Capítulo 5

Chad (bônus) 

Eu não compreendia o que estava acontecendo. Minha vida deu um giro de 180° em menos de um dia. Tudo isso porque eu dormi com uma garota louca que se dizia chamar Linn mas descubro que é Amalia e que ela é filha do presidente e que tem uma gangue mexicana querendo o pescoço dela e o meu.

Vi um homem ser morto na minha frente com um tiro na cabeça. Eu nem conhecia aquele sujeito, nunca nem tinha visto ele na minha frente. Isso não me impediu de ficar em choque. Na hora, é claro eu tive que me fazer de forte para acudir a garota ao meu lado.

A minha vida nunca foi fácil. Eu nasci na Irlanda, fui abandonado pelos meus pais biológicos e adotado por um casal americano que me trouxe para o Texas. Eles me criaram, me deram tudo do bom e do melhor, eram a melhor família que eu poderia ter. Mas de repente, a casa em que vivíamos pegou fogo e os dois morreram. Na hora eu não vi, eu estava trabalhando. Quando recebi a notícia e obviamente meu mundo desmoronou. Desde então minha vida só vem se complicando.

Eu não tinha onde morar direito, não tinha emprego fixo desde que terminei a faculdade de fotografia, os documentos que eu precisava tinham sido queimados no incêndio. Eu literalmente estava sem nada. Cheguei em um momento onde eu não tinha mais o que fazer nesse mundo, não fazia sentido continuar vivendo.

Mas algo dentro de mim dizia que eu deveria continuar, e foi então que consegui um quarto. Um pequeno trabalho de barista, encontrei um antigo colega a alguns meses e ele queria que eu fizesse as fotos do seu casamento em Cancún no México. Eu aceitei e ele é claro, bancou todo o material que eu precisava.

Foi então que com o dinheiro que consegui lá descidi ficar mais alguns dias.

Pior coisa que eu fiz na vida!

Agora eu sou segurança particular da filha do presidente. Olha as voltas que o mundo dá, se você não se segurar você capota.

Acordei no dia de hoje com uma pequena dor de cabeça. Já faz um tempo que eu não bebo, então toda vez que eu bebo alguma bebida eu fico com dor de cabeça.

Vesti meu novo "uniforme" após um banho rápido e frio e sai do pequeno dormitório no fundo da mansão do presidente onde os seguranças da casa se revezam. Assim que me coloquei para fora dei de cara com o monstruoso Beckett. Ele era o chefe da segurança e não ia muito com a minha cara.

— O que faz aqui quando deveria estar cuidando da Amalia? – ele questiona.

Ele não é um homem velho, mas já tem uma certa idade. Talvez não tenha filhos e por isso protege ela como se fosse sua filha, já percebi que ele tem tal sentimento por ela em seus olhos e no modo que fala dela.

— Foi ela quem me mandou para cá. – respondi. E não era nenhuma mentira.

Depois de passarmos um tempo naquela boate ela simplesmente mudou radicalmente. Não olhou mais na minha cara e simplesmente me mandou embora como se eu tivesse dito algo horrível.

— Humphrey, você tem que entender que Amalia não tem muitas escolhas. Já deve ter percebido que ela faz o que quer e não é bem assim. Seu dever é ficar 24h por dia no encalço dela.

— Entendo, eu só pensei que...

— Só suba! – ele não me deixou terminar e saiu me deixando parado por lá.

Bufei e adentrei a imensa casa. Assim que estava subindo as escadas dou de cara com o presidente Johnson McKean. Eu ia fazer alguma reverência idiota mas ele me ignorou completamente. Fiz uma careta e voltei a subir.

— Você. – o escuto e me viro para encará-lo. — Quem é você?

— Segurança da sua filha. – respondi.

— Faith e Felícia não tem seguranças.

Isso é sério?

— Amalia, segurança da Amalia. – ele me olha por um momento e depois solta um riso nasal.

— É claro que ela vai querer que ele fique. – o escuto resmungar. — Tome conta daquela garota e lhe impeça de fazer alguma estupidez. Ou se fizer, ao menos acoberte. – antes que eu pudesse dizer algo ele se retira.

Esse homem é realmente o presidente dos Estados Unidos?

Termino de subir as escadas e paro em frente ao quarto dela. Decido por fazer como os outros seguranças da casa e apenas esperar aqui fora.

Passam alguns minutos até que a porta seja aberta. Ela está completamente diferente do dia anterior. Veste roupas pretas, seus olhos estão vermelhos e a maquigaem borrada. Não há o brilho que tenho visto no último dia.

