Eu tentei dar a vida uma segunda chance. Eu tentei, mas se você está lendo isso, provavelmente não funcionou.

Eu sei que nesse momento você deve estar pensando porque eu não aguentei mais um pouquinho, ou o que estava acontecendo comigo, ou o porquê de tirar a minha própria vida. A vida é minha, a essência é minha, a dor é minha. Respeitem.

Vocês sabem o quanto dói querer sumir mas não poder? Dói né? Você ser obrigado a "viver" em um mundo onde não quer estar. Dói você sentir saudades de uma pessoa e não poder fazer nada. Porra! Como dói.
É como se estivesse acontecendo uma guerra imensa dentro de você, uma guerra que você sempre perde. É aquela "cotidiana" guerra que você luta contra seus próprios monstros, mas não vence nenhuma. E são esses monstros que te dominam, fazem sua mente definhar. São esses monstros que te fazem olhar no espelho todas as manhãs com desgosto de si mesma. Esses monstros são os responsáveis por todas essas cicatrizes em meu corpo.

É aquela dor imensa. Aquela dor imensa que te dá vontade de gritar o mais auto que conseguir. Gritar até seus ossos se partirem, seus pulmões explodirem e a dor sumir. Porém você fica ali sofrendo em silêncio. Mas não se preocupe, porque eu entendo você. Eu entendo o que é ir dormir todos os dias pedindo pra não acordar na manhã seguinte. Eu entendo quando você sai de casa, com muita dificuldade mas sai, e torce pra não voltar mais pra casa. Sei o que é ter sua mente te torturando durante 24 horas e acredite em mim, eu sei que isso está te matando. Quando você chora todas as noites e no próximo dia, você coloca um sorriso no rosto e finge que está tudo bem, mas na verdade não tá. Tudo isso não passa de fingimento, e isso dói. Como dói. E as pessoas não sabem, nem mesmo aquelas que dizem te conhecer tanto. E quando você conta isso a alguém? Drama.

As pessoas passam a vida inteira julgando as outras. Jogam olhares que machucam, palavras que não voltam. Isso dói, sabia? A pessoa vai guardando tudo dentro de si até virar uma bola de neve e explodir, e quando o estrago é feito, não tem como voltar atrás.

Você pode ver uma garota sorrindo todos os dias e brincando com todos ao seu redor, mas não se engane, porque enquanto isso uma guerra acontece dentro dela.

Aquela menina sentada no fundo da sala de cabeça baixa, está precisando de ajuda. Mas o que as pessoas fazem? "Isso é drama" "ela está na bad" "é frescura".

Vocês realmente pensam que tristeza é irrelevante, né? Idiotas. Quando é tarde, todos se perguntam o que haviam de errado.

Que sociedade hipócrita, não acham? Pais que não veem os próprios filhos morrendo aos poucos, se cortando, se destruindo. Escolas que não veem o bullying embaixo do próprio nariz. Pais estuprando as filhas. Mães que humilham. Colegas que te rejeitam.

Tudo isso te leva a loucura, sabia? Sua mente vai aniquilando, fica angustiada e vem os pensamentos perigosos, e essa é a pior parte, a que mais te afeta. Falava pra mim mesma todos os dias que estava próxima do último estágio da vida, mas que iria superar, iria aguentar, e com o tempo tudo ia passar.

Mas porra, eu não aguentava mais sentir isso. Na verdade, eu não sentia mais. Não conseguia sentir mais nada. Tudo tava tão escuro dentro de mim, como se fosse um abismo e eu não conseguia impedir a queda.

Amem mais, cuidem mais, se importem mais, demonstrem mais. Te garanto que você pode mudar o destino de alguém.

Suicídio. Uma palavra pequena, um significado enorme, perigoso. Alguns levam a sério, outros nem tanto. Mas e se você for um dos porquês dessa pessoa? Ainda não te preocupa? Sim, você pode ter sido o porquê de uma pessoa.

