Capítulo 3
Linda Gowin
— Porra. — Effie murmura enquanto segura a Callie que está sob a influência da substância que utilizamos para o nosso projeto.
Abro a porta do meu quarto e elas entram rapidamente, olho para os lados me certificando que não há ninguém no corredor, entro em seguida, fecho a porta e a tranco.
— Minha cama. — Choramingo quando elas deitam a garota que ainda brinca com os seus dedos. — Cruzo meus braços enquanto observo todas elas observarem meu quarto.
— Pensei que seu quarto seria diferente, já que você se acha a rainha deste lugar. — Sallie passa seu indicador sobre a escrivaninha horrível.
— Cale a sua boca garota. — Reviro meus olhos e caminho até a cama checando se a Callie está com febre, mas sua temperatura está estável. — Sabem que criamos algo perigoso.
— Perigoso? — Amber pergunta com um sorriso ambicioso. — Acabamos de descobrir uma mina de ouro, princesa.
— Esse projeto não pode ser entregue ao professor, caso contrário estaremos totalmente encrencadas. — Gesticulo com minhas mãos e dou um passo à frente.
— Assim como eu sei, todas vocês também sabem, o que criamos. — Effie permanece encostada no armário, ela analisa suas unhas antes de direcionar seu olhar a Madelyn.
— O que criamos deixou a Callie chapada, isso significa que criamos uma droga, ou coisa pior. — Madelyn explica e entre olho com a Sallie que sorrir perversa.
— Uma fabricação não seria ruim. — Pisco algumas vezes surpresa, não posso negar que quando vi a Callie daquela forma, passou um plano sujo em minha mente, mas colocá-lo em prática seria algo arriscado.
— Estou fora, não conheço nenhuma de vocês, não sei se devo confiar em garotas que com toda certeza, são mais problemáticas que eu. — Amber nega imediatamente, fazendo a Sallie cruzar os braços.
— Confiança se conquista com o tempo. — Callie sussurra se sentando sobre a minha cama. — Devia saber disso Amber.
— Eu não confio em absolutamente ninguém, é por esse motivo que estou caindo fora. — Observo a Effie que está pensativa, como se estivesse em outro planeta.
— Pelas minhas contas, no começo podemos ganhar um faturamento de quinhentos mil, caso encontremos investidores e clientes. — Effie se desencosta do meu armário e se aproxima da Sallie.
— Você disse quinhentos mil?— Amber pergunta interessada, aposto que em sua mente está pensando em como gastaria todo esse dinheiro.
— Apenas no início, caso investimos pesado podemos chegar na casa dos milhões, apenas precisamos dos investidores e compradores certos. — Effie novamente toma a palavra fazendo a Madelyn passar a mão por seu cabelo o jogando para trás.
— Não posso fazer isso, caso meu padre descubra aí sim irei perder absolutamente tudo. — Nego batendo meus saltos no chão chamando a atenção de todas para mim.
— A patricinha está com medo de perder o papai? — Sallie debocha e faz um biquinho de criança chorona. — Coitadinha.
— Princesinha, acredite, apenas por estar aqui é sinal que você já perdeu tudo. — Amber abre os braços e uma risada sarcástica escapa pelos seus lábios. — Não fique assim, sua mamãe voltará para te buscar.
— Provavelmente não, é tão insuportável que nem mesmo os pais a suportam. — Sallie e Amber se juntam em um complô para me humilhar.
— Vocês não sabem da minha vida. — Digo entre dentes enquanto divido meu olhar entre as duas. — Saiam do meu quarto agora mesmo.
— Não consegue ouvir a verdade princesa? —Amber pergunta e seu indicador segura uma mecha do meu cabelo o enrolando.
—Você não me intimida. —Dou um passo a frente ficando a centímetros da garota de olhos coloridos e frios. — Apenas um aviso Amber, em mim você não coloca medo.
— Ok, já chega. — Effie puxa a Amber para trás e sorrio para ela que semicerra seus olhos em minha direção. — Chega de brigas, o que criamos é algo incrível, podemos lucrar milhões ou passar horas discutindo como crianças.
— Estou dentro. — Madelym diz de uma vez chamando a nossa atenção, ela respira fundo parecendo frustada. — Estou farta de uma vida monótona, se for para se aventurar que seja por dinheiro.
— Eu concordo. —Callie tenta se levantar e vou até ela a sentando novamente. — Os efeitos estão passando. — Choraminga inconformada, me sento ao seu lado a segurando para que a garota permaneça sentada.
— Eu estou precisando de grana. —Amber dá de ombros como se não se importasse que estaria fazendo algo errado, parecia que ela já estava acostumada com o perigo. — Porém continuo não confiando em vocês.
— Conhecimento é poder, conheça seus aliados e seus inimigos na mesma proporção, quanto mais você souber, menor é o risco de ser apunhalado pelas costas. — Mesmo com a voz um pouco arrastada Callie consegue dizer olhando diretamente para a Amber que desvia seu olhar para o chão.
