Era uma vez no México Parte 2


Tijuana, México, dia do arrebatamento - 17:10

- Meu nome é Yolanda, sou enfermeira-chefe deste hospital - a mulher disse enquanto caminhavam pela recepção - e o que tenho para lhe falar, minha jovem, não é nada bom.

- Tem a ver com os meus pais? - Serena perguntou, aparentemente temerosa com a resposta que pelo tom de voz da enfermeira não seria nada boa - Onde eles estão?

- Sim e se eu não estivesse perto deles quando aconteceu, eu nem acreditaria - disse Yolanda. Os olhos dela transmitiam todo o espanto que a cena a qual se referia lhe causou.

- Eles morreram? - a jovem perguntou, dominada pela impaciência e desespero, enquanto seguia a mulher que não parava de andar.

Após passar por alguns corredores, Yolanda parou na porta de uma sala e ao olhar para dentro, Serena correu até a maca onde seu pai se encontrava desacordado e ajoelhando-se chorou amargamente, por ele estar vivo e por estar desacordado em um leito de hospital.

- O que aconteceu com eles? - Samuel perguntou, se aproximando do leito junto com a enfermeira - Você disse que não acreditaria se não tivesse visto.

- ¿donde está mi madre? - Serena perguntou aos soluços, levantando os olhos marejados na direção deles - ¿ella está muerta?

- Na verdade não é tão simples assim - Yolanda começou a dizer - e peço perdão por todo esse floreio em contar, mas mesmo tendo visto, ainda custo a acreditar.

" Estávamos na hora da pausa e sempre jantávamos juntos, pois eu adorava ouvi-los falando de você. Desde que eu perdi marido e filha em um acidente, o hospital tem sido a minha casa e vê-los tão apaixonados como eram e o amor que têm por vc, me confortava.

" Era por volta das duas e meia da manhã quando tudo aconteceu. As luzes começaram a piscar e o prédio inteiro começou a tremer como em um terremoto. Ao olhar para os dois, que estavam abraçados, vi que uma luz forte envolveu a Dolores. Antônio segurou a mão dela o quanto pôde, mas foi lançado contra a parede como se tivesse sido atingido por um relâmpago, enquanto a luz a consumia. Foi tudo numa fração de segundos e a luz era ofuscante demais, mas quando o clarão se foi e o tremor parou, só as roupas de sua mãe restaram no chão do refeitório.

- Ela se foi para sempre então? - a jovem perguntou chorosa.

- Lo siento niña, pero no podré responder eso, - a enfermeira disse, aproximando-se e fazendo-lhe um carinho - tudo o que pude fazer foi cuidar de seu pai.

- Eu vou preparar algo para você comer - Yolanda continuou -, precisará estar forte quando seu pai acordar, ele vai precisar de você.

"Muitos médicos sumiram da mesma forma e os que ficaram, correram desesperados para suas famílias. Os funcionários e pacientes que podiam andar, fugiram em desespero e os que dependiam de aparelhos, morreram.

"Durante o dia, enquanto nós arrumávamos o hospital e cuidávamos dos pacientes que restaram, um grupo invadiu e tentou saquear a nossa farmácia, mas o José e o Alonzo deram um jeito neles. Nós tivemos sorte de termos algumas armas no posto policial do hospital, porque os delinquentes voltaram com mais homens e houve troca de tiros na recepção. O José foi atingido e não resistiu, enquanto nós matamos todos eles. Alonzo então teve a ideia de montar o cenário que vocês viram lá fora, para tentar afastar novas invasões até os pacientes estarem melhores para saírem daqui, ou até que esse pesadelo acabe."

- Ficará tudo bem meu amor - Samuel disse, abraçando a jovem que chorou em seu ombro -, vamos descobrir o que aconteceu com a sua mãe e havendo algo que possamos fazer para trazê-la de volta, nós o faremos!

- Eu sinto que ela se foi pra sempre Samu - Serena disse, olhando para ele com lágrimas escorrendo de seus olhos - e eu não vou ter a oportunidade de pedir desculpas. A gente brigou ontem, antes dela vir trabalhar e eu disse que eu não era feliz do jeito que me tratavam. Como vou poder consertar isso agora?

- Sua mãe sabia o quanto você a amava, pequena - Yolanda disse, voltando e lhe entregando um copo com água que ela bebeu imediatamente -, inclusive me disse no início do turno que achava que estavam pegando pesado demais com você quanto às cobranças e que estava prestes a deixá-la namorar com Samuel.

