Caminhos Separados Parte 2

Miraculous Clearing, 6:44 am



Mikael acordou com o brilho caloroso dos tímidos raios solares que irrompiam através das folhas da persiana.

Deitado na grande cama de casal, ele evitou fazer movimentos bruscos, tentando não acordar o namorado, que dormia tranquilo com a cabeça encostada em seu peito, porém a tentativa foi em vão e antes que pudesse retirar o braço de debaixo do seu corpo, Raphael abriu os olhos sonolento.

- Onde o senhor pensa que vai - perguntou o enfermeiro entre um bocejo -, saindo assim sorrateiramente da cama, como um amante?

- Ia preparar um café da manhã para trazer para você, amor - respondeu Mikael sorrindo -, mas você estava dormindo como um anjo e eu não queria te acordar.

- Como um arcanjo, amor - disse Raphael sorrindo sonolento, dando ênfase à palavra arcanjo enquanto cobria o seu corpo nu com um lençol e ajeitava o corpo na cama -, não me diminua, por favor, eu vou dormir mais um pouco.

- Dorme sim meu arcanjo. - disse o moreno após uma gargalhada gostosa, inclinando-se e beijando a boca do namorado de leve. - Mais tarde venho te acordar com o café da manhã.

Após tomar um banho, Mikael seguiu para o refeitório onde encontrou seu pai e o professor Vecchio tomando café e conversando. Às vezes os dois ficavam conversando por horas, relembrando momentos dos anos de faculdade, onde eram colegas de alojamento. Jeremias havia contado que é gay e como o preconceito era terrível naquela época, tanto que o único que aceitou dividir o alojamento com ele, fora Ben.

- Bom dia filho! - disse Ben animadamente assim que o viu chegar. - Venha e faça o desjejum conosco!

- Acho que está passando tempo demais com o professor, pai! - brincou o jovem. - Que palavras são essas?

- Foram tantas primaveras subtraídas pelos estudos, que já havia até olvidado da comicidade dos mancebos. - disse o professor, após rir da brincadeira do jovem. - E aposto que não entendeu essa também!

- Então Jeremias Vecchio também tem senso de humor. - disse Mikael rindo, surpreso com a brincadeira enquanto se sentava para tomar o café.

- À propósito, filho - Ben disse -, o que acha de você e o Rapha participarem da reunião do grupo de apoio hoje?

- Acho que podemos sim! - respondeu ele, após tomar um gole da bebida quente. - Assim que o Rapha acordar eu falo com ele.

- Será maravilhoso! - O Pastor disse sorrindo com a resposta positiva. - E isso me faz lembrar que tenho que preparar o conteúdo de hoje, se me dão licença.

- Eu vou te acompanhar, Ben. - o professor disse, levantando-se logo após o amigo. - Me desculpe não lhe fazer companhia Mikael, mas preciso olhar se as sementes que fizemos em laboratório germinaram. Precisamos acelerar o plantio, ou ficaremos sem grãos já que faz tempo que não chove.

- Tudo bem, eu não irei demorar aqui. - o jovem respondeu com um sorriso simpático. - Fiquei de levar o café para o Rapha.

- Hmmm que romântico! - brincou Vecchio antes de se retirar junto com Ben.

Sorrindo, o jovem terminou seu café e preparou uma bandeja com café, sanduíches e frutas para levar até o quarto deles. Sabia exatamente tudo o que ele gostava, não era tanto tempo assim de namoro, mas como estavam sempre juntos, puderam se conhecer muito bem.

Com a construção da colônia, apenas os arcanjos e líderes como Ben, Vecchio, Thalia e Will ficaram alojados no hospital, que foi reorganizado para ser a base. Como os outros estavam em missão, o hospital estava bem vazio e silencioso, ainda mais pelo fato de Will ter ido com eles. Esperava que todos estivessem bem, afinal eram uma família agora e já haviam se acostumado e se apegado uns aos outros.

Ao entrar no quarto ele colocou a bandeja na mesinha usada para servir os pacientes nos leitos e se aproximando de Raphael deu-lhe um beijo de leve, fazendo-o despertar.

- Hora de acordar, belo adormecido! - ele disse enquanto o namorado o olhava sonolento. - Eu trouxe tudo o que você gosta naquela bandeja ali.

- Na verdade, tudo o que eu gosto é que trouxe a bandeja. - Raphael respondeu, lançando-lhe um olhar manhoso e safado. - Deixa essa bandeja ali e volta pra cama, vai!

