Capítulo 20
Meu vestido esvoaçava com a leve brisa que se formou naquele dia. As flores no cabelo já começavam a pinicar, mas eu não me atrevia a mexer e acabar desfazendo o penteado. Tudo precisava ser perfeito.
Respirei fundo e sorri para a mulher que estava comigo esperando a hora certa para sair.
— Vai dar tudo certo, Laurie — ela me tranquilizava.
Era claro que ia dar certo, tudo foi pensado com muito cuidado. O local, as flores, os convidados e até mesmo o bufê. Atlanta era quente naquela época do ano, então não corríamos o risco de que chovesse, os cravos e lírios que enfeitavam os bancos e o arco da cerimônia eram os mais bonitos que havíamos encontrado nas lojas, e os convidados eram apenas amigos íntimos.
— Eu estou pronta.
A mulher concordou e saiu para avisar que poderíamos começar.
Logo a típica música de casamento começou a tocar, era a minha deixa. Apertei o pequeno buquê entre meus dedos e saí de trás da parede que me escondia, me revelando para todos lá presentes.
O local estava bem enfeitado. Era em um campo ao ar livre, o que permitia que tudo ocorresse à luz natural. As pessoas me encaravam em pé, a maioria sorrindo. Mais ao fundo, onde a cerimônia ocorreria, estava quem eu mais desejava naquele mundo me esperando.
Com um sorriso no rosto, caminhei a passos lentos em direção ao meu amado.
Eu estava chegando cada vez mais perto dele, mas a cada passo que eu dava uma estranha névoa cobria minha visão. A última coisa que vi foi seus olhos, castanho escuro quase preto.
☼
— Senhorita De Freyn?
Pisquei algumas vezes e voltei minha atenção para o professor.
Estávamos na aula de história, mas eu não conseguia parar de pensar no sonho que tive na noite passada. Parecia tão real, mas diferente do último não arrancaram nada de mim. Aquele não pareceu ser provocado pela Corte.
— Eu perguntei para a senhorita qual foi um dos motivos que levou ao início da Guerra Mexicano-Americana no século dezenove.
Eu ainda não havia sido criada naquela época, mas lembrava de alguns anjos falando da estupidez norte americana.
— Os americanos idiotas que achavam que Deus pediu para eles civilizarem a América — falei sem mais delongas, espantando o professor.
— Bem, sim. Os Estados Unidos achava na época que Deus deu a eles o direito de civilizar a América do Norte, além de que a Califórnia possuía grandes riquezas de interesse americano. Os conflitos com os Mexicanos se deram em grande parte pela posse dos territórios pelos Estados Unidos e a tentativa deles de anexar o Texas como estado americano.
Eu achava engraçado a forma como os humanos acreditavam que Deus estava os ajudando. Ele era tão distante que até mesmo alguns anjos duvidavam de sua existência. Apenas os serafins tinham "acesso" a Ele, por isso que se tornava algo difícil de acreditar. Eu nunca me posicionei quanto a isso. Nós existíamos por algum motivo, mas eu não me importava em descobrir qual era.
A aula continuou e minha mente novamente foi para o sonho que tive. Parecia ser um casamento, meu casamento, mas não consegui identificar quem era o noivo, só a cor de seus olhos. Eu não sabia o que aquilo poderia significar, apenas um sonho bobo ou algo mais? Que motivos me levariam a sonhar aquilo? Não era como se eu tivesse visto ou lido sobre um casamento para minha mente querer me fazer fantasiar enquanto eu durmo.
No entanto, aquilo pareceu tão real. Os sentimentos, a sensação do tecido do vestido em meus dedos, a brisa. Era como se eu realmente tivesse vivido aquele casamento. Mas não fazia o menor sentido, eu nunca me casei desde que fui criada. Não poderia ter a lembrança de algo que não aconteceu.
Antes que eu percebesse a aula acabou e todos saíram, me deixando lá apenas com o professor presente. Levantei e fui em direção à saída, mas ele me chamou antes que eu pudesse sair.
