CAPÍTULO 3 - NOVAS REVELAÇÕES


26/06/1981 (sexta-feira)


Na sexta-feira, pela manhã, depois de uma noite cheia de sonhos com Regina e Andréia, Roberto chegou ao hospital para mais um dia de consultas.

Seu telefone tocou e era Walter Smith que pedia que fosse até sua sala. Roberto avisou que iria assim que atendesse o último paciente. Ficou curioso e indagou mentalmente: - O que ele queria me dizer? Seria algum problema com Andréia?

Algum tempo depois, bateu de leve na porta do escritório de Walter e entrou ao ouvir a permissão para adentrar à sala. O advogado o recebeu com um sorriso. Pediu para Roberto se sentar em uma cadeira à sua frente e lhe ofereceu algo para beber.

Walter foi direto ao ponto.

- Dr. Roberto, seu trabalho tem sido muito elogiado e estou particularmente feliz por ter dado meu aval para sua contratação. Não tivemos muito tempo para nos conhecermos melhor e gostaria de convidá-lo para uma confraternização em um clube que frequento. Você tem algum compromisso para esta noite?

- Não, estou livre hoje. Será um prazer atender seu convite.

- Posso sair direto daqui às 18h, está bom para você? Estou sem carro. Importa-se de me dar uma carona?

- Sem problemas. Antes darei uma passada em casa para tomar um banho. Volto para buscá-lo, então.

Roberto foi almoçar pensando naquele convite. Será que todos os médicos novos eram convidados para esse tipo de evento com os sócios? Ele sentiu que havia algo que não foi dito pelo Dr. Walter. Precisava aguardar para descobrir.

No horário combinado, Roberto bateu na sala de Walter.

- Boa noite. Está liberado, Dr. Walter?

- Sim, podemos ir.

O clube era um lugar muito aprazível. A noite estava quente, porém agradável. Os últimos raios de sol ainda se faziam presentes no poente, pintando o céu de vários tons claros e escuros. Algumas estrelas já cintilavam no manto azul.

O salão onde acontecia o evento era amplo e iluminado por luzes laterais nas paredes, criando uma atmosfera acolhedora. Havia vários sofás e poltronas confortáveis espalhados pelo local, além de mesas de diversos tamanhos. Um grande balcão "art déco" podia ser visto em um canto do salão e, ao lado, havia um pequeno palco com um piano de cauda. Tudo de muito bom gosto. O cheiro de perfumes caros e charutos estava impregnado no ar.

Walter escolheu uma mesa para duas pessoas, bem próxima ao palco.

O garçom chegou para atendê-los e ambos decidiram por uma cerveja bem gelada e tira-gostos.

- Já esteve aqui antes, Dr. Roberto?

- Não, é minha primeira vez. Muito bonito aqui.

- Sim, é um local onde podemos relaxar e esquecer nossos dias estressantes. O público é muito selecionado. O bar tem uma excelente carta de vinhos e boas opções no cardápio. Porém, o melhor, na minha opinião, é a música. Divina. Já deve estar quase na hora de começarem a tocar.

Enquanto conversavam, Walter e Roberto ouviram os primeiros acordes do piano. Roberto estava entretido no bate papo e não prestou atenção ao som. De repente, uma voz melodiosa traz aos ouvintes uma canção romântica. Roberto se virou em direção ao palco e viu que era Regina quem tocava e cantava.

O tempo pareceu ter parado por segundos, minutos, horas. Roberto não saberia dizer. Não havia mais salão, nem palco, nem plateia. Ele estava inebriado por ela. Quanto tempo Walter estava a chamá-lo, ele não saberia dizer. Voltar à Terra parecia impossível.

Contudo, num esforço supremo, Roberto conseguiu desviar a atenção de Regina e olhar para
Walter que estava com um risinho zombeteiro.

- Desculpe. Estou surpreso! Como poderia imaginar que sua filha cantasse tão bem?

- Não se desculpe. Você não é o único a se encantar com a voz de Regina. Eu mesmo não me canso de admirá-la. Ela canta desde pequena. Aos quatro anos, começou a aprender piano e dois anos depois já tocava com perfeição. Fez conservatório, e agora, cursa uma faculdade de música. Ela rege o coral de uma comunidade da periferia.

Roberto ficou boquiaberto. - Surpreendente! Ele passou um tempo fitando seu copo de cerveja, procurando a maneira certa de abordar outro assunto.

- Gostaria de lhe fazer uma pergunta, mas não quero ser intrometido, Dr. Walter. Se não puder ou não quiser responder, não tem problema. Mas fiquei intrigado e gostaria de saber por que Andréia tem seu sobrenome?

- Perdão, mas não estou autorizado a falar sobre esse assunto. O que posso lhe dizer é que Clair, ou Andréia, nunca conheceu seu pai.

- Então Regina não é casada? Ela tem alguém? - Roberto se mostra um tanto ansioso.

- Vamos ouvi-la cantar? Tudo a seu tempo.

Uma hora depois, houve um breve intervalo e Regina veio ao encontro do pai. Ficou surpresa ao reconhecer quem o acompanhava nessa noite. Ela estava usando um vestido tomara que caia de cetim verde-escuro que acentuava a cor de seus olhos, deixando-os ainda mais atraentes.

- Olá, pai. Tudo bem?

Virando-se para Roberto, cumprimentou-o.

- Boa noite, Dr. Roberto. Como tem passado?

- Boa noite, Regina. Estou bem. Seu pai me convidou para um bate papo e não poderia imaginar como a noite seria encantadora. Como vai Clair?

- Andréia, por favor. O nome dela é Andréia. Ela está bem. Tomara que possa tirar o gesso na próxima semana.

- Aceita beber algo?

- Agradeço sua gentileza, mas estou em serviço. Bem, vocês me dão licença, mas tenho que retornar ao meu posto. Divirtam-se. Foi um prazer revê-lo, Dr. Roberto.

As próximas horas passaram como se fossem minutos. Regina cantou várias músicas e se despediu sendo muito aplaudida pelos presentes.

Saíram os três em direção ao estacionamento. Walterpegou carona com Regina e Roberto foi para sua casa em total estado deembriaguez emocional. Seria outra noite recheada de sonhos com olhos azuis, como acréscimo de uma voz angelical.

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