Capítulo 4
Effie Zavala
O sol já está se pondo lá fora e os alunos correm de um lado pro outro pelos corredores, pelo o que consegui captar parece que uma lista vai ser posta na área dos dormitórios decidindo as duplas definitivas dos quartos, e eu tenho quase certeza que os babacas que decidiram isso estão pouco se fodendo se vão criar uma guerra nuclear.
— Vamos! Vamos seus merdinhas eu não tenho o dia todo, não quero ninguém fora das alas quando o toque de recolher soar! — Um dos guardas grita batendo alguma coisa no portão de ferro, mas não me dou o trabalho de olhar para trás.
Eu estava mais preocupada em verificar o galpão que Linda comentou ontem, foi até engraçado vê-la implorar pra participar do nosso mais novo "projeto" e enquanto ela perdia tempo derramando lágrimas por algo que seu pai falou ao telefone eu queria me manter o mais distante possível do meu.
Assim que ponho meus pés na ala feminina noto um burburinho se concentrando em volta do quadro pendurado na parede, é possível ver comemorações e até olhares mortais sendo trocados, a segunda opção em grande maioria. As meninas estão próximas tentando entender o que está acontecendo, mas nenhuma parece interessada o bastante para se enfiar no meio de garotas histéricas. Me aproximo do quadro empurrando uma ou duas meninas do meu caminho e puxo o papel amarelado com uma lista gigantesca, minha altura permitia que eu fizesse isso com facilidade.
— Ei! Sua vaca louca! — Escuto uma voz esganiçada, viro a cabeça encontrando uma loira, que mais parecia uma boneca de porcelana, o sorriso que dou a ela é o suficiente pra fazer a garota se calar.
Outros xingamentos soam atrás de mim mas sigo até as meninas me olham com olhares curiosos, encontro o olhar de Amber que me oferece um mini sorriso, alguma coisa nela me intrigava, ainda mais a tatuagem de serpente em seu quadril, Skane, a La Carta já tinha me falado um pouco sobre eles, o que deixava tudo mais interessante.
— Ainda bem que você fez esse favor, aquelas garotinhas barulhentas estavam me dando nos nervos. — Madelyn é a primeira a se manifestar.
— O que tem nesse papel? Espero que seja a lista de possíveis mortos pra todo esse alvoroço. — Sallie arqueia uma das sobrancelhas com tédio.
Passo meus olhos pela lista e assim que vejo o nome de Linda e Amber na mesma linha tenho vontade de gargalhar, mas não faço apenas abro um sorriso largo e divertido.
— Hoje não é seu dia de sorte princesinha. — Linda mexia nas próprias unhas mas ao ouvir minha voz me encara.
— Sorte? Eu não preciso de sorte, esses plebeus que dependem dela.
— Me assusta que você realmente acredite nisso. — Provoca Callie desdenhando.
— Sinto lhe informar princesinha mas você foi rebaixada a plebeia, você e Amber estão no quarto 8. — Dou a notícia, essa estava sendo a coisa mais animadora do meu dia.
Linda descruza os braços agora deixando as unhas de lado e caminha até mim com passos largos — o som dos saltos batendo eram irritantes — e toma o papel da minha mão, sua boca se abre em um "o" perfeito junto com um murmúrio indignado.
— E lá vamos nós novamente. — Madelyn diz baixo, todas se viram olhando a reação das duas garotas à espera de uma briga que não teve o final desejado no dia anterior.
— Impossível! Quem fez essa maldita lista? — A voz de Linda se altera antes de pôr os olhos em Amber com desprezo. — Eu não posso ficar no mesmo lugar que essa rata imunda! Eu sou importante e valiosa demais pra isso.
— Está com medo da rata imunda te matar enquanto dorme? — A voz de Amber é calma, porém afiada como uma faca.
— Eu vou fazer uma reclamação sobre isso. — Aponta o dedo no rosto da sua nova colega de quarto que nem se mexe e sai dando passos duros jogando o papel no chão.
— Eu ainda vou arrebentar essa garota. — Sallie diz acompanhando o rastro barulhento dos saltos.
Me abaixo pegando o papel deixado por Linda e leio os nomes em voz alta, era estranhamente conveniente que todas nós tenhamos caído juntas nos mesmos dormitórios e com quartos próximos.
