Thomas
Depois que Naomi me fez uma 'visitinha' especial, fiquei ainda mais amedrontado, essa garota é louca, ela seria capaz de me matar se eu fizesse alguma coisa contra ela. Tenho que derrotá-la, mas eu preciso saber como se desfaz essa maldição, antes que seja tarde demais.
No dia seguinte, à tarde, estou no meu quarto, sentado na poltrona e visualizando as mensagens que recebi no meu celular nos últimos dias, a maioria são de garotas que eu peguei, elas estão perguntando onde eu estou e por quê sumi repentinamente, as outras mensagens são de alguns rapazes do time de beisebol que também estão preocupados com o meu sumiço. Apesar de eu estar vendo atentamente as mensagens, meu corpo todo dói e penso nas palavras de Naomi.
'Como eu sou muito legal, toda semana eu vou vir te visitar, quando você menos esperar... Eu vou aparecer.'
Franzo o cenho e suspiro. Vou ter que ver toda semana a garota que jogou uma maldição em mim, o pior é que ela vai aparecer de repente, não sei qual dia da semana isso vai acontecer mas sei que vai acontecer. Escuto barulhos de passos no corredor, viro em direção à porta e vejo a sombra de dois pés. Respiro ofegante, será que é a Naomi novamente? Quando a tal pessoa bate na porta me levanto, pego um taco de beisebol e, sem fazer barulho, vou para a porta. Ergo o taco com a mão direita, destranco lentamente a porta e a abro. Antes que eu pudesse dar um golpe na cabeça do invasor, a tal pessoa grita, levanto o olhar e vejo ela... Lynn.
De todas as pessoas que poderiam entrar na minha casa, Lynn estaria totalmente fora de cogitação. Quando me viu, ela se afasta assustada e encosta na parede. Tento me aproximar, mas como estou segurando um taco de beisebol e tentei atacá-la com isso, Lynn deve achar que vou fazer alguma coisa ruim. Depois que se recompõe, ela se aproxima lentamente de mim e agora é minha vez de se afastar, mas não vou muito longe, Lynn me olha com aqueles olhos verdes penetrantes e pergunta com uma voz suave.
-Thomas? É você?
-Eu não te conheço... -respondo com um tom seco.
-Não minta para mim... É você, Thomas?
Eu até poderia esconder minha identidade, inventar um nome, mas... Tenho o dever de contar a verdade para Lynn, mexo a cabeça como um gesto de 'sim', Lynn fica muito espantada e põe a mão na boca, ela me examina de cima à baixo e pergunta novamente.
-O que aconteceu com você?
Pego o braço dela, a levo até meu quarto e fecho a porta. Lynn respira ofegante, eu tento pensar em uma mentira e me afasto um pouco dela.
-Você ainda não respondeu minha pergunta... -ela insiste, me viro e a vejo com os braços cruzados, esperando minha resposta.
-Me envolvi em uma briga naquela noite, recebi um telefonema na festa, por isso fui embora mais cedo... Peguei meu Mercedes, fui encontrar uns caras em um beco e... Eles bateram em mim.
Lynn olha fixamente para mim, é um olhar duvidoso, que quer descobrir se há alguma mentira nisso, mas é um olhar lindo, senti um choque no corpo, um choque diferente, hipnotizante... Hipnotizante por causa daquele olhar.
-Eu não acredito em você. -Lynn revela.
-O quê?... -pergunto, distraído por causa daquele olhar.
-Eu não acredito em você.
-O problema é seu, eu disse a verdade, se você não acredita... Aí o problema não é meu.
Nesse momento, eu pensei que Lynn pegaria uma metralhadora e daria uns cinquenta tiros em mim, mas ela fala calmamente.
-Eu estou querendo te ajudar... Isso não faz sentido...
-O que não faz sentido, Lynn? -pergunto, elevando a voz e chegando bem próximo dela.
-Você está careca e com... -Lynn olha para os meus braços lotados das malditas veias.-Isso... O que realmente aconteceu?
-Por que você quer saber? Por que veio aqui?
-Por causa do Max e também... Porque eu me importo com você.
Senti outro choque, dessa vez não foi por causa do olhar da Lynn e sim por causa das palavras dela. Ninguém nunca me disse que se importava comigo, nem meus pais me disseram isso, penso que Lynn está mentindo para mim, mas ela não é como certas pessoas que mentem e fingem com a mesma facilidade que respiram.
-Thomas, estamos preocupados com você, Max está desesperado, ele precisa de notícias suas...
-Então por que ele não veio aqui?
-Isso não vem ao caso... Thomas, você precisa voltar para o colégio, você já perdeu muita matéria...
-Olha pra mim, Lynn! -me afasto e grito. -Olha bem pra mim! Você acha que eu estou com condições de voltar para o colégio?!
-Por que não estaria?
-Porque eu sou um monstro!
Lynn faz um coque desleixado no cabelo, suspira profundamente, põe as mãos na cintura e fala.
-Você sabe que eu não acredito em monstros.
-Então você não acredita em mim!
