Me perguntava se não teria sido graças a minha antiga vida de anjo que consegui ser compatível com Katherine. Não sabia se tinha alguma relação, mas era coincidência demais para o meu gosto.

       Mais alguns testes foram feitos e logo se constatou que minha saúde era perfeita, o que eu já esperava. Nem vinte minutos depois eu já estava deitada em uma maca pronta para doar minha medula óssea para Katherine.

       Não permitiram que Esdras entrasse na sala comigo, o que foi uma pena, pois estava mais nervosa do que eu imaginei que fosse ficar. A ideia de permanecer inconsciente por algumas horas não me agradava em nada.

       — Senhorita De Freyn, é um prazer conhecê-la. Sou o Doutor Lewis, realizarei a coleta de hoje.

       Ele não parecia ser muito velho e tinha um sorriso simpático no rosto, o que me acalmou um pouco.

       — É um procedimento rápido, logo você está liberada.

       Apenas concordei com a cabeça enquanto o médico falava comigo, eu não sabia bem o que dizer.

       Acabou sendo rápido como ele havia dito. Acordei duas horas depois com Esdras me encarando sentado na cadeira ao lado da cama onde eu estava deitada.

       — Deu tudo certo? — perguntei com a voz ainda embargada.

       O guarda concordou com um aceno de cabeça e sorriu.

       — Acabaram de levar Katherine para a cirurgia. Inventei para os outros guardas que você desmaiou quando viu o próprio sangue e precisou ficar de repouso por algumas horas.

       Se eu não estivesse mais grogue da anestesia certamente teria rido da cena que ele inventou. Sapryn ficaria muito brava, mas pelo menos não descobriria o real motivo de eu extender meu período no hospital.

       — Eu não sei como te agradecer, Aalis. Você salvou o amor da minha vida, vou ficar te devendo eternamente.

       Se um dia me dissesse que eu faria uma doação para a noiva doente do meu guarda, eu teria rido sem nem pestanejar. No entanto, naquele momento estava feliz, algo que eu não me sentia desde a morte de Will.

       — Que tal você me trazer um copo de água? Vai ajudar muito.

       Kalamari assentiu e saiu do quarto logo em seguida.

       Olhei ao meu redor soltando um longo suspiro. Não gosta de hospitais, mas gostava menos ainda do reformatório. Infelizmente aquele era meu destino final, nada de parar para comer um hambúrguer.

☼

       Esdras ligou para a diretora e pediu alguns dias de folga alegando que precisava cuidar de Katherine já que a mesma voltaria para casa e precisava se readaptar. Era claro que Sapryn permitiria, Kalamari era o melhor guarda do reformatório, não perdia um dia de trabalho e o executava com rigor.

       Já eu, seria vigiada por outro guarda, ou seja, nada de gracinhas. O lado bom era que eu poderia continuar minhas pesquisas na biblioteca sem que a vida trágica de Esdras me atrapalhasse. Precisava pôr um fim nas atrocidades cometidas pela Corte, só ainda não sabia como faria isso.

       O caminho de volta ao reformatório foi tranquilo, embora o silêncio tenha me deixado um tanto inquieta. Aproveitei a vista o máximo que pude sabendo que não veria mais nada daquilo por anos.

       Ao chegar em meu quarto, foi como se eu nunca tivesse saído de lá. A única diferença é que não tinha mais Esdras para eu importunar, e sim um guarda que nunca havia visto na vida.

       Seriam longos dias sem sua presença, foi o que percebi ao deitar na cama e encarar o teto.

       Meu guarda estava certo em ficar lá, Katherine precisava dele quando acordasse da cirurgia e descobrisse que não estava mais morrendo. Eu até conseguia imaginar o sorriso no rosto dele no instante em que ela abrisse os olhos e ele contasse a verdade. Eles finalmente poderiam casar, serem felizes. Pensar nisso até me deixava um pouco menos deprimida com o fato de que meu futuro seria viver atrás das grades.

       Ao olhar pela janela notei que já era noite, o que fez meu estômago roncar em resposta. Eu precisava comer imediatamente.

       O novo guarda me acompanhou até o refeitório onde alguns alunos já comiam.

       Peguei uma das bandejas prontas e fui à procura de um lugar para sentar. Não muito longe havia uma mesa vazia, era perfeito, mas não tive chance de chegar até lá, pois uma voz feminina me obrigou a mudar de direção.

       — Ei, Aalis. Senta com a gente.

       Era Laysa, suas amigas e o namorado.

       Sentei ao lado de uma garota de cabelos castanho claro que depois descobri se chamar Agnes.

