Capítulo Doze

Ao olhar para a imagem, Sherlock sentiu como se fosse incapaz de respirar. Aquilo não podia estar acontecendo. John estava em perigo novamente. Por um momento apenas ficou parado, o único movimento de seu corpo era o tremer das mãos. Quando finalmente conseguiu se recuperar do choque o suficiente para se mover, olhou para o verso da fotografia, à procura de novas informações.

Se apenas olhar para a foto havia sido o suficiente para se sentir apavorado, olhar para inscrição atrás da imagem o fez sentir como se estivesse realmente morrendo. A frase era escrita com o mesmo código que conhecia tão bem, o seu código, e dizia:

"Você tem até o pôr do sol se quiser encontrá-lo com vida"

Em qualquer outra situação, Sherlock não ficaria preocupado com o prazo, seu lado racional funcionava mais sob pressão de qualquer jeito, mas a ideia de John só ter mais três horas e aquela maldita foto não ter nenhum elemento que possibilitasse a identificação do lugar, estava o deixando em pânico, o que não era bom, porque pessoas em pânico não pensam racionalmente e não resolvem mistérios.

Ele buscou desesperado por alguma informação que havia perdido na imagem ou no envelope, era tudo genérico demais, a imagem tudo o que podia dizer era que a foto havia sido tirada em uma Polaroid, mas isso não era exatamente fácil de rastrear. Havia também um cheiro no envelope que parecia familiar. Ele apenas não conseguia se lembrar de onde. O foco de luz não permitia ver o chão e a pouca parte visível da parede era lisa e de cor opaca.

Deixando suas emoções dominá-lo por um momento ele socou a parede com força e gritou, um grito de raiva e medo que deixou sua garganta crua. A dor em sua mão fez sua mente clarear um pouco e ele correu para fora do quarto e desceu as escadas chamando pela Sra. Hudson.

- O que está acontecendo? - A mulher saiu da cozinha ao ouvir o chamado. Ela parou em frente do homem que tinha um olhar desesperado no rosto. Isso foi suficiente para preocupá-la também, porque um Sherlock emocional era simplesmente errado. - Oh, meu Deus, algo aconteceu com o doutor?

Sherlock piscou, surpreso com a pergunta, ele podia dizer que Sra Hudson não tinha visto a foto, ela não estaria calma ao lhe entregar o envelope se tivesse. Decidindo ignorar a pergunta, o detetive perguntou:

- O envelope, você disse que o carteiro ainda não tinha passado, como sabia que havia uma carta na caixa se o carteiro ainda não havia passado?

- Alguém bateu na porta, eu abri e não havia ninguém, bem, havia um menino correndo a distância, a caixa de correio estava aberta, podia ver que tinha um envelope dentro.

- Não achou isso estranho? - Sherlock não conseguiu disfarçar a raiva na voz. Não era culpa da mulher a sua frente, mas ele estava se frustrando cada vez mais por não conseguir informações úteis

- Sr. Holmes, depois de tê-lo como meu inquilino por tantos anos, um garoto batendo na porta e correndo e uma carta anônima, não chegam nem perto da minha definição de estranho. - Sra. Hudson não parecia incomodada com a ofensa. - Agora, vai me dizer o que está acontecendo?

- Eu preciso da descrição do garoto.

Sra Hudson suspirou irritada com a forma que Sherlock ignorava suas perguntas, mas respondeu sabendo que isso era importante.

- Calças Jeans pretas e um moletom cinza, não  prestei atenção mas parecia ter alguma inscrição. O cabelo dele era escuro e curto, nada que desse para identificar direto, estava de costas.

Antes que terminasse de falar, Sherlock estava saindo, a descrição não ajudava muito, mas talvez um dos garotos que usava como informantes soubesse de algo. Ele havia dito a John há um tempo que crianças de rua eram o melhor sistema de informação de Londres, e esperava que funcionasse dessa vez.

Não demorou muito para encontrar Jill ou A4, como era conhecida nas ruas. Era uma pré adolescente de cabelos e olhos castanhos e pele morena. Ela era um dos melhores contatos de Holmes, o detetive havia inclusive convencido Lestrade a não prendê-la algumas vezes, justificando que os roubos que fazia não era mais que um pagamento justo pela ajuda em capturar os verdadeiros criminosos.

- Sabe o quanto é difícil achar alguém só com essa descrição? - A menina perguntou com sua habitual arrogância - Você tem sorte que eu sou boa, mas isso vai custar.

- Apenas seja rápida. Eu preciso dessa informação, é urgente.

