31 de Outubro de 2017
Ouça-me, escute meu silêncio, não tenho nada parar falar-lhe hoje, acho que nunca tenho, nunca sequer tive. Se escrevo aqui é porque amanhã é uma quarta que preludia não te fazer aparecer — de novo. É isso, só haverá mais uma ou duas quartas e, vendo-te ou não nelas, serão as últimas.
Vejo as horas e as datas, penso na intensidade da mutação das coisas; agora são 11:10 e já podem sair com os cadernos, já é quase meia noite do outro lado do mundo e muita gente dorme, há alguém fazendo algo importante para mim e para a humanidade, eu estou aqui pensando. Mantenho essa fixação por esses números e divisões — segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas — que não passam de invenções humanas, não existem senão para nós. Às vezes parecem despir-se mais para mim que para os outros; levam-me para caminhar junto, regressamos ao passado, avante ao futuro; sou triste em ambos. Fazem-me lembrar de que houve dias de uma felicidade absurda, tão desavergonhada e despretensiosa. Fui feliz em imemoráveis vezes e circunstâncias que hoje me são impossíveis de conceber felicidade. Então, invento causos para uma data longínqua; eles são melhores dos que eu terei. E tudo que veio antes de mim e tudo que viria a ser depois fora e seria melhor. Assim se passam os dias, assim se passam as quartas.
Minha vida está longe de se resumir em você — como minhas palavras podem leva-lo a crer —, mas boa parte dela o é. Que farei eu, então, no trinta e um de outubro daqui a dez anos? Não estarei contigo. Não estarei. Fico bestificada quando me dou por conta disso, que haverá um dia e uma hora em que eu não o terei nem perto. Que sejam invenções humanas ou não, não diminui o quão dramático será possuir dias de sua ausência, não os segundos, as semanas ou os meses inventados, mas o resto, sem identidade, somente o que virá em seguida ao depois. Agora umas quatro ruas no separam, noutra nossa distância tem o tamanho de uma vida; algum de nós dois se vai, eu ou você e um que sobrar não aperceber-se-á do outro que já foi; eu, meu amor, vou-me embora no outro dia.
Estou tão triste por tua falta.
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