- Venha comigo - continuou a enfermeira -, vamos comer um pouco de sopa e depois descansar.

Eles seguiram para o refeitório em silêncio e se alimentaram. O cansaço daquele dia maluco parecia enfim ter pesado-lhes sobre os ombros e após Alonzo dizer que ficaria de guarda, eles foram dormir.

Após uma noite curta e sem sonhos, Samuel acordou, com os primeiros raios solares batendo avermelhados contra a janela e passando pelas gretas das persianas. Um barulho chamou sua atenção e levantando-se com cuidado para não acordar Serena, ele foi até o refeitório onde viu que Martim preparava uma bolsa.

- Não podemos ir antes que o Doutor Jiménez melhore - Samuel disse ao entrar no recinto - Não podemos deixar ele para trás!

- Eu entendo Samuel - Martim respondeu, colocando algumas armas na bolsa e se virando para o amigo -, por isso eu irei sozinho. Preciso saber se minha família está bem!

- Eu sinto não poder ir com você - Samuel disse com um semblante triste.

- Eu sei disso, cara - Martim respondeu com um sorriso -, você é do tipo que quer proteger todo mundo.

- Faz o seguinte - continuou o policial, estendendo um papel para ele -, aqui está o endereço da minha casa. Eu os esperarei lá para irmos para os Estados Unidos. Venham assim que puder.

- Nós iremos! - Samuel confirmou estendendo a mão que foi apertada firmemente pelo outro que, após um tempo, pegou a bolsa e, entrando no carro que pegaram na casa de Serena, partiu sem olhar para trás.

Samuel viu o outro jovem partir em silêncio. Mesmo sabendo que ele tinha que ir, a ideia dele sair sozinho não o agradava. Não o conhecia bem, mas Martim mostrou ser de confiança e seria um bom aliado para enfrentar toda essa crise.

Olhando para a palma de suas mãos, ele se lembrou do que sentiu quando enfrentou os policiais na manhã anterior e tentou novamente manifestar aquele poder, mas sem sucesso dessa vez. Talvez precisasse de algum gatilho para usá-lo, então desistiu e se virou para voltar ao hospital.

Não sabia quanto tempo ficaria ali, então precisava se reunir com Alonzo e Yolanda para saber como poderia ajudar a cuidar dos pacientes e a defender o hospital caso fosse necessário.

Algumas semanas depois, o Doutor Jiménez acordou. Devido à descarga elétrica que levou ao tentar proteger sua esposa e também por ter ficado tanto tempo inconsciente, ele teve dificuldades para voltar a andar, mas com esforço e exercícios, recuperou-se totalmente em menos de um mês.

Nesse período outras pessoas buscaram abrigo no hospital e eles não tiveram como recusar, agora com o Doutor Jiménez bem, ele pode tratar melhor dos feridos e assim talvez ficassem bons o suficiente para seguirem suas vidas sozinhos, ou para que pudessem deixar o hospital rumo à Washington D.C, nos Estados Unidos, para onde Thalia disse que iriam e onde acreditavam que teriam mais chances de sobrevivência.

Eles tiveram de fazer do hospital uma base de refúgio por mais alguns meses. Cada vez mais pessoas chegavam procurando ajuda e os relatos sobre atrocidades causadas por demônios passaram a ser cada vez mais comuns. A situação só piorava e Samuel se viu no meio de um dilema entre ficar e ajudar aquelas pessoas e ir atrás de sua família dos quais à muito tempo não tinha notícias.

Seis meses depois que chegaram em Tecate, eles já tinham uma base sólida e vendo a angústia de Samuel, O doutor Jiménez, ou Antônio como o jovem passou a chamá-lo após ganhar sua confiança, o aconselhou a ir atrás de sua família, mesmo que Serena não quisesse acompanhá-lo. Ele precisava saber se eles estavam bem, ao mesmo tempo em que não poderiam viver naquele hospital para sempre, pois os recursos naquela região iriam acabar em breve.

Indo até Washington, Samuel poderia conseguir ajuda para eles, já que uma viagem daquelas com todas aquelas pessoas era inviável, mas uma pessoa só poderia conseguir passar despercebida. Em todo caso, não teriam muitas esperanças, por isso, ele ir sozinho seria a melhor opção.

Após explicar tudo para Serena, ambos concordaram que deveria ser feito dessa forma e após uma noite de amor como nunca tiveram antes, ele partiu em sua jornada antes que ela acordasse.

