3

O que eu estava fazendo?!

Fiquei completamente paralisado ali sem ação alguma. Andrew finalmente havia aceitado colaborar com o meu plano e tudo o que consegui fazer foi nada. Minha garganta parecia que tinha recebido um nó, pois não saía nada dela. Meu corpo continuou inerte por mais algum tempo e minha cabeça processava o que estava acontecendo ali. Por que eu teria ficado assim? Acho que apenas que eu estava relutando em acreditar no que estava acontecendo.

Por um momento minha cabeça parecia ter saído fora do ar. Uma nuvem cinza se instalou e junto com o meu corpo permaneceram bobos. Não conseguia pensar em nada. Minha mente se tornou como aquelas máquinas hospitalares que indicam como está o batimento da pessoa. Por um momento minha mente ficou naquela linha reta até finalmente começar a responder aos poucos e a linha começar a se mover finalmente.

A verdade é que eu não era feito para receber notícias de supetão. A forma como Andrew jogou tudo aquilo de uma só vez, me fez ter de processar um pouco tudo aquilo. Quando recebi a notícia da morte de meu pai, foi basicamente daquele jeito. Tive de ficar alguns minutos assimilando tudo até por fim cair no pranto. Eu demorava um pouco para cair em mim. Era como se a informação lançada bruscamente sobre mim, tivesse de percorrer uma breve jornada até por fim, chegar ao meu cérebro e gerar a minha reação final.

Ainda não conseguia acreditar nas palavras que escutei sair da boca de Andrew. Ele finalmente aceitara o meu plano e agora estava prestes a segui-lo à risca da maneira como tivesse de ser. Pensava que depois do dia anterior o plano simplesmente morreria engavetado e o assunto não seria sequer tocado, porém eu estava enganado.

Bastou o ex de Andrew voltar para tudo mudar. Se eu soubesse que Antônio era a chave para o sim de Andrew, eu mesmo o teria convocado no dia anterior e o nosso plano já estaria em prática desde aquele mesmo momento. Andrew na verdade, estava vendo aquilo tudo como uma forma de vingança. Queria provar para seu ex que ele estava equivocadamente errado quanto ao seu desempenho e tudo mais. Queria mostrar também que seguiu em frente e estava bem melhor de quando eles estavam juntos.

Nada como a volta que o mundo dá.

― E então? ― Andrew quebra o silêncio me trazendo à tona.

― O que? ― digo voltando do mais profundo da minha mente.

― Bem, agora você tem que me dizer o que fazer, como isso vai funcionar, essas coisas!

― Ah! ― exprimo entendido. ― Bem, não tem muito o que fazer, apenas vamos assumir o nosso namoro ― faço um sinal de aspas com os dedos enquanto falo aquilo. ― e lançamos o vídeo assumindo de vez o nosso suposto namoro.

Depois de um tempo o fito e logo um ar de riso se forma em meu rosto.

― O que foi? ― pergunta Andrew me encarando sério não captando o motivo do ar de riso estampado sobre minha face limpa.

― Nem acredito que você está entrando nessa! ― comento entre risadinhas.

― Eu nem acredito que estou me deixando levar por essa ideia! ― diz ele passando a mão na testa e subindo até o cabelo. Aparentemente estava nervoso. Dava para notar isso em sua expressão apreensiva.

― Relaxa! ― falo.

― Estou relaxado! ― responde e só fica ainda mais claro que ele está nervoso.

― Eu sei que você entrou nisso só pra se vingar do Antônio.

― Me vingar? ― pergunta ele analisando o termo empregado por mim.

― Do que você chama isso então?

― Chamo de dar a volta por cima!

― Você quer provar para ele que ele está errado de certa forma.

― Na verdade, não é apenas por isso ― confessa ele me parecendo sincero. ― Eu também acredito que posso realmente crescer o meu canal com isso.

O analiso semicerrando meus olhos, esperando que ele ria a qualquer momento e eu detecte a sua mentira no mesmo instante, mas não foi isso o que aconteceu. Ele apenas continuou sério, então passei a crer na sua sinceridade.

― Bem, isso pode ajudar nós dois! ― ressaltei.

― Você já disse isso! ― contrapõe ele com um leve sorriso recém formado em seu rosto.

― Mas vem cá, entre nós, dessa vez eu me superei né.

