10.
Quem não era, de certeza, presença habitual na Velha Senhora era aquele grupo que ainda permanecia com as mesmas bebidas poisadas sobre a mesa que haviam pedido ao princípio, mas agora já vazias. Nunca tinha visto nenhum deles por aqui mas tinha a leve sensação de que os conhecia de algum lado, apesar de não saber de onde. Decidiu então abandonar o assunto, assim como o palco, e seguiu para o camarim.
Poucos minutos depois, viu Márcio a entrar pela divisão adentro quando ainda se encontrava a trocar de roupa. Não era coisa que a preocupasse, já que havia confiança entre ambos e estavam completamente à vontade um com o outro.
–Oh Sofia, andas a progredir muito! Até estou admirado! Então tu já tens admiradores famosos e não me dizias nada? – Exclamou. Ele bem tinha reparado na presença de Rui na sala,
bem como na maneira ávida como ele a tinha olhado durante o espetáculo.
–Ah? Admiradores famosos? Mas estás a falar de quem? – Perguntou Sofia confusa e aproximando-se de Márcio.
–Por amor de deus, não me digas que não reparaste naquele grupinho de jeitosos que está lá dentro na mesa 3! – Exclamou Márcio com uma cara altamente escandalizada. Puxou pelo braço da amiga e, a partir de um determinado ponto devidamente resguardado dos olhares mais curiosos, perto do camarim, deitaram os olhos para a sala. Ainda lá estavam Rui e o seu grupo, na mesma mesa, a conversar. Rui estava, porém, mais distante da conversa. Tinha o olhar vago e perdido, como se estivesse à procura de algo sem saber bem o quê.
–Olha ali àquele canto! Não estás a reconhecer o da ponta? – Perguntou Márcio, apontando para a mesa onde estavam Rui e os amigos.
–Bem… que PÃO!! – Exclamou Bianca que também tinha vindo espreitar, curiosa.
–Pão? Ó filha, aquela mesa é uma padaria inteira! É cada um melhor que o outro! – Exclamou Márcio mais uma vez.
–Mas estás a falar de quem? O de casaco cinzento à direita? – Perguntou Sofia.
–Sim, esse mesmo! – Confirmou Márcio. – Não estás mesmo a ver quem é, pois não?
–Assim de repente não! – Respondeu Sofia. – Mas diz lá quem é, já agora!
–Ó mulher, então não vês que aquele é o Rui Patrício, o guarda-redes do Sporting! – Revelou Márcio como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
–E eu sabia lá! Não costumo ver futebol! – Exclamou Sofia regressando ao camarim.
–Mas olha que fazes bem mal, Sofia! Eu bem reparei na maneira como ele olhou para ti! Ele e o grupinho de jeitosos que veio com ele! – Incitou Márcio fazendo jus à sua fama de alcoviteira.
Era quase sempre dos primeiros a perceber quando é que alguém estava interessado em alguém. E mesmo quando não havia interesse, atirava o isco na mesma só para ver no que dava.
–Então… estavam a apreciar o espetáculo como qualquer outro espetador da sala, não? – Refutou Sofia, que se encontrava já a vestir a sua própria roupa.
–O espetáculo e não só! Porque é que não vais lá falar com ele? – Sugeriu Bianca.
–O quê, mas tu agora também deste em casamenteira como o Márcio? – Exclamou Sofia. Pelos vistos queriam arranjar-lhe um namorado à força toda.
–Oh, vá lá! Não te custa nada ires lá dizer-lhe olá! – Insistiu Márcio enquanto Bianca semicerrava levemente os lábios para não se desmanchar a rir. Ambos achavam que um namorado não iria, com certeza, fazer mal nenhum a Sofia.
–A sério, vocês os dois juntos são piores que as revistas cor-de-rosa! Nem sei como é que vos aguento! – Exclamou Sofia já cansada de estarem a insistir no assunto.
–Sim, nós também gostamos muito de ti! – Respondeu Bianca.
Acabou de se vestir e, colocando a mala ao ombro, despediu-se:
–Vou mas é andando. Boa noite a todos! – Saiu do camarim, contornou o balcão de atendimento e, antes de abandonar o estabelecimento, fora interpelada por Rui, que a seguiu com os olhos durante o percurso até se aproximar da mesa onde este se encontrava.
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Aquele Márcio saiu-me cá uma alcoviteira, não concordam?
Acham mesmo que há ali interesse ou é só o Márcio a ver coisas onde elas não existem?
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