se levanta, indo em direção à minha irmã — Que lindo, Betina! — minha mãe elogia, admirando as flores.

— São perfeitas mãe — Betina sorri para mim e se aproxima — E eu também vou fazer a sua torta de morango preferida para hoje à noite! — Betina anuncia, animada.

— Obrigada maninha, as flores são lindas, obrigada — Agradeço pegando as flores e as cheirando — A torta vai ser ótima, mas quem vai cozinhar? Você não sabe cozinhar!

Nesse instante, o sorriso de Betina desaparece, e eu vejo quando ela começa a chorar.

— Betina, por que você está chorando? — pergunto, preocupada.

— É de felicidade! — ela responde, secando as lágrimas com a mão. — Estou tão feliz por ver você bem! — Me sento na cama, envolvendo minha irmã em um abraço reconfortante.

— Está tudo bem, Betina. Eu estou bem, e tudo voltou ao normal — A tranquilizo, nossa mãe segura o buquê com um sorriso contagiante nos lábios.

— Faltam apenas o Caio e o Gael para essa cena ficar ainda mais linda. — Minha mãe balança o buquê como se fosse um bebê recém-nascido. — Vocês não deviam crescer tanto. E o Daniel.

— Por falar em Daniel, onde ele está? — pergunto, e Betina bate no meu ombro ao sair do abraço. — Grossa.

— Provavelmente dormindo. — Betina passa a mão pelo cabelo, jogando-o para trás. — Ele disse que está de férias do trabalho e vai acordar todos os dias às duas da tarde.

— Quem ele pensa que é? A Bela Adormecida? — retruco, enquanto minha mãe coloca o buquê sobre a mesinha de canto. — Folgado.

— Muito folgado. — Betina concorda, se colocando de pé. — O Caio disse que vai vir buscar você. Ele está tendo reuniões uma atrás da outra, por isso não veio hoje cedo.

— Aquele loiro deve estar enlouquecendo, participando de todas as reuniões sozinho. — Meu irmão não tem muita paciência para isso; na verdade, ele detesta reuniões tanto quanto detesta sorvete de flocos.

— Agora ele tem a Elisa. O loiro fica calmo o dia inteiro, suspirando pelos cantos e falando sobre filmes de princesas. — Betina gesticula com as mãos, e eu tampo a boca, imaginando a cena hilária.

— O Caio realmente levou um belo chá. — Arregalo os olhos quando nossa mãe se vira lentamente na direção de Betina. — Hum... e eu vou na lanchonete.

— Acho bom mesmo. — Nossa mãe abana a mão, mandando Betina sair do quarto. Me deito novamente na cama enquanto ela me lança um olhar reprovador.

— Eu não falei nada! — Ergo minha mão em forma de rendição. — Nadinha, mãe.

— Acho bom, Matteo, eu acho bom. — Ela volta a mexer nas flores, e eu respiro fundo, olhando para o teto.

(...)

— Está confortável? — Caio pergunta enquanto tenta passar o cinto de segurança ao meu redor. Dou um tapa em sua mão, e ele se afasta, soltando um resmungo irritado. — Idiota, estou só tentando ajudar.

— Está agindo como se eu fosse inválido. — Prendo o cinto de segurança sozinho, e ele revira os olhos. — Estou bem, agora vamos.

— Matteo... — Ele começa a dizer, mas é interrompido pela chegada de Elisa, que surge ao seu lado, sorrindo. Ele se vira para ela com um olhar carinhoso. — Minha princesa.

— Meu loiro. — Reviro os olhos e os fecho enquanto eles trocam um beijo. — Teteo, você está bonito hoje.

— Você acha, cunhada? — Abro os olhos e recebo de Elisa um breve abraço de cumprimento. — Onde está a Aurora?

— Depois de fazer a rematrícula, ela foi ao salão; disse que estava se sentindo horrível — explica Elisa, dando de ombros.

