11

A noite passada fora um desastre.

Tudo o que eu não queria que tivesse acontecido comigo aconteceu. Arrumei briga com uma youtuber famosa com mais de 100 milhões de seguidores, jogando suco na cara dela. Quem diria que minha noite seria tão animada assim! Bem, pelo menos eu consegui chamar a atenção da drag Queen mais famosa da Internet naquele momento, a Dorinha Milão. Pelo menos uma coisa boa em meio à toda aquela confusão.

A noite para mim não havia sido nada fácil. É não fora apenas na festa. Também quando havia chegado em casa. Por mais que Andrew tenha sido um ótimo amigo como ele sempre fora tendo me escutado, acreditado em mim, me aconselhado e ficado ao meu lado, não foi fácil dormir naquela noite. Andrew fez o possível para tranquilizar minha mente. Tirar toda aquela superlotação que acumulava em minha cabeça, mas quando ele saiu do meu quarto para dormir no seu, tudo aquilo voltou novamente para me afligir. Foi difícil dormir naquela noite. Demorei mais do que o normal. Era difícil cair inteiramente no sono quando se estava com a mente completamente lotada.

Até mesmo em meus sonhos a lembrança do momento que marcou negativamente minha noite voltava. Sonhei comigo voltando a jogar o coquetel na cara da Naty Cardoso. Não fora tão satisfatório como eu imaginava que seria. Por um segundo a sensação foi ótima de jogar aquele líquido do meu copo na cara dela, mas no minuto seguinte me pareceu tão perverso. Mesmo ela tendo tentado me humilhar ainda me senti mal por ter feito aquilo. Acho que eu era a única pessoa no mundo trouxa o suficiente para sentir pena da minha opressora. Talvez o que me fez ter essa pena, foi ver que as pessoas só a aturavam por ela ter seguidores em excesso para promover qualquer um que ela desejasse. Embora ela tivesse tudo, ela não tinha nada. As pessoas ao redor dela eram completamente supérfluas.

Eu não havia gostado do modo como ela havia me tratado. Havia uma outra forma dela ter descontado toda a raiva pelo que havia acontecido. A culpa afinal das contas não fora minha, bem, fora sim na verdade, mas não num modo intencional, o que me fazia quase inocente. Eu não estava certo. Havia pedido desculpas, não que isso fosse consertar alguma coisa do que eu fiz, mas pelo menos mostrava que não fora algo intencionado. Poderíamos ter resolvido toda aquela confusão no diálogo, mas ela não pareceu muito interessada nisso. Agiu pelos seus sentimentos de reflexo. Mostrou uma mal educação. No fim das contas nós dois estávamos errados. Só esperava que não voltasse a cruzar com ela novamente.

Era por volta de meio dia e meia quando acordei com uma batida frenética na porta. O apartamento não era muito grande então o som ecoava por toda a casa me obrigando a levantar. Se não fosse aquela interrupção, talvez eu dormisse até duas horas da tarde e acordasse só para lanchar. Não ia querer saber de almoço requentado naquele dia.

Levantei rapidamente. Minha cabeça girou quando fiz tal movimento bruscamente, mas logo voltou ao normal. Fiz uma careta, mas as batidas continuaram tão frequentes quanto antes. Andei apressadamente para atender a porta. Destranquei a porta e vi que se tratava de Jennifer. Fiz mais uma careta ao vê-la e a deixei entrar.

― O que foi dessa vez Jennifer? ― pergunto um tanto chateado por ela ter me acordado naquele estado.

― Amigo, isto é uma emergência! ― diz ela num tom agitado.

― O que foi dessa vez, ficou presa fora do apartamento de novo?

― Não!

― O seu ex tá te perseguindo de novo?

― Não, não é nada disso seu bocó!

― E o que foi então?

― Tem uma palavra só. Naty Cardoso.

― Tem duas palavras aí!

― Tanto faz, o problema é que ela postou um vídeo há mais ou menos duas horas detonando você na Internet!

― Cacete, isso realmente é uma emergência!

― Vai, liga logo o seu notebook, você precisar ver essa palhaçada!

