3
Eram as piores férias que passava desde sempre.
Ginny não respondia às suas cartas e era difícil de saber se o ânimo dela tinha decaído tanto que ela não sentia vontade de respondê-la, ou os seus pais tinham arrumado uma maneira de entreter a todos por aquelas semanas. Talvez tivessem feito alguma viagem para visitar os irmãos que moravam fora da Inglaterra, embora Neville não pudesse imaginar como que eles fariam isso.
Luna tinha lhe dito que, já que a família viva de Harry era trouxa, o dinheiro do Torneio Tribruxo tinha sido dado à família de Cedric, quase como um pedido de desculpas do Ministério pela morte do filho. Como que para tirar a deles da reta, o Profeta Diário tinha publicado um histórico do Torneio, divulgando o perigo de participar (que tinha sido alertado, eles frisaram bem isso) e todas as mortes dos campeonatos de anos anteriores.
Mesmo assim, várias pessoas do Ministério tinham tido essa ideia e concordado, e por isso não era só a saída de Dumbledore que estava sendo cogitada, mas também do próprio Fudge, que parecia desesperado com essa possibilidade.
Se só Cedric tivesse morrido, estariam vivendo uma crise política tão grande?
Seria interessante se o “plano de fuga” deles envolvesse o mundo trouxa, tinha certeza de que seria saudável para todos desligar-se um pouco de todos aqueles problemas.
Naquele dia, Neville estava com pouca paciência para aturar as reclamações de sua avó. Geralmente ele não perdia a paciência com tanta facilidade, mas os últimos tempos estavam sendo difíceis.
Então ele foi para o seu refúgio favorito: o Hospital St Mungos.
As enfermeiras tinham contado a ele que no dia da morte de Harry, Alice tinha ficado muito agitada e tiveram que sedá-la para que se acalmasse. Às vezes ela agia diferente do normal quando alguma coisa acontecia, geralmente quando algo acontecia com ele, mas podia entender que era o filho de uma antiga melhor amiga.
Ela era muito sensitiva. Ele se perguntava se ela sempre tinha sido assim, desde antes de Bellatrix Lestrange, mas nunca saberia a resposta para essa pergunta. A única família que conhecia era por parte de seu pai, então acabava sabendo mais de seu pai do que de sua mãe.
E sentia-se tão mais conectado a ela. Era tão estranho.
— Eu estou tão confuso, o mundo está tão confuso — Neville disse, enquanto observava a mãe brincar com um papel de bala nas mãos — Nós nem éramos tão próximos assim. Isso faz algum sentido? Como a morte de uma pessoa pode mudar tanta coisa?
Imaginou por um momento se Dumbledore morresse como que as coisas seriam, ainda mais com o retorno de Voldemort.
Era tão surreal... Ele tinha mesmo retornado? Depois de tantos anos?
Era inevitável não sentir temor de como as coisas seriam dali para a frente.
— Eu preciso ir — ele deixou um beijo na testa de Alice, que permaneceu como sempre: parada, olhando para a frente, sem realmente enxergar alguma coisa.
Não sabia se era pior ter os seus pais naquele estado ou se eles estivessem mortos.
Usou uma das lareiras de Flú do Hospital e apareceu diretamente na sala de estar de casa, onde viu uma cena que não esperava.
— Professor Dumbledore? — ele perguntou.
Augusta estava de costas para a lareira e virou-se para ver a chegada do neto.
— Isso são modos de receber as visitas, Neville? — ela o repreendeu.
Como sempre fazia. Não importasse o que ele fizesse, nunca era suficiente.
— Não se incomode com isso, jovem — disse Dumbledore, antes que ele pudesse corrigir-se — Eu já estava de saída mesmo.
Então ele virou-se novamente para Augusta.
— A minha lareira estará sempre aberta — foi somente o que disse, antes de despedir-se brevemente dos dois e sair pela mesma lareira que Neville esteve momentos antes.
Ele olhou para a avó, tentando entender o que estava acontecendo.