— O que me dizem? — Effie pergunta olhando para todas nós, me levanto novamente e a Callie cai de costas na cama soltando um suspiro.
— Estou dentro, porém não irei falar os meus motivos. — Sallie dá um passo à frente chamando nossa atenção. —Não me olhem assim, não é surpresa alguma eu está dentro. —Ela sorri perversa fazendo Amber a encarar por alguns segundos.
— Eu estou super dentro. — Callie levanta seus braços, olho para o meu pulso vendo a pulseira que ganhei de presente do meu padre, não posso decepcioná-lo ainda mais.
— Qual é Linda, iremos ficar ricas. — Madelyn me incentiva a garota que respira fundo e dá um passo à frente. — Eu espero que isso nos traga muito dinheiro e não mais problemas. —Madelyn bate seus pés discretamente no chão.
— E você princesa? — Sallie pergunta com um sorriso de lado, essa garota é obcecada em mim, ela não me deixa em paz, mas não julgo, sou uma divindade em forma humana.
— Fora, eu não sou como vocês. — Madelyn deixa uma risada amarga escapar e aponta para mim.
— Você está merecendo umas porradas. — Ela vem em minha direção e a olho tranquilamente. — Eu vou me retirar, antes que eu quebre você na porrada, sua patricinha de merda.
— Peguem a Callie. — Aponto para a garota jogada em minha cama. — Façam um relatório fajuto, diga que o projeto falhou.
— Farei sim. — Effie concorda antes de ajudar a Callie a se levantar.
Elas saem do meu quarto, fecho a porta atrás de mim e me encosto na mesma respirando fundo, meu pai me mataria caso eu entrasse em uma coisa assim, minha família sempre foi exemplo para a sociedade, não posso sujar o sobrenome dos Gowin.
(...) Outro dia
Ando pelo corredor segurando minha bolsa, olho pela décima vez a tela do meu celular a espera de uma mensagem ou ligação qualquer, mas nada, meu padre não me liga há duas semanas, já deixei milhares de recados na sua caixa postal e sms, porém não obtive retorno.
Entro no laboratório de química, observo as sete garotas malucas sentadas todas próximas, no canto inferior da sala, os olhares frios e inexpressivos estão sobre mim, permaneço com meus passos confiantes até o meu lugar.
— Linda. — Reviro os olhos quando ouço o tom de voz bajulador, me viro com um sorriso forçado para as duas garotas. — Como passou a noite?
— Muito bem. —Mentira, não dormi esperando a ligação do meu pai, mas não aconteceu.
— No intervalo iremos nos sentar com você, tudo bem? — Perguntam e apenas assinto voltando minha atenção para o professor que joga suas coisas sobre a mesa.
— Todos os projetos sobre a minha mesa. — Sua voz autoritária toma conta de todo o lugar, aos poucos os grupos se levantam e se encaminham até a frente, colocando seus projetos sobre a mesa.
Callie passa pela minha mesa com uma embalagem em mãos, jogo meu cabelo para trás e permaneço sentada.
—Giz de cera?—O professor pergunta com espanto. — Onde estão as bombas caseiras? — Pergunta com sarcasmo me fazendo revirar os olhos.
— Talvez no rabo dele. — Ouço o sussurro vindo do fundo, eu tenho uma ótima audição, e pelo tom de voz sei que foi a Amber.
— Os resultados sairão até a próxima semana, apesar de eu saber bem que muitos aqui não irão conseguir cinco décimos. — Callie passa por mim assim como os outros, todos se sentam fazendo o professor nos analisar.
Uma risada escapar pelos seus lábios secos que precisam urgentemente de um protetor labial, esse homem é ridículo.
A aula ocorre como sempre, os alunos em silêncio enquanto o professor fala até os cantos da sua boca espumar, como um maldito cachorro.
Saio do laboratório, nego qualquer contato que tentem comigo, ele prometeu me ligar, prometeu não me abandonar é a quinta vez que isso acontece, estou presa nesse colégio a anos, o vejo apenas uma vez no ano.
Me sento sobre o banco do pátio afastado dos demais, meu celular toca e atendo imediatamente sem ao menos ver quem é.
— Linda—Ouço a voz do meu padre e respiro aliviada. — Como você está querida?
— Melhor agora falando com o senhor. —Tento conter minhas lágrimas. — Você prometeu me ligar padre.
— Me desculpe hija. — Pede e balanço a cabeça mesmo ele não podendo me ver. — A Magda passou muito mal durante esse tempo.
— Espero que ela morra. — Murmuro olhando para minhas unhas—Padre, aconteceram tantas coisas...
— Hija preciso contar algo a você. — Fecho meus olhos e peço que a Magda esteja à beira da morte.
