Capítulo 21

Sina Deinert

Meu corpo parecia ter ficado mais pesado ao ver ele ali. Mergulhei de uma vez e peguei impulso nadando até o outro lado.

Subi passando a mão no rosto e me apoiei na borda.

— O que queria? — perguntou me olhando.

— Nada importante, não queria atrapalhar. — ele desviou o olhar.

— Diz logo. — segui até às escadas e subi lentamente saindo da piscina.

Noah pegou meu roupão e segurou de uma forma que eu só precisava passar meu braços, e assim o fiz. Amarrei na minha cintura e nos sentamos nas cadeiras.

— Qual a história de vocês? — perguntei olhando ele enquanto espremi meu cabelo.

— Toda? — assenti. — Por que quer saber?

— De certa forma estou com vocês, não? — fiquei olhando ele que demorou um pouco, mas assentiu. — Não precisa contar do início, só o essencial.

Noah olhou rapidamente o céu e depois alisou as mãos.

— Eu sou a sexta geração. O nome Urrea só começou a ficar conhecido depois da terceira geração. — assenti. — Nossos territórios são diversos, mas todos têm ligação. Não importava como e nem quando, nosso plano era só expandir cada vez mais.

— Ouvi bem pouco de vocês. — digo encarando minhas mãos. — Pode continuar.

— Geralmente nos casamos de papel assinado, assim carregamos o nome da família dos outros e tínhamos posse de tudo que pertencia a eles.

— Era o jeito mais prático, não é? — pergunto e ele me olha. — Pode continuar. — desvio o olhar.

— Enfim, foram anos, décadas levantando o nome. Meu pai se casou com a filha do dono da máfia daqui.

— Seu pai era o americano então? — assentiu.

— Eles ficaram por lá, do estados Unidos eles comandavam os outros seis territórios que tinham. — levantei as sobrancelhas surpresa. — Até que veio eu.

— O herdeiro dos Urreas. — digo cruzando as pernas. — Meus pais diziam que ninguém nunca tinha visto seu pai. — ela deu uma leve risada.

— Eles tinham aliados fortes, então faziam isso por eles, meus pais queriam dar o melhor treinamento para todos ali. — assenti lentamente. — Só que tinha uma, cujo seu território era algo difícil de conseguir. — sorri.

— A italiana. — digo olhando para ele.

— Ela. — disse olhando a piscina. — Foram sete anos esperando alguma notícia do lado de lá, sete anos em que eu apenas melhorava tudo que era possível. Quando chegou a notícia de que os herdeiros italianos iriam ter um filho, meu pai viu uma oportunidade.

— De tomar o território italiano? — ele não me olhou e nem respondeu.

— Eu era novo, mas sabia perfeitamente o meu papel caso o sexo daquele bebê fosse uma menina. — ficou em silêncio. — Alguns meses depois veio a confirmação, eles iriam ter uma menina. — me olhou.

— Conseguiram o acordo? — assentiu.

— Mas não foi como planejado. — franzi o cenho confusa. — Os anos foram passando e eu sequer cheguei perto da Itália.

— Como assim?

— Meu pai me disse que só queria o território, nada de casamento, nada de aliança, nada de divisão de bens. — arregalei os olhos.

— Mas é isso é traição. — ele riu negando. — Vocês não ligavam. — digo revirando os olhos.

— Era só aquilo que precisávamos, o maior já conquistado. — neguei lentamente. — Mas a minha mãe era contra, dizia que tínhamos que fazer o de sempre.

— Sua mãe ao menos tem senso. — ele riu.

— Meu pai cogitou isso, os anos foram passando e ele dizia que conversava com alguém próximo sobre ela. Quando eu completei 20 anos foi quando ele mudou de ideia novamente.

— Não ia ter casamento? — ele negou.

— Até ia, mas ele me disse que eu não deveria me encontrar com a garota, por alguma razão ele achava que eu iria me apaixonar, e não era isso que ele queria.

— Qual o problema em se casar com a filha deles? — cruzei os braços ainda confusa.

— Meu pai recebeu um relatório sobre ela, disse que a garota não era nem um pouco ideal, ou nas palavras dele, incompetente. Suas qualificações não eram boas, seu único destaque era desnecessário. — olhei a piscina.

— Qual era a qualificação dela? — pergunto com a mente distante.

— Ele não me disse, ele só me pedia para fazer o meu trabalho que ele mesmo lidava com o meu casamento. — suspirou. — Mesmo aquilo sendo o meu destino, era estranho saber que eu iria me casar com uma pessoa que nunca vi.

— Então vocês nunca se viram? — olhei ele que negou.