Ela me olha mas não diz nada, apenas segue pelo corredor.

— Por que está assim? – pergunto em seu encalço.

— Não lhe interessa. – ela respondeu seca.

— Tem certeza? – ela se vira de frente para mim.

— Apenas faça o seu trabalho. – me da um último olhar e lhe sigo.

Eu realmente disse algo tão sério ontem? Eu só disse que não eramos amigos. Ela levou tão a sério assim?

— Onde vamos? – questionei ao passar pelos outros dois seguranças que eu não conhecia e chegar até seu carro.

— Preciso ir a um lugar. Eu dirijo.

— Nem pensar! – me apresso. — Eu dirijo, só me dê as coordenadas. – ela nada diz e entra sentando-se no banco traseiro. Entro em seguida e saio com o carro da casa.

No meio do caminho ela ligou o rádio e aumentou em um volume ensurdecedor. Preferi por não falar nada. Dirigi pelo endereço que ela deu e ao chegarmos estranhei por ser uma casa pequena e simples.

— Você fica aqui. – ela diz após abaixar o volume do rádio. — Eu volto logo. – saiu do carro antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Ela entra na casa e toca a campainha. Vejo quando um homem abre a porta e ela sorri para ele entrando logo em seguida.

Demorou quase uma hora lá dentro, eu já estava estressado. Não é possível que essa garota tenha vindo transar e simplesmente me fez de seu motorista.

Se bem que foi eu quem me propus a dirigir, mas depois dela quase ter atravessado um prédio e nos matado eu preferi mantê-la longe da direção.

Quando eu estava para sair do carro e ir bater na porta e estragar a festinha, a porta se abriu e ela saiu de lá sorrindo. Acenou para o cara e entrou segurando uma pequena sacola. Passou o pulso no nariz como se limpasse o mesmo e me olhou.

Foi então que eu percebi.

— Podemos voltar. – ela diz.

— Você estava se drogando? – ela riu. Tá rindo de que?

— Por que se importa? Vamos logo! – ela diz apontando para frente.

Demorei um pouco para voltar para a realidade mas quando dei por mim já estavamos em movimento novamente.

— Por que faz essas coisas? – não evitei perguntar.

— Porque eu quero. – revirei os olhos com a resposta.

— Você passou um dia todo limpa, disso eu sei. – lhe olhei pelo retrovisor. — Mas por que  você está fazendo isso de novo hoje?

— Porque eu preciso. Ironicamente isso me faz viver. – respondeu olhando para o movimento lá fora.

Fazer viver? De qual livro adolescente idiota ela retirou isso?

— Não te faz viver, é só uma ilusão. Enquanto você acha que está vivendo, isso está te matando.

— E dai? Tanto faz. Não tenho nada a perder. – bufou. — Não fala mais comigo, não quero ouvir sua voz.

Fiz o que ela mandou. Não disse mais nada no caminho, mas nada mudava meu pensamento.

Ela não precisava disso. Ela é muito mais que isso, ela pode viver bem.

Chegamos na casa, ela foi a primeira a sair do carro. Tive que correr um pouco para alcançá-la e quando entramos sua madrasta e as irmãs estavam reunidas junto de seu pai que estava falando.

— Vocês precisam ir. – ele finalizou.

— Por que eu vou querer ver pessoas usando cavalos como carrinhos de corrida? – Amalia questiona. — Eu posso muito bem ficar em casa.

— Eu disse que quero todas. – McKean diz fazendo Amalia revirar os olhos.

— Papai, ela não precisa ir. Ela não vai fazer falta. – Felícia diz.

— Eu estou horrível com essa bota, como eu posso ficar no meio daquelas pessoas assim? – Faith pergunta chorosa em cima de uma cadeira de rodas.

— Vamos todas. – a primeira dama decide. — Mas se Amalia não quiser ir, a deixe. – deu de ombros.

— Eu disse que iriam todas, irão todas! – McKean diz novamente. — Amalia tem a obrigação de ir e apagar aquele escândalo da revista. Não se atrasem! – ele diz por fim saíndo e seus homens lhe seguindo.

Amalia bufa frustrada e sobe as escadas. Quando ia lhe seguindo sua madrasta me chama:

— Se eu fosse você não perdia tanto tempo com ela. – ela diz. — Você é jovem, não precisa se prender em ficar correndo atrás de uma garota imatura e irresponsável como ela.

— E tem a mim, sou mais madura, responsável e... madura? – Felícia diz dando um sorriso. A mãe revira os olhos e sai.

Nada respondo e subo as escadas indo atrás da garota desequilíbrada.

