Capítulo 07

     Um mês se passou. Era proximo da virada do ano quando Aysha despertou de seu profundo sono.

      Ela encarou o teto acima dela. Estava escuro. Muito escuro. A única luz no quarto é dos aparelhos médicos.

     Pip… Pip… Pip…

     O som trás-lhe dor de cabeça. Logo, a escuridão a consome…

     O novo sono não tinha nada. Era como o anterior. Apenas escuridão. Sem pesadelos. Sem sonhos. Sem os olhos de sangue. Apenas o escuro acolhedor e longo, vez ou outro sonhando coisas sem sentido como qualquer pessoa normal. O primeiro descanso de sua mente em meses.

       Quando Aysha tornou a acordar, horas mais tarde, percebeu a luz do ambiente. O branco ardeu em seus olhos provocando

 uma dor de cabeça. Demorou bons pares de minutos até sua pupila ajustar-se a claridade e permitir que Aysha olhe em volta. Era uma ala hospitalar. Uma cortina branca era como parede ao redor do que seria um cômodo, não muito grande.

      A mulher estava cheia de equipamentos, desde mascara de gaz, soro, medidor de pressão e alguns outros mais os quais ela não fazia sequer ideia de sua função, mas que está em seu corpo. Uma mulher entra no estabelecimento. Era uma ruiva próximo de sua idade, bonita, rosto angelical e um considerável corpo. Encarou Aysha, torceu o nariz e aproximou-se de Aysha.

— Boa tarde. Sou a enfermeira Beatriz. — Identificou-se. Aysha tentou falar, mas não conseguiu. Sua garganta estava seca. Parecia que não bebia água a tempos. Queimava como ferro em brasa e nada além de gemidos roucos e doloridos, quase inaudíveis saiu quando ela tentou formular palavra. — Irei chamar o doutor. Com licença.

      Assim ela deixou Aysha sozinha, confusa, com dor de cabeça e várias perguntas em mente. Dois minutos se passou em um silêncio onde não ouvia-se nada além dos sons dos aparelhos medindo sua pressão e frequência cardíaca. Aysha quase cochilou nesse pequeno tempo até que um homem de jaleco branco entrou no ambiente e encarou-a, por um momento, surpreso.

       Aysha estranhou, mas logo o médico se recompôs e aproxima-se, tratando-a com mais formalidades que a enfermeira ao seu lado:

— Senhorita Morozov, irei fazer alguns exames rápidos. Espero que esteja bem. — Ele aproximou-se e examina os aparelhos, a começar com a pressão cardíaca, logo depois a pressão. Estava baixa. Ele revê outros aparelhos e, a julgá-los desnecessário, desliga e o retira.

       Assim que ele retira a máscara de gás, demora um certo tempo até Aysha acostumar-se com a atmosfera normal e levemente mais poluída. Ela tosse, recompondo-se e sentindo sua garganta formigar. O médico entrega-lhe um copo de água que rapidamente desce pela garganta seca, umedecendo a boca e trazendo alívio.

— Ficou desacordada por um mês. — Comunica o médico trazendo espanto aos olhos de Aysha.

       Um mês…

        Pelo tempo passado, o ano novo já passou. Estão em Janeiro. Muita coisa pode acontecer em um mês em proporções jamais vistas. Aysha sente sua barriga congelar, ela estremeceu ao lembrar o motivo de seu desmaio que não foi apenas um desmaio. Ele existe e chama por ela. O lobo é real, em algum lugar do mundo.

       Aysha volta a realidade quando o médico entende-lhe uma garrafinha d'água. Ela imediatamente suga o líquido pelo bico preto, humidencando a língua, refrescando sua garganta e matando a sede numa pressa tão grande que ela esquece de respirar. Ela engasga.

       Aysha, com dificuldade, senta na cama. O médico fica apreensivo ao ajudá-la e, quando percebe, Morozov já está sentada na cama bebendo água. Logo ela para, pegando fôlego e encara o doutor.

— C-Como?

— Você adentrou um peculiar tipo de coma, quase instantemente após desmaiar. — Ele olha em sua prancha. — Algo que eu nunca sequer ouvi falar. Ficou assim por exatos trinta dias. Nem mesmo uma hora após. Trinta dias exato. Estamos no final de Janeiro. — Seus olhos cinzas caem sobre os dela. Ele pergunta: — Lembra-se de algo?

      Aysha acende, apreensiva. Mas nada diz. Está assustada com toda informação.

      Aysha não engordou ou emagreceu. Estava com o mesmo corpo de sempre, todavia, diferente. Com exceção dos fios pintados de vermelho, seus cabelos naturais estavam mais claro. Ela quase é capaz de ver seus fios brancos se não fosse pelos seus olhos.

       Eles mudaram totalmente de cor.

       Quando criança; verde. Na adolescência; azul. Na maturidade; dourado fosco e apagado, quase castanho claro. Agora, aos 28 anos; vermelho vivo. Nada no mundo iguala-se são seu olhar como o sangue.

