Capítulo 42
Sentado no sofá do hospital, passo minhas mãos pelos cabelos repetidamente, sinto meus músculos tensos, minha cabeça lateja de dor e tudo o que passa pela minha mente é o nome dela: Aurora, Aurora, Aurora.
Não sei o que sinto, nem o que pensar, já que ela está em cada fragmento de meus pensamentos. Ela está em todos os lugares onde olho, Aurora dominou todo o meu sistema. Mas não posso abandonar a Cristal. Em respeito à nossa história, ao nosso falecido bebê e a tudo o que vivemos juntos por anos. Além disso, ela está assustada e com medo, não reconhece ninguém e está sem memória, sozinha. Não posso deixá-la neste momento.
— Matteo — Ergo a cabeça e vejo meu pai se aproximar. Respiro fundo enquanto ele se senta ao meu lado. — Tudo bem?
— Terminei com a Aurora — Encosto minhas costas no sofá e observo o teto branco. — E não consigo parar de pensar nela.
— Pretende ficar com a Cristal? — Pergunta ele, parecendo incerto. — Sabe que ela está sem memória, certo?
— Foi por isso que terminei com a Aurora — Olho para meu pai, que respira fundo. — Como posso abandonar a Cristal? Ela não tem nenhum familiar vivo.
— Ela sobreviveu sozinha até agora, com nossa ajuda, acredito que ela recuperaria o império e poderia reconstruir sua vida. Até mesmo encontrar um novo namorado — Por mais estranho que pareça, não sinto incômodo em imaginar a Cristal com outra pessoa, mas deixá-la sozinha e desmemoriada, cuidando de um império, seria cruel demais.
— Não posso fazer isso — Digo, levantando-me. Passo minhas mãos pelos cabelos, sentindo a confusão dentro de mim. — Não posso deixá-la sozinha.
— Quando perceber que fez a escolha errada, pode ser tarde demais — Meu pai se levanta e me aponta. — Você se arrependerá de se prender a um relacionamento falso, porque é isso que você e a Cristal serão, um casal de fachada. Você sabe muito bem que seu coração clama por outra pessoa.
Ele me olha por breves segundos e se vira, indo em direção à saída da sala de espera. Bufo, e meus ombros caem, sentindo o peso do mundo sobre eles.
Minha atenção vai até a porta, que é aberta. Minha mãe cruza o limiar, segurando delicadamente no braço da Cristal. Seus olhos, antes alegres, hoje estão fundos e inexpressivos.
— Eu trouxe o médico para falar sobre o diagnóstico da Cristal — minha mãe avisa, e eu concordo com um aceno de cabeça.
— Boa noite, senhor Walton — ele me cumprimenta com um aperto de mão, e eu o observo atentamente. — O diagnóstico da senhorita é uma concussão. Devido à queda, ela desenvolveu uma amnésia retrógrada, na qual a pessoa esquece o que aconteceu antes da lesão. Isso pode ser temporário ou permanente. Como ela passou muito tempo longe de lugares e pessoas que têm memória afetiva, será mais difícil recuperar as lembranças, mas faremos o possível para que suas memórias voltem.
— Eu quero ir para a minha casa — a voz baixa e temerosa de Cristal ecoa pelo ambiente. Troco um olhar com minha mãe, que parece tão perdida quanto eu. — Preciso voltar para casa, senhor.
— Você está em casa, Cristal — minha mãe diz, acariciando suavemente os cabelos dela. — Vamos levá-la para sua verdadeira casa.
— Minha verdadeira casa é no Bronx! Eu quero voltar para a minha casa! Vocês me trouxeram para este hospital e agora querem me impedir de voltar? — Cristal se afasta bruscamente da minha mãe, nos olhando com medo. — Me levem de volta para o Bronx!
— Se você me der uma chance de explicar tudo, eu prometo contar absolutamente toda a história — aproximo-me dela, que recua um passo. — Não precisa ter medo de mim, eu jamais machucaria você.
Cristal parece refletir por um instante. Seu olhar percorre a sala antes de parar novamente em mim. Estendo minha mão, e ela engole em seco.
— Por favor — imploro. Ela respira fundo, cruzando os braços.