Eu não sei bem a história verdadeira dessa família, mas não há nada de família. Seria meio infantil dizer mas é o que eu enxergo. Amalia é a Cinderela com madrasta má e suas gêmeas invejosas.

Uma cinderela bem diferenciada, mas não deixa de ser uma princesa. Já percebi o quão bruta ela pode tentar ser, mas vai continuar sendo uma garota delicada que se você não tiver cuidado ela irá se quebrar.

Só falta o príncipe que vá lhe tirar desse lugar e salvá-la da maldade. Ou ela pode fazer isso sozinha já que as princesas atuais não precisam necessariamente ter um príncipe encantado.

Me posicionei em frente a sua porta e fiquei lá por umas duas horas. Eu é claro, estava meio preocupado com ela lá dentro sozinha e com drogas. Mas tudo passou quando um grupo de pessoas com um carrinho cheio de roupas parou a minha frente pedindo passagem.

Um pouco incerto deixei eles entrarem. O que não foi muito certo já que minutos mais tarde Amalia estava os expulsando do quarto. Eles fingiram elegância e saíram como se nada tivesse acontecido.

Mais tarde ela abriu a porta saíndo de lá com um vestido preto mais curto do que quando nos conhecemos.

— Se eu invadir uma corrida de cavalos com esse vestido, ele pode subir? – ela questionou.

— Pode.

— Ótimo, pois eu não estou de calcinha. – ela respondeu saíndo na minha frente como se tivesse dito que iria beber água. A segui.

— Você está maluca?

— Eu sou maluca, não te disse? – ela respondeu sem me dar atenção.

— Amalia – lhe puxei pelo braço e a fiz me encarar. — Vai logo vestir uma.

— Não quero, e não vou. – puxou seu braço do meu aperto. — Eu disse que não queria ouvir sua voz não disse? – saiu novamente.

Bufei frustrado.

Essa garota vai me enlouquecer, eu só queria que uma chuva de dinheiro caísse na minha cabeça nesse momento e eu pudesse pagar aquele homem e ir embora de uma vez.

Eu e Amalia fomos em um carro, a primeira dama e o presidente em outro e as gêmeas em outro.

Não demorou muito para chegarmos no endereço que Beckett colocou no GPS. Havia vários jornalistas e entre outras pessoas.

Desci e abri a porta para Amalia e ela desceu. Enquanto outra pessoa tomou conta do carro, tratei de acompanhá-la na entrada enquanto repórteres lhe enchiam de perguntas e flashes.

O que tem a dizer sobre sua foto na capa de revista? 

— Você não sente vergonha?

— Como seu pai reagiu?

Ela apenas ignorou e entramos no tal evento. Algumas pessoas trajadas elegantemente lhe olharam torcendo o nariz. Outras falava algo entre sí enquanto apontavam para ela.

Um garçom passou segurando uma bandeija com whiskey e ela pegou um copo e passou por todos.

Um paparazzi parou em sua frente e retirou uma foto de repente.

— E ai Amalia? Que tal uma foto nova da perseguida? – ele diz rindo.

Ela riu.

— Claro! – antes que ela fizesse alguma besteira a segurei pelos ombros e a afastei dali.

— Você não vai fazer merda nenhuma! – lhe dirigi até o camarote onde ela iria ficar e lhe sentei em uma cadeira de frente para o campo onde ocorreria a corrida. — Você vai ficar quietinha aqui, entendeu?

— Todo mundo já viu Chad, que diferença faria eu mostrar ao vivo e a cores? – perguntou tomando sua bebida.

— A diferença é que seu pai não vai liberar nunca a sua conta e seremos mortos com um tiro no crânio e jogados para as piranhas. – ela nada disse.

Sua "amada" família chegou se apossoando dos lugares. Mais algumas outras pessoas chegaram para conversar com o presidente enquanto ele fingia simpatia com todos.

Não demorou muito para a corrida começar.

Amalia estava ignorando tudo, suas irmãs falavam qualquer besteira como se entendessem do assunto enquanto azaravam um dos homens elegantes ali. Outro homem entrou cumprimentando o presidente. Junto com ele estava um rapaz mais jovem. Eles se aproximaram de Amalia.

— Amalia, quanto tempo! Você cresceu. – o mais velho diz.

— Achou que eu iria ficar pequena para sempre? – Amalia pergunta irônica.

— Lembra do James? – o homem aponta para o rapaz.

— Não.

— Vocês fizeram o ensino médio juntos.

— Não lembro não, mas se você se lembra bom te ver.

— O que acha de irmos tomar alguma coisa? – o tal James pergunta.

