CORAÇÃO DILACERADO


Exercício do curso Conto: A Escrita do Nocaute - contos eróticos.

Gatilho: erotismo

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 CORAÇÃO DILACERADO

L.H. Lourenço


Entro em nosso quarto iluminado apenas pela luz do luar que se infiltra pela porta da varanda. Posso vê-lo de costas, sentado na espreguiçadeira, como a observar o pisca-pisca das estrelas. Usa apenas bermudas. Seus pés estão sobrepostos e balançam levemente, cientes de minha presença. Sua colônia impregna o ar, algo a que me acostumei e do qual sentirei falta.

Coloco minha bolsa na poltrona ao lado da cama e encaminho-me para um banho antes mesmo de qualquer cumprimento. Preciso me refrescar, serenar meu coração e acalmar meus pensamentos antes do impasse.

Inadvertidamente, visto meu roupão e enrolo uma toalha nos cabelos ainda úmidos antes de sair. Esse era seu fetiche, arrancar o robe para tocar minha pele nua. Nem eu mesma compreendia o motivo para querer atiçá-lo.

Encontro-o em pé, recostado na parede com os braços cruzados. Sua figura se assemelha a um gigante em estatura e robustez. Bastante intimidador para meus sentidos.

Nossos olhares se encontram e mantém-se fixos durante vários segundos. Ensaio mentalmente o que vou dizer e tento aliviar minha garganta do peso emocional. Mal encontro minha voz e sinto seu indicador pressionando meus lábios com a clara intenção de me calar.

O dedo é substituído por sua boca em um beijo devastador, devasso, profano. Tento debilmente afastá-lo, já rendida aos seus caprichos. Meu corpo é explorado com maestria e responde aos seus estímulos como a nenhum outro. Sua língua desbravadora guerreia com a minha em um duelo enlouquecedor.

Falta-me ar, minha sanidade esvanece.

Ele interrompe o contato com uma mordida forte em meu lábio inferior e encosta sua testa na minha. Os lindos olhos azuis fechados, a respiração ofegante. Esforça-se para conter seu desespero.

ꟷ Você é a causadora da dor que sinto aqui,ꟷ coloca a sua mão livre na testaꟷ aquiꟷ aponta para o coraçãoꟷ e aquiꟷ segura meu pulso e pressiona minha palma contra o volume que já se destaca em seu baixo ventre.

Perdida, assim estou, ridiculamente consciente! Depois de horas dialogando comigo mesma sobre o discurso que faria, decidida a respirar a liberdade que anseio, enclausuro-me em seus braços que me levam ao limbo mental.

Arrepios, gemidos, todos os sentidos ouriçados pelas manobras sensuais audaciosas. Uma zonzeira inefável me acomete ao ser tomada com vigor, invadida, carimbada por seus fluídos. Ondas de tensão percorrem meu corpo e arrebentam-se em urros de prazer. Um, dois, três... O tempo corre sem que haja noção de nada além da luxúria. O suor banha nossos corpos que exalam o odor característico das alcovas.

Saciados, o cansaço nos derruba.

A aurora traz clareza a minha mente. Ao meu lado, ele dorme um sono tranquilo. Ouço seu leve ressonar. Escrutino seu rosto de traços marcantes, seu peitoral definido, sua potência agora inofensiva. O rubor me tinge as bochechas e acalora as partes íntimas com flashes da noite intensa. Outra vez, deixei-me ser arrebatada por seu carisma! Perdi minha firmeza no instante em que ele me tocou. Quando cheguei, julgava-me pronta para enfrentá-lo, crente de estar imune aos seus encantos. E agora, será possível continuar com o planejado? Onde estão todas as justificativas que dei a mim mesma para encenar o grotesco fingimento de que ele não me afeta?

Uma retrospectiva de todos os momentos bons que vivemos solapa meu autocontrole e quase me leva às lagrimas. Por que tudo tem que ser tão difícil?

Levanto-me em silêncio, visto-me diante da cama ainda aquecida por nossos corpos. Ali está tudo o que sempre sonhei.

Pego a bolsa, abro a porta devagar e saio sem olhar para trás. Somente levo meu coração dilacerado.

Total de palavras do conto: 598

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