the bet

Observei Jake tomar seu sorvete. Ele disse estar delicioso, com uma pitada de vitória. Eu revirei os olhos e peguei uma colherada do meu. Ele me estudava. Talvez se perguntava o que fiz em todos esses anos, se pensei nele e a resposta é sim, até demais. Ele desvia os olhos quando o pego no flagra, finge olhar uma loja de roupas feminas. Eu rio. Me sinto feliz ao seu lado. Ele me faz ser impulsiva e agir como uma adolescente. Ele ri de alguma piada que faço. Ainda é difícil, lembrar que posso ser engraçada, Teddy nunca me fez sentir assim.

Ele comenta sobre a ida à casa de Holt e em meio a risos me detalha a sua experiência ao acordar. Eu rio também. Sua risada é contagiante. Me pego suspirando. Dessa vez, a aposta teve um final feliz. Nenhum de nós saiu machucado. Estamos rindo como se nosso término não tivesse acontecido, como se nunca tivéssemos deixado de ser amigos. O pensamento me aflinge. Eu não queria ser sua amiga, mas também não quero ser sua namorada. Não quero passar pela montanha russa de emoções. Meus pensamentos viajam à nossa aposta e sou obrigada a revivê-la.

♤♡◇♧

Jake exibia seus relatórios para mim.

- 10 prisões em um dia, duvido você superar.

Eu ergui uma sobrancelha.

- Isso é um desafio, Peralta?

Ele parou na minha frente e me olhou provocador.

- Sim. Vai encarar?

Eu reprimi um sorriso.

- Sempre.

A semana seguiu agitada. Prendi 5 na quarta, Jake prendeu 7 na sexta. Nossa competição acirrou.

- Prendi 7. Estou ganhando.

Fechei o livro que estava lendo e o olhei. Jake estava deitado na minha cama, me olhando.

- Por enquanto.

- Ah é? Vai me superar?

- Sempre.

Ele riu e me beijou.

Jake prendeu 10 na segunda. Eu, 12 na terça. Estava roubando os casos dos meus colegas, eu precisava ganhar aquela aposta. O prêmio era um violão quebrado, o que Jake usava nas interrogações. Não era um bom prêmio, mas eu o queria mais do que tudo. Eu acordava e dormia pensando no maldito violão. Ele seria meu.

- Como se sente sendo uma perdedora?

- Aí que se confunde. - falei. - Prendi 2 a mais do que você.

- Ontem. - disse na quarta-feira. - Hoje prendi 15.

- Está com medo?

Ele riu e me deu um beijo na bochecha. 15? Como eu superaria aquilo? Os números estavam me estressando. Jake ganhou na quinta, sexta, segunda... Eu não conseguia dormir. Não é saudável me preocupar tanto com uma aposta boba, mas eu me preocupava.

- Bom dia, amor.

Me afastei das carícias de Jake. Estava ocupada demais resolvendo meu quinto caso do dia.

- Tá tudo bem?

Assenti.

- Desde que horas está aqui?

Eu o ignorei, estava concentrada demais nas pistas. Ele colocou a mão na minha mesa. Eu pulei escondendo a pasta.

- Não quero seus casos, só quero saber se está bem. - pelo cansaço, meu cérebro excluiu a última parte e acrescentou um tom irônico na primeira.

Eu torci o nariz.

- Fique na sua mesa. - ordenei.

Ele piscou, tentava processar minha mudança repentina de humor desde o início da aposta.

- Amy.

Eu o ignorei e voltei ao meu caso.

- Amor.

Enfiei meu rosto ainda mais na minha pasta. Ao ouvir ele se afastar, pude voltar a respirar.

- Aqui.

Rosa jogou uma pilha de pastas na minha mesa.

- 10 casos para você. A maioria já está resolvida. Junte com os seus e você o vencerá.

Eu estranhei a atitude. Rosa não era generosa, não gratuitamente.

- O que quer?

- Nada.

Eu a estudei de cima a baixo.

- Foi Jake quem a mandou aqui?

- Não. - disse sem emoção. - Só quero que ganhe dele.

- Por quê?

- Preciso ter um motivo?

- Não quero. - ignorei ela. - Pode tirar isso da minha mesa.

- Amy...

- Por favor.

Ela o fez sem protestar. Mas seus olhos estavam repletos de preocupação. Eu não comia, não fazia pausas. Usava fralda para não ir ao banheiro. Me sentia um fracasso e precisava consertar a situação, imediatamente.

Saí com Jake na terça e me atrasei 2 horas. Talvez estivesse com raiva dele ter ganhado horas antes.