— Horrível? Impossível. Minha mulher nunca ficaria feia. Ela nasceu perfeita, e anjos não são feios — respondo, franzindo o cenho enquanto Caio e Elisa trocam olhares cúmplices. Pego meu celular e suspiro.

— Vamos logo, preciso me arrumar para o jantar. — Elisa entra no banco de trás, e Caio fecha a porta, dando a volta no carro para assumir o volante.

Mando uma mensagem para a Aurora e bloqueio o aparelho novamente. Caio segue dirigindo em direção à casa da Elisa, e o silêncio no carro é tranquilo, quase reconfortante. Cada um parece imerso em seus próprios pensamentos, mas sem qualquer desconforto. 

Quando finalmente param em frente à casa de Elisa, Caio desce, contornando o carro para abrir a porta para ela. Elisa sorri ao sair, e os dois se abraçam com carinho, trocando um beijo demorado, como se cada segundo junto fosse precioso.

— Ah, pronto. Assim não dá! — brinco, soltando um suspiro exagerado. — Agora fiquei com inveja. Eu aqui, sem minha mulher, enquanto vocês estão assim, melosos.

Caio solta uma risada e me lança um olhar de quem já está acostumado com minhas provocações.

— Quem sabe isso te sirva de inspiração, hein, Matteo? — Ele pisca e abraça Elisa mais uma vez antes de se afastar.

Elisa me dá um aceno antes de entrar, e Caio volta para o carro com um leve sorriso nos lábios.

Caio avança com o carro, mas seus olhos ainda estão fixos no retrovisor, observando até ter certeza de que Elisa realmente entrou em casa em segurança. Reviro os olhos e dou um tapa leve na nuca dele.

— Cara, ela não vai fugir, que obsessão! — Caio vira para mim, e, antes que eu me dê conta, ele revida com um tapa direto na minha coxa, me arrancando um gemido de dor.

— Como se você não fosse pior — ele rebate, tentando disfarçar o sorriso, antes de voltar a atenção para a rua.

Sorrio, apoiando as mãos atrás da cabeça e relaxando contra o encosto, olhando para o teto do carro. Minha mente vagueia inevitavelmente até Aurora. Penso em como ela deve estar agora, provavelmente rindo de alguma besteira ou concentrada em algo tão simples, mas que parece mágico só porque é ela.

— Eu quero minha mulher — murmuro, olhando a tela do celular para ver se ela respondeu, mas nada ainda. — O que será que ela tanto faz?

— Provavelmente se arrumando para o jantar — Caio responde, com os olhos fixos na rua. — Ela disse que não precisava que você a buscasse, que vai de carro.

— O quê? De jeito nenhum! Vou mandar o motorista buscar — reclamo, já pegando o celular, mas Caio é mais rápido e joga o aparelho no banco de trás. — É perigoso ela dirigir sozinha à noite!

— Fica quieto e aceita — ele me lança um olhar breve. — Você vai gostar, então, por favor, colabora.

— O que a Aurora está planejando? — pergunto, sem conseguir conter o sorriso que se forma nos meus lábios.

— Não sei, Matteo — Caio balança a cabeça, e eu estreito os olhos, desconfiado. — Nem começa, eu não vou falar.

Passo o resto do caminho infernizando Caio com perguntas. 

— Vai, me fala. O que a Aurora está aprontando? — insisto, olhando para ele com uma expectativa descarada.

Silêncio total. Caio apenas lança um olhar de soslaio e finge que nem me escuta. 

— Ah, vai, Caio. Ela planejou alguma coisa especial, né? Dá só uma dica, prometo que paro de perguntar… — Tento jogar charme, mas ele não cede, só solta uma risadinha contida, como quem se diverte vendo meu desespero.

Minha paciência vai se esgotando, mas ele permanece quieto, rindo de vez em quando, só para me provocar. Tento arrancar alguma coisa dele até estacionarmos em frente à enorme mansão dos nossos pais, mas Caio se mantém firme. 