- Eu bem que queria - respondeu Mikael, fazendo um biquinho -, mas temos muita coisa pra fazer.

- Olha ele todo responsável! - disse Raphael sorrindo e ajeitando o corpo na cama para que lhe fosse servida a comida. - está aprendendo isso com quem?

- Tenho boas influências! - respondeu enquanto pegava a mesinha com a bandeja, a colocava sobre as pernas ainda cobertas do namorado e se sentava na beirada da cama. - À propósito, meu pai quer que participemos da reunião de hoje.

- Será um prazer! - o enfermeiro disse, enquanto se servia de um sanduíche. - Alguém do mais, o Uri sempre participava. Será bom representá-lo lá e isso pode ajudar a não causar pânico por conta deles terem saído em missão.

- Combinado então! - Mikael disse levantando-se. - Enquanto você come eu vou adiantar os afazeres da manhã para não acumular.

Raphael terminou sua refeição em silêncio, apenas apreciando os deliciosos sanduíches. Mikael realmente sabia exatamente o que ele gostava e mesmo com tudo o que passaram e vivendo em um mundo pós apocalíptico, poderia dizer facilmente que estava vivendo um sonho ao lado dele, pois ele era maravilhoso em todos os aspectos.

Terminando a refeição o enfermeiro tomou um banho rápido e se vestiu, agora já passavam das oito e meia da manhã e as reuniões do pastor Ben eram às nove, então Mikael já deveria estar voltando para eles irem. Eles tinha dividido as tarefas na administração da colônia e a parte que cabia à Raphael era basicamente cuidar da saúde e isso incluía a saúde das plantações e do gado também.

Seu poder lhe permitia cuidar da saúde de tudo o que houvesse vida e isso garantia que não faltaria alimento na colônia, nem com a escassez de chuvas, pois seu poder se aliava à ciência do Professor Vecchio, que juntamente com Gabriel criaram sementes mais resistentes, e que geminavam com pouca ou mesmo sem nenhuma água.

Após Mikael voltar, eles seguiram para a sala de conferências onde o Pastor Ben fazia as reunião. Foram os primeiros a chegar e após um tempo, os outros foram chegando, todos surpresos por eles estarem ali. Eram pessoas que haviam passado por situações traumáticas como todos na colônia, mas que tinham ficado com algum trauma.

- Bom dia, meus queridos! - disse Ben, iniciando a reunião após todos se acomodarem. - Hoje o Uriel não poderá vir, mas vamos contar com a presença do Mikael e do Raphael.

- Meninos - continuou ele, após todos os cumprimentarem -, talvez vocês podem nos falar algo sobre perda e superação.

- Bom dia amigos, como sabem meu nome é Raphael. - o jovem começou e esperou as boas vindas antes de continuar. - Eu morei em um orfanato desde que eu me entendo por gente e vi as crianças sendo adotadas uma a uma, até que eu precisei sair de lá por estar velho demais.

- Eu nunca tive uma família - continuou após uma breve pausa -, por isso a minha família passou a ser as pessoas que precisavam de ajuda e eu me tornei enfermeiro, ainda bem jovem.

- Eu sei que a minha história é diferente da de vocês - ele disse, após um suspiro -, mas eu decidi e aprendi a direcionar a minha tristeza e o meu sentimento de abandono para fazer diferente. Se eu me revoltasse e virasse as costas para os outros, eu seria igual aos que fizeram isso comigo e isso foi e tem sido libertador e gratificante.

- Sempre que eu escuto essa história eu me emociono, Rapha. - Mikael disse. - No meu caso foi diferente. Eu acho que nem meu pai sabe disso, mas quando eu perdi a minha mãe, fiquei revoltado com a vida, com Deus e com ele, por estar pregando a palavra de Deus, mesmo após ele ter abandonado ela.

- Eu não conseguia entender porque pessoas boas tinham que sofrer - continuou após uma breve pausa para respirar -, mas com o tempo a perseverança do meu pai foi me inspirando e eu comecei a me conformar, até o momento em que ao meu ver, Deus pisou na bola mais uma vez e o abandonou para ser julgado e perseguido por suas ovelhas. Mas no meio de toda essa minha revolta, eu vi que se revoltar é o mesmo que propagar o ódio. É simplesmente dar continuidade ao ciclo de injustiça e maldade e então, após conhecer o Rapha e os Arcanjos, que perderam tanto quanto eu ou até mais e ainda assim decidiram não se revoltar, eu consegui seguir em frente.