— Vai ficar me olhando aparvalhado o dia inteiro? — sua avó perguntou.
— O que o professor Dumbledore estava fazendo aqui, vovó? — Neville reuniu um pouco de coragem para perguntar, curioso.
— Tínhamos assuntos a tratar — ela respondeu, depois de hesitar por alguns segundos, como se não soubesse o que dizer.
Então aconteceu uma coisa bem estranha na concepção dele: ela o olhou de um jeito diferente, quase que carinhoso, antes de desviar o olhar e voltar a sua pose de sempre.
— Como estavam os seus pais? — ela perguntou, apesar de saber que a resposta seria sempre a mesma.
Não foi a primeira vez que viu a sua avó conversar com o professor Dumbledore durante aquele primeiro mês das férias escolares.
Ele já tinha a visto conversar com a professora McGonagall, elas eram velhas amigas, mas o professor Dumbledore... Era incomum. Não podia entender o que o diretor ia querer com a sua avó, ainda mais tendo tantos problemas para resolver depois do Torneio Tribruxo.
No que a sua avó podia ajudá-lo?
— Neville, precisamos conversar — uma noite Augusta bateu em sua porta, enquanto ele tentava escrever outra carta para Ginny, e respondia uma carta quilométrica e entusiasmada de Luna.
— Diga, vovó — ele deixou os pergaminhos e o tinteiro de lado na mesma hora.
— Eu não vou enrolar — ela disse, franca como sempre e sem tentar suavizar as suas palavras, sentando-se na ponta da cama dele — Albus pensa que deveríamos deixá-lo de fora como fez com Harry esses anos todos...
— Mas o que Harry...?
— Não me interrompa, menino.
Ele engoliu em seco.
— Mas eu nunca escondi as coisas de você, sempre te mostrei como de fato eram e não vou fazer diferente agora — Augusta continuou — Neville, você poderia ter sido o menino que sobreviveu, podia ser você com uma cicatriz na testa.
Ele esperou que ela explicasse, já que o que tinha dito não fazia o menor sentido. Como assim ele poderia ter sido Harry Potter? Isso estava completamente fora de questão e parecia mais um delírio da sua avó.
— Quase foram os seus pais que foram mortos por Voldemort, se bem que não é como se as coisas tivessem sido melhores — ela comentou.
Espantou-se. Não lembrava de já ter escutado a sua avó chamar Você-Sabe-Quem pelo seu nome.
— Poderia ter sido muitas pessoas — ele disse, sem saber muito o que dizer, já que ela parecia esperar que ele compreendesse tudo de primeira sem uma explicação.
— Não, não poderia — sua avó negou — Ou era você, ou era Harry. Os dois nasceram no final de Julho, seus pais enfrentaram Voldemort. Havia uma profecia que dizia isso, que ele seria derrotado por um nascido do sétimo mês, filho de quem o enfrentou três vezes.
— Por que está me contando isso? — Neville perguntou.
— Bem, é um pouco óbvio, não? Harry morreu, só sobrou você. Dumbledore espera que você faça o que ele esperava que Harry fizesse, derrotá-lo.
Ele ficou mudo.
Derrotar? A Voldemort? Ele?
— Arrume as suas malas, nós vamos passar uns tempos com os Weasley — Augusta levantou-se da cama, como se não tivesse dito nada mais — Agora que Voldemort retornou, ele reuniu a antiga Ordem da Fênix. Bom, os que estão vivos, pelo menos.
Então ela o deixou a sós com todas as dúvidas possíveis que não era sequer capaz de formular.
Como Dumbledore podia esperar que Harry derrotasse Voldemort? Como ele podia esperar que ele o fizesse? A maior proeza que ele fez em quatro anos escolares foi tentar impedir o Trio de derrotar Quirrell no primeiro ano e assim ganhou cinco pontos na Taça das Casas.
Deixou as cartas que estava escrevendo inacabadas, não era capaz de pensar nesse tipo de coisa agora. Na realidade, não conseguia pensar em nada, sua cabeça estava uma verdadeira bagunça.
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