       Desviei meu olhar para Logan por alguns segundos, ele retribuiu, mas não falou nada. Ainda havia alguma coisa que me fazia achar que eu o conhecia.

       — Soube que você saiu do reformatório hoje? Como conseguiu? — Laysa novamente tentou me incluir no grupo.

       — Eu desmaiei por causa do calor — menti — Me levaram no hospital e fiquei algumas horas tomando soro.

       Logan me encarava como se soubesse que eu estava mentindo, mas como antes não abriu a boca.

       — Mas agora você está bem? — perguntou preocupada.

       — Sim, não foi nada demais — respondi dando de ombros.

       Nada demais, apenas doei minha medula óssea para a noiva do meu guarda que eu não deveria ter a intimidade que tenho. Essa não era a melhor resposta, mas se eu a tivesse dito não estaria mentindo.

       — Ai que bom, fico feliz que esteja bem. Não quero perder outra amiga.

       Duas coisas me chocaram naquela frase. Primeiro, ela me considerava sua amiga. Segundo, ela era amiga de Martha, ou foi o que constatei já que nem uma outra garota morreu no reformatório até agora.

       — Sinto falta da Martha — disse uma garota de pele morena sentada ao lado de Laysa.

       Eu não pretendia entrar no assunto, mas já que elas começaram, achei que seria uma boa oportunidade para descobrir o que as pessoas achavam daquele suicídio.

       — Vocês acham mesmo que ela... se matou? — tentei falar baixo para que os guardas não ouvisse sobre o que conversávamos.

       As três garotas concordaram.

       — Martha era uma garota extrovertida, mas tinha muitos problemas. Ela sofria de depressão, embora sempre dissesse que estava bem.

       Se Laysa estivesse certa não seria tão incomum assim a garota tirar a própria vida, mas as marcas de garras ainda me faziam acreditar que não foi bem assim que aconteceu.

       — Queria que não tivesse chegado a esse ponto, mas desde que ela veio parar no reformatório e não pôde mais tomar os remédios, isso de certa forma quebrou ela — contou Agnes.

       Aquelas informações eram novas para mim, eu não imaginava que a história de Martha ia tão longe. Talvez isso a tenha tornado um alvo fácil para a Corte. Se ela fosse um anjo caído como eu acreditava, pode ser que ter caído a fez entrar em depressão, eu sabia bem qual era o sentimento de ter perdido tudo. Se não fosse por Will eu provavelmente também teria me suicidado.

       Evitando levantar suspeitas do meu interesse no assunto, apenas assenti com a cabeça e provei minha refeição daquele noite, macarrão com queijo, pelo menos não era a sopa estranha do outro dia.

       — Mas pelo menos assim o reformatório começou a prestar mais atenção nos alunos, os guardas são prova disso. Pode ter dificultado um pouco nossas vidas, mas evitou que novos acidentes acontecessem.

       Laysa estava certa. Ter os guardas mais próximos dos alunos evitou muitos conflitos entre os estudantes e não houve mais mortes. No entanto, as festas praticamente se extinguiram, pois, mesmo com praticamente todas as câmeras inoperantes, o horário de descanso dos guardas era muito curto. Um exemplo disso foi a festa no quarto do Nike, eu mal havia chegado e já precisei sair correndo para não ser pega em flagrante por Esdras, o que não deu muito certo.

       — É verda... Ai!

       Agnes derrubou sua bebida em mim, molhando toda minha blusa.

       — Me desculpa! Juro que foi sem querer — a garota implorou.

       — Tá tudo bem — tranquilizei — Eu vou voltar pro quarto, já tive emoções demais por hoje.

       Me despedi do grupo com um aceno de mão e, junto do meu guarda temporário, voltei para o quarto.

       Foi deitada na cama tentando dormir que comecei a pensar em Martha denovo. Ela era mais complicada do que eu imaginava, mas a história do suicídio ainda não me convencia. Tinha que ter algo mais.

       Eu só esperava descobrir antes que mais uma morte ocorresse, principalmente se fosse eu a próxima vítima.

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Quem é vivo sempre aparece não é mesmo?

Será que a volta do Logan para a história significa alguma coisa?

Aalis está sozinha nessa busca agora que Esdras pediu licença para cuidar de Katherine. Será que ela vai desvendar o mistério ou vai precisar esperar que seu guardinha volte?

Me digam o que estão achando!!!!!!

Não esqueçam de deixar aquele voto lindo <3 

Amo vocês!!!!!

<3 <3

Vi Mello