Sonora, México

Seis meses após o arrebatamento - 17:30

Samuel estava exausto. Tinha decidido que passaria na cidade onde Martin disse que morava com sua família, mas a jornada desde Tecate até Ciudad Juarez, estava parecendo uma travessia através do próprio inferno. A destruição causada pelos humanos desesperados era um testemunho sombrio do que a sociedade havia se tornado após os desaparecimentos de seis meses atrás, mas Samuel tinha esperança de que o amigo e sua família estivessem seguros e bem. Ele possuía poderes que ainda não compreendia totalmente. Poderes semelhantes aos dos heróis das revistas que a sua irmã colecionava e que se manifestavam em momentos de extrema emoção, sem seu controle consciente.

Teve muitos problemas no percurso até ali, ajudando pessoas feridas e as orientando para que procurassem o Hospital Geral de Tecate, onde encontrariam um médico e outros sobreviventes. Algumas dessas pessoas relataram terem visto demônios, mas o jovem não sabia se eram apenas alucinações causadas pelo desespero ou pelos ferimentos, então não levou os relatos muito a sério. Enquanto vasculhava uma loja procurando por uma bateria para uma motocicleta que tinha encontrado com combustível, aconteceu uma explosão que derrubou toda estrutura do prédio onde a loja ficava, sendo que ele teve tempo apenas de se abrigar atrás de um balcão de madeira, escapando de ser esmagado, mas ficando preso sob a pilha de escombros.

Enquanto procurava por um modo de escapar daquela situação, tentando abrir uma brecha por onde poderia passar, ele teve a segunda manifestação dos poderes que o salvaram dos policiais no dia dos desaparecimentos. Estava retirando os escombros para criar uma brecha por onde poderia sair, mas acabou retirando uma pedra que estava servindo de escora, causando um novo desmoronamento. Ele fechou os olhos e esperou ser esmagado, mas nada o atingiu. Para a surpresa dele, os pesados pedaços de laje e de parede estavam flutuando, como se fossem apenas poeira no ar.

À medida em que ele andava, as coisas ao seu redor iam flutuando e o que se afastava dele caía pesadamente no chão, como se ao seu redor existisse um campo antigravitacional. Lembrando-se do modo como controlou as ações dos soldados e fez com que eles atirassem um no outro, Samuel estendeu a sua mão espalmada e sentiu como se pudesse tocar todas as rochas que flutuavam ao seu redor, então ordenou mentalmente que elas se organizassem em um canto e, enquanto ele caminhava rumo à saída, as rochas e demais escombros iam saindo da sua frente apenas com um comando de pensamento, até que se viu do lado de fora.

Aquele poder era maravilhoso, mas pareceu se dissipar assim que ele saiu da situação de perigo em que estava. Além disso, sentiu-se extremamente cansado, como se usá-lo exigisse muita energia, então decidiu procurar um lugar para dormir antes de prosseguir com a sua viagem. Nos seis meses que ele passou no hospital, ouviu diversas teorias sobre o que tinha acontecido no mundo, mas a que mais fazia sentido, por mais fantasiosa que pudesse soar aos seus ouvidos, era a do arrebatamento cristão. Segundo as escrituras que a sua mãe insistia em ler para ele, os escolhidos seriam levados, enquanto as pessoas que ficassem para trás iriam sofrer as tribulações de um mundo sem o Espírito Santo de Deus.

Ele nunca acreditou em nada naquilo, mas as pessoas sumiram, o caos tomou o mundo e, não bastasse isso tudo, ele ainda tinha manifestado aqueles poderes milagrosos que o tinham salvado por duas vezes. Ele preparou o seu kit de dormir, após constatar que o local escolhido era seguro e antes de se deitar, limpou os cortes que sofreu e fez alguns curativos. Minutos atrás ele quase morreu e precisaria ser mais cuidadoso se quisesse encontrar a sua família e ajudar os seus amigos de alguma forma. Não sabia se aquele poder iria salvá-lo novamente, então não podia cometer erros. Não conseguindo mais suportar, ele não demorou para ser vencido pelo sono.

Quando acordou, o sol ainda não tinha nascido, mas o relógio marcava cinco horas da manhã. Foi ótimo ter dormido por tantas horas, mas não podia perder mais tempo, então guardou as suas coisas e seguiu viagem. Após duas horas de viagem, viu a placa de Sásabe e seguiu. Estava no estado de Sonora, logo, tinha coberto metade do caminho até Ciudad Juarez, que ficava no estado de Chihuahua. Enquanto passava pelo centro da cidade, um rugido distante e o som de tiros o alertaram. Com cautela, Samuel se aproximou do tumulto, escondido pelas sombras das ruínas e, virando uma esquina, o que viu o fez gelar. Soldados desesperados descarregavam suas armas na direção de criaturas monstruosas que se aproximavam, mas os tiros não pareciam fazer nenhum efeito além de enfurecê-las. As criaturas eram inomináveis, com pele escamosa e olhos brilhantes que pareciam não conhecer misericórdia.

