Capítulo Cinco

-Nada ainda? - perguntou John ao entrar na sala do apartamento que dividia com Sherlock, seu amigo estava andando de um lado para o outro, ele podia ver vários adesivos de nicotina em seus braços - Acho que não

Ele ficou surpreso quando Sherlock se aproximou e o agarrou pelos ombros com força o encarando, o homem tinha olheiras e parecia ainda mais pálido que de costume, apesar de saber que Sherlock não havia comido na última semana ele não havia percebido o quanto a falta de alimento o havia afetado até aquele momento.

-Por que eu não consigo, John? - disse Sherlock sacudindo um pouco os ombros do amigo - Ele matou mais duas pessoas nas últimas duas semanas e eu não consegui achar nenhuma ligação entre as vítimas.

-Talvez não haja uma ligação

-Sempre há uma ligação - Sherlock soltou os ombros de John mas continuou olhando para ele - mesmo o aleatório não é totalmente aleatório - ele viu o olhar confuso no rosto de John e suspirou - O que eu quero dizer é que as pessoas, todas elas, tem padrões. Você por exemplo, essa camisa azul, como você escolheu vestir ela essa manhã?

-Apenas a peguei e vesti, não há um motivo específico

-E por que ela estava em seu armário? 

-Porque eu comprei, gosto desse tecido e dessa cor

-Exato - disse Sherlock juntando a ponta dos dedos e sorrindo - Você escolheu aleatoriamente mas dentro de um padrão já estabelecido - John acenou com a cabeça, ele nunca havia parado para pensar nisso mas seu amigo estava certo como sempre - No caso de um assassino ele poderia ser aleatório quanto as pessoas ou quanto aos lugares, nunca mataria alguém aleatório em um lugar aleatório pois não haveria nada que sugerisse uma ligação. E como não há ligação alguma entre os lugares tenho que assumir que a ligação seja entre as pessoas.

-Você sempre conseguiu dizer a vida inteira de uma pessoa apenas olhando para ela, por que dessa vez é diferente?

-Não é, eu olhei para os corpos, pude le-los tão perfeitamente como todas as outras vezes, apenas... eu não posso achar nenhuma relação entre eles e no entanto, deve haver alguma coisa. Tem que haver alguma coisa, O que eu estou perdendo John?

-Eu não...- o final da frase foi abafado pelo som do celular de Sherlock, o homem olhou para o aparelho

-Vamos - disse pegando seu casaco e cachecol 

-O que aconteceu?

-Uma garota foi encontrada morta

-Assassinato?

-Suicídio - ele continuou andando na direção da porta - Você vem?

-Gostaria mas não posso, - disse John - Tenho que ir para a clínica hoje

-Nos vemos mais tarde então

Sherlock saiu do apartamento, ao chegar na rua ele pegou um taxi e deu o endereço que Lestrade lhe havia passado. Assim que chegou ao parque Anderson foi encontra-lo com a cara mal humorada de sempre. 

- O que você está fazendo aqui? é apenas um suicídio, seus serviços não são necessários 

-Sou eu quem digo o que é necessário e o que não é, Anderson - disse Lestrade aparecendo por trás do homem fazendo-o se assustar um pouco - Se o chamei é porque quero a opinião dele, vamos...

Sherlock sorriu um pouco para o desgosto no rosto de Anderson e seguiu Lestrade. Perto de uma das árvores, cercado pela equipe de Greg estava o corpo de uma garota que parecia ter por volta de quinze anos seus cabelos eram pretos cacheados e sua pele morena apenas alguns tons abaixo do negro.

Lestrade pediu para que seu pessoal se afastasse para dar lugar a Sherlock, este se abaixou ao lado do corpo analisando-o de todas as formas possíveis. Não havia marcas de agressão ou nada que indicasse que a vítima tentou fugir.

- Então, - disse Lestrade - descobriu alguma coisa? 

-Bem ela é...

-Não esse tipo de coisa, ela tinha uma carteira de identidade, já sabemos quem é, Gwen Harris, a mãe foi chamada.

-Onde ela está?

- No hospital - disse Lestrade,- está em estado de choque depois de ver a filha

-Compreensível - disse Sherlock - talvez eu deva falar com ela

-Sim, bem, não temos nada a perder - disse Lestrade

-Nada a perder? - disse Sally aparecendo de repente parecendo incrédula - A mulher está em choque e você quer mandar um psicopata falar com ela?

-Eu não sou um psicopata

-Oh sim - retrucou Anderson aparecendo - Sociopata altamente funcional, já ouvi você dizer isso, mas não vejo diferença

-É claro que não, você não pode nem ao menos diferenciar um suicídio de um assassinato - disse Sherlock

-Assassinato? -disse Anderson com um riso exagerado - você não pode estar falando sério

-Oh sim estou falando sério - disse Sherlock com a arrogância de costume, - olhe para ela. O que você vê?

-Uma garota suicida, provavelmente tinha problemas familiares ou na escola. Adolescentes desse tipo não são tão raros Holmes. Muitos pobres coitados pensam que essa é a única saída para os problemas. Ela não tem marcas de agressão ou nada do tipo. Então...

-Ok, você já deu sua opinião equivocada - disse Sherlock erguendo a mão para faze-lo parar de falar - Em primeiro lugar deixe me desarmar suas teorias, a calça e os sapatos dela são de grife, então permita-me dizer, que os pais são muito generosos, a mãe na verdade, ela tem uma tatuagem no pescoço coisa que um pai dificilmente permitiria. Pais separados e a mãe provavelmente permitiu a tatuagem para irritá-lo.

-Pais separados, isso seria um ótimo motivo para depressão

-Talvez para alguns, mas ela não era depressiva. Pessoas depressivas dificilmente se cuidam tão bem. Suas unhas são bem cuidadas e eu duvido que ela tenha se maquiado com a intenção de sair de casa e se matar. E agora vamos ao fato principal que comprova que eu estou certo e você errado.

-Isso seria...?

-A camiseta, ao contrário no resto da roupa, a camiseta não é de grife, não pertence a ela, e é pelo menos dois números maior que o dela

-Uma amiga deve ter emprestado ou algo assim. Que diabos isso importa?

-É justamente o diabo que importa - disse Sherlock 

-O que? - dessa vez foi Lestrade quem falou

-Olhe para a camiseta

Lestrade e Anderson fizeram isso, nenhum dos dois tinham dado muita atenção para a roupa que a garota estava vestindo antes. Anderson manteve sua expressão neutra mas Greg ficou imediatamente pálido ao olhar para as letras azuis estampadas na camiseta preta.

"O diabo me fez fazer isso"

O sorriso de satisfação ao ver a total confusão de Anderson se apagou quando seu celular começou a tocar, não era o costumeiro toque de mensagem, só isso já era suficiente para saber que não era algo bom, as pessoas só lhe ligavam se o assunto muito sério.

-Alô - ele disse levando o aparelho a orelha

-Senhor Holmes? - perguntou uma voz feminina do outro lado

-Sim?

-Desculpe incomoda-lo, mas uma clínica explodiu há algumas horas, algumas das vitimas foram trazidas para nosso hospital, e o senhor está como o contato de emergência de uma delas. Senhor John Hammish Watson...

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