Andrew ri alto e sinto a ironia naquela risada exagerada. Finjo dar um tapa nele e ele segura as minhas mãos ainda rindo, porém dessa vez para valer.

Dentre tudo, uma coisa era certa, nós precisávamos pensar em tudo para não nos preciptarmos. Não podíamos simplesmente contar a todos uma mentira de grande magnitude e não esperar um retorno abrupto. Deveríamos ser bem cautelosos e se era para contar um história, tínhamos de contar a melhor. Tudo era para parceria uma verdade fundada. Se nós acreditássemos, então todos poderiam também.

― Então como vamos fazer isso? ― pergunta Andrew quebrando o silêncio finalmente e me tirando de meus pensamentos.

― Bem, acho que vamos ter que acertar algumas coisas antes de rasgar para todo o Brasil.

― E o que vamos fazer então?

― Antes de tudo, precisamos contar um boa história de como começamos a sentir algo um pelo outro.

― E o que tem em mente?

― Nada por enquanto.

― Acho que deveríamos anotar cada um a história do seu modo e contar. Talvez pareça mais real se falarmos com as nossas palavras a mesma coisa. Ficaria muito na cara se usássemos as mesmas palavras e a mesma forma de contar.

― Caramba Andrew, desde quando você é tão estratégico para mentir? Logo você o santinho do pau oco.

― Cala a boca! ― diz ele rindo e me dando um leve empurrão.

― Tudo bem, vou pegar duas folhas e duas canetas para a gente começar a resolver isso tudo ainda agora. Amanhã nós já poderemos gravar o vídeo.

― Beleza! ― diz não fazendo tanto caso das minhas palavras anteriores.

Me dirijo até o meu quarto e arranco duas folhas do meu caderno aposentado de universitário. Pego também duas canetas na minha coleção de canetas colecionáveis. Eu era simplesmente louco por canetas. Tinha de todas as cores possíveis. Na época da escola tinha essa mania e carregava ela até hoje em minha vida. Apesar de não estudar mais, mas ainda gostava de ter variadas cores de caneta à minha disposição. Um capricho apenas.

Volto para a sala com as duas folhas e as duas canetas na mão. Andrew me parecia um pouco reflexivo. Sinto um leve arrepio e sinto que ele poderá voltar atrás a qualquer minuto em sua decisão.

― Aqui estão as coisas ― anuncio e percebo que tirei-o de seus pensamentos, pois ele foca seus olhos em mim um tanto confuso. Seu olhar demora um pouco a me encontrar de fato, mas logo percebo a confusão instalada em seu olhar.

― O quê? ― ele pergunta. Parecia estar realmente muito focado no que pensava, pois não ouvira o que eu disse. Eu havia o resgatado do mais profundo de sua mente.

― As coisas pra gente poder começar ― repito, porém agora de uma maneira diferente da anterior.

― Ah, que tal irmos para a mesa da cozinha? ― sugere ele e logo eu concordo com a idéia.

Vamos juntos até a cozinha e tomamos nossos lugares na mesa. A mesa da cozinha era quadrada de madeira e possuía quatro lugares. Ocupávamos apenas dois lugares ali ficando numa extremidade da mesa e Andrew logo ao lado.

― E então, por onde começamos? ― pergunto olhando para Andrew.

― Você é o dono do plano, eu sei lá!

Ótimo, agora tínhamos que inventar uma ótima história do dia para a noite que contasse a história da paixão entre mim e Andrew que não existia. Era um pouco complicado. Eu era um péssimo escritor. Tinha algumas boas idéias, mas como inventor e contador de histórias eu era um completo fiasco.

― Confesso que não sei Andrew.

― Bem, vejamos o que poderemos fazer então.

Andrew passou alguns minutos em silêncio. Parecia focado e determinado a criar lago ali naquele mesmo minuto. Seu olhar se tornou distante e percebi que ele estava numa jornada por sua mente, da qual não deveria tirá-lo ou poderia colocar tudo a perder. Já não bastava não estar ajudando, imagina atrapalhando.

Por alguns minutos tudo ficou num silêncio ensurdecedor. Andrew continuava rebuscando alguma coisa em meio a sua consciência. Confesso que achei que Andrew havia se perdido em seus pensamentos, contudo momentos depois ele volta parecendo ter tido uma idéia ótima.