Sem perca de tempo abro o meu notebook e o ligo. Meu coração está batendo forte e acelerado. Eu não queria ter mais nenhum contato com aquela garota, mas parecia que agora eu ia ter de ver ela mais do que eu desejava.

O computador finalmente processou e então rapidamente pus no YouTube segundo os comandos de Jennifer para achar o vídeo dela. Assim que achado, cliquei de cima. Uma propaganda começou a passar e eu estava completamente alvoroçado. Queria ver logo o vídeo, mas ainda tinha que esperar 5 segundos, que me pareceram uma eternidade. Finalmente cliquei e o vídeo começou.

No vídeo, ela estava usando uma roupa muito simples. Seu rosto não estava maquiado e seu cabelo estava preso num coque atravessado por uma caneta, que segurava o penteado preguiçoso. Ela estava usando um óculos de grau de armação arredondada e pela sua expressão ela parecia bastante indignada. Temia o que ela poderia falar. Talvez pudesse aumentar toda a história e me fazer parecer o vilão.

O vídeo começou como um desabafo. Ela começou contando o quanto se sentiu atingida com aquela situação. Jennifer e eu nos olhamos. Não podíamos acreditar naquilo que ela estava fazendo. Continuamos assistindo ao vídeo. Ela falava como uma vítima integral da situação ocorrida na última noite. Cruzei meus braços completamente indignado com o que ela estava fazendo.

― Que vaca! ― falei.

― Continua assistindo! ― instituiu Jennifer apontando para a tela do meu notebook.

Voltei meus olhos novamente para a tela e continuei vendo o resto do vídeo. Ela continuava seu discurso como uma vítima e aquilo me enojava cada vez mais. Não podia nem suportar ouvir todas aquelas mentiras. Estava me dando agonia. Jennifer insistia para que eu permanecesse com a minha atenção voltada para a tela e esperar pelo final do vídeo. Fiz o que ela havia me solicitado mesmo não sendo tão fácil assistir alguém me denegrir da forma como a Naty Cardoso estava me denegrindo.

Foi quando depois de tudo o que ela ainda havia falado, que a verdadeira merda aconteceu. Depois de ter pintado a minha caveira para os seus mais de 100 milhões de fãs, que ela resolveu terminar de vez de assassinar a minha imagem. Alguém do bando dela tinha gravado de longe a discussão, de modo que não percebi e como a música estava alta, não dava para escutar o que estava sendo falado no vídeo. Estava um som sujo de música alta. Tudo o que se podia aproveitar do vídeo era a imagem.

Meu coração quase parou quando vi que ela havia feito um vídeo naquelas condições. Só poderia favorecer ainda mais o lado dela. Ela estava com todas as armas na mão para me destruir e com certeza já estava fazendo aquilo naquele instante. Não sei que tipo de mal e tinha feito à ela, mas ela parecia determinada a não deixar barato.

Eu já não tinha ainda tantos fãs. Ainda precisava de muito mais se quisesse chegar à 1 milhão de inscritos no meu canal. Quando eu achei que finalmente estava começando a subir os degraus, aquilo aconteceu para me fazer voltar ao chão numa queda tão brusca que talvez nunca mais eu poderia me levantar invicto dessa.

O vídeo mostrava à mim gritando-a. Todas aquelas pessoas ao redor fitando a cena horrorizados e por não ter som, aquilo fazia parecer que eu era o vilão, quando na verdade todos ali presentes faziam aquela cara, porque eu estava gritando a garota mais popular da Internet. Depois eu jogo o resto do meu coquetel na cara dela e saio bastante irritado, como fora realmente o que aconteceu, mas pelo recorte que desempenharam, me fizeram parecer o vilão diabólico.

― Ah, não foi bem desse jeito que aconteceu não! ― falei revoltado.

Ela estava jogando sujo. Eu ia perder todos os meus inscritos e ainda mais talvez. Estava com muito medo naquele instante. Eu tinha trabalhado tanto até ali para conseguir o que eu tinha agora e por uma confusão qualquer eu ia perder meus anos de trabalho duro para aquela garota mimada que com certeza estava acostumada a ter tudo de mão beijada. Não acredito que tudo acabaria assim.