Descemos do carro, e eu me apoio na muleta, sentindo o peso das minhas pernas ainda em recuperação. Na porta, nosso pai nos aguarda com um sorriso acolhedor. Ele abre os braços, e nos abraça apertado. Caio,  ainda está segurando o riso.

— Como estão, meus filhos? — Nosso pai pergunta, com o tom caloroso de sempre.

— Bem, pai. E o senhor? — respondo, sorrindo enquanto ele nos solta.

Entramos na mansão, e os corredores grandiosos nos envolvem com aquele ar de tradição e familiaridade. Caminhamos lado a lado, conversando sobre o jantar que nossa mãe, preparou para comemorar minha recuperação. 

— Será que ela caprichou, como sempre? — Caio comenta, piscando para mim. 

— Conhecendo a nossa mãe, só pode ter coisa boa — respondo, sentindo que minha mãe deve ter preparado algo enorme.

Chegamos à entrada da sala de jantar e encontramos nossa mãe, Liz, totalmente imersa na organização do ambiente. Ela conversa com as empregadas, ajustando a posição dos pratos e talheres e orientando cada detalhe da mesa enorme. Ela está tão concentrada que nem percebe a nossa chegada.

Troco um olhar rápido com Caio e nosso pai, e ambos me fazem sinal para que a gente saia de fininho. A última coisa que queremos é ser capturados pela minha mãe e acabar presos em uma conversa sobre decoração, algo que nenhum de nós entende e que, sinceramente, preferimos evitar. Se respondêssemos qualquer coisa para agradá-la, era certo que ela ficaria irritada, nos chamando de "incompetentes" e "insensíveis à arte da organização".

Cuidadosamente, recuamos em silêncio, tentando não fazer nenhum barulho que denuncie nossa presença. Seguro a risada ao ver o nosso pai liderando o caminho com aquela expressão de missão secreta, enquanto Caio faz o possível para não tropeçar em nada. Nos afastamos rapidamente da sala e, ao dobrar o corredor, finalmente nos soltamos em um riso baixo e cúmplice.

— Ela nem desconfiou! — Caio sussurra, como se tivéssemos acabado de escapar de uma enrascada.

— Vamos ficar longe até o jantar começar de verdade — nosso pai comenta, ainda rindo, e concordamos imediatamente. Melhor esperar até o grande momento, quando todos os preparativos já estiverem prontos e o risco de sermos requisitados tiver passado.

Caio e eu concordamos com um aceno, e então nosso pai nos dá uma piscadela.

— Vou aproveitar e assistir ao jogo que gravei — ele avisa antes de seguir para a sala de TV.

— E eu preciso me arrumar para buscar a Elisa — Caio diz, dando um tapa de leve nas minhas costas antes de sair.

— Você está de quatro, loiro — respondo com um sorriso de canto.

— Como se você não estivesse, moreno — Diz com ironia e se vira subindo os degraus correndo.

Quando cada um parte para seu refúgio, sigo para o jardim, certo de que ali estarei seguro do olhar atento e perfeccionista de nossa mãe. Ao chegar, me sento à beira da piscina, sentindo o ar fresco e aproveitando o silêncio que se estende por todo o espaço. 

O céu vai escurecendo aos poucos, tingindo o horizonte com os tons do anoitecer, e eu observo as primeiras estrelas surgirem aqui e ali. Logo, os refletores do jardim se acendem automaticamente, iluminando o entorno da piscina e criando um jogo de sombras suaves sobre a água. A penumbra do jardim contrasta com a luz suave, e me pego perdido nos próprios pensamentos, deixando o cansaço se dissipar por um instante enquanto apenas observo o céu estrelado.

Enquanto me perco em meus pensamentos, a governanta aparece, interrompendo meu momento de tranquilidade.

— Senhor Matteo, a senhora Liz mandou avisar que está na hora de se arrumar. Os convidados vão chegar em breve — ela diz, com uma expressão amigável, mas firme.