― Já sei! ― diz ele. ― Prepare sua caneta e o seu papel!

Faço o que ele diz e o fito por um tempo até ele falar as suas primeiras ideias.

― Bem, depois do término do meu namoro há um ano, eu e você ficamos mais próximos ― Andrew fala enquanto escreve tudo em seu papel também. Tento escrever diferente do que ele está falando, pois tinha quase certeza de que ele estava escrevendo tudo da mesma forma que ele estava ditando.

― E o que mais? ― indago quando percebo que ele fica  em silêncio novamente.

― Ah, bem ― balbucia Andrew antes de voltar a falar normalmente. ― Logo começamos a perceber que estávamos diferentes. O amor que sentíamos um pelo outro poderia estar se transformando em algo à mais.

Continuava anotando tudo.

― Logo percebemos que nossa amizade não era mais apenas uma amizade. Estávamos dependendo de estar um com o outro de uma forma especial, então você me beija para tirar a prova do que sentimos um pelo outro e...

― Espera, porque eu tenho que te beijar?

― Porque você é o impulsivo na vida real e acaba fazendo todas as merdas! ― replica ele revirando os olhos e dando um tapa de leve na testa. ― Essa história tem que parecer o mais real possível não é mesmo?

― Faz sentido!

― Voltando ― ele anuncia a sua retomada à história. ― Depois disso, você se desculpa por ter feito isso e sai correndo para longe de mim, me deixando numa confusão de sentimentos contínuos.

― Ai, eu nem sou cu doce desse jeito! ― comento num tom de deboche.

― Foco Max! ― exproba Andrew com seus semicerrados olhos me encarando.

― Está bem! ― falo sem nenhuma empolgação evidente.

― Então, nós ficamos um pouco confusos sobre o que sentimos por medo de acabarmos perdendo a amizade um do outro caso esse namoro não vá adiante, mas da mesma forma não voltaríamos a ser apenas amigos depois de tudo que acontecera ali entre nós nos últimos meses...

Andrew para mais um vez para esquadrinhar suas ideias dentro de sua caixa pensadora.

― Bem, daí você acaba quebrando o silêncio depois de algumas semanas sentindo o clima entre a gente meio pesado. Você fala que está apaixonado por mim e logo eu revelo que também estou apaixonado por você. À partir daí decidimos que não seríamos apenas amigos e nos renderíamos à paixão.

― Nossa, você já pensou em ser um romancista? ― meu comentário não fora nada irônico ou sarcástico desta vez. Realmente achava que Andrew tinha se superado ali. Descobrira um novo dom que ainda não conhecia nele. O dom de contar uma ótima história.

― Nunca tinha passado pela minha cabeça ― revela Andrew com um sorriso contido no canto da boca.

― Acabo de descobrir um novo talento! ― enfatizo com grande empolgação.

― Acho que nem eu mesmo conhecia essa parte em mim ― admite Andrew finalmente liberando o sorriso que estava reprimindo.

― Bem, ainda precisamos resolver mais algumas coisa ― saliento.

― E quais mais?

― Bem, acho importante considerar que temos que contar uma ótima mentira à todos ― faço uma breve introdução.

― Sim! ― confirma Andrew com gestos positivos de cabeça complementando a sua fala.

― Bem, acho de muita importância considerar que essa tem que ser a melhor mentira já contada por nós e ninguém em hipótese alguma deve saber da verdade. Tem que ser uma mentira tão bem contada que até mesmo nós vamos acreditar nisso.

― Então quer dizer que ninguém, tipo, ninguém mesmo deve saber do nosso trato?

― É exatamente o que estou dizendo. Incluindo os nossos amigos e parentes. Para início de conversa nem quero que nossos parentes saibam disso. Nunca. Tudo bem para você?

― Ok. Tudo bem!

― Ótimo!

― Ah, e quando quisermos que isso tudo acabe?

― Bem, quando tivermos saturados dessa brincadeira, terminamos e dizemos a todo mundo que preferimos ser apenas amigos.

― E ainda vamos continuar morando juntos como se nada tivesse acontecido depois do nosso término?

― Bem, eu não sei, eu poderia ir morar com a Jennifer!

― Na verdade, acho que poderíamos ter um termino maduro e continuar a amizade como se nada tivesse acontecido. Acho que seria até melhor do que ter que fazer você se mudar.