Assisti o resto do vídeo. Agora a imagem voltara para ela em seu quarto. Ela fazia uma expressão de descontentamento. Ela pegou a blusa que eu havia derramado o ponche e apontou para à câmera. Ela dissera que era uma roupa nova que ela tinha comprado para ir à festa de Pedro Castanhal e que agora por minha culpa, tivera de sair mais cedo da festa e com a camisa completamente melada. Ela dissera que não lavara a blusa para mostrar naquele mesmo vídeo o estado de como ficara depois do que aconteceu.

No fim do vídeo, depois que já tinha me massacrado o suficiente, ela ainda deixou um recado para os fãs dela para não agirem como eu agi, pois ela sentiu na pele o quão fora ruim aquilo. Aquilo deveria acabar de vez com a minha reputação. Talvez lembrassem daquilo até o fim dos tempos. Talvez meu vídeo já até tivesse virado meme na Internet. Eu ia ficar muito mal visto por todos para sempre.

― É isto, acabou! ― falo num tom desistente.

― É o quê garoto? ― berrou Jennifer exasperada. ― Não acredito que vai deixar essa rapariga safada te difamar sem se defender!

― E o que eu posso fazer, ela tem mais de 100 milhões seguidores!

― Garoto, que se foda os seguidores dela, você não vai deixar uma puta qualquer acabar com sua imagem amigo!

― Amiga, eu já te falei que ela tem mais de 100 milhões de seguidores?

― Já falei. Que se foda os seguidores dela. Você tem que reagir meu bem. Se defender. Contar o seu lado da história. Faça a sua parte.

― Mas eu nunca serei páreo para os 100 milhões de seguidores dela.

― Tomar no cu né Max. Tu ainda não entendeu que tem que defender a tua honra independente dos seguidores dela caramba. Vai lá pega o cacete daquela câmera e grava agora a tua versão da história e deixa que a verdade prevaleça.

― Tudo bem! ― concordei num ar desacreditado, mas ainda sim fiz o que ela falou.

Voltei com o pedestal para o pôr o meu celular e iniciar a minha gravação. Jennifer se ofereceu para ficar de olho na gravação enquanto eu falava. Iria na verdade parecer que eu estava contando à ela toda a história, então comecei a me preparar para a gravação do vídeo. Ela me perguntou se já poderia apertar para gravar e eu disse que "sim".

― Olá eu sou o Max do canal Maximizando e hoje eu vim aqui para esclarecer um assunto com vocês.

Jennifer sinalizou com o polegar, dizendo estar muito bom tudo o que eu estava falando, portanto prossegui.

― Bem, alguns de vocês já devem saber sobre a confusão que eu me meti nessa última noite. Talvez já tenham visto um certo vídeo sobre o que aconteceu, mas vim aqui me pronunciar. Acho que eu mereço me explicar e acho que vocês devem saber das versões existentes para poder decidirem em quem vão ou não acreditar.

Dei uma leve pausa.

― Bem, vou contar a minha versão da história. Na verdade essa é a versão real da história. Desde já, já venho dizer que não vou me fazer de vítima. Eu sei que eu errei na minha atitude, mas devido à tudo, não me arrependo nenhum pouco do que fiz. Acho que foi tudo bem merecido no fim das contas.

― Pausa! ― grita Jennifer. ― Quer queimar ainda mais o seu filme bocó?

― Não, só pretendo falar o que realmente aconteceu da forma que aconteceu aqui. Não quero esconder nada.

― Se continuar falando assim vão dizer que você é realmente o verdadeiro vilão da história.

― Bem, diferente da Naty, vou contar as coisas como foram sem ter que me fazer de vítima.

― Olha, tudo bem então, mas só conta a história por favor e para de falar essas coisas!

― Tudo bem!

― E gravando!

― Bem, Pedro Castanhal me convidou para à sua festa juntamente com o meu namorado Andrew. Eu estava curtindo de boas a festa. Andrew resolveu ir ao banheiro enquanto eu fiquei sozinho perto do barzinho tomando meu ponche sossegado. Aí chega um cara maluco dando em cima de mim, então eu tentei me desvencilhar dele e acabei esbarrado sem querer na Naty Cardoso que ficou puta da vida me xingando sem parar. Eu até tentei me explicar com ela, mas ela só sabia me gritar e nada mais, depois começou a me humilhar. Eu não sou obrigado a escutar desaforo, então eu perdi a cabeça e joguei coquetel na cara dela por impulso, porque eu tenho um lema, se a pessoa te xinga sem você ter feito nada, então dê um motivo à ela para te xingar de verdade.

