CAPÍTULO 14 - É CARNAVAL


Gatilho: cenas eróticas neste capítulo


22/01/1982 (sexta-feira)

Após o susto com Andréia no primeiro dia do ano, as preocupações de Regina se voltaram para os preparativos do casamento. Faltavam quatro meses e muita coisa para preparar. Igreja e salão já estavam agendados. Ela ainda não havia contratado o buffet, nem a boleira, nem escolhido os convites e ainda tinha os vestidos dela e da Andréia. Seus padrinhos seriam a amiga Luísa e o namorado, Dr. Lucas. Roberto escolheu Giba e a esposa.

O telefone tocou e Regina atendeu.

- Alô?

- Bom dia. Posso falar com Regina Smith.

- Sou eu mesma. Quem fala?

- Meu nome é David e sou da diretoria artística do clube. Este ano vamos ter dois dias de baile de carnaval. Na terça-feira e no sábado de Aleluia. Queremos convidá-la para animar os eventos com sua voz.

- Agradeço ao convite, David, mas nunca animei baile de carnaval e nem saberia como fazê-lo.

- Bem, sua reputação como cantora abre qualquer porta. É sempre bom um desafio novo na carreira. Vou lhe dar dois dias para pensar e depois retorno para saber sua decisão.

- Não creio que vá mudar minha opinião.

- Daqui a dois dias eu ligo novamente. Tchau.

- Quem era, filha?

- Um louco do clube querendo me contratar para animar baile de carnaval.

- E qual é o problema?

Regina olhou abismada para a mãe.

- Eu nunca fiz isso, mãe. Precisa de muita energia.

- Quem não arrisca, não petisca. É um velho ditado.

Regina saiu da sala e deixou a mãe rindo sozinha.

À noite, ela contou para o pai que também não viu problema em ela tentar. Eram apenas dois dias, com intervalo entre eles.

Regina começou a amadurecer a ideia e a escutar músicas que poderia cantar. Ainda não tinha certeza se enfrentaria o desafio.

Dois dias depois, David voltou a ligar e Regina aceitou o convite. Ele informou o valor do cachê, que era muito superior ao das apresentações de sextas-feiras.

Roberto andava ocupado com consultas e emergências no hospital e eles não conversaram sobre o assunto.

No final de semana seguinte, avisou o noivo que teria um ensaio no clube sem contar detalhes. Ele não fez objeções e aproveitou para ir à fazenda resolver assuntos urgentes. Regina tinha uma leve sensação de que Roberto não iria apoiá-la nesse projeto.

Os ensaios foram melhores do que o esperado, o que deixou Regina animada e David muito contente com sua contratação.

Nos finais de semana seguintes houve mais ensaios. Eles estavam a duas semanas do Carnaval. Quando ela avisou Roberto que estaria ocupada novamente, ele estranhou essas atividades. Regina decidiu contar para ele sobre o convite. Ele fechou a cara na hora.

- Pra quê isso? Você por acaso está precisando de dinheiro?

- Não tem nada a ver com dinheiro e sim, com uma realização pessoal. É um desafio para mim e eu gosto disso. Serão só duas apresentações, na terça-feira e no sábado de Aleluia. Apenas quatro horas por noite. Nada tão difícil assim.

- Mas o público é diferente, Re. Às sextas-feiras, você se apresenta para senhores aposentados ou executivos que vão lá para escutar uma boa música e relaxar. Nesses bailes é só molecada, muitos bêbados. A chance de confusão é grande.

- Vou estar em cima do palco e haverá seguranças.

- Poderia ter discutido isso comigo antes de aceitar, não acha?

- Não deu tempo. Tive dois dias para pensar se aceitava ou não. Meus pais me apoiaram.

- Seus pais não contam. Eles aprovam todas as suas loucuras.

- Como assim? De que loucuras você está falando?

- Esquece, Re. Falei besteira. Bom, se você já aceitou, sou voto vencido. Vou olhar minha agenda para estar livre nesses dois dias. Não quero que ninguém encoste a mão em você.

- Não pense que você vai me enrolar. Quero saber o que você quis dizer com "eles apoiam todas as suas loucuras"?

- Eu preciso ir agora, estou atrasado para uma consulta. A gente conversa depois.

Roberto lhe deu um selinho. Ela ficou estática e não retribuiu. Seus olhos estavam brilhando de raiva.

- Tchau, minha oncinha.

À noite, Roberto telefonou e deu uma desculpa para evitar um possível confronto. Era melhor manter distância até a raiva dela esfriar.

Regina ficou possessa e teve uma ideia diabólica. No dia seguinte, foi até a loja onde comprava os trajes de patinação para Andréia e encontrou exatamente o que estava procurando. Roberto saberia sim, que loucuras ela poderia fazer.

Ela ensaiou mais alguns dias, o que a deixou bem confiante.

Encontrou-se pouco com Roberto nesse período desde a discussão, mas não deu o braço a torcer.

A terça-feira de Carnaval chegou. Ela passou a tarde na casa de Luísa, se arrumando para a grande noite. Seu pai a encontraria no clube. Ela iria em seu carro com Luísa.