Amalia olha para o pai que lhe da um olhar significativo e depois me olha. Suspira.

— Tudo bem. Mas meu segurança vai junto.

— Não precisamos de segurança. Se prefirir levamos o meu. – James diz. Não fui com a cara dele.

— Eu quero o meu segurança. Consegue compreender? –Amalia diz. O rapaz disfarça sua irritação e afirma concordando. — Ótimo.

Os dois caminharam na frente e eu e o segurança do rapaz logo atrás. James perguntava várias coisas e ela respondia de qualquer forma. Ao chegar no local, eles se sentaram em uma mesa e o segurança de James me fez manter distância. O rapaz pediu bebidas e não demoraram a ser servidos por taças de vinho.

— Eu estava ansioso para te ver. – pude escutar James dizer. — Já faz um tempo desde que fui para Portugal. Voltei a pouco tempo.

— Legal. – ela respondeu tomando seu vinho.

— Vi suas fotos na internet, eles poderiam ter tirado a tarja de censura. – ele lhe encara e ela ri.

— Concordo. – ela diz. Ele fica sério no mesmo momento.

É impressão minha ou ele queria mesmo era ofendê-la?

— Meu pai me deu um carro novo, podiamos sair um dia desses.

— Empolgante. – ela respondeu entediada. Ele por sua vez soltou um suspiro frustrado.

— Você deveria tomar mais cuidado com as roupas que você veste. – começou ele. — Qualquer dia desses te confundem com uma prostituta.

— Claro, irei tomar.

— Tenho um novo empregado. – mudou de assunto. — Mas ele é um emprestavel! Não faz nada direito. Não consegue nem mesmo separar o molho do ravioli. Ele não sabe afofar o travesseiro para eu dormir e nem colocar a água da banheira em temperatura ambiente. – reclamou.

— Só me falta dizer que ele não limpa sua bunda direito. – Amalia diz lhe assustando. Tive que segurar os riso. — Que vergonha! Não sabe nem mesmo limpar o próprio rabo e ainda quer vir me falar da roupa que devo ou não devo vestir? – riu ela. — Faça me o favor!

Foi então que percebi que era hora de intervir. Me aproximei da mesa de ambos.

— Senhorita Amalia, precisamos ir. – ela me olha e posso ver que está agradecida.

— Já deu minha hora. – ela se colocou de pé. — Quando aprender a limpar a própria bunda sozinho me procura e eu penso se você tem algum direito de opiniar sobre minha roupa. – ela diz por fim saíndo e deixando James com a maior cara de taxo. Avisei pelo meu ponto que já estávamos saíndo e que era para preparar o carro.

Ela parou de repente e me encarou.

— Eu me visto como uma prostituta? – questiona.

— Não existe essa coisa de roupas de prostituta. Roupa é roupa e você se veste como quiser. – digo e ela sorri. Finalmente um sorriso real.

— Ótimo. – atravessamos a entrada do local e novamente choveu flashes e perguntas desnecessárias.

— Você e James Haynes estão juntos?

— O que tem a dizer sobre suas fotos?

— Você fez de propósito?

— Por que não usava calcinha no momento?

— Foi isso que sua mãe lhe ensinou?

Foi quando tudo ficou em câmera lenta.

Amalia olhou para o paparazzi que lhe fez tal pergunta e estava pronta para pular em cima dele e quebrar todos os seus ossos. Eu poderia ver isso explícito em seu olhar. Mas pude impedir ela a tempo e a pegar nos braços e colocá-la dentro do carro.

— POR QUE ME SEGUROU? – gritou me dando socos no ombros totalmente descontrolada. — POR QUE FEZ ISSO? Por que? – diz baixo.

— Porque não iria adiantar nada você ir lá e bater nele. Amalia, querendo ou não você é pública. Sua imagem já não está uma das melhores, e seu pai também não é um dos melhores. Se você agredisse aquele paparazzi ele ainda consiguiria sair por cima.

— Ele falou da minha mãe! – me olhou e pude ver seus olhos repletos de lágrimas.

— Eu sei, eu vi. Mas se descontrolar não vai adiantar muita coisa. Você sabe que ele só disse aquilo para lhe provocar. – ela suspirou e se afastou de mim. Enxugou as lágrimas em seu rosto e abriu sua pequena bolsa retirando de lá um maço de cigarros.

— Eu só preciso relaxar. – ela diz agora pegando um esqueiro e acendendo o cigarro. Ela abriu o vidro do carro enquanto soltava a fumaça pela boca e encostava a cabeça no banco.

Nada disse e voltei a atenção 100% para a direção. Eu tinha uma ideia e iria colocá-la em prática.