Respirei fundo.

― Basicamente foi isso. Eu sei que estou completamente errado nisso tudo, mas não fiz isso porque sou uma pessoa ruim não. Eu tive meus motivos. Sei que vocês viram o vídeo que deve estar circulando na Internet comigo na festa jogando coquetel na cara dela, mas aquilo é só um recorte do que aconteceu de verdade. Eu assumo que joguei coquetel na cara dela, mas eu tive um motivo. Espero que no fizemos das contas a verdade prevaleça. Obrigado por assistirem esse vídeo até aqui. Tchau.

E fim da gravação.

Agora tudo o que eu tinha era que editar. Olhei o tempo de gravação e não tinha dado nem dez minutos direito. Eu só editaria uma pequena parte do vídeo. Não houveram muitas interrupções e eu também não havia saído do foco, que era contar a minha história sobre o acontecimento que se deu. O vídeo tinha ficado completamente direto e cada parte dele era importante.

Guardei o pedestal novamente no quarto e voltei para junto de Jennifer na sala. Ela estava de frente para o notebook rolando no mouse para baixo. Ela estava lendo os comentários do vídeo da Naty Cardoso. Ela parecia empenhada em saber o que os fãs dela estavam falando sobre mim. Assim que ela percebeu minha presença de volta, ela rolou no mouse para cima, voltando à imagem do vídeo encerrado.

― Oi Max! ― fala Jennifer num ar nervoso.

― O que está acontecendo?

― Bem, nada! ― ela dá um sorriso nervoso.

Eu já sabia o que estava acontecendo. Estava percebendo os sinais. Na minha cabeça já podia supor exatamente o que Jennifer tinha visto ali. Já não me surpreenderia mais nada. Eu só queria saber.

― Estão falando alguma coisa ruim de mim aí, não estão? ― pergunto completamente certo da resposta.

― Quer a resposta real ou a padrão?

― Pode ser a padrão? ― pergunto com um ar de riso.

― A real é que tão te pintando de capa preta e chifres.

― Me parece que você está descrevendo um super corno.

― Eu diria o Satã.

― Ou o batman chifrado.

Rimos juntos.

― Mas e então? ― pergunto. ― O que estão falando?

― Quer mesmo ver? ― indaga ela franzindo a testa e mordiscando o lábio inferior.

― Quero sim!

Ela arrastou para baixo e começou a surgir os primeiros comentários. Não li quem era. Não estava interessado em saber. Só queria ver mesmo o que falavam sobre mim. O primeiro comentário dizia: "BARRACOOO". O outro "PEGA FOGO CABARÉ". O próximo, dizia: "GENTE, QUE POC BARRAQUEIRA". Depois, "QUE GAROTO SEM NOÇÃO, QUERIA VER SE FOSSE NA CARA DELE SE ELE IA ACHAR BOM". Próximo: "CREDO, QUE GAROTO RETARDADO". Mais um: "DE QUAL FOI O INFERNO QUE ESSE DEMÔNIO SAIU?".

― Tudo bem, já chega! ― virei meu rosto para o lado contrário ao do computador.

Jennifer voltou para a página inicial do YouTube. Voltei o meu olhar para o meu notebook. Jennifer me olhou novamente com a testa franzida como se dissesse em silencio: "Eu te avisei".

Jennifer passou mais algum tempo ali em casa até que finalmente no fim da tarde se foi. Ela me fez companhia até aquele momento. Depois que ela finalmente foi embora, eu comecei à editar o meu vídeo para postar naquela mesma noite. Não havia muito o que editar por isso eu não tinha tanta pressa. Comi biscoitos recheados enquanto mexia no editor de vídeos no meu notebook.