— Senhorita. Posso tomar seu tempo por alguns minutos?
Concordei e me aproximei do homem.
O Sr. Tomáz era um descendente de mexicanos, isso era claro pela sua aparência e sobrenome. Era um dos poucos professores que realmente tentava ensinar os alunos do reformatório.
— Como sabe tanto sobre história? Você fala como se tivesse... vivido tudo o que conto — falou curioso demais para meu gosto.
Era bem verdade que boa parte do que ele contava eu havia presenciado. As duas grandes guerras, a crise de 1929... Recordava como se fosse hoje.
— Meu avô era historiador — menti — aprendi tudo com ele.
— Na França certo?
Assenti.
— Não conheço muitos historiadores franceses, acho que é por isso que não lembro de nenhum com seu sobrenome. Qual era o nome dele?
— Ahn... Andre De Freyn.
Não era mentira, o nome de meu "avô" realmente era Andre, mas ele não era um historiador e sim marceneiro. Sr. Tomáz provavelmente procuraria, não encontraria nada e por fim desistiria. Não havia com o que eu me preocupar.
— Vou pesquisar então — disse anotando o nome em sua caderneta — Fico feliz que pelo menos alguém nessa sala se interessa por história.
— Realmente... Mas enfim, preciso ir professor — inventei já começando a dar pequenos passos para trás.
— Ah sim, pode ir. Até a próxima aula senhorita.
Saí de lá o mais rápido que consegui e, para a minha surpresa, era Esdras quem me esperava no corredor. Seu tempo de folga já havia acabado, ele finalmente estava de volta.
— Eu não fiquei longe tempo o suficiente para você esquecer meu rosto — brincou com minha falta de reação.
Era óbvio que eu não tinha esquecido dele, não tinha como isso ocorrer.
Meu primeiro impulso era abraçá-lo, mas sabia que era inadequado e ele provavelmente não ia gostar. Então me mantive onde estava, mas deixei um sorriso surgir em meus lábios.
— Como está Katherine?
A curiosidade me matava. Precisava saber se deu tudo certo, se ela estava curada.
— Ela não tem mais leucemia. Está agora em casa se recuperando — respondeu com um sorriso genuíno que expressava toda sua felicidade.
Ajudar Katherine me fez lembrar de Will e em como eu não pude fazer nada para salvá-lo, pelo menos dessa vez alguém teve um final feliz.
Esdras percebeu meu súbito desânimo.
— Ei, você salvou uma vida — ele disse colocando as mãos em meus ombros — Tem noção disso? Katty te considera uma heroína!
Um relance de sorriso surgiu em meus lábios. Eu era uma assassina, não um heroína, mas era bom saber que alguém me via além de meus crimes.
— Eu fico feliz por ter conseguido salvar alguém.
Mantive o olhar baixo, não queria que ele visse meu momento de fraqueza ao lembrar de meu irmão.
— Sei que você não gosta de falar sobre Will, mas tem algo que... — o guarda parou de falar e se afastou de mim tirando a mão que percebi estar em seu bolso.
Sr. Tomáz passou por nós, ele acabara de sair da sala de aula.
— Senhor — Kalamari o cumprimentou.
O professor nos deu um aceno de cabeça e seguiu seu caminho alheio ao que acontecia entre eu e meu guarda.
— Vou te levar para o refeitório, já é quase hora do almoço.
Era verdade que eu estava começando a ficar com fome.
Nós saímos de lá deixando o assunto inacabado, naquele momento eu só me perguntava o que teria para o almoço.
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Obrigada a quem chegou até aqui, vocês são uns xuxus sério <3
As coisas estão começando a fazer sentido na história.
Logan voltou a aparecer, Aalis descobriu uma fato inusitado sobre Martha e Nike continua sendo iludido kkk
Brincadeiras à parte, eu realmente espero que vocês estejam gostando da história <3
Já passamos da metade e quase entrando na reta final yeey
Beijinhos
Vi Mello
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