— Sallie estamos no quarto 7, Callie e Madelyn no 9.
Troco olhares cúmplices com Sallie, não era ideal mas não estávamos insatisfeitas com a companhia uma da outra, contanto que ela não se meta no meu espaço pessoal, estaremos bem, e acredito que ela pense o mesmo.
— Espero não ter que acordar a noite com os gritos histéricos da patricinha insuportável. — Murmura Callie se preparando para o possível estresse de ter Amber e Linda no quarto ao lado.
— Que Amber a sufoque antes que isso aconteça. — Responde Madelyn.
Devolvo o papel para alguma aluna desesperada quando as sirenes começam a tocar indicando que o toque de recolher tinha acabado de começar, não perco tempo em ir até meu quarto provisório para pegar minhas coisas, eu teria uma longa noite pela frente. Ao passar Amber já está parada na porta do seu novo quarto acompanhando meus passos, pisco pra ela que desvia virando o rosto pra outra direção, não parecia muito do seu feitio mas não paro.
....
Os quartos estavam escuros, Sallie dormia na cama ao lado parecendo inofensiva, trocamos poucas palavras depois que viemos para nossos quartos. Olhei a hora pelo meu celular, 02:37 da manhã, os guardas já não estavam se movimentando muito pelo corredor, conto no máximo três.
As alas femininas e masculinas são separadas, ambas por portões de ferro que impediam a transição entre um lugar e outro, e a saída para os arredores de San Carlos, arrisco dizer que uma prisão seria muito melhor, somos mantidos e tratados como animais raivosos ou pior.
Pego o notebook embaixo do meu travesseiro e abro no programa que eu estava utilizando para controlar as câmeras de segurança, em pouco tempo consegui hackear toda segurança, eles não eram muito inteligentes criando códigos de bloqueio, além de conseguir o cartão metalizado usado pelos guardas para acessar os portões das alas.
Olho a imagem das câmeras, como eu imagina, três guardas e dois deles estão roncando feito porcos - hora da diversão Effie - clicando em algumas teclas consigo por a imagem da câmera pra se repetir, assim não preciso desligá-las e ninguém vai desconfiar que algo fora do normal está acontecendo. Escondo o notebook embaixo do assoalho de madeira, visto um short preto permanecendo com a camiseta larga e saio da cama abrindo a porta com cuidado.
— Aonde você vai? — Ouço a voz baixa de Sallie, sonolenta.
— Apenas dar uma volta.
— Se você conseguir passar pela segurança, boa sorte.
— Eu não me preocuparia com a segurança. — Dou um sorrisinho de canto revirando os olhos. — Pode continuar com seu sono profundo.
— Nem fodendo que eu vou ficar na cama enquanto você fica bisbilhotando. — Ela joga o cobertor fino para longe e se levanta em um pulo fazendo a madeira embaixo dos seus pés rangerem.
Não discuto com a garota, espero ela se trocar em silêncio e saímos do quarto, nosso quarto era meio caminho até os portões, o único guarda acordado estava na ponta oposta com uma lanterninha fraca.
— Passa pelos cantos.
— As câmeras vão nos ver. — Me olha sem entender.
— Estão em looping, coloquei pra imagem ficar se repetindo, não vamos aparecer nos monitores. — Explico sem olhá-la diretamente, eu observava o guarda distraído.
— Puta merda, isso está ficando mais interessante ainda, você é uma hacker. — Afirma. — Sabia que não ficava grudada naquele celular atoa.
Olho para Sallie fazendo uma expressão como se estivesse dizendo "jura?", aponto com a cabeça em direção ao portão, ela me mostra o dedo do meio e segue o caminho com cuidado desviando de um dos guardas dorminhocos. Quando estamos quase em frente ao portão, uma voz grossa chega aos nossos ouvidos.
— O que está fazendo fora do quarto pirralha? — Olhamos em direção ao homem falando com alguém, aperto os olhos vendo uma garota de cabelos pretos e pele pálida encolhida.
— Puta merda.
— Tinha que ser alguma desmiolada. — Sallie grunhi irritada.
— Consegue apagá-lo?
— Se eu consigo? Com prazer Zavala.
