Prólogo (Madelyn Ross)

— Porra! — Grito em meu carro quando quase atropelo um cachorro.

Consigo desviar e coloco a marcha na sete acelerando mais ainda tentando despistar a polícia que está na cola do carro. Viro inesperadamente em um beco das ruas de Itália e por um tempo, eles param de me seguir batendo seus próprios carros contra os outros tentando entrar aqui. Saio do automóvel que roubei pegando minha bolsa que está com novas peças de moto para eu vender. Limpo a chave em minha blusa para limpar minhas digitais e a jogo dentro do lixo que estava alí.

Começo a andar nas calçadas pequenas, indo em direção ao grande orfanato logo a minha frente. Vou para a parte de trás do enorme lugar e entro pela janela conferindo que ninguém esteja lá. Vou até o meu quarto e fecho a porta jogando minha bolsa na cama. Pego minha outra bolsa que está com minhas poucas roupas e algumas coisas para minha higiene pessoal.

Escuto passos vindo do corredor e rapidamente jogo as duas mochilas embaixo da cama. Deito fingindo estar dormindo para que eu consiga enganar a pessoa que possa ter quase descoberto que saí por algumas horas.

— Acorda — A guarda que fica vigiando todos que estão aqui me chacoalha — A Inspetora quer ver você.

Finjo ter acabado de acordar e levanto espreguiçando o meu corpo levando os meus braços acima da minha cabeça os esticando. Sigo a moça de cabelos loiros puxados para um coque baixo e com o uniforme preto e azul do orfanato, seguido por uma arma de choque em seu cinto no quadril. Passamos por corredores estreitos, com paredes brancas, indo até a porta daquela vaca desgraçada.

Olho ao meu redor olhando cada detalhe do orfanato. Sua paredes esbranquiçadas, piso de madeira que tinha algumas rachaduras, quadros repletos de sentimentos que por incrível que pareça, era a única coisa me fazia ficar sentada olhando para uma só parte, por horas, tentando decifrar qual foi o contexto por trás de uma simples pintura. Mas tirando isso, esse lugar parece um hospício e não me surpreenderia se fosse.

Sophia, três passos à minha frente, bateu na porta e num instante foi aberta por ela mesma assim que escutou uma voz irritante dizendo que podia entrar. Entro na pequena sala com duas janelas, uma em cada lado. Armários e estantes predominam a sala. Vou até a mesa de madeira no centro do cômodo.

— Posso saber por que não limpou a cozinha? — Ela diz sem tirar seus olhos das papeladas dando visão ao topo de sua cabeça quase sem cabelo que era disfarçado por seus fios grisalhos, minimamente tingidos por um castanho que quase não existia mais.

— Dormi até tarde — Coloco minhas mãos atrás de mim e começo a mexer em minhas cutículas, sentindo elas começarem a arder.

— Na próxima, você já sabe o que vai acontecer — Ela olha para mim com seus olhos escuros por baixo de seus cílios dando a visão de seu óculos quase saindo de seu nariz gigante.

Vadia estúpida.

Saio da sala e vou até a cozinha na esperança de nenhum dos guardas estarem lá.

Apenas quatro pessoas ainda moram aqui. Duas delas completam dezoito anos hoje, então vão embora em breve. Eu sou uma dos dois que restaram, e o outro é meu grande amigo, Juan. Que iria fugir juntamente a mim, mas depois íamos tomar rumos diferentes.

Vou até a cozinha vazia e começo a lavar alguns pratos que estavam sujos de macarrão.

Nós éramos responsáveis por tudo.

Não tinha funcionários que fizessem algo. Apenas funcionários que abusam de nós tanto verbalmente quanto fisicamente. Nenhum, repito, nenhum nos ajudava. Os guardas são tão hipócritas quanto a inspetora desse inferno.

Termino tudo que eu tinha que fazer, vou para o meu quarto novamente e pego minha bolsa para levar até a pessoa que quer comprar as peças. Passo a tarde fora sem que ninguém perceba, apenas esperando a hora de me aprontar para sumir daqui, já que ninguém se importa com minha presença.

[...]

20h30.

Está na hora.

Coloco meu moletom preto, um boné da mesma cor e minha mochila. Coloco a outra vazia dentro dela tendo esperança que ela ainda tenha funcionalidade para mim futuramente.

Saio do quarto em passos largos, mas silenciosos. Tranco a porta com a chave do guarda que eu peguei nessa tarde para que ninguém consiga entrar até que eu vá embora. Vou até o quarto de Juan, o vendo colocar os travesseiros embaixo das cobertas para atrasar outros guardas. Tranco a porta dele e o puxo para longe indo para trás do orfanato. Pulo a janela que já estou acostumada e vejo Juan tendo dificuldade para fazer isso.

