1 de Janeiro de 2018


Que mentira, que mentira essa coisa de só haver uma morte, aquela última que só existe quando as contrações se aniquilam e o movimento cessa; ela não é nada mais que isso, a morte da fluidez. Eu vou morrendo, nós vamos morrendo, partes largas de mim já morreram, hoje uma enorme feneceu; o resto permanece como que igual, sobrevivendo a cada morte para que talvez morra na próxima. Estamos sempre, inevitavelmente, morrendo. Toda e qualquer vida só existe para se fazer morrer, é a única ação que se recicla e se repete. Estou cansada, estou cansada de morrer.

Hoje A. morreu. Queria lhe falar sobre A., mas não consigo. Há opostos que só existem para alguém ou algo; vocês dois são os opostos só enxergáveis a mim. A. lá, você, G., cá. Não se misturam, não há metalinguismo que me faça pôr nesse escrito que é teu uma parte minha que é A.. Mas não posso deixar que essa verdade escape, A. disse que havia acabado, que também estava cansado e outras tantas coisas terríveis que não consigo desmentir por serem meia verdades. Eu queria que A. soubesse, como agora você e esse papel sabem, que eu o amo e que sou complicada de uma forma ruim; não me orgulho do que sou, sinto-me terrível pelo que eu posso ter feito a ele nesse esvaziamento que me preencheu para desalojar o resto que fora minha parte boa. A., eu o queria ao meu lado, mas não como quero você ao meu. Ele compreendeu a isso, mas quis negar a si mesmo, insistiu e eu deixei que ele insistisse porque do contrário ele iria embora e me deixaria só — como ele fez agora. Ele diz que me ama e eu queria que ele ignorasse a forma e ficasse comigo por essa coisa que há entre nós dois. Mas ele quer que eu o ame ao modo dele e é essa a sua condição para ficar comigo. E assim as coisas se acabam, e assim hoje essa parte morreu imitando as mortes antecessoras e vindouras.

Eu estou completamente sozinha, G., completamente sozinha. Estou desesperada como os cães e gatos que agora têm os miolos estourados por fogos; estou triste como a mais infeliz das almas em um fim de ano ao se dar conta de que a busca pelo tempo perdido é mais uma nova perda de tempo.     

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