Os cabelos ondulados e escuros são um vulto na falta de iluminação, Sallie atravessa o corredor e caminha que nem um predador prestes a degolar sua vítima, ao mesmo tempo a garota tenta dialogar inutilmente com o guarda dizendo que precisava usar o banheiro, o homem não convencido avança fazendo a morena dar alguns passos pra trás, em questão de segundos a Mathews pula no pescoço do guarda tampando sua boca e nariz, usando o braço asfixiado, com a deixa passo o cartão metalizado pelo sensor liberando a passagem, ando até a pequena fugitiva e a mando voltar para seu quarto mantendo o bico fechado, a última coisa que vejo são seus olhos assustados antes de se trancar de volta no dormitório. Atravesse o portão e Sallie vem logo atrás deixando o guarda desacordado para trás.
— O que exatamente vamos fazer fora do quarto? — Indaga minha colega de quarto.
— Quero saber se o galpão que a Linda comentou vai servir de algo pro nosso projeto. — Ironizo.
— Pelo menos pra isso ela foi útil.
— Vamos, antes que seu amigo acorde.
O caminho é feito em silêncio, eu vou na frente, tinha conseguido mapear a fortaleza com um pequeno drone que consegui por pra dentro. O tal galpão ficava do lado de fora, atrás dos laboratórios coberto por bons metros de mato, a princesinha tinha razão ninguém passava por aqui, Linda é inteligente mas não tanto quanto é irritante.
— Esse lugar é assombroso de madrugada.
— Com medo Sallie? — Provoco.
— Ah por favor Effie, não enche. — Rio.
Ouço alguns passos vindo do corredor oposto e puxo Mathews até as escadas que davam atrás dos laboratórios, mais guardas, eles não eram muito eficientes, mas evitá-los era o melhor a se fazer. Respiro o ar puro quando pisamos no gramado, encaro a lua bonita e brilhante no céu.
— Vamos, estou curiosa pra saber as tralhas que tem ali dentro, será que tem armas ali dentro? — Pergunta Sallie retoricamente.
— Espero que Linda realmente esteja certa sobre esse lugar. — Comento pisando no gramado alto.
O galpão era grande e velho como todo o resto, portas duplas fechadas por um cadeado grande e correntes, meu desânimo é substituído por alívio quando encontro um alicate grande escondido no gramado. Vai servir pra nos livrarmos das correntes.
— Sallie segura as correntes.
— Se você arrancar minha mão, te faço engolir essa merda. — Ela segura de uma forma que eu consiga encaixar a ponta da ferramenta, uso as duas mãos fazendo força.
— Eu preciso das suas mãos inteiras, não se preocupe. — Zombo.
Depois de um longo esforço conseguimos abrir, abro e fecho minhas mãos doloridas, abrimos as portas duplas fazendo um rangido por conta da ferrugem, não é preciso nem entrar pra sentir o cheiro de mofo e coisa velha, meu nariz coça.
Procuramos por um interruptor encontrado por Sallie, quando as luzes se acendem revelando o que tanto escondiam aqui dentro meus olhos brilham, computadores de ponta, mesas grandes, kits de laboratório, algumas peças de carro, objetos pontudos e até uma geladeira velha e enferrujada.
— Esse é o sonho mais perturbador e maravilhoso de todos. — A risada de Sallie é eufórica.
— É compressível eles esconderem esse lugar.
Esse lugar vai ser perfeito pro que estamos precisando, e quando troco olhares com a minha companheira sei que ela está pensando o mesmo. Fizemos uma espécie de juramento no dia anterior, um pé em falso e todas nós caímos. Não confio em nenhuma delas, não sou idiota, conheço pessoas como elas, por isso me dei o trabalho de puxar a ficha de cada uma no banco de dados internacional depois de uma pequena invasão no servidor.
Assim como fiz com o asqueroso do nosso professor.
Terrorista e assassino, matou toda família mas foi encoberto pelo estado e mandando pra cá como parte da sua pena. Por isso não duvido que ele realmente esteja tentando matar os próprios alunos.
No momento que criamos a droga eu tive o mesmo sentimento quando decidi ajudar o grupo de justiceiros da La Carta, eu queria muito mais e essa era a oportunidade perfeita.
— O final do arco íris meninas. — Deixo o sorriso diabólico dançar em meus lábios.
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