Enquanto os monstros avançavam e massacravam os soldados, Samuel tentou se esgueirar para longe da cena, mas, sem querer, encostou em um carro enferrujado, ativando o alarme estridente. Os olhos das criaturas se voltaram para ele imediatamente. Seu coração disparou, e ele correu desesperadamente em direção a um shopping abandonado nas proximidades, esperando que o som das sirenes e o brilho das luzes piscando os distraísse o suficiente para ganhar alguma vantagem.

Entrando no shopping, Samuel continuou sua fuga frenética. Mas as criaturas eram implacáveis e o seguiram, parecendo sentir o seu cheiro. Eram mais rápidas do que ele imaginava e, no desespero, parecia que podia até sentir o hálito quente e repulsivo delas em sua nuca. Precisava encontrar um esconderijo rapidamente, então retirou a jaqueta e a blusa que usava e as jogou em direções diferentes, tentando atrapalhar o rastreamento dos inimigos.

Desesperado, Samuel entrou em uma loja escura e empoeirada, deixando a porta entreaberta para que as criaturas não suspeitassem. O som de suas garras raspando contra o chão do shopping ecoava em seus ouvidos enquanto vasculhavam o local, procurando por ele, mas pareciam estar se distanciando, talvez seguindo as roupas que ele tinha jogado pelo caminho.

Samuel tentou se acalmar e se concentrar em seus poderes, enquanto olhava para a porta com o coração acelerado. Ele sabia que precisava controlá-los se quisesse sobreviver. Tentou se lembrar dos momentos em que conseguira mover objetos com a mente e manipular a gravidade sem entender como. Com concentração intensa, ele focou em um objeto pequeno à sua frente, sentindo que estava prestes a movê-lo, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma sombra se aproximou de sua retaguarda e um golpe forte o atingiu. Sentindo uma dor aguda na nuca, ele perdeu os sentidos sem saber quem ou o que o tinha atingido.



Ele acordou em um lugar desconhecido, com a cabeça latejando. Abriu os olhos lentamente e percebeu que estava em uma sala escura, com pouca luz filtrando pelas janelas cobertas por pesadas cortinas. A sensação de desorientação era avassaladora. Enquanto tentava entender onde estava e o que tinha acontecido, ele ouviu um som estranho vindo de algum lugar próximo. Era um tilintar metálico, como se alguém estivesse mexendo em panelas e utensílios de cozinha.

Sam levantou-se com cuidado e cambaleou na direção do som, movendo-se silenciosamente. Foi então que ele ouviu uma voz feminina cantando uma música que ele conhecia bem: "Vete, Cucuy, vete de prisa, el bebé está listo para su brisa. Papá se va al trabajo, mamá temprano se levanta, el bebé ha de dormir sin miedo, sin quebranta."

- ¡Los demonios ya se han ido! - ele ouviu a voz feminina dizer assim que ele entrou na sala e viu uma pequena figura feminina mexendo em uma panela improvisada sob um fogão também improvisado. Era uma jovem, com não mais do que quinze anos, mas sua expressão era determinada, e ela parecia estar acostumada a se cuidar sozinha.

- A minha mãe cantava essas músicas para eu dormir - ela continuou, retirando a panela do fogo e a levando para uma mesa onde dois pratos esperavam -, quem diria que esses monstros que eram usados para assustar as crianças eram de verdade!

Samuel, ainda um pouco tonto, tentou processar o que estava ouvindo. Então se lembrou das criaturas que o seguiram até o shopping. A garota tinha razão, os monstros dos pesadelos e das lendas estavam atacando as pessoas e ele mesmo, quase tinha sido morto por eles. A menina serviu os dois pratos com uma mistura de feijão e carne que não tinha uma aparência muito convidativa, mas tinha um cheiro ótimo. Ele então ele se aproximou da mesa também, não tinha se alimentado direito desde que saiu do hospital.

- Eu te golpeei porque pensei que era um dos bandidos que estavam me perseguindo - ela disse, arrastando o prato até ele e pegando o dela -, mas vasculhei a sua mochila e constatei que é apenas um viajante, então peço desculpas.