-Você não é um monstro, Thomas! -é primeira vez que escuto Lynn elevando a voz. -Mesmo com essa aparência, você continua sendo o Thomas Clark! A aparência não importa... -Lynn fica bem perto de mim, posso sentir o cheiro do seu perfume, é uma fragrância adocicada, me lembra maçã. -O importante é o que está aqui dentro. -ela põe a mão sobre o meu peito.
Quando ela fez isso, meu coração começou a bater rapidamente, minhas veias mudaram de cor; passaram de verde-azulado para vermelho-sangue. O que Lynn não imagina é que por causa das minhas atitudes eu estou condenado à solidão. Mas o que eu não entendo é que Naomi disse que ninguém teria piedade de mim, mas Lynn está sendo doce e gentil comigo. Encosto minha boca em sua testa, ela olha para o lado, dá um passo para trás, aponta para o bilhete em cima do criado-mudo e pergunta, surpresa.
-Você ainda tem isso?
-Tenho, eu não rasguei e nunca vou rasgar.
Isso é verdade, nem que se eu ficasse maluco, surtado mesmo, eu rasgaria aquele bilhete. Lynn senta na minha cama, pega o bilhete, lê atentamente e eu também me sento na cama, ficando próximo de Lynn.
-Minha letra é horrível. -ela comenta, sorrindo para mim.
-Claro que não, sua letra é linda, a minha que é um garrancho.
Lynn ri, mostrando aqueles dentes brancos e aqueles lábios sedutores, dou um leve sorriso e ela retribui o gesto. Lynn dobra o papel e o guarda em uma gaveta do criado-mudo.
-Você não tem medo de ficar sozinho? -ela pergunta, alisando as mãos nas coxas.
-Não, eu estou acostumado.
-Você não tem empregados?
-Eu tinha, demiti todos.
Ela olha para mim de jeito meio 'Por quê?', penso que ela faria essa pergunta para mim, mas Lynn fica calada.
-E então? Alguma novidade no colégio? Quer dizer, além do pessoal estar louco atrás de mim? -pergunto.
-Não sei se você reparou na festa, mas a Naomi mudou de visual, ela está linda.
Lynn conseguiu estragar o clima bom da conversa falando da Naomi, eu poderia falar 'Ah claro que eu reparei, aliás foi a Naomi que fez isso comigo, me transformou em um monstro!', mas seria muita loucura, Lynn poderia ligar para um hospício. Apesar de eu ter o dever de contar a verdade para ela, Lynn não merece saber disso... Pelo menos, não agora.
-Hum... E vocês ainda são amigas?
-Sim... Ah tenho uma novidade para você.
-Qual?
-Max e Felícia começaram a namorar.
Finalmente uma notícia boa! Um motivo para eu pensar na minha volta para o colégio! O meu melhor amigo e a melhor amiga da Lynn estão namorando, isso também é um motivo para eu e Lynn nos aproximarmos.
-Que ótimo! Fico feliz por ele, e você está feliz com isso? -pergunto.
-Claro! Por que não estaria?
-Porque eu e você...
-Ah... Entendi...
-Por que você se afastou de mim, Lynn?
Ela olha inocentemente para mim, morde o lábio inferior e sussurra.
-Não posso contar...
-Por quê?
-Porque não... -Lynn se levanta, coloca a mão no ouvido esquerdo e balança a cabeça. -Thomas, eu tenho que ir...
Ah não, ela não pode ir embora agora!
-Ah não, você não pode ir embora agora! -falo, também me levantando.
-Me desculpe, mas... -Lynn olha para a grande janela transparente, que mostra o sol se pondo. -Já vai escurecer, minha mãe vai ficar preocupada, mas antes... Você tem papel e caneta?
Pego um papel e uma caneta em cima do criado-mudo, os entrego para Lynn, ela agradece e escreve alguma coisa. Em seguida, ela devolve a caneta e me entrega o papel.
-É meu número de telefone, me ligue se precisar de qualquer coisa, tá bom?
-Tá... -respondo, olhando para cada número. -Obrigada, Lynn.
-De nada... Tchau Thomas.
Lynn se afasta de mim, mas pego levemente o seu braço e falo.
-Lynn... Prometa que vai voltar.
-Prometo. -ela sussurra e sorri para mim.
-Então... -solto o braço de Lynn. -Tchau Lynn.
Ela sorri novamente e sai do quarto. Depois que Lynn sai, sento novamente na cama, olho para o papel, pego meu celular e coloco o número da Lynn na agenda. Isso sim foi uma visita especial, vou contar as horas para que ela apareça novamente, o mais impressionante é que durante toda essa visita, minhas veias não pulsaram e meu corpo não doeu, a Lynn é um remédio para mim! Olho para o meu braço e minhas veias estão começando a voltar a ser verde-azuladas, mas por que elas ficaram vermelhas quando Lynn me tocou? Vermelho pode ter alguns significados; dor, raiva e... Amor. Não... Não pode ser, o que sinto por Lynn é um amor de amigo, mas... Ela é tão perfeita, tão pura, tão envolvente, é... Acho que estou apaixonado pela Lynn Carter.
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