Antes que eu comece à fazer alguma coisa, Andrew passa pela porta. Ele me cumprimenta e eu faço o mesmo. Eu não estava muito animado. Eu poderia até ter concordado em gravar o vídeo contando a minha versão da história, porém não estava nenhum pouco crente de que aquilo mudaria em alguma coisa. Eu não era páreo para aqueles mais de 100 milhões de seguidores. Já tinha a plena certeza de que estaria falando para o vento.

― O que está havendo? ― perguntou Andrew já lendo as minhas emoções e percebendo que algo me afligia.

― Você acredita que a Naty Cardoso, a garota em quem eu joguei coquetel na cara com mais de 100 milhões de seguidores postou um vídeo me detonando?

― Sério isso?

― Sim Andrew e eu estou perdido!

― Calma não fica assim! ― ele se aproximou e segurou firme em minha mão me fitando fundo nos olhos.

― Jennifer estava aqui e me ajudou a gravar um vídeo contando a minha versão da história, mas acho que já cheguei tarde demais. Minha reputação já deve estar acabando nesse instante.

― E vai mesmo se você não postar ligo esse vídeo contando o que realmente aconteceu. As pessoas precisam saber que existem dois lados nessa história e decidirem em quem acreditar.

― Jennifer me falou praticamente a mesma coisa, vocês se combinaram foi?

Andrew me direcionou um sorriso.

― É, a gente se encontrou por aí!

Eu sabia que era brincadeira porque já fazia pelo menos meia hora que Jennifer já tinha saído ali do apartamento, portanto um encontro deles naquele mesmo dia era impossível. Jennifer não conhecia ninguém mais além de mim naquele prédio, então não havia como ficar ali por meia hora se não fosse comigo.

― Bem, acho que minha carreira acaba aqui mesmo antes de decolar! ― digo num tom de decepção.

― Ei, o que é isso, a verdade vai aparecer algum dia e tudo isso não vai passar de um simples mal entendido!

― Simples é?

― Mas é claro!

― Não me parece nada simples agora.

― Eu não disse que era agora, eu disse que seria simples no futuro.
― Ok.

― Vai lá, posta o vídeo e deixe as pessoas decidirem em quem devem acreditar ou não.

― E se por acaso essa pessoa em quem eles acreditarem não seja eu?

― A verdade vai prevalecer Max, você vai ver!

Dei um abraço em Andrew. Ele me ajudara muito naquele momento. Ele era um ótimo amigo, embora eu não tenha falado aquilo naquele momento, mas já havia falado em outros e ele já sabia disso também.

Andrew se dirigiu ao banheiro para tomar um banho depois de um dia inteiro de trabalho. Ele realmente precisava relaxar um pouco. Eu tinha que editar o meu vídeo para postar logo, então finalmente iniciei o processo de edição.

Não demorou nem dez minutos para eu ter editado completamente o vídeo para postar. Ele já estava pronto e aquela era a hora de me pronunciar na Internet. Não ia deixar a Naty Cardoso me humilhar daquela forma. Precisava realmente me defender e só agora eu percebia aquilo. Por um único minuto esqueci a influência dela e dei evasão apenas à minha imagem. Mesmo que eu perdesse todos os meus seguidores, meus inscritos, eu tinha que me defender. Cliquei no botão enviar e o envio do vídeo começou a carregar.

Andrew apareceu ali procurando algo para comer. Eu não tinha feito nada. Primeiramente porque estava completamente empenhado com aquele vídeo e segundo porque enquanto Jennifer estava ali, comemos algumas besteiras e eu não estava com tanta fome assim. Havia tomado uma garrafa inteira de água e já estava satisfeito por hora.

Acabei indo para a cozinha fazer companhia para Andrew enquanto ele preparava o seu macarrão instantâneo para comer. Ele não era muito fã do prato, principalmente porque diziam que gerava câncer. Ele gostava de evitar, mas naquele dia estava com muita preguiça de ir até a padaria para comprar pão para comer como janta.

Eu entendia o lado dele. Ele chegava cansado do trabalho e queria ficar em casa, curtir um pouco de Netflix e tudo mais. Ter que descer vários lotes de escadas para ir somente comprar pão na padaria, era uma verdadeira sacanagem universal.

― Se eu te contar você nem vai acreditar! ― disse Andrew por fim.

― O que foi?