Samuel balançou a cabeça afirmativamente, enquanto pegava o seu prato e eles começaram a comer em silêncio. A comida estava deliciosa e ele sentiu lágrimas querendo brotar de seus olhos ao se lembrar da comida de sua mãe e até da comida de Thalia, que também era boa, apesar dele nunca ter admitido para ela. A saudade era grande e a angústia de não saber se eles estavam bem, também o cortava com força.

- E as criaturas que me perseguiam antes de você me nocautear? - ele puxou assunto para ajudar a controlar as lágrimas - Era delas que estava falando quando disse que os demônios foram embora?

- Sim. Eles estão por toda parte nesta cidade - a menina respondeu, sem olhar para ele -, então depois que a gente comer, é melhor que você vá para longe daqui.

- E quanto a você? - ele se lembrou que ela tinha dito que estava fugindo de bandidos - Porque não deixa a cidade também? Não é mais fácil fugir dos tais bandidos que mencionou estando longe daqui?

- Eu devia fazer isso sim - ela disse, colocando o prato em cima da mesa e olhando na direção dele -, mas não vou me perdoar se deixar os outros em poder deles. Eu fui capturada em Ciudad Juarez, enquanto procurava comida para a minha família. Eles me pegaram de surpresa e me prenderam junto com outros adolescentes em um caminhão. Eu aproveitei que eles precisaram parar para procurar combustível e dei um jeito de fugir, mas os outros não conseguiram escapar. São mais de dez reféns entre garotas e garotos.

- Mas como sabe que eles ainda não deixaram a cidade? - ele perguntou, terminando a refeição e deixando o prato na mesa também.

- Eles vieram atrás de mim, mas eu me escondi e comecei a vigiar os movimentos deles - a menina começou, empolgada por estar contando os seus feitos para ele -, mas eles tiveram que se esconder também quando os demônios começaram a aparecer. Não encontraram nenhum combustível nessa parte da cidade, então não puderam seguir com o caminhão e não sobreviveriam levando os reféns a pé. Alguns deles foram com motos procurar combustível em outras áreas, mas não retornaram ainda.

- Eu estou indo para Ciudad Juarez - Samuel disse, olhando fixo para ela -, porque não vem comigo? Podemos ajudar um ao outro.

- Eu agradeço a oferta - a meninas disse, indo até uma janela e olhando para fora para observar o movimento -, mas como já disse, não conseguiria viver sabendo que deixei aqueles meninos e meninas em poder daqueles desgraçados.

- Deixe-me dar uma olhada no ferimento que fiz em sua nuca - ela continuou, indo até ele -, parece que a área está limpa, então se quiser seguir viagem, esse é o momento!

- Eu até esqueci que você me bateu - ele riu, enquanto ela retirava o curativo que tinha feito -, já não sinto mais nada.

- É porque não tem mais nada - ela exclamou, se afastando alguns passos, como se tivesse assustada -, é impossível ter se curado assim. É como uma história que o meu irmão me contou e que aconteceu onde ele trabalhava em Tecate. Ele disse que um homem que ele conheceu controlou dois policiais que iriam matá-lo só com a força da mente e também se curou rapidamente após ter sido brutalmente espancada.

- Você é irmã do Martin? - ele perguntou, assustado com a coincidência, levantando-se e se virando para ela.

- E você é o Samuel! - ela afirmou, com espanto no olhar, vendo que a história que seu irmão tinha lhe contado era verdade. - Eu me chamo Paola e o meu irmão se refere a você como "El Santo".

- ¡Madre de Dios! - ele exclamou, se aproximando dela. - É ótimo nossos caminhos terem se cruzado! Eu preciso ir até ele, ele está bem?

- Os nossos pais morreram no caos do dia dos desaparecimentos, então eu fui até onde ele mora com a esposa e passei a morar lá com eles - ela explicou, olhando para ele com os olhos arregalados, como se olhasse para uma entidade sobrenatural -, e acabei ficando encarregada de procurar comida e aprendi a me virar nesse tempo. O meu irmão ficava em casa para evitar a invasão de pessoas desesperadas. Tem cinco dias que não o vejo, mas não devem estar preocupados comigo ainda, já que costumava ficar dias sem voltar.

- É um prazer conhecê-la, Paola! - ele disse sorrindo. Tê-la encontrado era uma sorte que ele não vinha tendo há algum tempo. - Me leve até ele, por favor!

- Eu levarei - ela começou a dizer, olhando para ele fixamente, e fez uma pausa deixando claro que tinha uma condição -, mas preciso que me ajude a resgatar os reféns dos bandidos!


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