Ganhou também na quarta.

Na quinta.

Na sexta.

Eu não o respondi no final de semana, ignorei todos os seus convites para sair. Ao chegar no precinto na segunda, pude sentir os olhos de todos sobre mim, me julgavam, como se eu não merecesse estar ali. Eu vou provar que estão errados.

- Amy. - eu o olhei. Ele soltou uma respiração. - Já estava preocupado, estou te chamando a 5 minutos.

Dei de ombros.

- Como você está? Não te vi no fim de semana.

- Bem.

- Certo...

Eu não o olhei. Não podia desgrudar os olhos das folhas, não de novo. Mas pude notar o tom de sua voz, estava machucado.

- Estou com saudades.

Eu o ignorei. Também estava, morrendo de saudades, mas não podia admitir, não para meu adversário. Senti uma mão na minha, logo a puxei assustada. Os olhos de Jake se arregalaram, mas logo fecharam-se.

- Tudo bem. - disse com voz de choro. - Vou deixá-la trabalhar.

Terça, eu e Jake empatamos. Não era o suficiente, eu precisava de mais.

Quarta, encontrei um bilhete na minha mesa: "eu te amo - Jake."

Eu o amassei e joguei fora, não precisava de distrações. Ouvi um resmungo, mas o ignorei. Consegui prender 18, Jake caiu no número e prendeu 12.

Ganhei na quinta e na sexta. Jake estava muito atrás e isso me incomodou, parecia que queria que eu ganhasse. Decidi procurá-lo no sábado. Ele pareceu surpreso ao me ver.

- Ames...

- Não quero ouvir. - falei brava. - Você está me deixando ganhar, Peralta. Eu quero uma competição justa.

- Você veio até aqui para falar da aposta?

Eu assenti como se fosse óbvio.

- Faz dias que não conversamos direito, Amy. E você veio até a minha casa por causa de uma aposta?

Não respondi.

- Você me ignora, esquece de mim, tudo o que você pensa é nessa maldita aposta. - seus olhos estão marejados. - Você não se importa comigo?

Novamente, não respondi.

- Porra Amy, eu sinto sua falta. Quero te contar como foi meu dia, mesmo você já sabendo da maior parte e quero que reaja com surpresa, como costuma fazer. Quero que me ensine a gostar de coisas de nerd, como fez com Senhor dos Anéis. Eu quero ser capaz de conversar com minha namorada e quero que ela responda de volta.

Permaneci calada. Ele me olhou, na esperança que eu rompesse meu silêncio. Eu era orgulhosa demais.

- Eu te amo mais do que tudo. - ele piscou, as lágrimas desceram. - Você me ama?

- Sim. - rompi meu silêncio.

- Você se importa comigo?

- Claro que sim.

- Então, vai abandonar a aposta?

É isso que ele está tramando? Eu quis rir.

- Nem ferrando. Sei o que está fazendo, eu estou ganhando, Jake, nem tente tirar a vitória de mim. Seu violão quebrado será meu.

Ele piscou como se não acreditasse no que acabara de ouvir.

- Vá para casa, Amy.

No domingo, não tive notícias suas.

Na segunda, ganhei de lavada.

Na terça, o encontrei almoçando sozinho. Sentei ao seu lado, ele quase sorriu ao me ver.

- Pare. - pedi. - Não quero ganhar assim.

Ele respirou fundo, na sua cabeça contava até 5.

- Você só pensa nisso. Pra quê? Alimentar sua competitividade doentia e ganhar um instrumento musical quebrado? - ele olhou no fundo dos meus olhos. - A que custo, Amy?

- Qual é Jake, não aja como se fosse superior. Foi você quem começou.

- Era pra ser uma brincadeira saudável. Mas você não sabe o que é isso. Por isso estou me tirando da jogada, parabéns você ganhou.

Ele levantou, eu o parei antes que alcançasse a saída.

- Não! Não quero ganhar assim.

- Só aceite.

- Eu não aceito!

- Você prefere me perder? Por que é o que está acontecendo.

Eu não respondi, me afastei em silêncio.

Na quarta, não o vi. Quando cheguei o violão estava em minha mesa.

Não o vi na quinta.

Nem na sexta.

Muito menos no fim de semana.

Há mais de um mais começamos uma aposta, que era para ser uma brincadeira entre casal, agora, parecemos desconhecidos.



Autora: o próximo ainda será flashback. Desculpa pelo tamanho desse, eu me empolguei.
Obrigada pelas 200 leituras <3

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