— Obrigado, dona Clara, já estou indo — respondo, tentando esconder o sorriso que surge involuntariamente. 

Assim que ela se afasta, não posso deixar de pensar em como, mesmo aos trinta e seis anos, minha mãe ainda me trata como se eu tivesse seis, mas sei que é só a maneira dela de se preocupar. 

Levanto-me com dificuldade, usando a bengala para me apoiar, e sigo para o interior da casa. Subo as escadas para o segundo andar, onde ficam os quartos, sentindo cada movimento. Uma vez no corredor, caminho em direção ao meu quarto, consciente de que a hora do jantar se aproxima.

Entro no meu quarto e pego o celular, dando uma rápida olhada na tela. Esperava ansiosamente por alguma mensagem da Aurora, mas a tela permanece vazia. Um pequeno nó se forma no meu estômago ao ver que não há nada. Suspiro, ansioso, e deixo o celular sobre a cama antes de me dirigir ao banheiro.

No banheiro, o ar está fresco, e o espaço é iluminado por uma luz suave que cria um ambiente acolhedor. Ligo o chuveiro e deixo a água aquecer, enquanto observo meu reflexo no espelho. A imagem que me encara é a de um homem cansado, mas, ao mesmo tempo, cheio de vida. A água quente começa a correr, e eu me posiciono sob o jato, permitindo que as gotas agridoces me revigorem. 

Fecho os olhos e deixo a água escorregar pelo meu corpo, sentindo cada gota como um bálsamo. O vapor se acumula no ambiente, tornando o espelho embaçado, enquanto eu aproveito o momento de paz. A sensação de estar limpo me traz uma espécie de conforto, e eu me permito relaxar, mesmo que por poucos minutos.

Depois de um bom banho, saio do chuveiro e me seco rapidamente, sentindo a toalha macia contra a pele. Entro no closet e escolho uma camisa de algodão branca, de corte clássico, que complementa perfeitamente o meu corpo. Em seguida, pego um suéter de cashmere em tom azul-marinho, que me dá um ar sofisticado e confortável. Para finalizar, escolho uma calça de lã cinza.

Coloco um cinto de couro marrom e calço um tênis branco. Olho-me no espelho e ajusto os detalhes, garantindo que a camisa esteja bem alinhada. Coloco um relógio prata no meu pulso direito, ele é da coleção nova da Company Império, uma corrente fina também prata em volta do meu pescoço.

Saio do quarto, ouvindo o som da bengala batendo contra o piso de madeira do corredor. O eco suave me acompanha enquanto desço as escadas, cada passo trazendo a expectativa do jantar mais perto. Ao chegar à sala de estar, encontro Gael, Daniel e Betina sentados no sofá, cada um segurando um copo de whisky.

— Olha quem decidiu aparecer! — Gael grita em tom brincalhão, um sorriso largo no rosto. — A princesa chegou! Estava demorando, hein, Matteo? Tava ficando bonito para a Aurora?

— Ele ficou tão elegante que quase esquecemos como era antes — Daniel ri, dando um gole no whisky e piscando para mim — Feio como o diabo.

Dou de ombros, tentando manter a pose de quem não se importa com as brincadeiras. Mas, por dentro, estou gargalhando.

— E você, Daniel? Usando esse suéter, vai mesmo conseguir impressionar alguém? — rebato, enquanto caminho em direção a uma poltrona confortável e me sento. 

— Hey! — Betina levanta um dedo, rindo. — A gente só está tentando manter a casa em ordem para o grande jantar. 

— E eu estou apenas fazendo minha parte — digo, relaxando na poltrona enquanto os três continuam a fazer piadas e eu não perco a oportunidade de provocá-los também.

Enquanto me acomodo na poltrona, ouço vozes ecoando pelo corredor, e entre elas, o som do riso da Aurora se destaca como uma melodia familiar. Um sorriso involuntário surge nos meus lábios, e não consigo evitar chamar a atenção de Betina, que está ao meu lado.