      Foi quase como uma evolução que agora chegou ao seu estádio final. Ela olha no espelho, não acreditando na intensidade do vermelho da íris, tão viva e intensa que parece que irá sangrar a qualquer momento. Lembra os olhos dele…

       Os dele são mais intensos. São quentes, mas também frios. Não há sentimento ou qualquer brecha de compreender sua mente. Ele apenas encarou, intenso e perigoso com seu vermelho vivo sem qualquer sentimentos expressado neles. Aysha vê o brilho de sua alma, seus sentimentos e opiniões através do espelho. Mas ele… nada. Apenas poder e morte.

         Aysha acabou de banhar-se. Não vestiu-se. Está nua encarando o espelho através do vapor quando vê uma silhueta masculina atrás de suas curvas. Ela não se move, apenas encara o homem embaçado pelo vidro.

         Ela sabe que é ele. Tudo confirma-se quando ele abre os olhos e a encara. O vermelho ganha foco no espelho embaçado, onde apenas a cabeça Aysha é vista após limpar uma pequena parte. A mulher estremece ao saber que ele está ali.

        Ele existe em algum lugar daquele mundo, mas está na mente dela. Ele sempre esteve com ela, desde o nascimento e só agora Aysha sabe. Ele, seja lá quem for, estava vigiando, talvez protegendo. Mas a certeza é; ele a esperava. Aquele homem estava aguardando por ela, esperando em algum lugar do mundo.

       Aysha não sabe como, mas ela sente. Tem certeza que ele existe, vivo, em algum lugar deste mundo. Ele chama por ela em seus sonhos, alucinações e instinto. Aysha sente-se constrangida com sua nudez. Nunca ficou nua na frente de um homem. Ao menos não que se lembre. O constrangimento era muito e, sempre que estava prestes a, se quer beijar um homem, algo atrapalhava. Geralmente o homem assusta-se e nunca mais retornou.

       Ela recua um passo, corada com a nudez. Duas batidas na porta chama sua atenção.

— Senhorita Morozov? — Era a enfermeira. — Seu psiquiatria chegou.

— Já estou indo. — Informa.

       Aysha volta a olhar para o espelho. Estava vazio; normal. Não havia nada. Ela suspira e coloca suas vestimentas semelhante ao pijama de um detento. Um cinza fosco e levemente hospitalar.

       A enfermeira a encara, entrega um crachá com sua identidade e levanta o queixo, seguindo em frente assim que Aysha passa pela porta. A mulher ignora o fato da enfermeira não gostar dela, por algum motivo desconhecido.

        Aysha nota ao lugar. O lugar é bem lacrado, iluminado apenas por luzes. Ela sente pelo eco, estão em uma instalação subterrânea. Parece até algo para refugiados, monitorado com guardas armados em todos os corredores. Muitos médicos, algumas salas com pessoas, todas com a mesma roupa uniformizadas com um crachá de identificação. Mas ela para ao ver a ala hospitalar.

       Era diferente de onde ela estava. Esta, está cheio de camas, feridos que mal tem onde ficar. Parece um cenário de guerra.

— O q-que…

— Isso é culpa sua. — Afirma a enfermeira, não escondendo o descontentamento em sua voz. Aysha a encara e ela parece ter nojo de seus olhos vermelhos. — Vamos.

       O corredor era extenso. O local é grande. Um enorme banker tomando pelo exército. Com um crachá específico, eles entram em uma sala, onde todo tipo de aparelho e tecnologia monitora a Rússia.

— Vejo que acordou, senhorita. — Tânia, ex mulher de Dimitri chega, em seu elegante andar superior. Aysha nada diz.

      Seu olhar volta-se para um homem que aproxima-se, trajando um elegante terno com algumas medalhas honrosamente presas em seu peito e ombro.

— General Rothke. É um prazer conhece-la, senhorita Morozov. Ele estende a mão formalmente.

       Aysha, com as mãos trêmulas, o comprimimenta. O homem, passando da idade dos cinquenta encara os olhos vermelhos da mulher. Ele sente hostilidade e, um arrepio forte em sua mão o faz afastar-se. A mulher engole em seco, nervosa. Ela respira fundo e recompõem-se.

       Está claramente confusa. Ficou desacordada por trinta dias. Em resumo, um mês. Muita coisa aconteceu. Ela não apenas sentia, mas percebia. Suas paranóicas são aguçados e dificilmente erra. Não é a toa que era chamada de Olhos de Tandera no ensino fundamental e Tanderia Wolf no ensino médio, já que adorava todo tipo de programa envolvendo lobos. Agora, novamente, tudo se confirma.

       Algo aconteceu nesse período de trinta dias, mas o quê?

— Foi por sua culpa. — O General diz, decifrando sua pergunta. — Foi na virada do ano. Eles fizeram exigências. Eles queriam você. O governo se recusar a entregá-la. Então eles vieram, a meia noite, na virada do ano.

— Eles? — Aysha estremece. Já imagina quem seja.

— Lobisomens. Eles, em três dias, tomaram toda a Rússia e buscam por você. — Aysha apenas escuta um rosnado firme e todo seu corpo estremece. Ela não pode ser pega!

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