Quando chegaram ao clube, foram direto ao camarim. Regina já estava maquiada e com os cabelos presos num coque. Luísa a ajudou a vestir o colante de lantejoulas vermelhas, calçar botas brancas de cano longo e colocar um arranjo de escola de samba na cabeça.

- Uau! Estou bem alta. Mais loucura que isso, impossível. Ok, não é hora para arrependimentos. Agora é encarar o desafio.

Às 23h em ponto, a banda começou a tocar os primeiros acordes de uma marchinha de carnaval. Regina esperou umas três introduções antes de entrar no palco. Dos bastidores dava para ouvir o alarido do público. Parecia que o clube estava lotado.

- Nossa Senhora, me ajude. Lá vou eu.

Ela entrou cantando e o público foi ao delírio ao vê-la. Roberto que estava com Walter em uns camarotes existentes acima da pista, olhou para o sogro com incredulidade.

- O senhor aprovou isso?

- Isso eu não aprovei, mas foi você que instigou. É bom para você aprender a guardar a língua dentro da boca. Regina é doce e meiga, mas se provocada, não foge da briga. Que loucuras que ela fez que você acha que aprovei?

- Ela lhe contou isso?

- Sim. Também fiquei curioso.

- Falei sem pensar. Estava com raiva e com ciúmes.

- Tá certo. Espero não ter me enganado com você ao lhe contar como Andréia foi concebida.

- Amo Andréia como se fosse minha filha, mas é difícil não pensar que Regina poderia ter evitado isso se tivesse sido mais prudente.

- Parece que toda a história dos antepassados não foi suficiente para você entender que aquilo de fato iria acontecer de uma forma ou de outra. Ela poderia ter sido estuprada por um marginal para Andréia vir ao mundo.

- Não tinha pensado por esse prisma.

Regina estava magnífica, uma deusa. Suas coxas cobertas por uma meia-arrastão, o colante bem cavado atrás, deixando sua bunda mais saliente. Roberto observava a plateia e via os caras todos babando por ela.

- Dr. Walter me desculpe, mas vou embora. Não aguento ver isso. Se ela sabe ser tinhosa, eu também sei. Prefiro sair, a perder a cabeça.

- Você quem sabe. Eu ficarei aqui, apoiando as lindas loucuras da minha filha.

Quatro horas mais tarde, Regina encerrou o show sendo ovacionada. Ninguém encostou um dedo nela e nem a desrespeitou. Foi tudo perfeito.

Luísa a aguardava nos bastidores e logo surgiu seu pai. Ele a abraçou e lhe deu os parabéns por ter vencido mais um desafio. Regina não viu Roberto e perguntou por ele.

- Foi embora logo que começou. Estava babando de raiva e ciúmes. Por sinal, preciso de uma carona, pois vim com ele e agora estou sem carro.

- Lógico, deixa só tirar esse enfeite da cabeça e já vamos. Nem vou me trocar.

Regina deixou Luísa em casa e seguiu para a sua com seu pai. Ao chegar, percebeu que a Pick Up de Roberto estava estacionada na frente do portão com a luz interna do veículo acesa. Regina estacionou e saiu do seu carro. Contornou a Pick-Up e encontrou Roberto recostado no banco, olhando para o nada. Walter chegou ao seu lado e Regina fez um sinal para ele entrar em casa. Quando Walter se afastou, ela perguntou:

- Está tudo bem, Beto?

Ele a encarou com tanta mágoa no olhar que Regina sentiu um baque. A examinou da cabeça aos pés.

- Bem, parece que você chegou inteira, já posso voltar para casa.

Regina abaixou a cabeça e pensou no que falar. Não dava mais para ficarem brincando de gato e rato. Era muito estressante.

- Posso ir com você?

- Acho melhor não. Tenho receio de colocar em prática o que se passa na minha cabeça.

- Ui! É algo excitante?

Ele a encarou e seus olhos pareciam querer furar os dela.

- Não, é algo educador. Algo que, creio eu, seu pai nunca fez com você.

Ela resolveu não deixar a raiva dele a abater e fez troça.

- Se não doer muito, posso experimentar.

- Muito engraçada. Continua agindo como uma menininha sem juízo. Andréia tem mais bom senso que você.

- OK, então, vou indo. Já ouvi o bastante por hoje. Ela se afastou em direção à casa.

Roberto saiu do veículo e a puxou pelo braço, fazendo-a desequilibrar. Antes que ela caísse, ele a segurou nos braços, voltou para o carro e a empurrou para o banco de passageiros. Entrou, prendeu o cinto de segurança dela e deu partida.

Regina estava assustada e excitada. Ela sabia que passara do limite e já estava arrependida de fazê-lo sofrer assim. Roberto chegou rápido ao seu condomínio, estacionou o veículo na garagem, saiu e deu a volta para abrir a porta do passageiro. Ele puxou Regina e a jogou nos ombros feito um saco de batatas. Ela pensou em gritar, protestar, xingar, mas decidiu por ficar quieta.

