Histórias de fantasmas

20 de março de 2025/ Hollow Area, Toca de Fenrir

>Ponto de vista do Aidan<

Algum tempo já se passou desde nosso encontro com Fenrir. Só de pensar naquele monstro um arrepio sobre pela minha espinha e sinto como se esses fossem meus momentos finais. Só com aquele encontro posso dizer com toda certeza que ele é incomparável a Smaug. O que o dragão tinha de inteligência, Fenrir tem de fúria indomável e uma sede de sangue tão forte que é capaz de causar atordoamento.

Levantei o olhar e olhei para Alice sentada do outro lado do corredor, e assim como eu ela também sabe que a batalha contra Fenrir não será fácil. É provável que muitos NPCs e jogadores morram, isso tenho certeza. Mas será que estarei entre os que caírem? Não! Não posso me deixar ser derrotado sem nem mesmo lutar! Lio me daria um soco na cara se me visse assim.

— Vocês já se recuperaram? — questionou Strea. Ela estava de pé perto da porta entediada. Como ela pode estar entediada?! Até mesmo um NPC, ou no caso dela, uma IA, estaria apavorado depois do que aconteceu.

— Como pode estar tão calma?! — questionei. — Até mesmo você deveria estar em pânico agora.

— O efeito de atordoamento não surte efeito se o atributo <inteligência> for alto — ela respondeu meio que dando de ombros.

— E como sabe disso? — perguntei mais uma vez.

— Porque eu meu atributo <inteligência> é alto — ela respondeu. — 125 para ser exata.

— Tch! — cliquei a língua e virei o rosto, mas na outra direção havia a porta para o salão do boss, então desviei o olhar para o chão.

— Strea está certa — disse Alice se levantando. — Não podemos ficar aqui tendo medo, me recuso a ficar assim por mais tempo! Vamos voltar à vila e montar uma estratégia.

— Pretende montar uma estratégia só com aqueles quatro segundos de contato com o boss?! — perguntei.

— Já estou fazendo isso a um tempo — Alice então caminhou até Strea. — Você é bem forte, Strea. Sua ajuda seria útil na batalha.

— Está falando sério?! — Strea perguntou animada com os olhos brilhando.

— Você é forte o bastante para carregar dois jogadores , um em cada braço. Com você na nossa linha de frente nossas chances aumentam muito — Strea deu pulinhos de alegria enquanto segurava as mãos de Alice. — E você trate de se recompor! Preciso de você focado! Preciso do jogador que se arriscou num plano improvisado e matou o Smaug. Então levanta essa bunda daí e traga-o de volta!

— Hm... — sorri. Ela parece a Lio falando desse jeito. — Que se dane... — disse me levantando. — Vamos morrer de qualquer jeito mesmo...

— Não vamos! — Alice rosnou. — Se depender de mim, você e todos os outros voltarão para Aincrad até agosto! Agora. Vamos indo — ela bufou enquanto começava a descer as escadas. Hm, ela realmente me faz lembrar da Lio.

Hollow Area, Lindon

— Então vocês se arriscaram numa missão a noite e acabaram encontrando o covil do boss... vocês são loucos, loucos ou o quê?! — Eugeo rosnou irritado.

Nem havíamos entrado na vila e fomos interceptados por ele e mais alguns jogadores na entrada da vila. Estamos agora na casa de Klaus na mesma mesa na qual formamos aliança com os elfos.

Philia, Tenji, Lira e Quinella também estão aqui. Philia me encara com fogo nos olhos. Sinto que ela pode voar no meu pescoço a qualquer momento...

— Mas eles conseguiram ver o Fenrir — disse Klaus tentando amenizar o clima tenso. — Ele raramente sai de sua toca... a última vez que saiu foi a mais de cem anos. Meu pai me contou que a vila foi totalmente destruída, mas meu avô quase conseguiu mata-lo.

— Isso é incrível! — disse Tenji animado. — Ele deixou registrado como mata-lo?

— Não — Klaus respondeu cabisbaixo. — Quando a última barra de vida de Fenrir estava quase acabando ele invocou uma espada tão grande quanto ele, o que fez ser impossível de se aproximar já que ele estava descontrolado.

— Nos poucos segundos que o vimos ele manifestou uma habilidade de se desfazer em fumaça e depois se juntar de novo, o que o fez cobrir uma distância razoável... — disse Alice. — Ele tem mais alguma habilidade além desta?

— Sim — respondeu Klaus. — De acordo com os registros do meu avô, Fenrir pode expandir essa fumaça para além de seu corpo pelo chão, e fazê-la ficar sólida adquirindo o formato de estacas pontiagudas. Sem contar seu rugido atordoador...

