Vincent entrou no meu quarto quase a derrubando. Eu estava sentada no chão segurando o rosto enquanto as lagrimas saiam sem controle. Vince me abraçou segurando meu corpo.

- Eu estou aqui, eu estou aqui...shhh.

- Eu contei a ela, Vincent. Contei a Azela que o Paul morreu.- Engasguei com os soluços e ele me apertou mais ainda contra o peito.- Tinha que vê, ouvir como ela ficou, eu estou péssima...me sinto péssima.

- Não foi sua culpa, Elle. Não tem culpa.

- Eu queria ajuda-la. Queria abraça-la e seguir seu luto. Meu deus...

- Olhe pra mim.- Ele pediu e eu ergui a cabeça, enxergando embaçado por conta das lagrimas.- Não vai se culpar. A felicidade dele era ajudar a nossa familia, garanto que foi uma honra para ele. Não se culpe, vamos dar um jeito.- Ele beijou minha cabeça.

- me deixe sozinha um pouco, por favor.- disse com a voz rouca. Ele me olhou confuso e assentiu. Se levantou e foi até a porta.

- Me chame se precisar.

Acenei e ele saiu.

- Eu vou dar meu jeito, sozinha.- Sussurrei enxugando as bochechas.

***

No dia seguinte eu acordei e fiquei quase uma hora me olhando no espelho antes de me levantar.

Engraçado como no início era como um sonho, meu rosto estampado em revista e jornais.

E eu tinha dinheiro, eu era a dona dos becos e cassinos, a rainha de Chicago, eles chamaram. E eu viajava todo dia e ia em todas as festas que pode imaginar. A limusine te aguarda na saída e eu sempre saia e me saia tão bem em mentir.

Você costuma saber quem você realmente é....mas eu não.

Eles olham pra mim e me desejam,

Elas olham pra mim e me invejam.

As joias, as roupas...

Eu me escondo atrás de pedras valiosas e deito nas notas de dinheiro enquanto bebo meu vinho. Mas você sabia quem eu era, e é o que importava.

Entrei no galpão atrás da mansão em que Marte e os outros trabalhavam.

- preciso que me venha comigo, para Florida.

Marte estava com uma espécie de cachimbo nos lábios enquanto mexia nas drogas.

- Não posso te ajudar, Eleanor.

Ele voltou a fazer o que fazia.

- Não estou abrindo opções de escolha, Sr.Doodle. Saímos hoje a noite.

Me virei saído quando ele pareceu me seguir.

- Não quero problemas com seu irmão, certo? Não sou seu babá.

Me virei encarando ele.

- Você vai. Fim.- Disse quase entre os dentes e saí.

Eu estava quase nas portas do fundo quando o ouvi cochichar.

- Mimada.

***

O canal de notícia insistia em passar aquela informação pela milésima vez no dia:

"...Policiais ainda estão investigando o caso que ocorreu na tarde de ontem, na terça, quando uma jornalista da revista Lifeaway, recebeu um membro de um policial, tudo indica que..."

Jade desligou a TV e olhou para mim.

Eu estava enrolada no cobertor enquanto Jade me entregava a xícara de café

- Obrigado por ter vindo, de verdade

- Tudo bem Tash, mas não vai conseguir dormir se continuar tomando café.

Jade estava com os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo.

- Não quero dormir – disse

- Quanto tempo vai ficar fora de casa?

- Ate os policiais olharem tudo e ficar tudo certo.

- Tash, acho que você devia contar para eles sobre o bilhete.

- Eles não me deixariam continuar

O telefone tocou, e eu me estiquei o agarrando.

- Alo?

- Que porra é essa Tash Louise Parker?

- Oi Pai.

- Arrume suas coisas e venha embora agora...

- Pai eu estou bem, ta tudo bem- disse calmamente

- Tash, minha filha, não está nada bem... o que fizeram foi muito sério!

- Eu sei, fica calmo, eu estou sobre a proteção da policia..

- E isso devia me deixar mais calmo?? Um policial foi esquartejado..Oh meu deus to velho demais pra me preocupar desse jeito..Meu coração não aguenta

- Pai pelo amor de Deus não fale assim, já passou eu..

- Cade seu namorado quando precisamos dele? - Nesse momento eu paralisei quando meu pai mencionou Calvin, ele não estava mais aqui, eu o mandei embora e uma tristeza me invadiu lembrando daquela noite em que eu descobrir tudo, juntei forças e respirei fundo para não chorar naquele momento.