— Como eu estou? — pergunto, ansioso.

Ela revira os olhos com um sorriso.

— Está ótimo!— responde, sarcástica, enquanto dá um gole no seu copo.

Respiro fundo, sentindo a ansiedade crescer à medida que os passos se aproximam. Logo, Zoe, Heloísa e Melinda entram na sala de estar, e me levanto para cumprimentá-las. Abraço cada uma.

— Que bom vê-las amigas — Melinda dá dois tapinhas no meu ombro enquanto sorri — Fiquem a vontade.

— Obrigada — Zoe agradece.

Em seguida, Elisa e Olívia entram, e elas me cumprimentam apenas com um sorriso e um leve aceno.

Mas meu olhar logo se fixa em Aurora. Ela aparece e, para minha surpresa, cortou o cabelo na altura dos ombros, com uma franjinha que a deixa ainda mais encantadora. O coração acelera enquanto ela se aproxima.

Quando finalmente chegamos perto, não resisto, a agarro ali mesmo, num abraço apertado que parece absorver todo o resto do mundo. Nossos lábios se encontram em um beijo breve, mas carregado de significado, e eu sinto que tudo se ilumina.

— Você está linda — murmuro, passando a mão pelo cabelo dela. Então, beijo seu ombro, pescoço e mandíbula, sentindo o aroma dela invadir meus sentidos.

— Se acalme, moreno — ela sussurra em meu ouvido, e um frio na barriga toma conta de mim.

— Estou tentando, mas com você vestida assim e tão cheirosa, é impossível — respondo, sem conseguir esconder o sorriso.

— Oh casal, controle o fogo no rabo — Neste momento, Betina chama nossa atenção, e a risada se mistura ao ambiente. Aurora e eu nos afastamos, ambos rindo enquanto o clima leve retorna. 

Caio oferece whisky para as meninas, que aceitam com alegria, e logo todos nós nos acomodamos. O espaço se transforma em uma grande teia de conversas e piadas, repleta de risadas e histórias que fazem o tempo passar rapidamente. 

Enquanto esperamos pelos meus pais, ouvimos histórias mirabolantes do Gael e Daniel, que apesar de mentirosos, sabem inventar uma boa história.

Meus pais entram na sala de estar, e meu pai sorri ao olhar para o grupo reunido.

— Como é bom ver a casa cheia! — ele exclama, sua voz ressoando com alegria.

As meninas se levantam imediatamente, indo até eles para cumprimentá-los e agradecer pelo convite. O calor da recepção faz com que um sorriso se espalhe pelo rosto da minha mãe.

— Vamos, o jantar vai ser servido, pestinhas! — ela diz, animada. Todos se levantam, os seguindo enquanto as vozes ecoam pela casa, enchendo o ambiente com vida e alegria.

Entramos na sala de jantar, onde a mesa está lindamente arrumada, decorada com flores frescas e velas que lançam uma luz suave. Aurora e eu nos acomodamos lado a lado, e enquanto todos estão distraídos com conversas animadas, me inclino em direção a ela.

— Por que veio sozinha de carro? — pergunto baixinho, depositando um beijo suave no ombro dela.

Ela sorri e acaricia minha nuca, o toque dela enviando um frio na barriga.

— Porque vou levá-lo até onde sua surpresa está — responde, dando-me um selinho e se afastando um pouco, segurando meu olhar. A intensidade do momento faz meu corpo queimar em desejo por ela.

Aurora sorri, e, em um instante, sua atenção se desvia para Betina, que começa uma conversa animada. Ela se lança em uma discussão sobre as últimas tendências da moda, engatando um papo leve e divertido, enquanto eu fico em choque, tentando acalmar minha alma que anseia saber que surpresa é essa.

— Olha isso Matteo — Daniel me chama, mas não consigo prestar atenção em nada que ele diz. Independentemente da conversa à minha volta, o pensamento na Aurora e no que ela planejou não sai da minha mente.

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