24
Tudo estava certo.
Na noite anterior antes de eu ir embora para a minha casa, Andrew teve a ótima ideia de irmos à praia que costumávamos nadar quando éramos mais novos. Topei a ideia de imediato. Já fazia algum tempo que não curtia nem mesmo uma piscina, então para mim estava mais que ótimo. Ficou tudo confirmado para o dia seguinte e mal pude esconder a minha empolgação.
Combinamos de às nove horas daquela manhã ele passar lá em casa para seguirmos juntos, mas como sou uma pessoa ansiosa, estava de pé antes mesmo das oito, e fiquei pronto antes mesmo das nove horas, sentado no sofá esperando por ele com tudo pronto. Eu ia levar para a praia, uma bolsa com toalhas limpas para me enxugar, óculos escuros, dinheiro, protetor solar, chapéu de praia e tudo mais.
Mamãe até fez piada ao me ver pronto às oito horas da manhã sabendo que Andrew só chegaria por volta das nove horas. Ela comentou que eu sempre fui uma pessoa ansiosa desde a infância. Não podia combinar nada que eu já não conseguia dormir direito pensando naquilo. Era assim toda a vida, ela disse.
É incrível que quando a gente fica mais velho, tudo para a nossa mãe lembra uma história da nossa infância. Elas costumam comparar certas situações para ver o que mudou e o que não mudou desde aquela época. Acho que era por isso que nossos avós contavam tantas histórias.
Andrew chegou por volta das nove e quinze da manhã e eu já estava completamente pronto, portanto me despedi da mamãe e saí com ele rumo à praia que não ficava muito longe dali caminhando a pé. Quando íamos até lá quando éramos mais novos, já se tornara uma rotina e parecia ser bem perto, mas agora que já fazia algum tempo que eu não fazia aquele percurso, pareceu um pouco longe.
Assim que chegamos, sentamos na areia próximo ao mar com as nossas coisas. De vez em quando a água vinha até próximo os meus pés e molhava. A maré parecia estar enchendo naquele dia aos poucos. Andrew foi o primeiro a entrar na água. Ele tirou sua bermuda e a camiseta regata branca quase transparente que usava, mostrando sua sunga azul com vários patinhos de borracha amarelos desenhados. Eu ri quando vi, já que vestia uma sunga vermelha lisa.
― Bela sunga! ― falei.
― Recebi algumas dicas do esquadrão da moda meu querido! ― brinca ele.
Ele pula na água, enquanto eu fico ali obervando-o mergulhar na água salgada da praia. Eu ainda estava completamente vestido, com a minha camiseta regata verde musgo e meu calção azul marinho. Andrew parecia bem à vontade, lavando-se naquelas águas e me veio à memória das vezes que vínhamos juntos até ali, quando corríamos pela praia implicando um com o outro, nos divertindo, quando nada mais na vida importava.
Sou arrancado dos meus pensamentos com a visão se Andrew vindo em minha direção. Ele se aproxima de mim e tenho a plena certeza de que ele vai pegar a sua toalha, mas na verdade ele me puxa e eu dou um grito, já tendo a certeza das suas intenções para comigo. Ele me arrasta para as águas da praia, enquanto eu reluto para não ficar ensopado. Tento me livrar dos braços dele, mas eles então trancados em minha cintura, enquanto me carregava.
Agora já sentia meus pés se molharem enquanto eu ainda relutava para me desvecilhar dos braços de Andrew, que ria executando a tal proeza. Minha luta se torna mais intensa, então os braços de Andrew já não aguentavam mais me segurar. Com o último movimento que dou má tentativa de me soltar, acabo derrubando nós dois. Caio deitado e acabo me molhando todo. Tudo que Andrew faz e rir, enquanto eu me levanto da água completamente ensopado.
― Eu não queria me molhar! ― reclamo. ― E agora olha só o que você fez!
― Veio para a praia fazer o que se não pra tomar um banho? ― pergunta ele ainda rindo.
Respondo a sua pergunta lhe jogando água na cara, então ele se levanta.
― Agora é guerra! ― diz ele tomando impulso para correr atrás se mim.
Saio correndo e gritando para a areia. Andrew está disposto a me alcançar, então mesmo quando eu chego próximo às nossas coisas, não paro de correr. Desvio da primeira investida dele para me pegar e continuo correndo para me livrar dele. Me sentia agora como aquele mesmo adolescente que vinha aqui e ficava brincando de correr na areia da praia. Estou correndo e rindo histericamente cada vez que consigo ludibriá-lo, até que ele me agarra e nós caímos novamente, só que desta vez na areia fofa.
Mesmo depois da nossa queda no chão, Andrew não me larga. Continuamos rindo até que a frequência dos nossos risos vai caindo pouco a pouco, enquanto sentimos a respiração um do outro com os nossos rostos próximos. Sinto meu coração acelerar e uma tensão imprescritível invadir meu corpo. Os nossos sorrisos já haviam sumido por completo e agora apenas nos encarávamos. Sentia meu rosto queimar mesmo que a cabeça de Andrew impedisse que os raios de sol chegassem até o meu rosto.
― São eles mesmos! ― ouço uma garota falar e tiro minha visão de Andrew para olhar para as duas garotas que estavam ao nosso lado. Andrew faz o mesmo me largando por fim para fitar melhor as garotas que pareciam empolgadas.
Uma das garotas era negra de cabelos completamente afros, enquanto a outra era parda de cabelos lisos, cortados em um chanel bem curto. Ela também tinha uma tatuagem tribal no braço direito e não conseguia ver os seus olhos, por estar de óculos escuros, o que a deixava sem expressão alguma. A outra estava empolgada e podia ver bem isso nos olhos negros dela. Podia sentir que ela saltitaria à qualquer momento.