Aproximadamente 20 minutos mais tarde eu fui perceber que Amalia tinha caído no sono. Dirigi por mais 20 minutos até chegar ao local desejado por mim. Assim que parei o carro e o desliguei, ela acordou perdida e limpando uma pequena baba que escorreu no canto de sua boca.

— Onde estamos? – perguntou olhando para o lado de fora da janela confusa.

— Achei que você precisava respirar um pouco. Foi estressante as últimas horas. – ela me olhou por um momento.

— Isso é sério? – afirmei me retirando do carro logo em seguida. A ponte estava pouco movimentada, então não havia muito problema. Ela também saiu do carro e se aproximou da lateral da ponte onde dava para ter uma boa vista do Rio Potomac.

— Faz muito tempo que não venho aqui. – ela diz enquanto o vendo gelado batia em seu rosto bagunçando seus cabelos.

— Passamos por aqui ontem. – a lembro.

— Sim, mas sair assim. Tipo como estamos. – suspirou. — Eu vivo indo e vindo de Washington. Eu raramente paro em casa, sempre estou viajando de canto em canto. Nunca tenho um lugar fixo, sabe? Aquela casa não tem nada a ver comigo, e não me sinto confortável lá. – faz uma pausa. — Eu nunca tive a oportunidade de sair assim e respirar.

— Eu sou diferente. – começo. — Eu sempre fui livre, mas nunca quis sair de perto dos meus pais. Sempre quis ficar ao lado deles, e eles não tinham muitas condições de ficar bancando viagens para mim. – dou de ombros. — Mas sempre íamos a praia. Sempre que eu via o mar eu me acalmava, seja lá o que fosse. Tudo o que eu precisava era olhar para a água.

— Isso é legal.

— Sim. Meus pais me ensinaram isso. Quando era um pouco mais revoltado da vida, eles me mandaram focar naquilo que representava calmaria e eu escolhi a água. Eles eram incríveis. – finalizo um pouco cabisbaixo com as lembranças invadindo minha mente.

— Você sente falta deles, não é? – ela questiona e afirmo. — Eu também sinto a dela. – suspirou. — Minha mãe era a melhor pessoa que existia no mundo. O sorriso dela encantava todos, ela tinha um coração enorme. O jeito que ela se foi, foi tão rápido que era como se os 12 anos que vivemos juntas não tivesse sido suficiente. – uma lágrima cai de seus olhos. — Último estágio de leucemia. Eu não vi e nem meu pai. Quando demos conta, já era tarde demais. Ela tinha tantos planos para mim, sonhávamos juntas. Ela deve me odiar pelo que me tornei hoje. – fungou.

— Eu tenho certeza que não. Uma vez eu quebrei o vaso de flores preferido da minha mãe de propósito. – ela me encara. — E ela me perdôo. Nesse dia ela disse que não importava o tamanho do erro de um filho, ele nunca deixa de ser filho e nem sai do coração dela. Sua mãe te ama, nunca seria capaz de te odiar. – ela me olha e me abraça e retribuo prontamente seu abraço.

— Você me faz bem. – ela confessa. — Pena que não quer ser meu amigo.

— Quem disse que não? – ela se afasta para me olhar.

— Você! – acusa. — Você disse ontem.

— Eu disse brincando. Achei que a maior piadista do mundo saberia diferenciar humor com a realidade.

— Está me dizendo que chorei atoa?

— Você chorou por minha causa? – ela desvia os olhos e me empurra.

— Sim eu chorei! – confessou e não evitei rir e levei um forte soco no ombro. — Não ria, seu idiota.

— Amigos? – estendi minha mão. Ela faz cara de nojo e me encara.

— Depende, amigos podem dormir na cama de amigos não pode? – revirei os olhos.

— Já posso guardar minha mão? – ela bufa e aperta minha mão em concordância com o acordo.

— Amigos sim. – sorriu tremendo um pouco. Soltei minha mão da dela e retirei meu paletó. — Calma querido, não sabia que a amizade já tinha ganhando colorações.

Cobri seus ombros e fechei alguns botões.

— Para o caso de algum vento subir seu vestido. Melhor não arriscar não é mesmo?

— Tanto faz, estou com fome.

— Então vamos voltar. – ela sorri e abre a porta do passageiro mas se apoia na mesma para me olhar.

— Obrigada! – piscou e entrou no carro.

Eu poderia enlouquecer, mas não é como se eu me importasse muito mesmo.

--x--

Olá amores, turo bon? Demorei um pouco mas cheguei!!

Aproveitem o capítulo 💕

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