⸙┃︳𝙿𝚁𝙾𝙻𝙾𝙶𝙾
A vida, mesmo que por alguns segundos, te dá momentos bons, com pessoas que você ama e fazem parte do seu dia a dia. O problema é, eu nunca tive ninguém. Sempre vivi sozinha, vagando pelo mundo sem um rumo certeiro. Perdi as contas de quantos lares adotivos passei, algo que eu nunca pude chamar de lar, pois nunca ficava mais de um mês na mesma residência, com exceção de uma. Com o passar dos anos, parei de me importar, era minha culpa, afinal. Não havia nada que pudesse ser feito para reverter.
Eu sempre fui estranha, mesmo que tentasse evitar essa situação, funcionava por um tempo, até não conseguir aguentar tudo e surtar completamente. No começo sempre é as mil maravilhas, com minhas roupas caras e meu jeito de patricinha, conseguia me encaixar naquele grupo. Porém... Havia aquele momento... O maldito momento onde tudo vinha com força total, como uma maldita avalanche, pronta para destruir tudo o que estiver ao seu alcance, ou seja, tudo o que eu havia construído.
Já aconteceu mais vezes do que eu possa contar, era sempre a mesma coisa, a mesma rotina. Cidade nova, colégio novo, pessoas novas, então se passava um mês e tudo estava indo conforme o planejamento, bum! Eu surtava, todos me olhavam como se eu fosse louca e depois... Tudo de novo. Cidade nova, colégio novo, pessoas novas. Como eu disse, rotina.
Há exatamente meia hora atrás, aconteceu novamente. As vozes juntas, com uma intensidade tão grande a ponto de fazer minha cabeça explodir, a tentativa de diminuir a dor com as mãos na cabeça, ajoelhada no chão e gritando como uma verdadeira louca. No final, não posso julgá-los por pensarem isso de mim quando eu realmente dou motivos para isso.
Fecho os olhos por segundos, sentindo as lágrimas quentes descerem por meu rosto. Foco-me na estrada novamente e grito frustrada, batendo minhas mãos no volante, tentando descontar toda a minha raiva. Um mês e meio... Esse foi seu recorde, Ámbar. Parabéns por estragar tudo.
Respiro fundo tentando me acalmar, não havia mais o que fazer, somente aceitar e ir para a próxima cidade. Sem que eu possa notar, com meu corpo no automático, peguei todas as minhas coisas, assim, podendo finalmente partir. Um aprendizado muito essencial que tomei para mim por esses longos anos; nunca desfaça as malas. Por algum motivo desconhecido, nunca passei por necessidades, minha conta bancária sempre esteve cheia, me dando livre acesso para ter tudo o que eu quisesse. Mesmo que a curiosidade me matasse por dentro, nunca reclamei. Era, definitivamente, a melhor coisa da minha vida, mesmo que compras e mais compras fúteis não aliviassem minha solidão completamente, no momento, é sempre bom.
Vocês devem estar se perguntando o porquê disso tudo, bem... Vou lhes explicar. Eu sou uma telepata, e odeio. O quê é telepatia? Telepatia é definida na parapsicologia como a habilidade de adquirir informação acerca dos pensamentos, sentimentos ou atividades de outro ser consciente, sem o uso de ferramentas tais como a linguagem verbal, corporal, de sinais ou a escrita. Resumindo, escutar a porra dos pensamentos podres dos outros.
Podem pensar ser apenas bobeira da minha parte, mas escutar tudo o que os outros pensam não é, nem de longe, uma situação legal, principalmente quando não se tem controle sobre isso. É terrível, todas as vozes em simultâneo, causando uma dor de cabeça infernal.
Uma dica de amiga, se você é telepata, tenta não surtar em algum lugar público como eu fiz, se não vão te tachar de louca, e alguns até de bruxa. E você vai escutar tudo.
Aonde eu surtei? Na sala de aula do meu antigo colégio, acredite, não foi nada agradável. Agora, indo para a próxima cidade que me abrigaria por semanas, agradeci por não ter nenhuma família, isso tem suas vantagens, às vezes. Poder fazer tudo o que quiser, sem restrições. Vantagens essas que acabam quando você entra na sua casa temporária e se depara com o silêncio.
Para onde estou indo? Beacon Hills.
Por quê? Não sei.
🦩| escrevi na correria, ficou bom?
🦩|beijos da julecaa <3
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