— Quatro barras de vida... uma habilidade de efeito em área, e uma espada assim que entra no modo berserker... — suspirou Alice. — Estamos em desvantagem aqui...

— Nós poderíamos voltar amanhã e observar novamente... — disse Quinella fazendo todos olharem para ela. — Li em um dos registros do bisavô que depois que Fenrir voltou para sua toca, eles jogaram um feitiço que o impede de sair. Podemos usar isso e observa-lo...

— Bem, ele conseguiu colocar a cabeça para fora da sala... — resmungou Strea.

— Mas é uma boa ideia — disse Alice pensativa. — Se mandarmos aqueles que tem mais pontos em <agilidade> podemos observa-lo um pouco mais e-...

— Eu acho melhor não fazer tal coisa — repreendeu Klaus. — Dados como altura e como ele se move estão todos registrados aqui. Não podemos arriscar sua vidas por dados que já tempos. E Fenrir já é adulto, ele não mudou de tamanho.

— Eu concordo com ele — disse Eugeo. — Amanhã passaremos o dia estudando todos os registros dele e montaremos um plano. Você disse que tinha o início de um, certo?

— É... sim... — Alice respondeu encurralada.

— Então está decidido! — disse Klaus se levantando. — Agora vão descansar, o dia de vocês foi longo e a noite agitada. Amanhã abrirei a biblioteca para vocês.

Depois disso nos despedimos e saímos da casa nos dirigindo para a pousada, que é enorme. Ela fica localizada no sul da vila e sua estrutura é mesclada a uma grande árvore. É o mais próximo de um prédio que já vi tanto em Aincrad quanto aqui na Hollow Area.

Ao entrar passei pelo saguão em direção a recepção para alugar um quarto, entretanto descobri que nossa estadia seria de graça. Eu então apenas peguei um quarto no 8° de 19° andares e subi as escadas até lá junto dos outros. Alice e Eugeo ficaram no mesmo andar, no 15°; Tenji ficou no 6°, Lira no 17° e Philia ficou no 18° andar.

Em Rulid e Brii os jogadores eram divididos entre uma pousada e as casas do NPCs, mas aqui ainda bem que não vamos precisar fazer isso. Soube de alguns jogadores que quando você acorda os NPCs estão todos ao lado da cama te encarando. Urhg!... some isso a náusea do sono e está pronto seu ataque do coração logo de manhã. Por sorte não precisei passar por isso...

Eu enfim cheguei ao meu quarto. Ao abrir a porta me espantei com o quão grande ele é, tem tipo uns 20 metros quadrados aqui! Mas só a cama já ocupa uns cinco metros quadrados...

Desequipei meu equipamento, guardando-os no depósito de itens e caí pesadamente sobre a cama de cara no travesseiro. Me virei de barriga para cima e encarei o teto. As luzes estão apagadas e posso finalmente descansar direit-... espera. — Meus itens ainda estão em Brii! — disse surpreso com minha burrice. Mas que droga... bem, amanhã eu volto lá e os busco. Nem são tantos itens assim, só muitas poções de cura. — Droga... eu podia ter pedido para a Alice traze-los... — um arfar insatisfeito deixou minha boca enquanto fechava os olhos. Me cobri com o lençol e me forcei a dormir.

21 de março de 2025/ Hollow Area, arredores de Brii

O brilho azulado da habilidade recém ativada emanou de minha espada, [Espinho das Profundezas], golpeando verticalmente o monstro a minha frente. Uma criatura pequena e verde com pouco mais de 110 centímetros. Armado apenas com um facão e vestido apenas com uma tanga, um <Goblin LV. 30>. O golpe da minha espada o empurrou para trás depois de um corte horizontal em seu peito, explodindo a criaturinha em inúmeros polígonos brilhantes.

Olhei para o lado e vi Strea desferido um golpe horizontal com sua espada, a [Invaria], que cortou dois goblins ao meio facilmente. — Com isso nós acabamos por aqui... — ela suspirou.

— Não achei que encontraríamos um ninho de goblins por aqui... — disse olhando em volta. Nós estávamos upando nossos níveis na vasta floresta que fica a leste de Brii. Já faz dois dias que estamos tentando ficar mais fortes para enfrentar Fenrir.

Quando encontrei o lobo gigante pela primeira vez eu estava no nível 42, mas agora estou quase no nível 47. Upar aqui é mais fácil que em Aincrad, se eu ainda estivesse lá com certeza ainda estaria no nível 44. Sem contar que upei minha <inteligência> para 120, o que fez minhas habilidades ficarem mais fortes e também aumentou meu SP.

— Acha que upamos o suficiente? — perguntei.

— A discrepância entre ele e nós certamente diminuiu. Com a ajuda dos elfos a batalha será mais fácil... — Strea disse sem ligar muito. Entretanto um sorriso orgulhoso se formou em seus lábios enquanto ela desviava seu olhar para mim. — Mas comigo lá vocês ficarão bem! — ela riu.