- Muito bom meninos! - disse Ben, após ouvir atentamente o discurso dos dois. - Que bom que vieram participar conosco hoje. A frase certa para essa sessão da terapia é "seguir em frente". Independente do que aconteceu, talvez perdoar e aceitar seja difícil, mas se cuidarmos de não reproduzir com o próximo o mal que nos foi causado, já estaremos cada vez mais próximos de viver em paz e de reconstruir nossas vidas. Mais alguém quer compartilhar algo?

Pouco a pouco as pessoas na sala foram levantando os braços e compartilhando suas revoltas, medos e incertezas. Por mais que Mikael e Raphael estivessem ativamente no meio de todo caos que o arrebatamento e os demônios causaram na vida de todos, ouvir os depoimentos daquelas pessoas lhes mostrou ainda mais a dimensão da responsabilidade que tinham assumido como arcanjos.

O dia estava transcorrendo normalmente após a sessão de terapia e os todos seguiam suas tarefas diárias, até que o alarme soou, indicando a presença de demônios nas proximidades dos portões. Como protocolo, as pessoas se abrigaram nos búnqueres de segurança e imediatamente, os dois arcanjos se prepararam para o enfrentamento.

Raphael havia melhorado suas habilidades de combate, mas ainda não era um guerreiro. Já Mikael havia se fortalecido ainda mais com os treinamentos e dos demônios conhecidos por eles, apenas Belial com a aglutinação espiritual se equiparava a ele em força e resistência, o que tornava um alívio tê-lo como aliado sendo controlado por Neil.

Do portão eles avistaram um grande grupo, porém apenas alguns deles tinham a aura demoníaca. De longe eles pareciam estar acompanhados de humanos e pareciam estar ajudando-os.

- Eu vou ajudá-los! - disse Raphael, sem pensar duas vezes ao ver que alguns dos humanos estavam feridos, e começou a ir ao encontro deles.

- E se for uma armadilha? - perguntou Mikael, o seguindo.

- Se for uma armadilha, você acaba com eles, ué! - respondeu Raphael, ativando seu espírito e vendo o namorado fazer o mesmo.

- É, faz sentido! - o moreno disse sorrindo após ativar suas chamas.

Ao se aproximar viram que não havia intenções de ataque por parte dos demônios. Eles estavam cuidando daquelas pessoas, sendo que algumas não conseguiam sequer andar e os próprios demônios pareciam estar esgotados tanto fisicamente quanto espiritualmente.

- Nós não queremos lutar! - disse um dos demônios, se afastando do grupo para interceptá-los. - Estamos procurando a proteção dos Arcanjos e se desejarem eu e os outros demônios partimos, mas peço que recebam essas pessoas. Elas não vão conseguir mais vagar por aí.

- Por enquanto apenas se afaste dos humanos, junto com os outros demônios - disse Mikael calmamente. -, depois que o Raphael cuidar deles, nós conversaremos melhor!

- Meu nome é Griakhos e você deve ser Mikael. - o demônio disse e com um gesto de mão, os demônios se afastaram e deixaram Raphael se aproximar. - A sua justiça o precede, somos muito gratos por cuidarem deles.

- Como ouviram falar desse lugar e do meu nome? - o jovem perguntou.

- Acho que não há um demônio no mundo que não tenha ouvido falar nos poderosos jovens Arcanjos - respondeu Griakhos. -, mas Neil e seus demônios nos ajudaram e nos deram a ideia de procurarmos asilo com vocês. Nos encontramos Uriel e Muriel no caminho para cá e eles nos disseram que você e Raphael estariam aqui.

- Se vocês cruzaram com Uriel e ainda estão vivos, eu acredito que podemos confiar em vocês. - Mikael disse, mais tranquilo ao ouvir falar o nome dos amigos. - Onde vocês os encontraram? Eles estavam bem?

Enquanto Raphael cuidava dos ferimentos das pessoas e de alguns demônios também, Mikael conversava com Griakhos e se atualizava sobre os acontecimentos. Saber que Balthazard e Lilith estavam planejando a volta de lúcifer o deixou preocupado, mas ele tinha outra preocupação mais urgente nesse momento - como dar abrigo à esses demônios e promover a interação deles com as pessoas da colônia sabendo dos traumas que sofreram por conta de demônios como eles.

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