— Conte padre. — Peço sentindo uma certa animação e um frio na barriga.
— Você irá ganhar um hermano. — Sinto o mundo parar no mesmo segundo, permaneço imóvel no banco, minha respiração falha por alguns segundos.
Acabou linda, tudo o que passa em minha mente é uma voz gritando o mais alto possível que acabei de perder minha única família, acabou, tudo ruiu diante dos meus olhos.
— Hija. — Ouço sua voz e pisco algumas vezes. — A Magda está tão feliz.
— Imagino. — Fecho os meus olhos e abaixo minha cabeça. — Padre, preciso ir, tenho um teste de física agora, nos falamos em breve.
— Ok, eu ligo assim que tiver um tempinho, padre te ama hija. — Sinto as lágrimas escorrerem pelos meus olhos.
Desligo e abaixo minha cabeça chorando como criança que foi abandonado em um parque sozinha, aconteceu o que eu mais tinha medo, estou sozinha nesse maldito mundo.
— Princesinha, está chorando por quê? — Limpo minhas lágrimas após ouvir a voz da Effie. — Não me diga que sua unha quebrou?
— Agora não. — Levanto minha mão direita e a ouço bufar em irritação, ouço seus passos se distanciar e uma luzinha se acende em minha mente.
Está na hora de deixar o papel de hija perfeita de lado, talvez eu deva fazer algo diferente sair dessa rotina miserável que tenho.
— Effie. — Chamo pela garota que continua a andar, me levanto e corro atrás dela meio desengonçada por causa dos meus saltos. — Effie.
— O que foi princesinha? — Pergunta quando a alcanço e paro a sua frente a impedindo de dar mais um passo.
— Eu aceito. — Digo de uma vez a fazendo franzir o cenho em dúvida. — Sobre o negócio. — Ela parece espantada, e logo ela passa levemente a ponta da sua língua pelo seu lábio inferior e sorrir olhando para os meus sapatos.
— Seus sapatos são mais caros que os equipamentos que iremos precisar. — A olho com as sobrancelhas arqueadas. — Pensando bem essa vida não é para você.
— Não, por favor. — Tenta passar por mim, mas a impeço. — Prometo dar o meu melhor, por favor.
— Venha, estou indo me encontrar com as meninas, caso elas aceitem, você está dentro, caso contrário será morta lá mesmo. —Arregalo meus olhos e ela gargalha provocativa.
Ela passa por mim e a sigo em silêncio, respiro fundo decidida com a minha escolha, tenha coragem Linda, tem muito dinheiro envolvido, e você gosta da vida luxuosa que tinha, então lute pela sua sobrevivência.
— Esse não é o melhor lugar para se esconderem. — Aviso quando entramos na casinha onde estão os computadores velhos.
— Tem lugar melhor? —Effie pergunta quando entramos no lugar.
— Sim, o galpão onde colocam os aparelhos perigosos que os alunos trazem para o colégio. — Aviso chamando sua atenção. — Ninguém vai naquele lugar a anos.
— Esta começando a me conquistar. — Passo por ela e cruzo o limiar passando pela cortina velha me deparando com elas.
— Eu sabia que ela viria, essas santinhas são as piores. — Callie diz enquanto olha algo em seu smartphone.
— O que faz aqui? —Amber pergunta desconfiada, o que não é novidade.
— O ginásio. — Digo a fazendo franzir o cenho. — Tem uma quadra abandonada atrás. — Ela pisca algumas vezes e aceno para elas.
— A Linda, deseja entrar. — Effie aponta para mim e abro meus braços me inclinando para frente. — Ela conhece essa escola como a palma da mão, e pode nos ajudar com dinheiro.
— O que garante que você não está tentando nos fuder? — Madelyn pergunta e reviro meus olhos em puro tédio.
— Pelo amor de Deus, o que ganho entregando vocês? Eu ajudei a criar aquela maldita droga. — Aponto para todas elas que se colocam de pé.
— Se comporte princesa. — Callie aponta para mim em forma de ameaça. — Não costumo ser paciente.
— O que foi Sallie? —Pergunto com meus braços cruzados e ela ergue as mãos em forma de rendição.
— Não é nada. — Nega e passo minha mão pelo meu cabelo o jogando para trás.
— O que faremos irá mudar totalmente a nossa vida, então estejam prontas para tudo. — Amber aponta para nós e as meninas apenas concordam.
— O que acontece entre nós, morre entre nós, sem trapaças ou enganação, seremos sempre justas, independente do assunto. — Effie completa nos fazendo dar um passo à frente.
— Se uma cair, todas caem, lembre-se disso. — Completo e pela primeira vez um olhar cúmplice é trocado entre nós.
Agora está feito, não há como voltar atrás, sem arrependimento, daqui é apenas para frente, sem retrocessos.
Que o santo Deus nos proteja, pois iremos precisar.
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