― Você tem toda razão, Andrew isso seria melhor!

― Pois é! ― ele condiz. ― Ah, e quando vamos gravar o vídeo para o canal mesmo?

― A gente poderia gravar amanhã de noite, depois que você chegar do trabalho, pode ser?

― Tudo bem então! ― fala ele parecendo estar de acordo com tudo o que eu falava. ― E quanto ao vídeo, vamos postar em qual canal?

― No meu! ― respondo de imediato.

― Mas por quê no seu? ― questiona Andrew ficando prestes a se contrapor a isso. Era tão nítido quanto a luz, seus olhos negativos à tudo aquilo.

― Bem, primeiramente o plano foi meu, então nada mais justo que seja no meu canal...

― Mas eu bolei toda a nossa história de amor falsa, acho que também devo ganhar uma certa porcentagem nessa mentira.

― Por que não fazemos o seguinte, gravamos um vídeo para o meu canal, daí gravamos para o seu também que vai para o seu canal, então nós ficamos alternando para ganharmos juntos!

― Acho que pode ser! ― ele meneia a cabeça com um ar de aprovação. ― Acho que quanto mais enchermos o YouTube com nossos vídeo, mais chance eles tem de aparecer nos recomendados para outras pessoas por aí à fora.

― Caramba Andrew, não tinha parado para pensar nisso! ― reflito empolgado. ― Você é realmente um gênio!

Andrew alça as sobrancelhas e coloca a caneta que estava em sua mão por entre dois de seus dedos, fazendo um ar de vaidade. Dou um empurrão de leve nele, desmanchando sua pose e o fazendo desmoronar numa risada.

― Então está tudo feito amigo? ― interpela Andrew estendendo a mão para que eu a apertasse. Estendo a minha mão e sinto o toque aveludado de sua mão.

― Feito.

Um minuto de silêncio foi gerado ali. Parecia que não se havia mais nada a dizer, quando minha cabeça passou a funcionar novamente.

— Bem, como um bom plano e para manter a ordem, acho que temos que bolar algumas regras também para sabermos exatamente o que fazer e o que não fazer com relação ao plano, acho que assim fica mais fácil não é mesmo?!

— E quais seriam as regras? — pergunta ele um tanto curioso com os dois dedos, indicador e maior de todos, passando sobre os novos pelos de sua barba que estavam nascendo logo abaixo no seu queixo.

— Bem, a primeira de todas você já sabe — revelei. —, que é a de não comentar sobre esse plano com mais ninguém. E quando digo ninguém é ninguém mesmo!

— Beleza, mas isso eu já sei, e o resto?

— Bem, acho que nosso namoro também precisa de um tempo estipulado!

— E quanto tempo você sugere?

— Um ano pelo menos!

— Um ano? — indaga Andrew exasperado. — Isso é muito tempo sabia?

— Vai ver que não! — falo com um sorriso maroto contido no canto da minha boca. — Vai passar voando, você verá!

— Então vou ter que passar um ano sem namorar? — questiona ele perplexo.

— Sim, porque você vai estar namorando comigo! — refuto. — E saiba você, que eu sou um namorado muito ciumento. Eu gosto de cuidar do que é meu!

— Deve lembrar que isso é apenas um contrato estendido!

— Eu sei! — digo dando uma risadinha e encolhendo os ombros.

— Vai ver que só porque vamos estar namorando, vão aparecer mil e uma pessoas para querer ficar com a gente, daí vamos perder o melhor ano das nossas vidas!

— Bem, então que tal cinco meses apenas? — sugiro disposto a negociar. — É bem menos do que um ano e acho que dá para levar!

— Cinco meses me parece melhor...

— Então tudo bem, cinco meses!

Começo a anotar tudo num outro pedaço de folha de caderno para não nos esquecermos das regras em questão. Tudo tinha que sair sem margens de erros ou tudo o que planejávamos poderia ir por água abaixo. As regras também eram para validar o contrato nesses cinco meses, caso alguém quisesse pular do barco antes do tempo determinado. Criaria à partir dali um contrato oficial com a minha assinatura e a de Andrew para legitimar ainda mais nosso acordo.

— O que você está fazendo? — inquire Andrew meio confuso.