— Sei, sei... — suspirei tentando ignora-la, o que a fez rir mais.

O ícone de mensagens então saltou na frente dela, fazendo-a parar de rir. Ela clicou no ícone e a janela de mensagens se abriu. — Alice pediu para voltarmos logo. A reunião de estratégia começará em breve — ela disse de forma séria, e deslizando seus dedos para o canto superior direito ela clicou no [x] e fechou a janela. — Vamos voltar?

— Pode ir na frente, tenho que voltar até Brii e buscar uns itens que esqueci na pousada.

— Ah, então foi por isso que você quis upar aqui...

— Sim — comecei a caminhar em direção a Brii, que estava a oeste de minha posição atual.

— Eu vou com você! — ela disse animadamente saltitando até mim.

— N-Não precisa! — resmunguei. — Eu não vou me atrasar.

— Bem, viemos juntos e voltaremos juntos! — ela disse fazendo um cafuné na minha cabeça, o que é fácil para ela, já que é mais alta do que eu.

— Tch, para com isso — tirei a mão dela da minha cabeça. — Vamos logo então! — bufei começando a caminhar em direção a Brii.

(...)

— Ah, então este é o seu quarto... — Strea disse pensativa. — Me pergunto se você trouxe muitas moças até aqui... — um sorriso sugestivo se formou em seus lábios.

— Dá para parar? — disse caminhando para dentro do quarto. — Não tem esse tipo de coisa aqui... — agachei em frete ao baú ao lado da cama.

— Hm... então você procurou por esse tipo de serviço... bem que suspeitei. Além de baixinho, também é tarado... — ela suspirou de forma dramática.

— Dá para parar com isso?! — rosnei fazendo-a rir. Francamente, essa garota...

— Por isso a Lio gosta tanto de você! — ela disse entre as risadas. Eu estava para abrir o baú, mas parei ao ouvi-la falando da Lio.

— Como... como você a conhece? — questionei incrédulo enquanto ficava de pé. Ela parou de rir imediatamente após ouvir minha pergunta e tapou a boca com a sua mão direita enquanto desviava o olhar. — Eu fiz uma pergunta, Strea! Como você a conhece?! Melhor, o que você é?! — rosnei. Um suspiro desanimado deixou seus lábios enquanto ela me encarava com uma expressão séria.

— Quer mesmo saber? — ela questionou.

Hollow Area, Lindon

>Ponto de vista do Eugeo<

Eu estava sentado numa mesa na biblioteca de Lindon. A minha frente estava a janela do livro que eu estou lendo, [Primeira Aparição de Fenrir], que conta algumas coisas sobre ele. Como por exemplo as estatísticas dele: força, agilidade, vitalidade, sentidos e inteligência.

— Você parece cansado... — ouvi a voz doce de Quinella perto do meu ouvido esquerdo. Um arrepio subiu pelas minhas costas e saltei da cadeira assustado, fazendo-a rir. — Desculpe...

— N-Não... está tudo bem... — desviei o olhar.

— Você devia fazer uma pausa, está lendo desde que voltou da caçada... — ela disse num tom preocupada.

— Não, eu estou bem — disse sem jeito enquanto coçava a meu cabelo. — E o que faz aqui?

— Estou aqui a mais tempo do que você, mas está tão consertado que nem notou — ela fez beicinho.

— Ah, hahaha... desculpe... — disse sem graça. Um silêncio estranho se formou entre nós. Seus olhos cor de prata pareciam refletir as sete cores prismáticas enquanto ela me encarava. Suas roupas leves com bainhas de fios de prata balançavam suavemente com o vento que entrava pelas portas e janelas.

— Eugeo... está me fazendo ficar sem com vergonha... — ela disse me trazendo de volta do meu transe. Ela estava com suas bochechas brancas levemente coradas. Por quanto tem a fiquei encarando?!

— Desculpe... — desviei o olhar. Antes que outro silêncio se formasse entre nós, o ícone de mensagem saltou no meu campo de visão. Graças a Deus! — Com licença... é uma mensagem de Philia... — disse enquanto clicava no ícone, abrindo a janela de mensagem. "Pare de fazer coisas estranhas e volte ao trabalho!", estava escrito. Olhei em volta procurando por ela, mas não a encontrei.

— Atrás de você! — ouvi a voz levemente irritada de Philia. Me virei e a vi de pé do outro lado da mesa. Com os braços cruzados ela me encarava irritada.

— Ah... o-olá Philia... — acenei para ela com minha mão direita, mas recebi apenas seu olhar irritado.