Assim que chegaram ao apartamento, ele enfiou a mão no bolso e tirou a chave, sem mudar Regina de posição. Entrou e fechou a porta. Foi direto para o quarto e a jogou na cama. Se esticou sobre ela, sem encostar em seu corpo e olhou fixo em seus olhos.

- E agora, garotinha rebelde, o que quer que eu faça? Que novas sensações você quer experimentar?

Lágrimas começaram a rolar dos olhos de Regina.

- Eu te amo, Beto! Só quero te amar.

Ele fechou os olhos e se deitou de costas na cama, ao seu lado. Regina permaneceu quieta, enquanto as lágrimas continuavam a rolar.

- Beto me desculpe. Não imaginava que você iria sofrer assim. Isso não me deixa nem um pouco feliz.

Ele se levantou da cama e foi em direção ao banheiro. Fechou a porta e logo depois ligou o chuveiro. No quarto, Regina tirou as botas e se deitou encolhida, pedindo ajuda aos céus para lidar com essa situação.

Ela não saberia dizer quanto tempo ficou ali chorando sozinha, esperando Beto sair do banheiro, mas acabou dormindo.

Roberto, enquanto no chuveiro, chorava toda sua raiva e frustração. Não a deixaria vê-lo desmoronando, não queria sua piedade. Ela era sua noiva e ficou seminua, rebolando para um bando de homens bêbados. Isso era correto? Ela era quem estava certa? Queria ser sua esposa e ficava se exibindo para outros machos? Seria muito difícil aceitar isso! Ficou no banho por mais de meia hora até sentir que poderia encontrar o olhar dela novamente.

Ao sair do banheiro, percebeu que ela tinha adormecido. Melhor assim. Pegou um travesseiro e foi dormir no sofá.

Na manhã seguinte, já eram dez horas e Regina ainda não tinha acordado.

Ele chegou perto dela e percebeu que seu rosto estava avermelhado. Tocou sua face e notou que estava muito quente. Tentou acordá-la, mas ela não reagia. Pegou em sua maleta de médico um termômetro. Febre de quase quarenta graus.

- Re, acorda. Ela nem se mexia.

Ele decidiu dar-lhe um banho para baixar a temperatura. Quando começou a tirar o colante, percebeu que as lantejoulas machucaram sua pele. Isso o deixou possesso. Ele a deixou nua, tirou suas próprias roupas e a carregou para o banheiro. Ajustou a água de morna para fria e entrou no box com ela nos braços.

Nem assim ela acordou. Aquilo era muito estranho. Parecia que ela estava em coma. Saiu do chuveiro, enrolou o corpo dela numa toalha e a levou pra cama. Pegava o telefone para chamar a ambulância quando ouviu a campainha. Foi atender só com a toalha enrolada no quadril. Ao abrir a porta, quase caiu sentado. Ali, na sua frente, estava a mesma cigana que apareceu na festa de Natal do hospital.

- Bom dia! Não quero assustá-lo. Posso ver a menina?

Roberto foi andando de costas, abrindo espaço para ela entrar. A cigana seguiu em direção ao quarto. Ele a viu colocando as mãos sobre a cabeça de Regina, balbuciando algumas palavras bem baixinho. Depois acariciou seu rosto. Virou-se para Roberto e avisou:

- Ela vai ficar bem. Logo, logo voltará a consciência e a febre sumirá. Quando ela acordar, beije-a com paixão e entregue-se a ela de corpo e alma. Somente isso poderá afastá-la das sombras.

Dizendo isso, ela passou por Roberto em direção à sala e desapareceu no corredor. Roberto nem percebera como ela havia desaparecido. Então, fechou a porta do apartamento e foi ver Regina.

Ele a encontrou acordada e seu rosto estava fresco, mas seu olhar parecia perdido. Ele relembrou as palavras da cigana: "beije-a com paixão e se entregue a ela de corpo e alma".

Segurou o rosto daquela mulher que ele amava tanto e a beijou apaixonadamente. Sentiu que a raiva, a frustração e o ciúme desapareceram de seu peito. Uma paz o envolveu. Precisava dela. Tinha que salvá-la. Começou a acariciá-la com todo amor e devoção e, aos poucos, sentiu que ela reagia a seus estímulos. No momento que viu o brilho do desejo naqueles faróis azuis, a penetrou devagar. Ela o aceitou. Eles pareciam levitar quando atingiram o clímax. Era como se algo pesado se desprendesse de seus corpos, fazendo-os se sentirem leves e aliviados.

Quando suas mentes retornaram ao normal e seus batimentos cardíacos desaceleraram, ele olhou para Regina e percebeu que tudo voltara ao equilíbrio. Sua Re, linda, doce e apaixonada estava ali e ele a abraçou com força. O som de seu risinho o deixara extasiado. Sim, agora ele entendera o que a cigana havia dito na festa do hospital sobre estar vigilante.

No sábado de Aleluia, Roberto acompanhou Regina até o clube e se manteve lá durante as quatro horas de apresentação. Ela optou por uma calça corsário amarela, uma batinha branca e sapatilhas. Deu um verdadeiro show, mostrando todo seu talento. Roberto e Walter estavam no mesmo camarote e juntos ficaram admirando aquela linda mulher.   

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