Capítulo Seis

Sherlock estava sentado ao lado da cama de John, ele nunca imaginava que chegaria o dia em que o veria daquele jeito, diversas máquinas estavam ligadas a seu corpo, e ele estava tão quieto, o único movimento era o de sua respiração e mesmo essa não era autônoma.

Os médicos haviam dito que ele devia se despedir, o homem provavelmente não sobreviveria as próximas 24 horas. De início ele realmente tentou, era um fato científico no final das contas, as pessoas morrem. Mas ele simplesmente não conseguia ver dessa forma, não era uma pessoa naquela cama, era John Watson, seu melhor amigo, seu...

Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu os bips das máquinas acelerarem, ele se levantou e chegou mais perto da cama.

- Não, John, não - ele pegou a mão do amigo enquanto apertava desesperadamente o botão ao lado da cama para que alguém aparecesse - você não pode fazer isso comigo, você não pode me deixar. - O som das máquinas mudou de bips rápidos para um único e interminável, - John, por favor, não. - Sherlock não sabia dizer quando havia começado a chorar - Eu te amo, John, por favor não me deixe.

Médicos entraram no quarto com as máquinas necessárias para reiniciar o coração do homem, duas enfermeiras que os acompanhavam empurraram Sherlock para fora da Sala, ele poderia resistir mas o choque de ver John morrendo o deixou sem reação.

Tudo o que ele pode fazer foi observar pela janela de vidro da porta enquanto o corpo de John recebia doses de adrenalina e choques cada vez mais fortes.

Alguns minutos depois ele viu o médico sacudir a cabeça, o homem olhou para o relógio e anotou algo em sua prancheta e andou na direção da porta.

-Eu sinto muito, senhor Holmes, - ele disse ao sair.

- Não, - gritou Sherlock, ele entrou correndo no quarto e quase derrubou uma das enfermeiras, ao se aproximar da cama ele novamente segurou a mão do amigo dessa vez com mais força - Você não podia.

Ele se inclinou e depositou um beijo nos lábios frios de John, enquanto cada vez mais lágrimas caiam e molhavam seu rosto.

-Sherlock?

Sherlock abriu os olhos, ele estava sentado em uma cadeira no quarto de John, seu amigo estava sentado na cama da enfermaria em que havia passado a noite, ele tinha vários curativos em seu corpo, usava uma bota ortopédica no pé esquerdo e tinha gesso cobrindo seu pulso direito.

Sherlock não conseguiu evitar o suspiro de alívio ao perceber que a morte de John era apenas um pesadelo, ele percebeu que o amigo já estava vestido com as próprias roupas ao invés das do hospital.

-Por quanto tempo eu dormi? - Sherlock passou a mão pelo rosto, ele ficou surpreso ao descobrir que havia vestígios de lágrimas nos cantos de seus olhos e tentou disfarçar.

- Não sei, não faz muito tempo que acordei também - ele percebeu a expressão de Sherlock - Pesadelos?

-Algo assim - Sherlock se levantou - Então, pronto pra ir?

-Sim o médico trouxe os papéis para eu assinar enquanto você dormia.

Sherlock entregou a muleta que estava encostada aos pés da cama para o amigo.

- Prefiro a minha bengala - resmungou o homem com desgosto ao pegar o objeto, Sherlock sorriu um pouco com o comentário.

Eles saíram do hospital, John gemia a cada movimento, apesar de seus ferimentos não serem graves graças a feliz coincidência de ele ter acabado de sair quando a clínica explodiu, seu corpo estava coberto por hematomas pelo impacto da explosão que o havia lançado para a rua.

Eles pegaram um táxi para o 221B Baker Street, Sherlock ajudou John a sair do carro quando chegaram, o médico foi mancando com a ajuda da muleta até que a ponta desta ficou presa em um buraco na rua o fazendo se desequilibrar.

Sherlock conseguiu segura-lo pelo braço evitando a queda, mas acabou apertando um dos cortes mais profundos em seu braço. John não conseguiu evitar o grito de dor e a onda de palavrões que veio a seguir, no instante seguinte Sra. Hudson estava parada na porta olhando para eles com reprovação.

- Meu Deus! O que vocês fizeram dessa vez? - ela disse olhando para Watson

- A clínica explodiu ontem - disse John quando Sherlock soltou seu braço e a dor diminuiu

-Ontem? - ela disse enquanto os homens passaram pela porta - E nenhum dos dois senhores pensou em avisar esta frágil Senhora?

Os dois homens se encararam tentando conter o riso, de todas as palavras, essa era última que usariam para descrever a mulher.

- Sentimos muito - disse John - Eu passei a maior parte do tempo inconsciente.

-Oh, não se preocupe, querido. - ela olhou para Holmes - E você? Porque não me ligou?

-Ele ficou comigo no quarto e acabou dormindo - Sra Hudson sorriu ao ouvir isso, e o modo como ela olhou para eles deixou ambos desconfortáveis.

-Vão descansar. - ela disse quando Watson soltou um bocejo fingido - Vou preparar um chá para vocês.

-Leve algo para comer também... -Disse Watson já esperando pela resposta que viria a seguir

-Eu não sou sua empregada

Os homens sorriram e foram para as escadas, John se atrapalhou um pouco mas Sherlock o segurou evitando mais uma vez que ele caísse e dessa vez segurando em uma parte menos ferida de seu corpo. O curto caminho até o apartamento demorou três vezes mais do que normalmente faria, quando finalmente entraram John estava resmungando algo como: "Eu realmente prefiro a bengala"

O médico se jogou na poltrona mais próxima a janela, cansado, Sherlock estava prestes a fazer o mesmo quando percebeu uma folha de papel amarelada e com as bordas queimadas sobre sua mesa, ele o pegou e viu as seguintes palavras escritas com uma letra extremamente rebuscada:

"A próxima será para valer"

Sherlock sentiu seu coração parar por um momento com a ameaça, olhou para John que tinha os olhos fechados e massageava os lados da cabeça como se tivesse uma dor de cabeça. Ele guardou o bilhete em seu bolso, antes de se sentar na outra poltrona.

-Você está bem? - perguntou John ao abrir os olhos e olhar para ele - Está mais pálido que o normal

-Tudo bem - mentiu Sherlock - apenas cansado.

Ele se lembrou do que Moriarty havia dito: " Esse foi o meu aviso, qual foi o seu?".

Moriarty estava certo quanto ao criminoso, mas ele não deixaria que nada mais acontecesse a John, ele o manteria seguro dessa vez, não importava o que tivesse que fazer ou com quem teria que se unir para protege-lo...

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