- Que seja 

A4 sorriu e deu as costas ao detetive, mas ele segurou seu braço esquerdo antes que começasse a se afastar. A garota se virou e Sherlock pegou a carteira em sua mão direita antes que ela tivesse tempo para esconder.

- O pagamento só depois do trabalho - Ele disse sério.

A garota não demonstrou raiva ou remorso por ter sido pega, apenas deu de ombros e voltou a se afastar rapidamente.

Sherlock suspirou, sabia que A4 era boa no que fazia, mas isso não o deixava menos preocupado a descrição era muito genérica para permitir encontrar alguém com rapidez. Ele deu sinal ao primeiro taxi que passou. Moriarty tinha sido inútil até o momento, mas de qualquer forma era necessário agora.

O detetive não esperou um convite quando Moriarty abriu a porta, ele empurrou o criminoso e entrou. Moriarty lançou um sorriso cínico antes de se aproximar do homem invadindo seu espaço pessoal. Antes que pudesse tocá-lo como sempre fazia, Sherlock segurou seus braços com força.

- Não que eu não aprecie um pouco de violência, mas esperava um pouco mais de romance da primeira vez - Sherlock o empurrou com força e Jim cambaleou um pouco antes de recuperar a pose. O sorriso cínico ainda brincava em seu rosto quando voltou a encarar o homem mais alto. - Acho que isso quer dizer que já se deu conta que seu animal de estimação está faltando.

- Seu desgraçado, você... - Sherlock avançou na direção de Moriarty

- Calma, tigre, eu não fiz nada. Mas eu tenho olhos nas ruas. É a minha cidade afinal, eu tenho que estar bem informado.

- Se você sabe o que aconteceu, por que não impediu? Por que não me avisou?

- Por que eu deveria? - Sherlock pareceu perder todo o controle e empurrou Jim contra a parede, o antebraço direito pressionando o estômago e o direito a garganta do homem.

- Você não fez nada até agora que me ajudasse, as únicas informações relevantes até agora foram as relações entre as vítimas. O que, além de me dar a certeza de que o Diabo não gosta de você, não ajudou em nada.

Apesar da situação, Moriarty riu.

- Não é como você esteja se saindo tão bem, meu amigo - Moriarty deu tapinhas delicados na bochecha do detetive, antes de empurrá-lo para trás - Eu esperava mais do melhor consultor da Scotland Yard, tenho certeza de que nosso querido Lestrade também.

Ele alinhou sua roupa enquanto se aproximava da mesa de canto e serviu uma dose de whisky para si mesmo.

- Quando você vai parar com esses jogos?

- Por que eu deveria? - Jim pegou um charuto, ele ofereceu um a Sherlock que continuou encarando-o com um olhar frio. - Isso é um jogo, se você é esperto, você vence. - Vendo o desprezo no rosto do detetive ele bufou - Sim, meus homens podiam ter evitado o sequestro, mas seria idiota de minha parte permitir que fizessem isso quando o sequestro pode ser a chave para descobrir quem é o tal Diabo.

- Você os seguiu, você sabe onde ele está

- É claro que eu sei.

- Então me diga.

- Não.

- Nós tínhamos um acordo.

- Tínhamos é a palavra chave - Agora era Moriarty quem parecia estar com raiva - Eu passei todas as informações que você pediu, coloquei meus homens a seu serviço, mas você não conseguiu nenhum resultado em meses. Eu não vou estragar a única vantagem que eu tenho porque a vida de um homem está na linha de fogo.

- Seu filho da puta - Não era uma linguagem que Sherlock usasse normalmente, mas ele nunca sentiu tanta raiva quanto naquele momento. Sua mão voou imediatamente para o coldre antes de lembrar que não havia pego sua arma ou mesmo o sobretudo ao sair.

- Procurando sua arma? - Moriarty riu - Como se você fosse mesmo me matar. Matar a única pessoa que tem uma chance de tirar seu namorado dessa situação com vida.

- Eu me rebaixei ao nível de trabalhar com você para manter pessoas inocentes seguras.

- Vidas inocentes? - O homem bufou - Nós dois sabemos que é besteira. Todo o acordo foi por causa do Johnny boy, para mantê-lo seguro. Veja você fracassou. E agora eu sou a única pessoa que sabe onde ele está, que pode salvá-lo.

Moriarty sempre soube em quais botões mexer para abalar Sherlock, mas dessa vez, era diferente. O detetive sentiu seu coração apertar, sabia que o criminoso estava certo. A pessoa com quem mais se importava estava em perigo e podia ter apenas mais algumas horas de vida. E era tudo culpa dele.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top