— Eu vou... deixa-los a sós — disse Quinella. Me virei para ela e a vi fazendo uma breve reverência para Philia. Ouvi o "hm!" irritado de Philia. Quinella olhou para mim e sorriu gentilmente. — Até logo Eugeo.

— Até... — respondi. A observei enquanto ela caminhava para fora da biblioteca.

— Francamente, quer um lenço para essa baba? — ouvi Philia bufar. Um suspiro amargo deixou minha boca e me virei para Philia, que estava sentada na cadeira do outro lado da mesa. — Interrompi algo entre vocês? — ela questionou com uma expressão séria.

— A-Algo?! O que quer dizer? — tentei mudar de assunto.

— Vocês homens são todos iguais! — ela bufou virando o rosto.

— O que quer dizer com isso?

— Nada! — ela bufou mais uma vez. — Não gosto dela.

— Meio óbvio isso... — tentei mudar o clima tenso, mas fui fulminado por um olhar irritado. — E-Ela parece legal...

— Claro que você acha isso, estava babando por ela a poucos segundos. Você alagaria a Hollow Area se eu não chegasse — ela disse com um sorriso sugestivo, mas que desapareceu logo depois. — Eu realmente não gosto dela.

— Ela é um NPC, Philia. Ela não vai falar mal de você pelas costas ou te trair.

— Mesmo assim... eu não gosto dela — ela então se levantou empurrando a cadeira para trás. — Vem. Vamos almoçar — ela disse seriamente.

— Hm... certo...

— Do quê está rindo?

— N-Nada, nada. Vamos — fechei a janela de do livro e me levantei. Dei a volta na mesa e caminhei ao lado dela até a porta.

Hollow Area, Brii

>Ponto de vista do Aidan<

— Eu fiz uma pergunta, Strea! Como você a conhece?! Melhor, o que você é?! — rosnei. Um suspiro desanimado deixou seus lábios enquanto ela me encarava com uma expressão séria.

— Quer mesmo saber? — ela questionou.

— Mas é óbvio que sim! — bufei.

Um suspiro deixou seus lábios. Ela então caminhou até a cama e se sentou. Ela bateu a Palma de sua mão direita na cama quatro vezes, indicando para eu me sentar ali. Me levantei, caminhei cinco passos e me sentei ao lado direito dela.

— Programa de aconselhamento de saúde mental 002, codinome: Strea. Por isso sou tão... "humana". Fui feita para ser capaz de imitar as emoções e interagir com os jogadores de SAO — ela disse seriamente. — Eu fui enviada para a Hollow Area para ajuda-los.

— Enviada pelo Sistema Cardinal?

— Então você sabe sobre o Cardinal, isso facilita as coisas.

— O Cardinal foi é o sistema que gerencia todos os recursos de SAO, feito para operar por longos períodos de tempo sem intervenção humana — respondi.

— Sim, por isso conheço a Lio.

— E o Cardinal enviou você aqui para nos ajudar a voltar a Aincrad...

— Este é um dos motivos — olhei para ela confuso.

— Qual seria o outro motivo?

— Antes de eu responder, me prometa não contar nada a ninguém! — ela disse se virando para mim e segurando minha mão. — Se os outros souberem, ficarão em pânico. E isso não os ajudará em nada. Além disso, você precisa se manter calmo com o que vou dizer.

— Ahn... sim, claro.

— Você sabe o que é a Hollow Area? — ela perguntou.

— Tudo que sei, é que ela foi criada pelo Cardinal — respondi. Foi isso que Smaug me disse.

— Mas isso não diz o que ela é. A Hollow Area é uma área restrita para simular inimigos e armas que estão para ser implementos em Aincrad pelo sistema Cardinal. Mas essa área precisa de alguém para testa-la, e por isso o sistema Cardinal cria IAs com os dados dos jogadores, fazendo clones. Mas estes clones não podem sair da Hollow Area.

— Então quer dizer que os NPCs daqui são clones dos jogadores de SAO?

— Os NPCs, são apenas NPCs. Alguns como a Quinella tem alguma inteligência, mas não é deles que estou falando. Estou falando de vocês, jogadores — me inclinei para trás e ergui uma sobrancelha. Ela fez uma pausa, respirou fundo e me encarou seriamente. — Aidan, os tais clones que disse são IAs feitas a partir dos dados dos jogadores mortos. Os chamados Hollow.

— O quê?! Mas... isso... — não! Isso significa que eu... que eu não sou eu?! Que eu morri naquele dia que caí do penhasco?!

Comecei a sentir meu coração bater mais rápido. Minha respiração começou a ficar irregular enquanto eu tentava assimilar o que havia ouvido. Meu coração começou a bater mais e mais rápido.

— AIDAN! — Strea me segurou pelos ombros. — Acalme-se! Acalme-se! Aidan!

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