― São eles mesmos Karla! ― diz a garota negra tocando o ombro da parceira.
― Hum! ― faz ela.
Continuamos fitando as duas sem saber exatamente o que fazer depois que levantamos completamente do chão. Ficamos ali parados, fitando as duas com um sorriso nervoso no rosto completamente comgelado. Ainda não tínhamos a certeza concreta de nada e na rápida conversa mental que tive com Andrew assim que trocamos olhares, resolvemos ficar completamente quietos e seguir o fluxo.
― Vocês são o Max e o Andrew né, aquele casal gay maravilhoso da Internet? ― fala a garota negra com as mãos fechadas, contra as próprias bochechas.
― Somos! ― digo por fim aliviado. ― Somos sim!
― Oi, sou a Juliana e essa é a minha namorada, a Karla! ― diz a garota negra se apresentando por fim. ― Eu sou inscrita no canal de vocês no YouTube e amo muito vocês dois. Assisto todos os vídeos!
― Poxa, obrigado! ― agradeço liberando agora um leve sorriso cordial.
― É um prazer conhecer vocês meninas! ― completa Andrew sorrindo gentilmente.
― Vocês podem tirar uma foto com a gente? ― pergunta Juliana.
― Claro! ― respondo dando uma leve olhada para Andrew e depois voltando a olhar para elas.
A garota pediu a sua namorada para pegar o seu celular dentro da bolsa que ela carregava nas costas e a outra assim fez, atendendo aos comandos da parceira. Com alguns poucos segundos, a garota tira um celular preto e abre na câmera para tirar uma foto de nós quatro. Ela mesma puxa a selfie, enquanto a sua namorada Juliana, fica entre Andrew e eu na foto com os braços apoiados em nossos pescoços.
Assim que a foto foi tirada, Karla conferiu para ver se tinha ficado boa ou iria precisar tirar outra. Aparentemente estava tudo certo. As garotas agradeceram e perguntaram se podiam marcar a gente no Instagram, já que nos seguiam. Concordamos logo de imediato, então Juliana agradeceu mais uma vez pela foto e as duas saíram de mãos dadas pela praia bem agitadas.
Fiquei rindo enquanto observava elas irem embora. Era bom sentir aquele carinho. Sentir que de alguma maneira o que você faz, outras pessoas gostam e correspondem de uma forma bastante positiva como aquela. Havíamos acabado de chegar em 1 milhão de inscritos, portanto tínhamos que nos acostumar com aquilo nos próximos passeios que fôssemos fazer em nossas vidas de agora em diante.
― Corre que lá vem os paparazis! ― brinca Andrew e eu dou uma risada.
― Agora somos famosos meu amigo!
Ele dá uma risadinha.
Volto para perto das nossas coisas e sento, tirando a camisa que estava ensopada e melada de areia. Passo a mão pelo meu braço e depois a outra mão no outro braço, limpando a areia grudada. Pego a toalha de dentro da bolsa e passo pelos meus braços e corpo, agora para enxugá-los. Depois que termino de me enxugar, ponho a toalha sobre os meus ombros e fico apenas olhando para os movimentos das águas.
Andrew se aproxima de mim e se senta ao meu lado olhando na mesma direção que eu. Agora tem algumas crianças correndo na beira da água e um cara brincando com um cachorro de jogar frisbee. Sorri quando o cachorro veio até perto da gente para pegar o frisbee e depois correu para perto só seu dono novamente.
― Às vezes tenho saudades da época que vínhamos aqui! ― confessa Andrew por fim.
― É, eu também! ― admito. ― Eu lembro de como nos divertíamos muito quando vínhamos aqui, corríamos de um lado para o outro, jogávamos vôlei com os nossos amigos. Bons tempos.
― É estranho e legal ao mesmo tempo, ver como tudo mudou tão rápido nas nossas vidas.
― É, realmente!
De repente descruzo os meus braços e procuro o chão para me apoiar, enquanto esticava as pernas para a frente à fim de cruzá-las, mas tudo que achei foi a mão de Andrew que automaticamente olhou para mim. Tiro a minha mão rapidamente de cima da sua olhando para seu rosto. Ele não disse nada o que aumentou o meu desespero. Na verdade nem sei porque me senti tão nervoso daquele jeito, coisas do tipo sempre aconteceram nesses anos de amizade que tinha com Andrew, mas só agora eu me sentia estranho de uma forma que nunca me sentira antes com relação à ele.
Agora olhando bem para o que eu estava fazendo, apoiei minhas mãos na areia da praia, enquanto mantinha minhas pernas esticadas e cruzadas, olhando para a frente e implorando para que Andrew não comentasse nada sobre o que acabara de acontecer. Também esperava que não tivesse notado o meu desconforto com relação à isso que me invadira automaticamente. Antes, essas coisas normalmente aconteciam, mas nunca gerou nenhum desconforto, pelo menos não em mim.
Andrew e eu éramos o tipo de amigos que saíam por aí de mãos dadas na rua, ficava o tempo todo agarrado um ao outro e que inventava um namoro falso na hora e espantar os "boys" que a gente não queria pegar. Constrangimento era para os fracos. Sempre compartilhávamos da mesma vergonha. Acho que era por isso que Andrew e eu vivemos como amigos por tanto tempo.
Agora tudo que restava da nossa amizade estava esquisita, bem, talvez eu tivesse esquisito e não sabia nem ao menos o porquê daquilo estar acontecendo. Talvez eu estivesse criando paranóias desnecessárias. Talvez simplesmente estivesse colocando coisas aonde não havia nada. Acho que o problema era eu e todo aquele meu desconcerto. Meu coração ainda se encontrava acelerado. O que será que havia de errado comigo?
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