— Tudo bem, mas eu não vou para a casa de vocês. Se quiserem conversar comigo, terá que ser em um café ou lanchonete. Não conheço vocês e já confiei demais vindo até aqui para fazer essa bateria de exames.
— Podemos ir a um café na rua de trás do hospital. Assim, você se sentirá mais à vontade — sugere minha mãe, e eu concordo com um aceno de cabeça.
A porta da sala do hospital se abre suavemente, e Betina entra com uma sacola nas mãos. Ela sorri gentilmente, mas há uma leve preocupação em seus olhos. Aproxima-se com passos cuidadosos, como se não quisesse assustar Cristal ainda mais.
— Trouxe algumas roupas para você — diz Betina, sua voz suave, mas firme. — Achei que você gostaria de se sentir mais confortável.
Cristal a olha desconfiada por um instante, mas a expressão tranquila de Betina parece acalmá-la um pouco. Ela assente de leve, e Betina dá mais um passo em sua direção, entregando-lhe a sacola.
— Vamos até o banheiro para você se trocar? — Betina sugere com gentileza, evitando qualquer gesto que pudesse parecer uma imposição.
Cristal hesita, mas ao olhar para a sacola e depois para a porta do banheiro, finalmente assente, levantando-se devagar. Betina segue ao seu lado, abrindo a porta para que Cristal entre.
— Estarei aqui fora esperando por você — Betina diz ao fechar a porta com delicadeza, respeitando o espaço e o momento de Cristal.
Enquanto Betina espera do lado de fora, ela olha para mim e minha mãe com um sorriso reconfortante, como se quisesse garantir que tudo ficaria bem. O médico nos deixa a sós, respiro fundo sentindo um desconforto crescente no meu peito.
Preciso ligar para Aurora e as meninas para pedir desculpas por não ter me despedido ontem à noite — passo as mãos pelos cabelos várias vezes, e minha mãe e Betina me olham com as sobrancelhas franzidas.
— O que você fez? — Betina pergunta, dando alguns passos até parar bem na minha frente. — Matteo?
— Terminei com Aurora — minha mãe me olha com os olhos arregalados. Um suspiro cansado escapa de seus lábios, e ela se senta no sofá. — Foi o certo a fazer. Como eu poderia ajudar minha ex estando com Aurora? Ela se sentiria desconfortável, Cristal se sentiria culpada, e eu ficaria maluco.
— Você não ficaria maluco. Você já é maluco! Só pode ser burro! — Betina gesticula irritada e se vira de costas, respirando fundo. — Idiota! Seu filho é um idiota, mãe!
— Fala baixo — peço, mas ela apenas me lança um olhar de desprezo antes de balançar a cabeça em negação e caminhar até a porta — Onde você vai?
— Ver Aurora. Ela também deve estar precisando de apoio — responde, saindo da sala e batendo a porta com força.
Desvio o olhar para minha mãe, que agora massageia as têmporas. Pigarreio para chamar sua atenção.
— Antes que pergunte, sim, sua irmã está certa — diz ela, se levantando quando a porta do banheiro se abre, lançando-me um olhar de reprovação.
Saímos da sala de espera em silêncio, as palavras de Betina ainda ecoando na minha mente. Ao chegarmos à recepção, vejo o meu pai sentado em uma das cadeiras, com o celular nas mãos. Quando nos vê, ele se levanta rapidamente e caminha em nossa direção com um sorriso tranquilizador.
— E aí, como está indo tudo por aqui? — ele pergunta, olhando primeiro para minha mãe e depois para mim, como se tentasse medir a gravidade da situação.
— Estamos indo — respondo, tentando não parecer tão perdido quanto me sinto. — Vamos até uma lanchonete próximo daqui, precisamos conversar com a Cristal.
— Ótimo, deixamos vocês la. Meu carro está no estacionamento— diz meu pai, acenando com a cabeça em direção à saída do hospital.
Seguimos para o carro dele, um sedan preto, e nos acomodamos dentro. Meu pai está ao volante, com minha mãe no banco do carona. Cristal senta-se ao meu lado no banco traseiro, e eu a observo por alguns segundos. Ela está quieta, seus olhos fixos na janela, com uma expressão distante. Tento buscar qualquer vestígio dos sentimentos que costumava ter por ela, aquele aperto no peito, o desejo de protegê-la... mas nada acontece. Não sinto absolutamente nada.