Ele começa a andar ficando distante de mim, mas vendo que eu não estava o acompanhando, volta em minha direção.

— Por que está parada aí? Vamos logo, antes que nos achem — Ele diz puxando meu pulso.

— Eu preciso fazer uma última coisa. Me espera lá na sorveteria, jajá eu apareço. — pauso — e se eu não aparecer em trinta minutos, fuja — Tiro meu braço de seu aperto e pego a gasolina do lado da árvore não o deixando falar.

Ele caminha até o muro e o pula com dificuldade.

Entro pela janela, outra vez, e começo a despejar a gasolina por todo lado que vejo não restando uma única parte que não esteja o álcool que queima meu nariz. Quando eu termino de despejar os quatro galões, um guarda me avista e começa a vir até a mim com seus olhos arregalados. Dou um sorriso de lado e pego o fósforo que estava no bolso traseiro da minha calça. Pulo a janela que estava atrás de mim e no mesmo momento que caí no chão, machucando o braço por mal jeito da minha queda, eu jogo o fósforo aceso para dentro vendo a mansão do diabo começando a pegar fogo.

Escuto gritos agonizantes de todos que me maltrataram durante os três anos que estive aqui. Nunca, um orfanato prejudicou tanto a minha mente e corpo como este. Começo a correr indo até o muro com a alegria em meu peito sabendo que ninguém iria sofrer mais nas mãos desses filhos da putas e pulo, correndo mais ainda indo até a sorveteria.

Observo Juan a alguns metros de distância olhando tudo à sua volta, provavelmente tentando me achar e dando um sorriso largo quando me vê. Quando chego até ele, ele me abraça tão forte, que aí percebi que era uma despedida.

— Você é maluca! — gargalha, mas logo para — promete não fazer mais nenhuma besteira? — Ele diz ainda no abraço.

— Não — Digo com sinceridade em uma única palavra — Você sabe muito bem que não posso prometer isso — O olho — Mas prometo te encontrar, um dia.

— Piccolo diavolo (Pequeno demônio) — Ele solta uma risada triste — Até breve — Ele sai de meu aperto indo na direção oposta da minha.

Sinto meus olhos se encherem de lágrimas sabendo que vou me separar da única pessoa que realmente me ajudou em momentos horríveis. Começo a caminhar sentindo minha visão ficar turva, dificultando o meu andar. Pego o celular que escondi por anos para que ninguém fiscalizasse e chamo o táxi para ir até o aeroporto. Alguns minutos depois, o táxi veio ao meu encontro.

— Boa noite. Aeroporto por favor — Entro no carro.

Desconfiada, pego o canivete em minha cintura colocando no bolso da blusa apertando contra os meu dedos para caso eu precisasse, fosse fácil de pegar. O que seria difícil, pois as lágrimas em meus olhos tampam tudo que eu tento observar.

Após duas horas, chego no aeroporto. Pago o motorista, agradecendo pela viagem. E vou até o local gigantesco.

Finalmente.

[...]

Saio do avião após 14 horas dentro dele e vou até o corredor que me encaminha para a saída que logo encontrei. Passo pelas portas automáticas que se fecham assim que coloquei meus pés fora de lá.

Olho para o sol que faz meus olhos arderem. Coloco uma de minhas mãos em meu rosto fazendo uma sombra no mesmo instante. Vou até o ponto de táxi e quando ele chega, adentro tirando minha mochila de minhas costas.

— Internato San carlos. — Encosto minha cabeça no banco relaxando um pouco, já que não consegui no avião.

O carro se locomove, o que me faz sentir minhas pálpebras pesarem e o sono vindo à tona. Me recuso a dormir e levanto minha cabeça do banco para que eu não caia em um profundo sono sem querer.

Alguns minutos se passaram e logo eu já estava à frente do lugar que era tão desanimador quanto o orfanato.

Saio do carro pagando o homem de idade que me trouxe até aqui.

Me deparo com a porta de madeira colossal diante de meus olhos com suas letras prateadas acima, descrito "San carlos" em maiúsculo. Observo cada mínimo detalhe e percebo que esse lugar parece realmente uma prisão, tão igual quantas as fotos que achei no navegador. Um ótimo lugar para que ninguém possa me achar.

Espero não ter feito uma escolha ruim ao ter vindo para cá.

*Mais um postado, Madelyn chegou quebrando tudo.

*Capítulo escrito por Tains_autora, uma salva de palmas para essa quenn 🛐

*Voltamos em breve, beijinhos 😘

(Madelyn Ross)

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