— Estou criando um contrato para o nosso acordo! — indico parando por um minuto para explicá-lo, voltando a me concentrar em minha escrita novamente.

— Tem para quê tudo isso?

— Mas é claro! — emito no mesmo segundo subsequente. — Essa é a garantia de que o meu plano será válido!

— Acho que você está se excedendo demais!

— Chamo isso de garantia!

Continuo a escrever. De repente eu paro e analiso tudo o que escrevi pesando que poderia ter mais alguma coisa para acrescentar nas regras.

— O que foi? — pergunta Andrew.

— Bem, acho que também devo ressaltar que nesses cinco meses você não devemos ficar com mais ninguém! — anuncio. — Nem mesmo que seja escondido!

— Tá — diz ele sem muita empolgação aceitando a sua sina.

— Bem, outra coisa também para deixar o nosso relacionamento bem mais realista, é postar fotos no Instagram, juntos, fazendo poses de casalzinho, colocando nos Stories, essas coisas bem piegas!

— Certo e o que mais?

— Acho também que deveríamos ter alguns apelidinhos fofos de casal!

— Como ursinho por exemplo?

— Credo, ursinho não! — descarto na mesma hora aquele apelido. — Me faz parecer dez quilos mais gordo e ser todo peludo, eca!

— Mas é uma apelidinho!

— Apelidinho auto explicativo! — digo num ar de indignação. — A primeira coisa que se pensa quando chama alguém de ursinho, é um daddy gordo cheio de pelos grisalhos pelo corpo com pelo até nas costas e sem esquecer do cavanhaque!

— Você acabou de descrever um caminhoneiro! — diz Andrew com um ar de riso.

Dou um tapa de leve no braço dele que o fez recuar rindo ainda mais.

— Acho que alguém anda vendo muito pornô com caminhoneiros! — Andrew tira sarro da minha cara.

Eu estava prendendo o riso. A risada de Andrew era simplesmente contagiante. Ele ficava facilmente vermelho por ser branco como leite. Não podia nem forçar um pouquinho enquanto ria que seu rosto já ficava todo vermelho. Eu acabei cedendo e ri um pouco também. A risada foi morrendo aos poucos até que finalmente se extinguiu por completo e eu pude voltar a respirar normalmente.

— Tudo bem, ursinho não é um bom apelido!

— Não mesmo! — confirmei. — Que tal meu príncipe?

— Isso não é forçar a barra demais não? — pergunta ele fazendo uma careta.

— Na verdade... — dei uma leve pausa para a piada. — É sim. Totalmente!

Rimos juntos.

— Acho que deveríamos nos chamar pelo menos, carinhosamente de amor, mô, essas coisas!

— Tudo bem, amor!

Fiz uma careta e coloquei a língua para fora, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Amor! — repeti ainda com a careta esculpida em meu rosto e só voltei a estabilizar meu rosto quando terminei de falar.

Volto a minha concentração para a folha e escrevo todo o resto das regras. Assino logo em baixo na folha e entrego para Andrew que faz uma careta ao ver que aquilo estava sério demais para o que realmente era.

— Vou ter mesmo que assinar isso? — questiona ele.

— Claro, para ter a prova de que você concordou com este plano diretamente!

— Não acha que está exagerando não?

— Não! — exclamo. — Esse é como um contrato de verdade, só que de mentira!

— Isso me pareceu bem original! — diz ele com um sorrisinho no rosto.

Ele pega a caneta da minha mão e assina sem dizer mais nada.

— Agora o nosso pacto está selado! — digo enchendo o peito.

— Credo, senti que estava fazendo um pacto com o diabo agora! — fala ele rindo e eu o acompanho.

Depois que as risadas cessam, o silêncio paira sobre o ambiente. Já não haviam sons de nada. Eu olhei para Andrew que olhava para mim e senti que alguma coisa havia mudado ali no clima. Forcei um sorriso para Andrew e ele me devolveu o gesto. Continuamos num silêncio constrangedor por mais algum tempo até que ele finalmente falou:

― Bem, acho melhor eu ir dormir. Amanhã tenho que acordar logo cedo para ir trabalhar e preciso estar totalmente descansado.

― É, mas acho que eu ainda vou continuar aqui, já que eu não preciso acordar cedo para trabalhar mesmo...