Isso me confunde profundamente. Antes, só de olhar para Aurora, meu coração disparava, meu corpo inteiro reagia. Com Cristal, é como se houvesse um vazio. Tento entender o porquê, mas não consigo. Será que realmente superei tudo tão rápido? Como posso não sentir nada olhando para alguém que foi minha noiva por tanto tempo?
Espanto esses pensamentos, dando um longo suspiro. Agora não é o momento de pensar nisso. Cristal precisa da minha ajuda, e esse é o foco. Ela está sozinha no mundo, sem ninguém além de mim para apoiá-la. Ela foi minha noiva, compartilhou uma parte importante da minha vida, e eu não posso deixá-la desamparada. Isso é o que importa agora. Tenho que ser forte por ela.
Meu pai dirige em silêncio, percebendo o clima tenso. Minha mãe, sentada à frente, mantém os olhos no caminho, só posso tentar afastar as dúvidas da minha mente. O caminho até a lanchonete parece mais longo do que realmente é, como se cada segundo estivesse sendo esticado por essas incertezas.
O carro desliza suavemente pelas ruas de Nova Iorque até estacionar em frente a uma lanchonete discreta, mas acolhedora. O lugar tem um charme modesto, com janelas amplas e luzes amareladas que criam um clima confortável. Desço do carro logo atrás de Cristal, que ainda parece um pouco hesitante, mas respira fundo antes de seguir em direção à entrada.
Meu pai é o primeiro a abrir a porta, segurando-a para que todos entrem. Uma vez lá dentro, ele lança um olhar para minha mãe, e depois para mim, como se estivesse avaliando a situação. Finalmente, ele se vira para minha mãe, tocando seu braço levemente.
— Que tal a gente deixar os dois sozinhos por um tempo? — sugere em um tom cuidadoso. — Eles precisam conversar com calma, sem pressões.
Minha mãe hesita por um momento, olhando para mim, e depois para Cristal, que evita nosso olhar. Ela parece relutante, mas depois solta um leve suspiro e assente.
— Tudo bem. Vamos dar um tempo a eles. Qualquer coisa, estaremos por perto — diz minha mãe com um sorriso forçado.
Meu pai acena para o atendente e, sem mais palavras, eles saem pela porta da lanchonete, deixando-me a sós com Cristal. O silêncio entre nós é palpável. Escolhemos uma mesa perto da janela, e o clima entre nós é pesado, quase opressor. Cristal mantém os olhos no cardápio, mas eu sei que ela não está lendo nada.
Eu a observo por alguns instantes, tentando achar o que dizer. O silêncio entre nós parece mais denso do que qualquer conversa poderia ser. Mesmo que eu não sinta mais o que costumava sentir por Cristal, a situação em si carrega um peso de responsabilidade. Ela precisa de ajuda, e estou aqui para isso.
O garçom aparece, e Cristal pede apenas um chá gelado, enquanto eu peço um café. Quando ele se afasta, o silêncio retorna, e eu me vejo encarando as mãos, perdido em pensamentos. Tento formular as palavras certas, mas nada parece adequado para o momento.
Finalmente, Cristal quebra o silêncio.
— Eu não sei o que pensar. — Sua voz é baixa, quase um sussurro, e quando ela finalmente me olha nos olhos, vejo a vulnerabilidade que está tentando esconder — Não sei mais quem sou.
Eu me endireito na cadeira, tentando encontrar o equilíbrio certo entre sinceridade e apoio. A lanchonete parece ficar ainda mais silenciosa ao nosso redor.
— Vou ajudá-la a entender tudo — bato levemente a ponta dos dedos na mesa, tentando aliviar a tensão. — Estou aqui para ajudá-la, e vou provar que não estou mentindo.
— Eu sinto que você não está mentindo, mas tudo isso é muito estranho. Vinte e quatro horas atrás eu era apenas uma motorista, e agora sou uma bilionária desmemoriada — ela gesticula com as mãos, em seguida pega o cardápio novamente. — Preciso que você me conte absolutamente tudo. Não poupe detalhes.