- ... Cade ele?? Passa pro Calvin, preciso brigar com ele e falar muita coisa na qual ele não vai gostar.

- Calvin.. é.. ele não está mais aqui Pai, já faz um tempo que separamos.

- Como assim? E porque só agora que eu to sabendo disso ?? O QUE DIABOS ACONTECEU?

- Esses tempos pra cá tem sido muita correria.. nós brigamos e acabamos terminando é.. complicado pai, outro dia te explico, ok? Não quero falar sobre isso ainda.

- A única coisa que o pedi para aquele fumante foi para que ele te protegesse não importa como... e agora veja onde você se meteu minha filha.

'Protegesse não importa como..." a frase ficou solta no ar e uma lembrança me chamou atenção " Estava tentando te proteger" foi oque ele disse naquela noite, tentando justificar o que ele fez, isso me incomodou de verdade..

- Tash? Filha? Ainda está ai? - me desperto do meu devaneio lembrando que meu pai ainda estava do outro lado da linha

- Oi eu to sim, desculpa pai eu estou muito cansada, outra hora eu falo com você... não se preocupe eu estou bem de verdade

- ah meu Deus, me ilumina viu, porque ta difícil acreditar, mas você sabe o que faz, me liga qualquer hora entendeu, agora vou ali terminar de arrumar as coisas no bar. Tchau minha filha.

- Tchau pai, ate mais – Desliguei aliviada, amava meu pai mas estava pronta para falar com ele tudo que vinha acontecendo na minha vida, estava exausta tanto fisicamente quanto psicologicamente.. Jade estava em outro comodo enquanto eu fiquei olhando para janela .

- Calvin, porque?.... Preciso de você, agora mais do que tudo!! – olho para o meu celular para uma foto de nós dois na época em que estávamos nos conhecendo em Las Vegas, uma gota pingou na tela do celular quando só depois percebo que um lado do meu rosto estava molhado.

*********

Dorian estava sem camisa na sala enquanto assistia um filme e comia um pacote de Doritos.

- Ei mocinha volte aqui.- Me virei encara ele.

- Mocinha?.- Cruzei os braços.

- Sabe, me sinto da família.- Ele sorriu, como um gato.

- Preferia quando me chamava de chefe.-Disse me sentando na mesa de centro e cruzando as pernas.

- O que devo dizer a seu irmão? Que você fugiu ou que foi raptada?.- Os olhos azuis me encaram fundo quando ele ficou sério.

- Como você faz isso?.- Estava realmente curiosa.

- Tenho um sexto sentido.- Eu entendi a referência de Meninas malvadas.- Não vá, El.

- Quero ajudar, o problema é tão meu quanto de Vincent, Dorian.

Ele revirou os olhos e pegou uma tortilha de Doritos.

- Vai acabar se metendo em problemas.

Eu sorri.

- Falando desse jeito até parece que se importa, Allen.- Dei um tapinha no seu joelho e saí enquanto ele me seguia com o olhar.

**************

Vincent estava socando o saco de areia com tanta força que Dorian se assustou com o barulho. Calvin estava fazendo flexões no tapete. Dorian parou no centro da sala.

- Ola, meninas.- Vince não parou, nem Calvin.- Eu volto outra hora.

- O que quer Allen?.- Vince disse agora chutando o saco.

- Trouxe notícias.- disse ele se sentando no chão de madeira.- Calvin, se ligasse a TV saberia que sua garota recebeu um presentinho de William Blake.- Calvin parou e se levantou encarando Dorian como se fosse soca-lo.

- Do que está falando?.- Ele subiu as escadas para ir para a sala.

- Vince, Eleanor foi para a Flórida.- Vince socou tão forte que o saco se soltou e caiu do teto.

- Você a deixou ir?.- Vince se aproximou.

- Não, acho que a pergunta é, você não a impediu? Qual é, Vincent, não sou dono dela, nem você.

- Vai se ferrar, Dorian.- Ele disse jogando a água da garrafa no rosto.- Vou atrás dela.- Ele foi em direção da escada.

- Acho que devia se preocupar com o que Blake anda fazendo.

Vince se virou encarando Dorian.

- Vá ao ponto, Dorian!

- ham...antes deixe me perguntar... Vocês tem seguro da joalheria?

Vince o olhou confuso.

-....Merda!

********

Continua....