― Encontrei o Antônio de novo aqui no prédio hoje. Ainda agora na verdade. Realmente parece que a irmã dele a Ivonete está morando aqui no prédio. Vi os dois saindo daqui e pegando uma uber.

― E como assim eu nunca vi essa piranha aqui no prédio?

― Falei com o Cássio, o porteiro, e ele disse que já faz umas três semanas que ela se mudou para cá.

― Isso é sério?

― Pois é, agora ao que tudo indica vou ter que dar de cara com o Antônio muito mais do que eu esperava.

Dei um meio sorriso.

― Então você nem vai gostar disso não é mesmo?

― É claro que eu vou. Quero esfregar bem na cara dele que eu estou feliz com você.

― Você não vai poder dizer mais nada sobre o seu canal, porque talvez por minha culpa parem de te seguir também!

― Ainda com isso Max?

― Ai, me desculpa, mas eu não consigo afastar isso da minha cabeça!

― Você tem que relaxar e esquecer um pouco isso tudo. As coisas vão acabar se encaixando e você aí gastando sua cuca para nada.

― Tudo bem, me desculpa!

― Olha, não importa o que aconteça, eu vou estar sempre aqui com você! ― disse ele deixando o macarrão instantâneo na panela fervendo e vindo de encontro a mesa, onde eu estava.

Pus a minha sobre a sua.

― Gosto das nossas conversas Andrew.

― Eu amo você amigo!

― Eu também te amo!

Puxei mais uma vez Andrew para um abraço aconchegante. Sentia sua barba que já estava nascendo me furar o ombro. Aquilo fez com que eu sentisse um arrepio e os encolhesse, terminando com o abraço.

― É, eu esqueci que você tinha cócegas! ― disse ele com um sorriso maldoso estampado no rosto.

Eu imediatamente sabia o que ele queria fazer e já começava a me escolher, sentindo suas mãos me atacarem numa guerra de cócegas. Andrew recuou e lembrou que havia deixado o macarrão instantâneo no fogo e voltou para mexê-lo. Já estava quase bom. Ele mexeu mais um pouco e finalmente desligou o fogo.

Andrew abriu o armário e pegou um prato de vidro, pondo-o sobre a mesa. Ele pegou um pano de prato e trouxe a panela quente envolta naquele pano. Por fim ele despejou todo o conteúdo da panela no prato e pôs a panela na pia, abrindo a torneira para esfriar a panela. A fumaça quente subia com o cair da água sobre o recipiente e Andrew desligou a torneira.

Andrew puxou uma cadeira e se sentou na mesa soprando a comida recém-esquentada. Mais fumaça quente subia. Eu decidi levantar e ir até o meu notebook conferir o progresso do envio do vídeo à plataforma do YouTube. Quando cheguei até lá, vi que já havia enviado por completo.

Eu não queria ver, pelo menos não naquela noite, os comentários das pessoas no meu vídeo. Qualquer coisa agora era possível. Respirei fundo e fechei o computador. Deixaria para olhar no outro dia, quem sabe, já tivesse opiniões balanceadamente para ver. Tinha medo que sua rejeição fosse concretizada. Queria curtir mais algum tempo de paz juntamente com o meu melhor amigo Andrew, que me fazia sentir-me tão melhor.

O meu celular ao lado do notebook vibrou. Uma mensagem havia chegado. Poderia ser qualquer pessoa da face da terra. Pensei em ignorar. Não queria ainda mais notícias ruim naquele dia. Já bastava tudo aquilo com a youtuber Naty Cardoso. Talvez fosse Jennifer mais uma vez. Ela poderia esperar por mais algum tempo.

A vontade de pegar novamente o celular em mãos para ver quem o havia mandado mensagem não cessou, pelo contrário, só parecia aumentar ainda mais cada novo segundo. Eu não me detive e acabei cedendo àquele impulso, tomando o celular em minhas mãos. Eu abriu o meu whatsapp e viu um novo número que me havia mandado uma nova mensagem. O número não estava salvo em meus contatos. Havia uma foto de perfil e eu não perdi tempo em olhar para saber quem era. Ao clicar, vi uma silhueta feminina. Ao carregar completamente da foto, vi que se tratava da Dorinha Milão e meu coração imediatamente se encheu de exultação.

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