— Claro. Seu verdadeiro nome é Cristal Castellini. Nos conhecemos na faculdade...
Começo a contar tudo, desde o início, com o máximo de cuidado para não cometer erros. Relato cada detalhe que passa pela minha mente, desde o primeiro momento em que nos vimos na faculdade até o trágico dia do acidente que ela sofreu. Cristal ouve tudo com atenção, e vejo suas mãos se movendo até a barriga quando menciono o bebê que ela certamente perdeu.
Seus olhos começam a brilhar com lágrimas, e a tristeza é evidente no seu olhar. Respiro fundo, finalizando a história, sentindo o peso de tudo o que acabamos de reviver.
Cristal permanece em silêncio por um momento, absorvendo cada palavra que acabei de dizer. Então, lentamente, vejo suas lágrimas deslizarem por seu rosto. Ela tenta limpá-las com as costas das mãos, mas é em vão; as lágrimas continuam a cair, refletindo a dor que carrega.
— O bebê… — ela sussurra, a voz embargada pelo choro. Seus ombros começam a tremer levemente, e ela coloca as mãos sobre a barriga de novo, como se estivesse tentando sentir alguma conexão com algo que já não está mais lá. — Eu nem sequer me lembro dele… Não consigo… E mesmo assim… sinto tanto a sua falta.
Minha garganta aperta. Ver Cristal tão devastada, lamentando algo que ela sequer sabia que tinha perdido, é como um golpe no estômago. Tento encontrar palavras de consolo, mas elas parecem vazias. Em vez disso, me inclino para frente e seguro suas mãos, que tremem levemente.
— Cristal… — começo, mas minha voz falha. Respiro fundo, tentando manter a calma por ela. — Eu sei que é difícil. E eu… eu também sinto essa dor. Não há palavras para descrever o que passamos, mas estou aqui agora. Estou aqui para você. Não vamos passar por isso sozinhos.
Ela soluça, apertando minhas mãos como se isso fosse a única coisa que a mantivesse ancorada naquele momento. Seus olhos estão fechados com força, tentando conter a enxurrada de emoções que parecem prestes a transbordar. A dor é crua, visível, e sinto meu próprio coração apertar com a memória daquele bebê que jamais conhecemos.
— Eu não sabia… Eu não sabia... — ela murmura entre lágrimas. — Como eu posso sentir tanto por algo que não me lembro? Isso não é justo. Eu deveria ter estado lá. Eu deveria ter protegido ele...
— Não é culpa sua, Cristal. Nada disso foi culpa sua. — Aperto suas mãos com mais firmeza. — Isso foi um acidente... E, mesmo que não se lembre, acredite você faria de tudo para salvar o bebê caso fosse possível.
Ela me encara por um segundo, seus olhos cheios de lágrimas, mas há algo mais ali, talvez uma faísca de entendimento, ou apenas a necessidade desesperada de acreditar em algo, em alguém.
— Se você quiser, pode ficar em um apartamento próximo ao meu. Dessa forma, será mais fácil para você, e tentaremos recuperar todos os seus bens que foram transferidos para o governo, já que não encontramos nenhum parente vivo seu — digo, enquanto ela observa suas mãos. — Vamos tentar recuperar tudo, não se preocupe.
— Não me importo com esses bens. Quero ter minhas memórias de volta, quero saber quem sou de verdade — responde ela, passando a mão pelo rosto repetidamente. — Me ajude com isso, e eu serei grata pelo resto da minha vida.
— Claro que vou ajudá-la, mas para isso, você precisa aceitar morar no apartamento. O Bronx é um bairro perigoso, e tenho certeza de que isso está atrapalhando sua recuperação — explico. Ela assente, parecendo um pouco envergonhada.
Amanhã, vou querer saber como você conseguiu sobreviver todo esse tempo. Mas deixarei isso para amanhã. Você parece exausta, assim como eu. Preciso ir com calma para não acabar a assustando.
— Obrigada — Ela sussurra me encarando nos olhos, sorrio brevemente e aceno para o atendente trazer a conta.
Se a decisão de deixar a Aurora pareceu ser a mais correta, por que me sinto tão incompleto sem ela?
❤️ O que estão achando dessa nova versão?
❤️ Não esqueça de deixar sua estrelinha ✨
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