Várias pessoas são os meus porquês. Pessoas que me julgaram simplesmente por não estar no "padrão" da sociedade. Pessoas que me julgaram sem me conhecer. Pessoas que me julgaram simplesmente por julgar. Como isso dói. Mas não serei uma Hannah Baker. Não irei listar os meus porquês, na verdade, somente um deles, a depressão.

Depressão. O monstrinho da depressão consume todos os seus lados, te preenche inteira, cobrindo seus olhos para se tornar invisível para o mundo. Ele, como todos nós, precisa se alimentar. Mas você não consegue ver, porque ele vai se alimentando aos poucos. Vai esgotando com sua energia, vai sugando sua felicidade, até comer sua alma, e depois disso meu amigo, não tem mais volta. Depressão, o último estágio da dor humana, e eu não ia suportar mais, não outra vez.

Não pensem que 13 reasons why me levou ao suicídio, pelo contrário, me fez desistir várias vezes de colocar um fim na vida, me mostrou que eu não sou a única a se sentir dessa forma, me mostrou o depois, mas ainda assim, não seria uma série que me salvaria. Eu não podia mais ser salva.

E se eu contar mais uma coisinha, prometem que não vão me julgar? Prometem? Confio em você. Então, não acreditava mais em Deus, já tinha ido e vindo do inferno inúmeras vezes, eu vivia nele, no meu inferno pessoal. Não me julguem mais uma vez. Eu vi o fim do mundo tantas vezes que já estava me acostumando, mas ninguém merece se acostumar a viver com um monstrinho desse, não é?

Eu perdi a vontade de viver. Nada mais fazia sentido. Não queria lembrar que tinha um mundo lá fora pra enfrentar. Você agora pode estar me chamando de fraca por ter desistindo por um mero "drama", mas te garanto que eu resisti até o último momento que eu consegui.

Eu não queria morrer. Estão se perguntando agora porque a tolinha se matou? Não me matei, já estava morta por dentro, mas ainda doía, e eu não aguentava mais sentir tudo isso. Talvez eu só sentia demais.

Eu sei que tinha um mundo inteiro pra viajar, livros para ler, séries para assistir, pessoas para conhecer, amizades que deveria manter, músicas para ouvir e shows para ir. Sim, eu sei disso, mas agora você vai fazer tudo isso por mim. Vai explorar o mundo, cada centímetro dele e vai viver a vida da maneira que bem entender. Vá e corra riscos, faça novas amizades, ande de bicicleta sem as mãos, encoste a língua no nariz, pule de bang-jump, escale uma montanha, vá a um show da sua banda favorita, faça uma tatuagem, apaixone-se por pessoas que você não vai amar, até descobrir que na brincadeira se apaixonou mesmo, toque um instrumento, cante alto no meio de uma praça de alimentação, escreva uma poesia, visite um parente distante e finja que as conversas da família te interessam, escreva sua frase favorita na parede do seu quarto, beba até vomitar, chore em um lugar público pra ver se vão te consolar, abrace um mendigo, cante no ventilador, coma até passar mal. Faça tudo aquilo que eu não consegui fazer.

Queria ter seguido os meus próprios conselhos, porém não sou muito boa com essas coisas.

Quero que lembrem de mim como eu realmente era, não com um sorriso no rosto. Sei que é difícil imaginar uma versão minha na qual eu não deixava vocês conhecerem, mas pensem em uma pessoa que lutou contra tudo pra conseguir ficar aqui até o insuportável chegar. Mas eu precisava parar, as pessoas precisavam parar, a vida precisava parar.

Agradeço a todos que tentaram me ajudar. As melhores amigas do mundo que nunca desistiram de mim. Aos meus pais que sempre fizeram de tudo. As pessoas que não me conheceram. Mas foi tarde demais. Não os culpo por não perceberem o que passava comigo, de verdade. Eu fui a única culpada por não ter conseguido mostrar o meu verdadeiro eu.

Deem mais importância aos problemas dos outros, percebam um pedido de socorro, ajudem. Faça todo o bem que puder, de todas as maneiras que puder, de todas as formas que puder, em todos os momentos que puder. Sempre que puder.

Valorize um abraço, um último olhar, um último sorriso, uma carta. Sinta mais, demonstre mais.