— E nem vamos. — deu risada. — Os pais dela sofreram traição e morreram, a filha foi junto e isso só serviu para o meu pai ressaltar o quão incompetente ela era. — fechei minhas mãos. — Mas isso você já sabia. — assenti.

— E qual o seu problema com Henrique?

— Henrique tomou o lugar pois disse que os ex chefes confiavam nele, tanto que tinham planos para a menina se casar com ele. — fiz uma careta horrorizada.

— Que nojo. — ele me olhou. — Você ainda pensa em tomar o território? — assentiu.

— Só que do meu jeito. — mordi o lábio inferior. — Você morava com eles na mansão, conheceu a Íris?

— A sua prometida? — disfarço minha voz e ele afirma. — A gente só se falou uma vez, trombei com ela por acidente no corredor, estava chorando e eu perguntei o que havia acontecido.

— E o que tinha acontecido? — olhei meu dedos.

— Nada, ela só disse que queria ser feliz, suportou tanta coisa, não queria ter que se casar a força também. — voltei a olhar ele que assentiu.

— E. — ele parou de falar. — Ela era bonita? — dei risada.

— Ela tinha um bom coração, se nada tivesse dado errado, tenho certeza que se apaixonaria por ela. — digo abaixando o olhar. — Eu vou dormir, obrigada por contar a história.

— Sina? — ele se levantou comigo. — Não se lembra do que ocorreu ontem? Disseram que estava bêbada.

— Ah. — dei risada e levei a mão na cabeça. — Estou tentando me lembrar, mas não consigo, e se eu tiver quebrado algo, me desculpa. — ele passou a mão no cabelo.

— Você não tem nada para contar? — prendi minha respiração. — Segredos não são bem vindos aqui e eu já te falei, somos uma família. — balancei a cabeça rapidamente negando.

— Não, está frio, preciso ir. — sai em passos rápidos e corri até o quarto.

Fechei a porta e levei a mão no peito respirando fundo.

— Íris? Sério? — resmunguei indo até o banheiro. — Achei que fossem melhores. — tirei meu roupão e me enfiei embaixo da água quente.

...

Noite em claro, cabeça desfocada e treino mal feito, assim foi meu dia.

Minha consciência está pesando, mas está pesando de um jeito que eu nem sabia que era capaz. Não aguento mais mentir e guardar isso pra mim, está me sufocando porque eles me acolheram.

Noah não estava em casa, Josh, que seria a pessoa de confiança que eu falaria não está também, eu não posso contar a ninguém se não for eles primeiro.

Já passava das duas e meu sono ainda não havia chegado. Cansada de ficar deitada nessa cama, eu sai e eu fui atrás de algo para me aliviar.

...

Cheguei no local onde treinam luta e olhei em volta. Peguei às luvas e parei em frente a um saco de pancadas. Coloquei elas com rapidez e comecei a extravasar tudo o que sentia ali.

O som no local era apenas dos meus socos altos e com alguns gritos de raiva sendo deixados escapar por mim.

"Eu não quero isso mãe,não vê o quão injusto é?Gritei em meio ao choro."

"O mundo não é justo Maria,já tem 14 anos,está na hora de ouvir sobre isso.Neguei."

"Eu não quero,minha vida só diz respeito a mim,isso não inclui assinar a merda de um papel!"

"Isso é o nosso Maria,nossa família deu duro seguindo uma tradição.Desviei de seu toque."

"Não vou fazer isso,eu já dou tudo de mim para ser a melhor filha para vocês,para conseguir ao menos metade do que fizeram,não me obriguem a casar com alguém!"

Minha vista já estava embaçada pelas lágrimas, mais um grito alto seguido de um soco extremamente forte e foi o suficiente para aquele saco estourar e a areia cair sobre meus pés.

"Isso é nosso Maria,nossa família deu duro seguindo uma tradição.Desviei de seu toque."

"Não vou fazer isso,eu já doi tudo de mim para ser a melhor filha para vocês,para conseguir ao menos metade do que fizeram,por favor,não me obriguem a casar com alguém!"

Minha vista já estava embaçada pelas lágrimas, mais um grito alto seguido de um soco extremamente forte e foi o suficiente para aquele saco estourar e a areia cair sobre meus pés.

Estava prestes a ir de encontro ao chão também, mas senti um abraço por trás me rodear e lá estava eu novamente, chorando com todas as minhas forças me sentindo sufocada com esse passado.

— Precisa liberar isso. — escutei a voz dele e neguei ainda sentindo seu abraço.

— Eu menti Noah... — digo em meio ao choro. — Omiti metade da minha vida!
______________________________________________
Nós vemos no próximo capítulo☆

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top