O silêncio pairou novamente no ar. Parecia que haviam cortado nossas línguas fora e não poderíamos mais falar nada. Na verdade esperava que Andrew levasse aquilo como uma piada no fim das contas, mas parece que não funcionou. Ele apenas ficou me encarando e eu vi em sua expressão que ele tentava apanhar palavras para me dizer naquele momento, mas a verdade é que eu não queria que ele dissesse nada. Lamentar não ajudaria em nada e além do mais eu estava empolgado demais para lastimar.

― Desculpa Max, eu não sei o que dizer para você! ― se justifica ele com um olhar penoso diretamente lançados para mim.

Sinto um incômodo com aquilo. Tudo o que eu menos deseja era pena. Achava que aquilo era como chegar ao grau mais baixo da sua ruína e as pessoas já não conseguem fazer mais nada por você, apenas sentirem muito por você estar da forma que está. Odeio ter olhares penosos voltados para mim. Me sentia um caso perdido. Uma pessoa deplorável.

― Não precisava dizer nada Andrew, eu só perdi o emprego, arrumo outro logo, logo.

― Mesmo assim é meu dever como amigo te apoiar em circunstâncias como essa.

― Você me apoiou demais quando decidiu concordar em fazermos esse plano funcionar. Você acendeu a chama da esperança novamente em mim. Estou colocando uma grande expectativa nisso.

― Pra falar a verdade, eu também estou bastante expectativo.

Direcionei um levo sorriso a ele. Aparentemente estava tudo de acordo entre nós. O meu plano já havia avançado bastante apenas no período daquela noite. Agora só faltava colocar a parte principal do plano em prática e torcer para tirarmos a sorte grande.

― Bem, eu já vou indo! ― indica Andrew.

― Tudo bem! ― assinto no mesmo instante. ― Boa noite namorado! ― falo com um sorriso malicioso estampado em meu rosto e erguendo as sobrancelhas repetidas vezes.

― Você é um palhaço mesmo! ― comenta ele se deixando levar pelo bom humor.

Por algum motivo Andrew ainda ficou ali parado rindo e olhando para mim. Vai saber o que se passava na cabeça desse garoto. Senti meu corpo ficar tenso instintivamente com o olhar dele focado em mim. Não sei porque senti aquilo naquele momento. Foi um movimento involuntário simplesmente.

― Bem, boa noite! ― falou Andrew num tom de voz sereno e compassivo. Ele se virou e se foi, me deixando sozinho ali na cozinha.

Eu agora tina um momento de privacidade com a minha mente. Poderia ruminar o quanto eu quisesse à partir dali. Eu tinha o total silêncio da casa e poderia escutar claramente meus próprios pensamentos. Eu estava ansioso para por o meu plano em prática no dia seguinte.

Reli o papel com tudo o que eu tinha escrito. A história realmente estava ótima. Não parecia ter nenhum furo ali. Andrew se mostrara mais capaz do que eu pensava. A minha escrita tinha ficado totalmente com as minhas palavras. Enquanto ele falava eu fazia a minha própria releitura de toda a história. No fim eu gostara do resultado e estava bastante empolgado para o dia seguinte.

Meus olhos bateram no papel das regras instituídas para a organização do plano. Peguei o papel e reli o conteúdo nele. As regras eram claras. Eu concordava com tudo que estava escrito ali. Levando meus olhos até mais abaixo da folha, tinha as nossas assinaturas. Como um contrato sério. Um sorriso se formou em minha boca meio que involuntariamente. Não sabia ao certo porque ler aquelas assinaturas tinham me arrancado um leve sorriso, mas logo que notei que sorria para um papel, desviei minha mente daquilo me sentindo um lunático.

Olhei a hora no meu celular que esteve comigo ali o tempo todo e vi que já eram quase uma da manhã. Um bocejo automático extravasou de mim e eu sabia que já era a hora de dormir. Me levanto da mesa levando comigo as folhas ― do contrato e onde havia anotado a estória ― e as duas canetas. Vou em direção ao meu quarto com o único intuito de dormir. Eu tinha de descansar bem para o outro dia. Muitas emoções me aguardavam e além de tudo, quanto mais cedo eu me deitasse, mais cedo eu dormiria, já que minha mente estava ativa. No fim das contas eu duvidava que conseguiria dormir plenamente.

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